Em 1962, o cartaz de Lolita — filme dirigido por Stanley Kubrick, a partir do romance de Vladimir Nabokov — continha uma frase que se interrogava sobre o próprio facto do filme ter sido feito. Era uma maneira de perguntar, num misto de ironia e provocação, como é que, apesar de todos os escândalos gerados pelo livro, alguém se tinha atrevido a transformá-lo em objecto de cinema. Tendo em conta que Lolita era uma ninfeta de 14 anos (Sue Lyon, a intérprete, tinha 16) "apadrinhada" pelo muito respeitável prof. Humbert Humbert (James Mason), talvez possamos parafrasear as palavras do cartaz e perguntar, agora: como é que, aos 50 anos, Madonna se atreve a recuperar o look de Lolita?
É uma das muitas imagens que começaram a circular pela Net, dando conta do concerto de abertura, em Cardiff, da Sticky & Sweet Tour. Surpresa? Nenhuma. Apenas a metódica aplicação de um modelo de trabalho que tem mais de um quarto de século. A saber: refazer as imagens dos outros, produzindo novas imagens. Ou ainda: reconverter o imaginário do entertainment, sujeitando-o a novas energias, a outras formas, por certo a diferentes significações. Kubrick teria gostado.