sexta-feira, julho 31, 2009

Um concerto de se lhe tirar o chapéu

Começou por tirar o chapéu, educadamente cumprimentando uma casa cheia que o aplaudia em pé. O gesto, de resto, acompanhado por um sorriso de satisfação e reconhecimento, repetiu-se várias vezes ao longo da noite. Um ano depois de ter passado pela região de Lisboa (numa mesma noite em que Lou Reed subia ao palco do Campo Pequeno para nos mostrar Berlin), Leonard Cohen levou ainda mais almas a um Pavilhão Atlântico à pinha para o ver, aplaudir, render-se a canções com palavras que contam histórias. Plateia que, de vez em quando, fez questão de mostrar novo exemplo de uma velha “tradição” local, batendo palminhas fora do compasso… Com intervalo pelo meio (que imediatamente transformou em casa com ar de saldos o foyer onde são bem mais os espíritos famintos que os bares com capacidade de responder a tempo e horas as todos os estômagos), foram três horas de música magnífica. Os instrumentistas podiam ter optado por uma postura mais zen em alguns solos e floreados, mas o mestre respondia aos "excessos” de notas com vénias de agradecimento… Talvez esta tenha sido a derradeira oportunidade de o ver num palco perto de nós… E foi de facto inesquecível!



Imagens de Suzanne, numa gravação ao vivo em Londres durante a presente digressão mundial de Leonard Cohen.

Clooney, Moore e Hillcoat em Veneza

Foi já divulgada a lista dos filmes que este ano vão competir em Veneza. Entre outros, a secção competitiva vai contar com o novo documentário de Michael Moore, a adaptação de The Road, de Cormac McCarthy, de John Hillcoat, o novo de George Clooney, The Man Who Stare at Goats, o remake de Bad Luitenant por Herzog ou a estreia de Tom Ford, em A Single Man.

Para voltar a ver televisão

Estreou há uma semana na RTP2 a primeira épisódios de Mad Men, criação de Matthew Weiner (com um passado televisivo que passou pela escrita de episódios de Os Sopranos) para a Lionsgate Television. A acção decorre essencialmente nos escritórios de uma agência de publicidade na Nova Iorque dos anos 60. As personagens estão longe de corresponder aos modelos dos “heróis”, parecendo-se na verdade com gente comum, acrescentando todas elas uma dose de realismo (e por vezes um inevitável descencanto anti-herói) a um retrato que, assim, nos dá a conhecer um lugar e um tempo… Hoje passa o segundo episódio… Juntemos-lhe a estreia igualmente recente, e também na RTP 2, de 30 Rock, e somamos assim, neste verão, dois belos motivos para voltar a ligar o televisor sem ser para, logo depos, carregar no play do leitor de DVD.

Outras viagens à Lua (5)

A fechar um mês que evocou os 40 anos da chegada do homem à Lua, memórias de livros que, pela ficção, anteciparam os feitos da missão Apollo 11.

Outra das primeiras visões “cientificamente” sustentadas (em terreno de ficção, naturalmente) de uma missão tripulada à Lua foi assinada em 1951 por Arthur C. Clarke. De resto, representou, para um autor que já contava com alguns contos publicados, a sua primeira experiência de maior fôlego. Prelude To Space foi na verdade escrito, em apenas 20 dias, em 1947, tendo a sua publicação acontecido apenas quatro anos depois, primeiro numa revista, chegando a livro pela primeira vez no Reino Unido, já em 1953. O texto centra-se essencialmente numa sequência de descrições e discussões que envolvem os técnicos relacionados com a missão Prometheus, destinada a cumprir a primeira missão lunar tripulada. A viagem assenta numa nave que se divide em duas partes. Uma delas assegura apenas o trajecto interplanetário, incapaz portanto de subir ou descer a atmosfera terrestre. Cabendo assim à outra componente (movida por propulsão nuclear) essas etapas da missão, de certa forma antecipando características que se tornariam realidade não necessariamente no programa Apollo, mas no Space Shuttle. A narrativa conclui-se com o lançamento da missão, centrando-se portanto o livro na etapa de preparação técnica e científica de um feito que Clarke assim ajudou a sonhar 20 anos antes de ser uma realidade.

Parecia uma segunda etapa

Discografia Blur - 5
'Popscene' (single), 1992

Descontentes com o desfecho da etapa Leisure, os Blur revelavam em Março de 1992 um novo som através de um single que evidenciava uma mais evidente herança punk, numa canção pungente e, convenhamos, irresistível. Popscene, que comentava com sarcasmo os meandros da cultura prevalecete na indústria discográfica de inícios de 90, foi contudo um balde de água fria, traduzindo-se num êxito discreto, aquém do esperado depois do estatuto que se desenhara com o álbum de estreia. O single era aperitivo para um álbum que acabou por não ser editado, sendo as suas canções dispersas por lados B de singles subsequentes. No ano seguinte surgiriam reinventados em Modern Life Is Rubbish, descobrindo nova identidade através da assimilação de marcas da personalidade pop britânica clássica. Mas mesmo nascendo como um aparente beco sem saída, Popscene acabou transformado num clássico entre os admiradores da banda e acabaria por gerar algumas descendências mais tarde, nomeadamente em Song 2.



O teledisco de Popscene é simples e directo como a canção. Cenas de actuação caseira, montagem ritmada, cruzando a dada altura imagens de rua.

quinta-feira, julho 30, 2009

"Celebration": letra e música

Já há capa do single de Celebration, tema de Madonna/Joe Echo, com produção de Paul Oakenfold — é o primeiro do álbum homónimo, com lançamento marcado para 28 de Setembro. Também haverá teledisco, realizado por Jonas Akerlund. Para já, temos a letra e, um pouco mais abaixo, a própria canção (tal como surgiu em allaboutmadonna).

I think you wanna' come over, yeah I heard it through the grapevine
Are you drunk or you sober? Think about it, doesn't matter
And if it makes you feel good then I say do it,
I don't know what you're waiting for

Feel my temperature rising
There's too much heat I'm gonna' lose control
Do you want to go higher, get closer to the fire,
I don't know what you're waiting for

Come join the party, yeah
Coz' everybody just won't do.
Let's get this started, yeah
Coz' everybody wants to party with you.

Boy you got a reputation, but you're gonna' have to prove it
I see a little hesitation,
Am I gonna' have to show you that if it feels right, get on your marks
Step to the beat boy that's what it's for

Put your arms around me
When it gets too hot we can go outside
But for now just come here, let me whisper in your ear
An invitation to the dance tonight

Come join the party, it's a celebration
Anybody just won't do
Let's get this started, no more hesitation
Coz' everybody wants to party with you

Haven't I seen you somewhere before?
You look familiar…
You wanna' dance? …Yeah.
I guess I just don't recognize you with your cloths on… (laughs)
What are you waiting for?

Come join the party, it's a celebration
Anybody just won't do
Let's get this started, no more hesitation
Coz' everybody wants to party with you X 2

Boy you've got it, it's a celebration
Coz' anybody just won't do
Let's get it started, no more hesitation
Coz' everybody wants to party with you

Boy you've got it
Coz' anybody just won't do
Let's get it started, no more hesitation
Coz' everybody wants to party with you


Política das imagens, imagens pouco políticas

Não tem nada de acidental o facto de os partidos políticos portugue-ses continuarem unidos num imenso silêncio sobre o espaço televisivo, suas componentes, valores (ou falta deles) e, em particular, seus efeitos na própria configuração prática e teórica dos combates políticos. De facto, para além de alguns momentos de excepção, os partidos encaram o mundo das imagens — nisso se incluindo o que sobre elas, e com elas, se diz e escreve — como uma paisagem mais ou menos pitoresca. Para eles, cada imagem tende a reduzir-se a uma funcionalidade instrumental, tendencialmente anedótica, quer dizer, a uma "coisa" sem espessura que serve para ilustrar (curiosa e clássica ilusão determinista e teleológica) o discurso propriamente político.

* * * * *

Talvez de modo inevitável, os actuais blogs políticos reflectem isso mesmo. Assim, por exemplo, o Rua Direita ilustra o tema impostos com esta imagem, digna dos momentos mais vulgares de um humor (televisivo, hélas!) enredado na herança mais simplista do teatro de revista.

No caso do Simplex, insiste-se num humor (?) alicerçado no tema "laranja" (o fruto e a cor), tomando agora como pretexto a já célebre referência de Manuela Ferreira Leite ao papel dos iates na dinâmica económica — é certo que as palavras de Ferreira Leite foram politicamente pueris, mas o comentário visual acaba por encerrar tudo numa "poética" tão deslocada quanto inconsequente.

Finalmente, no Jamais encontramos o exemplo mais desastroso desta ronda de "intervenção política" pelas imagens. Para ilustrar "a visão 'socrática' da escola", surge uma sala de aula degradada que, na melhor das hipóteses, talvez pudesse funcionar como cenário da 'Zona' de Stalker. O certo é que não parece que alguém tenha querido citar Andrei Tarkovski ou qualquer contexto específico. A abstracção meramente naïf, somada a uma única identificação no canto esquerdo da fotografia (Getty Images), não ajudam à sua remissão para um contexto português, seja ele qual for — aliás, neste contexto, a palavra "remissão", no duplo sentido de indicativo e acção de perdão, não pode deixar de adquirir uma inesperada ironia face a tão básicos sistemas de figuração.

Conclusão inevitável: estes são exemplos de uma relação com as imagens (e através delas) que se esgota num entendimento simbólico (e do simbólico) dos mais rudimentares — suposta-mente, "devolve-se" ao adversário a simbologia que ele não vê ou não quer ver. Trata-se de uma prática de mero transporte discursivo, não da criação de um discurso próprio.

* * * * *

Como contraponto, vale a pena recordarmos uma imagem da campanha de François Mitterrand, em 1981. Para sugerir que a história se repete, pode ou deve repetir? Para santificar o demasiado humano Mitterrand? Nada disso. Exactamente o contrário: nada se repete, nada se pode repetir, nada se vai repetir, mesmo quandos nos repetimos face àquilo que não se repete.

"30 Rock": o acontecimento

Digamos da maneira mais linear: 30 Rock — entre nós Rockefeller 30 — é uma série de comédia para televisão, criada por Tina Fey, que consegue a proeza de ser um primor de escrita, uma apoteose de interpretações (Tina Fey, Alec Baldwin, Tracy Morgan, etc., etc.) e ainda uma visão directa, sincera, terna e cruel das próprias pessoas que fazem televisão. Desde 2006, a série já cumpriu três temporadas e tem 22 nomeações para os próximos Emmys, a atribuir a 20 de Setembro. Para já, registemos que os primeiros episódios começaram a passar na RTP2, de segunda a sexta-feira (por volta das 23h30) — é a novidade do momento e, provavelmente, o maior acontecimento de todo o ano televisivo.

Canções populares

Os Yo La Tengo estão de regresso aos discos. A 8 de Setembro lançam o novo álbum Popular Songs. Para abrir caminho, aqui fica um primeiro teledisco de uma canção extraída do seu alinhamento. Trata-se de Here To Fall, aqui num pequeno filme realizado por John McSwain.

Ang Lee em Veneza

Ang Lee vai presidir ao juri da edição deste ano do Festival de Veneza, que se realiza entre os dias 2 e 12 de Setembro. Ang Lee já ali venceu por duas vezes o Leão de Ouro com os filmes Brokeback Mountain e Lust, Caution, respectivamente em 2005 e 2007.

Duran Duran, 1982

Foi antecipada para 7 de Setembro a reedição, pela EMI, de Rio e o lançamento do CD e DVD com a gravação de um concerto dos Duran Duran no londrino Hammersmith Odeon, em 1982.

O álbum surgirá em CD numa versão dupla, acrescentando ao CD1 (com o alinhamento original) as remisturas que Kershenbaum fez para uma edição de Rio apenas disponível no mercado norte-americano. Misturas nas quais se vincava a face dançável da música da banda e que então transformavam os temas Rio, My Own Way, Lonely In Your Nightmare, Hungry Like The Wolf e Hold Back The rain, ou seja, o lado A da edição em vinil original. O CD2 desta reedição incluirá ainda as chamadas Manchester Square demos, gravadas a 28 de Agosto de 1981 (incluindo os temas Last Chance On The Stairway, My Own Way, New Religion e Like An Angel), ainda os lados B dos singles extraídos de Rio (Like An Angel, Careless Memories ao vivo, Hold Back The Rain em nova mistura) e uma série de remisturas então editadas em máxis e EPs: My Own Way (Night version, do maxi de 1981), Hungry Like The Wolf (Night version, do maxi de 1882), Rio (Night version – da versão holandesa do Carnival E.P.), New Religion (Carnival remix – da versão japonesa do Carnival E.P.) e Hold Back The Rain (Carnival remix – da versão americana do Carnival E.P.). A edição em vinil junta ao álbum um segundo disco com as remisturas da edição americana de 1982.O DVD Hammersmith '82! Live inclui a gravação de um concerto em finais de 1982 naquela mítica sala londrina. O alinhamento apresenta os temas: Rio, Hungry Like The Wolf, Night Boat, New Religion, Save A Prayer, Planet Earth, Friends Of Mine, Careless Memories, Make Me Smile (Come Up And See Me) e Girls On Film e inclui como extras os telediscos da fase Rio e duas actuações no Top Of The Pops. O audio do concerto sera também editado num CD.

As melhores cidades - Tóquio

Continuamos a apresentar a lista das melhores cidades do mundo, segundo a tabela publicada na edição deste mês da revista Monocle. Chegamos hoje a Tóquio, que mantém o terceiro lugar que já ocupava na tabela de 2008. É uma cidade que, como a revista descreve “funciona como um relógio e a sua cultura de serviços bate qualquer competição”. Como também acrescenta, “a uma primeira vista Tóquio parece ser uma confusão de estradas e edifícios, mas tem o seu lado confortável, em ruas laterais e restaurantes caseiros”. Ali habitam 8,77 milhões de pessoas (12,94 se contarmos com a área metropolitana), que se servem de transportes públicos numa rede com uma pontualidade em que se pode confiar. Há supermercados e lojas de conveniência abertos 24 horas por dia, muitos espaços verdes e é já sabido de um projecto para criar uma nova zona verde de um quilómetro quadrado, assim como a plantação de mais um milhão de árvores até 2016.

Outras viagens à Lua (4)

A fechar um mês que evocou os 40 anos da chegada do homem à Lua, memórias de livros que, pela ficção, anteciparam os feitos da missão Apollo 11.

Um dos primeiros autores a pensar uma viagem à Lua numa narrativa suportada pelas características do que viria a ser a literatura de ficção científica (a demanda de explicações para os factos, a procura de verosimilhança nos acontecimentos e um interesse pela descoberta) foi, inevitavelmente, Julio Verne. Data de 1865 o clássico Da Terra À Lua, história protagonizada por dois norte-americanos e um francês que apresenta espantosas semelhanças com alguns factos, nomes e locais que fariam, mais de cem anos depois, a história da missão Apollo 11. Juntos constroem uma cápsula que, projectada por um canhão (grande diferença aqui, é bem verdade), leva uma equipa à Lua. São três os viajantes (como na Apollo), a bordo de uma nave de dimensões não muito distantes das que os astronautas da Nasa conheceram e, coincidência maior, foram lançados para o espaço… na Florida! O livro teve repercussões imediatas no seu tempo e, poucos anos depois de publicado, foi ponto de partida para Le Voyage dans la Lune, uma ópera de Offenbach. Já na alvorada do século XX, Georges Meliés cruzou elementos do livro de Verne com The First Men In The Moon para criar o seu Le Voyage dans la Lune. O livro de Julio Verne voltou a ser adaptado ao cinema em 1958 em From The Earth To The Moon (ver cartaz acima), realizado por Byron Haskin.

quarta-feira, julho 29, 2009

As novas guerras da Internet

É um pouco como na globalização do cinema: não basta ter os "conteúdos", ou seja, os filmes; é preciso afirmar o seu poder no modo como esses filmes chegam aos consumidores — isto é, na distribuição. O acordo anunciado entre Microsoft e Yahoo!, por um período de dez anos (ver notícia de The New York Times), é o resultado directo de uma estratégia desse género: na prática, o motor de busca Bing, da Microsoft, irá alimentar o Yahoo!, funcionando o Yahoo! como gestor da oferta comercial nos sites dos dois grupos. Como comenta Tim Weber, da BBC, este não é um mero movimento de colaboração empresarial: "Não se trata de um casamento por amor, mas por necessidade." E que necessidade é essa? A de fazer frente ao poder imenso do Google.
O simples facto de as guerras da Internet se estarem a travar através de alianças desta dimensão deveria bastar para não nos iludirmos com a visão lírica dos que, a começar por muitos protagonistas da cena política, proclamam a Idade da Informação como uma espécie de paraíso virtual que sucedeu ao "materialismo" dos livros. Na verdade, a questão é outra: oxalá Microsoft e Yahoo! (e, já agora, também o Google) alarguem as nossas possibilidades de construir conhecimento; o certo é que estamos a viver uma acelerada época de transfiguração, não apenas das fontes desse conhecimento, mas também dos modos de lá chegar.

>>> Resultados de uma pesquisa com as palavras "Microsoft Yahoo! deal" com o motor Bing.

Política: o individual e o colectivo

Começo por recordar uma ideia já aqui expressa a propósito do aparecimento de três novos blogs da área política — Simplex, Jamais e Rua Direita — e com assumidas conotações partidárias: mesmo que possamos reconhecer algum efeito redutor proveniente desse enquadramento partidário (e também da proximidade de dois importantes actos eleitorais), revela-se, assim, uma diversificação das estratégias de diálogo que, em si mesma, é positiva. A Net não é o "abre-te Sésamo" da política, muito menos uma garantia automática de "boas" ideias, mas a sua crescente integração na dinâmica da cena política merece ser sublinhada.
Entretanto, surgiu no Simplex um curioso post, sintomático dos desafios que estão em jogo. É seu autor Diogo Moreira e tem um título, desde logo, significativo: 'Aviso à navegação sobre o duelo SIMplex/Jamais'. Nele se formula um interessante pedido: "(...) agradecia a ambas as partes que não tomassem os seus respectivos adversários como um colectivo uno e monolítico. Isso não é, de todo, a realidade dos bloggers que compõem o SIMplex, como penso que não será a realidade do Jamais."
Que se exprime aqui, afinal? O sentimento, partilhado por muitos sectores do eleitorado (veja-se o índice brutal a que chegaram as abstenções), de que muitas vezes a lógica "normalizadora" dos partidos tende a escamotear, ou mesmo a contrariar, a expressão de discursos — individuais ou de nichos — cujas componentes poderiam enriquecer a vida política e a intervenção social dos próprios partidos. Escusado será lembrar que tudo aquilo que está em jogo excede a simples capacidade de os partidos se exporem na Net — é o próprio conceito tradicional de partido que importa repensar.

Música negra

Chamam-se The XX, chegam de Londres, e são evidentes militantes de um campeonato urbano-depressivo com escola que remonta à sombria Inglaterra suburbana de finais dos anos 70, vestindo a negro integral como manda a regra. Editam a 18 de Agosto o seu álbum de estreia. O apeeritivo aqui fica com o teledisco de Crystalised.

Tributo aos Love and Rockets

Os Love and Rockets vão ser homenageados num disco de tributo a editar em CD em meados de Agosto. Trata-se de New Tales To Tell: A Tribute To Love And Rockets, e inclui versões assinadas por, entre outros, os Flaming Lips, Frank Black ou os Dandy Warhols.

João Pedro Rodrigues no Queer Lisboa

O filme Morrer Como Um Homem, de João Pedro Rodrigues, será este ano o filme de abertura do festival de cinema Queer Lisboa, que decorre de 18 a 26 de Setembro no Cinema São Jorge. O filme será exibido em anteestreia nacional a 18 de Setembro, na Sala 1 do São Jorge, pelas 21.00, logo depois da gala de abertura, e contará com a presença em sala do realizador, elenco e equipa técnica. O filme teve estreia mundial na edição deste ano do Festival de Cannes e será, ainda antes do Queer Lisboa, apresentando no Festival de Toronto. A estreia comercial do filme em salas portuguesas está prevista para o mês de Outubro.
A edição 2009 do Queer Lisboa vai exibir um total de 95 filmes, distribuidos por várias secções. Além das Secções competitivas para Melhor Longa Metragem, Melhor Documentário e Melhor Curta Metragem (esta com prémio votado pelo público), o festival apresenta um Panorama de Longas Metragens e novas esições das secções Queer Art e Queer Pop. Uma das novidades deste ano é um espaço dedicado à memória no qual serão evocadas algumas efemérides assinaladas este ano.

As melhores cidades - Copenhaga

Continuamos a visitar as melhores cidades do mundo em 2009, segundo a tabela anualmente publicada pela revista Monocle.
Ontem passámos por Zurique (na Suíça), a primeira classificada. Hoje passamos por Copenhaga (Dinamarca). Vencedora em 2008, a capital dinamarquesa desceu este ano para o segundo lugar. Uma cidade que a revista descreve como tendo uma “vida metropolitana cruzada com intimidade, segurança social escandinava, baixa criminalidade e uma atmosfera tranquila”. O artigo destaca ainda uma vida cultural que cresceu com a chegada de uma nova biblioteca (que também funciona como centro cultural), uma nova ópera, um novo grande teatro e uma nova sala de concertos… Cidade “limpa e verde”, cheia de vias para ciclistas, Copenhaga alberga 613.603 habitantes (perto de 1,66 milhões na área metropolitana). E em 15 minutos, via comboio ou carro, e está-se fora da cidade, em plena paisagem rural.

Outras viagens à Lua (3)

A fechar um mês que evocou os 40 anos da chegada do homem à Lua, memórias de livros que, pela ficção, anteciparam os feitos da missão Apollo 11.

Robert Heinlein (1907-1988) foi um dos autores dre literatura de ficção científica que mais narrativas colocou em solo lunar. Uma das suas primeiras abordagens à conquista da Lua data de 1949 (pouco depois de ter encetado a sua carreira na escrita), no conto The Man Who Sold The Moon (entre nós publicado como O Homem Que Vendeu a Lua, na colecção Argonauta). O conto projecta uma primeira missão tripulada à Lua no ano de 1978 (num daqueles raros casos em que a realidade acabou por antecipar a ficção). Porém, vinte anos antes da concretização dos objectivos da missão Apollo, Robert A. Heinlein foi dos primeiros a encarar, neste preciso texto, o facto da conquista do espaço ser, além de um feito técnico e científico, o resultado de um enorme esforço financeiro. A narrativa centra-se numa figura decidida a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para conquistrar e, depois, controlar a Lua. O conto, intergrado na sequência de textos através dos quais Heinlein ficcionou a história do futuro, conheceu sequelas com as mesmas personagens. O Homem Que Vendeu a Lua é um dos três contos “lunares” de Robert A. Heinlein que há poucos dias regressou aos escaparates das novidades nas livrarias portuguesas, integrado na antologia Cabeças na Lua, lançada este mês pela Saída de Emergência.

terça-feira, julho 28, 2009

Génio de Jacques Tourneur

Uma caixa com quatro filmes de Jacques Tourneur (1904-1977) é um pequeno grande acontecimento em qualquer mercado de DVD. A edição agora disponível entre nós surge dominada por títulos que desempenharam um papel decisivo na definição do género de terror na década de 40. São eles: A Pantera (1942), Zombie (1943) e O Homem Leopardo (1943). Seja como for, seria redutor classificar Tourneur como um "cineasta-de-género". Se o foi, terá sido, acima de tudo de um género financeiro. Ou seja: as pequenas produções de série B, neste caso provenientes dos estúdios da RKO, em que o minimalismo dos meios nunca impediu a definição de um estilo e, mais do que isso, de uma linguagem específica.
A definição mais abrangente de Tourneur talvez seja de natureza simbólica. Ele foi, de facto, um retratista de universos em que as fronteiras do humano vacilam, ou melhor, se alargam até integrar os seus contrários. A mulher-pantera de A Pantera será o exemplo mais óbvio. Mas tal vacilação pode implicar também as ambíguas relações entre passado e presente, memória e culpa, como tão exemplarmente estão encenadas no quarto título da caixa: O Arrependido (1947), o genial Out of the Past, filme ligado à lógica do noir e que continua a surpreender pelas tensões secretas das personagens e pela precisão abstracta da sua estrutura.

>>> Trailers das duas versões de Cat People/A Pantera: a original, de Tourneur, e o remake realizado por Paul Schrader, em 1982.



Agnès Varda na primeira pessoa (2/2)

Agnès Varda fez 81 anos no passado dia 30 de Maio. Com o seu filme mais recente, As Praias de Agnès, a sua obra torna-se mais pessoal do que nunca — esta entrevista foi publicada no Diário de Notícias (25 de Julho), com o título 'Filmo fantasias que vêm das minhas memórias'. [1]

Nesse contexto, como é que situa um filme como A Felicidade (1965)?
Aí está: é um filme fora de tudo o que se estava a fazer naquela altura. Nasceu do meu interesse pelo estudo da cor nos pintores impressionistas. Inspira-se num poema de Aragon: “Quem fala na felicidade tem sempre os olhos tristes”.

Um pouco como “a felicidade não é alegre”?
Exactamente. Como “a felicidade não é alegre” no final de Le Plaisir (1952), de Max Ophuls, inspirado em Maupassant. São coisas que soam verdade.

Parece-lhe que a utopia de felicidade que estava no filme pode tocar os espectadores de hoje?
Desejar a felicidade é uma coisa natural nos seres humanos. Um pouco como os ricos que querem ser mais ricos: as pessoas que têm alguma felicidade querem sempre um pouco mais. Ao mesmo tempo, a construção da felicidade não funciona sem que se estabeleça alguma moral, seja ela pessoal ou colectiva — o filme é sobre isso.

O cinema pode ser um instrumento de descoberta dessa moral?
Não apenas o cinema. Em boa verdade, qualquer história. Para mim, cada filme corresponde a um momento de procura. Fui sempre uma cineasta de pesquisa, nunca utilizei receitas, procurei sempre qualquer coisa de diferente. No caso de As Praias de Agnès, a experiência foi particularmente difícil.

Pode dizer-se que, sendo estética, foi sobretudo uma experiência emocional.

Emocional porque não se trata apenas de contar a sua vida, mas de perguntar: como fazê-lo com os meios do cinema?

Quais são os efeitos desse trabalho nos que lhe são mais próximos?
A minha família? Os filhos? Os netos? Estão no filme. Tentei ilustrar o próprio conceito de família como um espaço de protecção que está para além do facto de nos encontrarmos e comermos juntos.

Será que também existe uma família do cinema?

É uma coisa que se diz nas cerimónias dos Césares ou dos Óscares, mas não acredito muito nisso.

De Manchester a Chernobyl

Chamam-se Delphic, são um trio e chegam de Manchester (Reino Unido). A sua música parece evocar alguma da agitação dançante que a sua cidade conheceu há 20 anos. Pelo menos é isso o que se sente ao escutar This Momentary, novo single que surge acompanhado por um teledisco com imagens captadas na região de Chernobyl.

Hope Sandoval em Setembro

Hope Sandoval, a voz dos Mazzy Star, regressa aos discos em finais de Setembro. Além de editar o novo álbum Through The Devil Slowly, a cantora vai também reeditar o álbum de 2001 Bavarian Fruit Basket.

As melhores cidades segundo a 'Monocle'

O mais recente número da revista Monocle apresenta o seu top anual de cidades mais habitáveis no mundo. Vários critérios são avaliados, da oferta de transportes públicos à oferta cultural, das horas diárias de luz solar à quantidade de ligações aéreas…

Na primeira edição, em 2007, Munique sagrara-se vencedora. Há um ano foi Copenhaga quem triunfou… Este ano, a liderança da tabela coube a Zurique, na Suíça. O texto que acompanha a apresentação da tabela fala de um planeamento urbano “extraordinário” e junta alguns números esclarecedores: 100 galerias, 50 museus e uma “vida nocturna vibrante”, acrescentando que consegue manter vivo o pequeno comércio. A revista lembra ainda que a cidade elegeu recentemente a sua primeira autacra lésbica, que a arquitectura local é “inovadora” e que favorece edifícios “amigos do ambiente”. Acrescenta ainda que a produção de desperdícios baixou 40 por cento desde que cada habitação tem de pagar por cada saco de lixo que usa e que 51 por cento do que é deitado fora é hoje reciclado. A população da cidade é de 361129 habitantes (ascendendo o número a 1,66 milhões na área metropolitana da cidade).

Ao longo dos próximos dias vamos aqui apresentar as demais cidades deste top revelado pela Monocle… Podemos desde já acrescentar que a Península Ibérica é referida em três ocasiões nesta lista e que Lisboa figura no 25º lugar da tabela mundial (era 24º em 2004, descendo uma posição face à lista apresentada em 2008). E que, além da absoluta ausência da América do Sul, entre as 25 cidades da lista a única representante dos EUA é Honolulu (no Hawai).

Outras viagens à Lua (2)

A fechar um mês que evocou os 40 anos da chegada do homem à Lua, memórias de livros que, pela ficção, anteciparam os feitos da missão Apollo 11.

H.G. Wells (1866-1946) foi um dos mais importantes autores pioneiros da ficção científica. E entre os seus “romances científicos” (como ficaram conhecidos) contou-se a história de uma primeira ida de seres humanos da Terra à Lua. Originalmente publicado em 1901, The First Men In The Moon. A aventura lunar é protagonizado por duas figuras, um deles um homem de negócios, o outro um cientista. É de uma descoberta deste último (a cavorite, mineral que contraria a força da gravidade e assim permite o levantar voo de um veículo rumo à Lua) que decorre a possibilidade de concretização da aventura. Chegados à superfície lunar aí descobrem uma civilização que descrevem como “selenita”. Como em vários escritos de Wells, por aqui surgem marcas de um observador do seu tempo, comentando essencialmente formas de regime e modelos económicos e civilizacionais vigentes no mundo real da passagem do século XIX para XX, reflectindo ainda sobre o comportamento dos seres humanos em sociedade.
O livro de H.G. Wells gerou três adaptações ao cinema. As duas primeiras datam dos dias do cinema mudo, a primeira juntando ao texto de Wells elementos de uma outra odisseia lunarm, escrita alguns anos antes por Júlio Verne. Em 1964 surge outra adaptação (cartaz a ilustrar o post), assinada por Nathan Juran, com efeitos especiais trabalhados por Ray Harryhausen.

segunda-feira, julho 27, 2009

Salazar e Marx: da vida dos fantasmas

Subitamente, a classe política e as intervenções políticas surgem associadas a muitas notícias sobre a blogosfera. Não que, melhor ou pior, os discursos político-partidários não fizessem já parte do dia a dia dos blogs. O certo é que, ao longo da última semana, três dos principais partidos políticos surgiram directamente conotados com outros tantos novos blogs. Vale a pena conhecê-los. São eles:

>>> Simplex (PS)
>>> Jamais (PSD)
>>> Rua Direita (CDS)


Há de tudo um pouco: desde os discursos articulados que tentam pensar alguma coisa (aliás, a carência é tanta que importa ser mais conciso: que tentam pensar) até aos posts que se esgotam em diatribes mais ou menos fulanizadas, supostamente plenas de humor, prolongando a lógica da "cultura-twitter" em que a possível consistência das ideias é trocada pelo enunciado voluntariamente constrangindo à apoteose de um soundbyte televisivo.
É difícil alimentar muitas expectativas. Em boa verdade, esta agitação bloguista tem como meta próxima (porventura única) os próximos actos eleitorais e não surpreenderá que, pelo menos na maior parte dos casos, Simplex, Jamais e Rua Direita sirvam para prolongar os discursos (também eles twittados) com que os dirigentes partidários encaixam no espaço televisivo. Aliás, será curioso observar até que ponto se abrirão espaços/posts para pensar três questões de filosofia política que são sistematicamente recalcadas por todos os partidos, incluindo aqueles (PCP e Bloco de Esquerda) não representados nesta expansão da blogosfera. A saber:
1) - precisamente o papel do espaço televisivo na organização política da sociedade e, mais do que isso, na configuração do próprio espaço de intervenção política;
2) - o significado de uma abstenção que, na prática, se traduz no alheamento das urnas de mais de metade da população portuguesa com direito a voto;
3) - enfim, a possibilidade de, sem desvalorizar os fundamentos do sistema democrático (aliás, tentando reforçá-lo) pensar a dinâmica política para além da dicotomia tradicional "direita/esquerda" — tal possibilidade constitui uma das heranças utópicas do 25 de Abril que, genericamente, o espectro partidário prefere recalcar, insistindo em sustentar tal dicotomia em muitas áreas do pensamento e da acção onde o cidadão comum já não consegue reconhecer a sua pertinência.

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De que falam, então, os bloguistas político-partidários quando falam de política?
A proliferação de posts evidencia uma vitalidade e uma disponibilidade para o debate de ideias que importa registar: mesmo que toda esta movimentação se venha a esgotar numa estratégia apenas eleitoralista, convenhamos que já há algum tempo não víamos (isto é, líamos) tanta gente — e tanta gente com ideias — a tentar contrariar a degradação da blogosfera.
Ao mesmo tempo, há sinais paradoxais que importa reter, sobretudo quando são sintomas de recalcamentos, não específicos destes blogs ou dos seus autores, mas do espaço do pensamento político.
Assim, por exemplo, no Simplex, João Galamba escreveu um post intitulado 'Ironias de um nome', visando precisamente uma intervenção num dos outros blogs: "Não acham irónico que o primeiro post de um blog chamado Jamais tenha sido escrito por alguém conhecido por elogiar Salazar" [através de um link, esse alguém era identificado como João Gonçalves, autor de O Portugal dos Pequeninos]. Era um banal sarcasmo que, ao evocar o fantasma de Salazar, atraía equívocos que o próprio João Galamba veio reconhecer, escrevendo um novo post de 'Esclarecimento', com desculpas dirigidas ao colectivo Jamais. Curiosamente, no blog Jamais, André Abrantes Amaral acrescentou um 'Ironias à parte' que, para além de não querer empolar a questão (o que, convenhamos, é raro neste tipo de peripécias na Net), incluía o detalhe de responder a um fantasma com outro: "Não te preocupes, João. Também há alguns admiradores de Marx no Simplex, o que não deixa de ser irónico, tantas misérias depois."
Que dizer deste confronto en passant? Como compreender — aliás, antes disso, como definir — esta perversa cumplicidade discursiva em que ambos os intervenientes tentam valorizar aquilo que, logo a seguir (por medo?), procuram ocultar? Aqui vai "o-meu-Salazar-contra-o-teu-Marx". Vê se se consegues "defender-o-meu-Marx-com-o-teu-Salazar".
De facto, estes nomes não são banais. Ou seja: estão no lugar de alguma coisa — estão sempre. No lugar de quê?
Se o país político não sabe responder a esta pergunta, não serei eu a julgar-me detentor de uma resposta segura ou apaziguadora, para mais num espaço sempre limitado como este. Em todo o caso, vale a pena deixar duas pistas curiosas e, quero crer, não lineares:
A) - A palavra "Salazar" permanece violentamente incrustada em todos os domínios do tecido social português — e, muito seguramente, no nosso imaginário nacional —, de tal modo que a sua simples aplicação tende a atrair uma dicotomia "pró-e-contra", cega e cegante, que se tornou linguagem dominante. Afinal de contas, a RTP promoveu um concurso (?) sustentado por tal dicotomia.
B) - O nome "Marx" persiste como uma presença de assombramento — espectral, hélas! — em toda a dinâmica política europeia. E de tal modo assim é que o seu pensamento — em grande parte, um pensamento das componentes espectrais das "coisas" e das "relações" — é sistematicamente reduzido aos crimes dos que colocaram a imagem de Marx (ainda um espectro) nas suas imagens.

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Na pior das hipóteses — mas essa é sempre a via mais comum da blogosfera —, tudo isso redundaria num conflito pueril: "afinal, és salazarista ou és marxista?" Fica, de qualquer modo, em aberto a miragem de um espaço de reflexão e representação, isto é, um espaço estético — doloroso, sem dúvida — em que pudéssemos discutir o que significa: Salazar em nós, Marx em nós.
Nenhuma descoberta neste formulação, entenda-se. Em 1977, Hans-Jürgen Syberberg [foto] fez um filme chamado Hitler - Um Filme da Alemanha (não é uma redundância), ousando lidar, não apenas com os crimes nazis, mas também com as monstruosidades e os traumas da história alemã e europeia, a ponto de dizer que se tratava de um filme sobre "Hitler em nós". Por vezes, na sua versão inglesa, o filme é identificado como Our Hitler.

Agnès Varda na primeira pessoa (1/2)

Agnès Varda fez 81 anos no passado dia 30 de Maio. Com o seu filme mais recente, As Praias de Agnès, a sua obra torna-se mais pessoal do que nunca — esta entrevista foi publicada no Diário de Notícias (25 de Julho), com o título 'Filmo fantasias que vêm das minhas memórias'.

Há diferenças muito significativas entre As Praias de Agnès e os seus filmes de ficção?
Desde muito cedo adquiri o hábito de passar da ficção ao documentário, integrando mesmo, por vezes, uma dimensão documental nas minhas ficções. Foi o que aconteceu, por exemplo, em Sei Eira, Nem Beira (1985). Agora, ao reconstruir o pátio da casa como nos anos 50, ao mandar construir o carro de cartão ou quando coloco um trapézio na praia, tudo isso são gestos que têm a ver com a ficção e não com uma atitude documental: são mecanismos de fantasia que vêm das minhas memórias. Pensei um pouco em Gertrud Stein e no seu livro Everybody’s Autobiography. É algo que tem a ver ao mesmo tempo comigo e com os outros. Daí o simbolismo da primeira cena: o auto-retrato começa no espelho, mas eu filmo o espelho do outro lado para mostrar também os outros.

Esse género de abordagem foi especialmente influenciado pela utilização das pequenas câmaras de video?
Sem dúvida. Comecei a utilizá-las em Os Respigadores e a Respigadora (2000), filme em que era especialmente importante a dimensão social e uma certa aproximação das pessoas. No caso de As Praias de Agnès, tivemos um operador com uma câmara maior, mais profissional, mas há coisas que eu filmei sozinha: por exemplo, o par do final, em Los Angeles.

Essa atitude ainda está enraizada nos tempos da Nova Vaga? Ou seja: filmar é sempre dizer qualquer coisa na primeira pessoa?
Talvez, nem sempre. Para mim, o essencial era que tudo aquilo, mesmo sendo pessoal, fosse compreensível. E sem receio de fazer sentir que a câmara existe.

Nesse sentido, parece-lhe que ainda hoje, no cinema francês, há uma herança da Nova Vaga?
Não sei o que seja a herança da Nova Vaga. No fundo, é apenas um nome que nos deram, a posteriori. Havia características comuns, claro, mas nunca definimos uma escola. Eu não sou a minha própria herança: trabalho há mais de 50 anos, é tudo.

Merce Cunningham (1919 - 2009)

Foto ANNIE LEIBOVITZ (1997)

O seu trabalho está no centro da história da dança no século XX (e XXI...): como bailarino e coreógrafo, Merce Cunningham foi não apenas um verdadeiro revolucionário, mas também um criador que, através da colaboração com outros artistas, de John Cage (1912-1992) a Robert Rauschenberg (1925-2008), influenciou diversos domínios da expressão humana — faleceu no dia 26 de Julho, em sua casa, em Nova Iorque, contava 90 anos.
Os primeiros anos da sua actividade são indissociáveis das colaborações com Martha Graham (1894-1991). Estreou-se a solo, em 1944, com uma peça musical de John Cage — a primeira de muitas colaborações. A Merce Cunningham Dance Company, fundada em 1953, seria não apenas uma entidade produtora de espectáculos marcantes na evolução da dança moderna, mas também um forum de pesquisa e discussão para as artes de palco (inclusivé na reconfiguração da noção de "palco") — Cage foi, até ao seu falecimento, o conselheiro musical da companhia. Além das centenas de coreografias ou "eventos" que dirigiu, Cunningham dançou regularmente até ao início da década de 90. A 16 de Abril deste ano, por ocasião do seu 90º aniversário, apresentou Nearly Ninety, na Brooklyn Academy of Music. No mês de Junho, foi lançado o "Legacy Plan", projecto em cuja definição Cunningham ainda colaborou, tendo como objectivo a consolidação e desenvolvimento do seu património artístico.

>>> Extracto de Mondays with Merce (2008), incluindo ensaios de Merce Cunningham, com breves explicações do próprio e a sua evocação de Helen Keller.

>>> Obituário em The New York Times.
>>> Site oficial da
Merce Cunningham Dance Company.
>>> PBS: Merce Cunningham na série
American Masters.

Contra Harry Potter

A oferta cinematográfica está cada vez mais condicionada por uma oferta dominada pela rotina promocional e pela inércia conceptual — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 de Julho).

Subitamente, manchetes de todos os meios de informação (jornais, televisões, Internet) destacam os números de bilheteira de Harry Potter e o Príncipe Misterioso. A começar pela proeza de atingir, no primeiro dia de exibição em todo o mundo, a marca dos 100 milhões de dólares. O que se diz menos (em boa verdade, é assunto ignorado por quase todas as formas de jornalismo cinematográfico) é que estes números reflectem um enorme desequilíbrio estrutural dos mercados.
Nos EUA, por exemplo, a estreia do filme em 4275 ecrãs significa uma ocupação do mercado superior a 14 por cento; em Portugal, os seus 98 ecrãs fazem com que essa percentagem de ocupação seja ainda um pouco maior. Consequências? Uma menor diversificação da oferta e a condenação de filmes menos protegidos pelo marketing a ficarem “esquecidos” em pequenos nichos de exibição. Harry Potter e o Príncipe Misterioso é mau cinema. Mas, mesmo que fosse uma obra-prima, o drama seria o mesmo: um mercado dominado por conceitos deste género está, todos os dias, a minimizar muitos filmes e, por consequência, a perder público(s).

Uma nova etapa

O novo single dos Arctic Monkeys revela uma banda claramente entregue a uma nova etapa na sua vida musical. Falou-se já que terão escutado discos marcantes na história do rock'n'roll de outros tempos. E parece também claro que o alargar de horizontes que o vocalista Alex Turner experimentou nos Last Shadow Puppets teria consequências. Eis os novos Arctic Monkeys. Para breve, um novo álbum. para já, uma bela surpresa ao som de Crying Lightning.

Blur sem álbum novo pela frente

A notícia chegou na semana passada através de declarações de Alex James, baixista dos Blur. Ao que parece, ou pelo menos segundo explicou à BBC, entre as conversas sobre a reunião da banda terá apenas passado uma agenda para concertos e nada mais... Ou seja, segundo dava a entender não haveria na agenda desta reunião dos Blur espaço para estúdio e para a criação de nova música...

Os hobbits regressam a casa

Hobbiton volta a viver. A rodagem de dois novos filmes baseados em O Hobbit, de Tolkien, levaram à recuperação dos cenários da pequena cidade onde residia Bilbo Baggins, Frodo e demais hobbits, na trilogia O Senhor dos Anéis. Falando há poucos dias no Comic Con, em san Diego, Peter Jackson (que produz os filmes), negou que o papel de Bilbo Baggins estivesse já atribuído a um qualquer actor. Já houve notícias sobre a possível presença de Ian McKellen novamente como Gandalf e Andy Serkis como Gollum... Guillermo del Toro será o realizador. A rodagem decorrerá em 2010, estando a estreia do primeiro filme prevista para Dezembro de 2011.

Outras viagens à Lua (1)

Recordamos esta semana outros exemplos de viagens à Lua. Viagens imaginadas na ficção, muitas delas antecipando os feitos da missão Apollo em finais da década de 60. E começamos com uma das mais incríveis antecipações, imaginada por Hegré em inícios da década de 50, ou seja, bem antes da Apollo 11 (e até mesmo antes da colocação em órbita do Sputnik).

Criados entre 1950 e 1954, os álbuns Rumo À Lua (1953) e Explorando a Lua (1954) levaram Tintim, Milou e alguns dos seus companheiros de aventuras ao solo lunar. Hergé procurou dar a ewsta aventura de Tintim um carácter cientificamente verosímil, pensado ao pormenor uma série de detalhes técnicos que pudessem justificar o feito que as páginas acompanham. O foguetão que serve a viagem assemelha-se à V2 alemã, na verdade desenvolvida pelo mesmo Von Braun que, anos depois, chefiaria a equipa que desenvolveu o foguetão Saturno V. A grande diferença com a realidade é o facto de, nesta aventura, o foguetão fazer toda a viagem de ida e volta sem largar parte da sua constituição no espaço. Tal como as últimas missões Apollo, também Tintin leva a bordo do foguetão um carro lunar. Os fatos espaciais são cor de laranja, mas aparentemente mais rígidos que os usados de facto pelos astronautas. A aventura coloca geograficamente a base de comando no Leste europeu, num país imaginário onde a descoberta de reservas de urânio possibilita o desafio lunar, que se concretiza com a construção de um foguetão e um sistema de propulsão nuclear, ambos criados pelo Prof Girassol. Não fatla, como sempre nas aventuras de Tintim, uma trams secundária que garante acção e surpresa a toda a narrativa.

domingo, julho 26, 2009

Material Girl, 2009

Das muitas fotografias da Sticky and Sweet Tour disponíveis na Net, esta é, por certo, das mais sugestivas (publicada por All About Madonna). Nela encontramos Madonna na pluralidade da sua própria iconografia: no palco, numa paródia sofisticada das suas imagens mais juvenis (incluindo um modelo de óculos roubado à Lolita, de Stanley Kubrick); no ecrã, na sua pose de Marilyn, no teledisco de Material Girl (1985), dirigido por Mary Lambert. Dir-se-ia que encontramos, aqui, uma boa definição da arte de envelhecer. A saber: não exactamente o recalcalmento das imagens antigas, mas, pelo contrário, o não deitar fora nenhuma imagem.

Angelina Jolie no Iraque

Combatendo a noção de que o Iraque passou a ser uma questão secundária, ou mesmo irrelevante, nas agendas internacionais, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR) continua a desenvolver um importante trabalho de apoio a populações cujas condições de sobrevivência são extremamente precárias. Recentemente, na sua qualidade de embaixadora da UNHCR, Angelina Jolie visitou algumas famílias na zona de Chikook, um subúrbio de Baghdad. No site do Alto Comissariado foi divulgado um video da visita; entretanto, a actriz apresentou o seu testemunho, numa entrevista à CNN.

Pearl Jam: primeiro single do novo álbum

Grande capa para The Fixer, primeiro single do novo álbum dos Pearl Jam, Backspacer, a ser lançado a 20 de Setembro. O disco marca o reencontro da banda com o produtor Brendan O'Brien, com quem não trabalhavam desde Yield (1998); entre as produções mais recentes de O'Brien incluem-se Magic (2007) e Working on a Dream (2009), de Bruce Springsteen. Uma primeira amostra de The Fixer pode ser escutada no MySpace.

Alice: o trailer

Chegou ao YouTube o trailer do novo filme de Tim Burton, uma nova adaptação do clássico Alice No País das Maravilhas. O filme chegará apenas aos ecrãs em 2010... Mas não é por acaso que esta começa a ser já falada uma das estreias mais esperadas do ano que vem. Aqui ficam as imagens...



Entre o elenco destacam-se as presenças de actores "frequentes" no cinema de Tim Burton (ou que, pelo menos, com ele já trabalharam) como Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Alan Rickman ou Christopher Lee e curiosas surpresas como Stephen Fry ou Matt Lucas (um dos elementos da dupla que assina 'Little Britain'. Como Alice encontraremos Mia Wasikowska. Como o trailer mostra, a música está novamente (bem) entregue a Danny Elfman.