Agnès Varda fez 81 anos no passado dia 30 de Maio. Com o seu filme mais recente, As Praias de Agnès, a sua obra torna-se mais pessoal do que nunca — esta entrevista foi publicada no Diário de Notícias (25 de Julho), com o título 'Filmo fantasias que vêm das minhas memórias'.
Há diferenças muito significativas entre As Praias de Agnès e os seus filmes de ficção?
Desde muito cedo adquiri o hábito de passar da ficção ao documentário, integrando mesmo, por vezes, uma dimensão documental nas minhas ficções. Foi o que aconteceu, por exemplo, em Sei Eira, Nem Beira (1985). Agora, ao reconstruir o pátio da casa como nos anos 50, ao mandar construir o carro de cartão ou quando coloco um trapézio na praia, tudo isso são gestos que têm a ver com a ficção e não com uma atitude documental: são mecanismos de fantasia que vêm das minhas memórias. Pensei um pouco em Gertrud Stein e no seu livro Everybody’s Autobiography. É algo que tem a ver ao mesmo tempo comigo e com os outros. Daí o simbolismo da primeira cena: o auto-retrato começa no espelho, mas eu filmo o espelho do outro lado para mostrar também os outros.
Esse género de abordagem foi especialmente influenciado pela utilização das pequenas câmaras de video?
Sem dúvida. Comecei a utilizá-las em Os Respigadores e a Respigadora (2000), filme em que era especialmente importante a dimensão social e uma certa aproximação das pessoas. No caso de As Praias de Agnès, tivemos um operador com uma câmara maior, mais profissional, mas há coisas que eu filmei sozinha: por exemplo, o par do final, em Los Angeles.
Essa atitude ainda está enraizada nos tempos da Nova Vaga? Ou seja: filmar é sempre dizer qualquer coisa na primeira pessoa?
Talvez, nem sempre. Para mim, o essencial era que tudo aquilo, mesmo sendo pessoal, fosse compreensível. E sem receio de fazer sentir que a câmara existe.
Nesse sentido, parece-lhe que ainda hoje, no cinema francês, há uma herança da Nova Vaga?
Não sei o que seja a herança da Nova Vaga. No fundo, é apenas um nome que nos deram, a posteriori. Havia características comuns, claro, mas nunca definimos uma escola. Eu não sou a minha própria herança: trabalho há mais de 50 anos, é tudo.
Há diferenças muito significativas entre As Praias de Agnès e os seus filmes de ficção?
Desde muito cedo adquiri o hábito de passar da ficção ao documentário, integrando mesmo, por vezes, uma dimensão documental nas minhas ficções. Foi o que aconteceu, por exemplo, em Sei Eira, Nem Beira (1985). Agora, ao reconstruir o pátio da casa como nos anos 50, ao mandar construir o carro de cartão ou quando coloco um trapézio na praia, tudo isso são gestos que têm a ver com a ficção e não com uma atitude documental: são mecanismos de fantasia que vêm das minhas memórias. Pensei um pouco em Gertrud Stein e no seu livro Everybody’s Autobiography. É algo que tem a ver ao mesmo tempo comigo e com os outros. Daí o simbolismo da primeira cena: o auto-retrato começa no espelho, mas eu filmo o espelho do outro lado para mostrar também os outros.
Esse género de abordagem foi especialmente influenciado pela utilização das pequenas câmaras de video?
Sem dúvida. Comecei a utilizá-las em Os Respigadores e a Respigadora (2000), filme em que era especialmente importante a dimensão social e uma certa aproximação das pessoas. No caso de As Praias de Agnès, tivemos um operador com uma câmara maior, mais profissional, mas há coisas que eu filmei sozinha: por exemplo, o par do final, em Los Angeles.
Essa atitude ainda está enraizada nos tempos da Nova Vaga? Ou seja: filmar é sempre dizer qualquer coisa na primeira pessoa?
Talvez, nem sempre. Para mim, o essencial era que tudo aquilo, mesmo sendo pessoal, fosse compreensível. E sem receio de fazer sentir que a câmara existe.
Nesse sentido, parece-lhe que ainda hoje, no cinema francês, há uma herança da Nova Vaga?
Não sei o que seja a herança da Nova Vaga. No fundo, é apenas um nome que nos deram, a posteriori. Havia características comuns, claro, mas nunca definimos uma escola. Eu não sou a minha própria herança: trabalho há mais de 50 anos, é tudo.