sexta-feira, julho 31, 2009
Um concerto de se lhe tirar o chapéu
Imagens de Suzanne, numa gravação ao vivo em Londres durante a presente digressão mundial de Leonard Cohen.
Clooney, Moore e Hillcoat em Veneza
Para voltar a ver televisão
Outras viagens à Lua (5)
Outra das primeiras visões “cientificamente” sustentadas (em terreno de ficção, naturalmente) de uma missão tripulada à Lua foi assinada em 1951 por Arthur C. Clarke. De resto, representou, para um autor que já contava com alguns contos publicados, a sua primeira experiência de maior fôlego. Prelude To Space foi na verdade escrito, em apenas 20 dias, em 1947, tendo a sua publicação acontecido apenas quatro anos depois, primeiro numa revista, chegando a livro pela primeira vez no Reino Unido, já em 1953. O texto centra-se essencialmente numa sequência de descrições e discussões que envolvem os técnicos relacionados com a missão Prometheus, destinada a cumprir a primeira missão lunar tripulada. A viagem assenta numa nave que se divide em duas partes. Uma delas assegura apenas o trajecto interplanetário, incapaz portanto de subir ou descer a atmosfera terrestre. Cabendo assim à outra componente (movida por propulsão nuclear) essas etapas da missão, de certa forma antecipando características que se tornariam realidade não necessariamente no programa Apollo, mas no Space Shuttle. A narrativa conclui-se com o lançamento da missão, centrando-se portanto o livro na etapa de preparação técnica e científica de um feito que Clarke assim ajudou a sonhar 20 anos antes de ser uma realidade.
Parecia uma segunda etapa
'Popscene' (single), 1992
Descontentes com o desfecho da etapa Leisure, os Blur revelavam em Março de 1992 um novo som através de um single que evidenciava uma mais evidente herança punk, numa canção pungente e, convenhamos, irresistível. Popscene, que comentava com sarcasmo os meandros da cultura prevalecete na indústria discográfica de inícios de 90, foi contudo um balde de água fria, traduzindo-se num êxito discreto, aquém do esperado depois do estatuto que se desenhara com o álbum de estreia. O single era aperitivo para um álbum que acabou por não ser editado, sendo as suas canções dispersas por lados B de singles subsequentes. No ano seguinte surgiriam reinventados em Modern Life Is Rubbish, descobrindo nova identidade através da assimilação de marcas da personalidade pop britânica clássica. Mas mesmo nascendo como um aparente beco sem saída, Popscene acabou transformado num clássico entre os admiradores da banda e acabaria por gerar algumas descendências mais tarde, nomeadamente em Song 2.
O teledisco de Popscene é simples e directo como a canção. Cenas de actuação caseira, montagem ritmada, cruzando a dada altura imagens de rua.
quinta-feira, julho 30, 2009
"Celebration": letra e música
I think you wanna' come over, yeah I heard it through the grapevine
Are you drunk or you sober? Think about it, doesn't matter
And if it makes you feel good then I say do it,
I don't know what you're waiting for
Feel my temperature rising
There's too much heat I'm gonna' lose control
Do you want to go higher, get closer to the fire,
I don't know what you're waiting for
Come join the party, yeah
Coz' everybody just won't do.
Let's get this started, yeah
Coz' everybody wants to party with you.
Boy you got a reputation, but you're gonna' have to prove it
I see a little hesitation,
Am I gonna' have to show you that if it feels right, get on your marks
Step to the beat boy that's what it's for
Put your arms around me
When it gets too hot we can go outside
But for now just come here, let me whisper in your ear
An invitation to the dance tonight
Come join the party, it's a celebration
Anybody just won't do
Let's get this started, no more hesitation
Coz' everybody wants to party with you
Haven't I seen you somewhere before?
You look familiar…
You wanna' dance? …Yeah.
I guess I just don't recognize you with your cloths on… (laughs)
What are you waiting for?
Come join the party, it's a celebration
Anybody just won't do
Let's get this started, no more hesitation
Coz' everybody wants to party with you X 2
Boy you've got it, it's a celebration
Coz' anybody just won't do
Let's get it started, no more hesitation
Coz' everybody wants to party with you
Boy you've got it
Coz' anybody just won't do
Let's get it started, no more hesitation
Coz' everybody wants to party with you
Política das imagens, imagens pouco políticas
No caso do Simplex, insiste-se num humor (?) alicerçado no tema "laranja" (o fruto e a cor), tomando agora como pretexto a já célebre referência de Manuela Ferreira Leite ao papel dos iates na dinâmica económica — é certo que as palavras de Ferreira Leite foram politicamente pueris, mas o comentário visual acaba por encerrar tudo numa "poética" tão deslocada quanto inconsequente. Finalmente, no Jamais encontramos o exemplo mais desastroso desta ronda de "intervenção política" pelas imagens. Para ilustrar "a visão 'socrática' da escola", surge uma sala de aula degradada que, na melhor das hipóteses, talvez pudesse funcionar como cenário da 'Zona' de Stalker. O certo é que não parece que alguém tenha querido citar Andrei Tarkovski ou qualquer contexto específico. A abstracção meramente naïf, somada a uma única identificação no canto esquerdo da fotografia (Getty Images), não ajudam à sua remissão para um contexto português, seja ele qual for — aliás, neste contexto, a palavra "remissão", no duplo sentido de indicativo e acção de perdão, não pode deixar de adquirir uma inesperada ironia face a tão básicos sistemas de figuração.
Conclusão inevitável: estes são exemplos de uma relação com as imagens (e através delas) que se esgota num entendimento simbólico (e do simbólico) dos mais rudimentares — suposta-mente, "devolve-se" ao adversário a simbologia que ele não vê ou não quer ver. Trata-se de uma prática de mero transporte discursivo, não da criação de um discurso próprio.
Como contraponto, vale a pena recordarmos uma imagem da campanha de François Mitterrand, em 1981. Para sugerir que a história se repete, pode ou deve repetir? Para santificar o demasiado humano Mitterrand? Nada disso. Exactamente o contrário: nada se repete, nada se pode repetir, nada se vai repetir, mesmo quandos nos repetimos face àquilo que não se repete.
"30 Rock": o acontecimento
Canções populares
Ang Lee em Veneza
Duran Duran, 1982
As melhores cidades - Tóquio
Outras viagens à Lua (4)
Um dos primeiros autores a pensar uma viagem à Lua numa narrativa suportada pelas características do que viria a ser a literatura de ficção científica (a demanda de explicações para os factos, a procura de verosimilhança nos acontecimentos e um interesse pela descoberta) foi, inevitavelmente, Julio Verne. Data de 1865 o clássico Da Terra À Lua, história protagonizada por dois norte-americanos e um francês que apresenta espantosas semelhanças com alguns factos, nomes e locais que fariam, mais de cem anos depois, a história da missão Apollo 11. Juntos constroem uma cápsula que, projectada por um canhão (grande diferença aqui, é bem verdade), leva uma equipa à Lua. São três os viajantes (como na Apollo), a bordo de uma nave de dimensões não muito distantes das que os astronautas da Nasa conheceram e, coincidência maior, foram lançados para o espaço… na Florida! O livro teve repercussões imediatas no seu tempo e, poucos anos depois de publicado, foi ponto de partida para Le Voyage dans la Lune, uma ópera de Offenbach. Já na alvorada do século XX, Georges Meliés cruzou elementos do livro de Verne com The First Men In The Moon para criar o seu Le Voyage dans la Lune. O livro de Julio Verne voltou a ser adaptado ao cinema em 1958 em From The Earth To The Moon (ver cartaz acima), realizado por Byron Haskin.
quarta-feira, julho 29, 2009
As novas guerras da Internet
>>> Resultados de uma pesquisa com as palavras "Microsoft Yahoo! deal" com o motor Bing.
Política: o individual e o colectivo
Que se exprime aqui, afinal? O sentimento, partilhado por muitos sectores do eleitorado (veja-se o índice brutal a que chegaram as abstenções), de que muitas vezes a lógica "normalizadora" dos partidos tende a escamotear, ou mesmo a contrariar, a expressão de discursos — individuais ou de nichos — cujas componentes poderiam enriquecer a vida política e a intervenção social dos próprios partidos. Escusado será lembrar que tudo aquilo que está em jogo excede a simples capacidade de os partidos se exporem na Net — é o próprio conceito tradicional de partido que importa repensar.
Música negra
Tributo aos Love and Rockets
João Pedro Rodrigues no Queer Lisboa
A edição 2009 do Queer Lisboa vai exibir um total de 95 filmes, distribuidos por várias secções. Além das Secções competitivas para Melhor Longa Metragem, Melhor Documentário e Melhor Curta Metragem (esta com prémio votado pelo público), o festival apresenta um Panorama de Longas Metragens e novas esições das secções Queer Art e Queer Pop. Uma das novidades deste ano é um espaço dedicado à memória no qual serão evocadas algumas efemérides assinaladas este ano.
As melhores cidades - Copenhaga
Ontem passámos por Zurique (na Suíça), a primeira classificada. Hoje passamos por Copenhaga (Dinamarca). Vencedora em 2008, a capital dinamarquesa desceu este ano para o segundo lugar. Uma cidade que a revista descreve como tendo uma “vida metropolitana cruzada com intimidade, segurança social escandinava, baixa criminalidade e uma atmosfera tranquila”. O artigo destaca ainda uma vida cultural que cresceu com a chegada de uma nova biblioteca (que também funciona como centro cultural), uma nova ópera, um novo grande teatro e uma nova sala de concertos… Cidade “limpa e verde”, cheia de vias para ciclistas, Copenhaga alberga 613.603 habitantes (perto de 1,66 milhões na área metropolitana). E em 15 minutos, via comboio ou carro, e está-se fora da cidade, em plena paisagem rural.
Outras viagens à Lua (3)
terça-feira, julho 28, 2009
Génio de Jacques Tourneur
A definição mais abrangente de Tourneur talvez seja de natureza simbólica. Ele foi, de facto, um retratista de universos em que as fronteiras do humano vacilam, ou melhor, se alargam até integrar os seus contrários. A mulher-pantera de A Pantera será o exemplo mais óbvio. Mas tal vacilação pode implicar também as ambíguas relações entre passado e presente, memória e culpa, como tão exemplarmente estão encenadas no quarto título da caixa: O Arrependido (1947), o genial Out of the Past, filme ligado à lógica do noir e que continua a surpreender pelas tensões secretas das personagens e pela precisão abstracta da sua estrutura.
>>> Trailers das duas versões de Cat People/A Pantera: a original, de Tourneur, e o remake realizado por Paul Schrader, em 1982.
Agnès Varda na primeira pessoa (2/2)
Nesse contexto, como é que situa um filme como A Felicidade (1965)?
Aí está: é um filme fora de tudo o que se estava a fazer naquela altura. Nasceu do meu interesse pelo estudo da cor nos pintores impressionistas. Inspira-se num poema de Aragon: “Quem fala na felicidade tem sempre os olhos tristes”.
Um pouco como “a felicidade não é alegre”?
Exactamente. Como “a felicidade não é alegre” no final de Le Plaisir (1952), de Max Ophuls, inspirado em Maupassant. São coisas que soam verdade.
Parece-lhe que a utopia de felicidade que estava no filme pode tocar os espectadores de hoje?
Desejar a felicidade é uma coisa natural nos seres humanos. Um pouco como os ricos que querem ser mais ricos: as pessoas que têm alguma felicidade querem sempre um pouco mais. Ao mesmo tempo, a construção da felicidade não funciona sem que se estabeleça alguma moral, seja ela pessoal ou colectiva — o filme é sobre isso.
O cinema pode ser um instrumento de descoberta dessa moral?
Não apenas o cinema. Em boa verdade, qualquer história. Para mim, cada filme corresponde a um momento de procura. Fui sempre uma cineasta de pesquisa, nunca utilizei receitas, procurei sempre qualquer coisa de diferente. No caso de As Praias de Agnès, a experiência foi particularmente difícil.
Pode dizer-se que, sendo estética, foi sobretudo uma experiência emocional.
Emocional porque não se trata apenas de contar a sua vida, mas de perguntar: como fazê-lo com os meios do cinema?
Quais são os efeitos desse trabalho nos que lhe são mais próximos?
A minha família? Os filhos? Os netos? Estão no filme. Tentei ilustrar o próprio conceito de família como um espaço de protecção que está para além do facto de nos encontrarmos e comermos juntos.
Será que também existe uma família do cinema?
É uma coisa que se diz nas cerimónias dos Césares ou dos Óscares, mas não acredito muito nisso.
De Manchester a Chernobyl
Hope Sandoval em Setembro
As melhores cidades segundo a 'Monocle'
Na primeira edição, em 2007, Munique sagrara-se vencedora. Há um ano foi Copenhaga quem triunfou… Este ano, a liderança da tabela coube a Zurique, na Suíça. O texto que acompanha a apresentação da tabela fala de um planeamento urbano “extraordinário” e junta alguns números esclarecedores: 100 galerias, 50 museus e uma “vida nocturna vibrante”, acrescentando que consegue manter vivo o pequeno comércio. A revista lembra ainda que a cidade elegeu recentemente a sua primeira autacra lésbica, que a arquitectura local é “inovadora” e que favorece edifícios “amigos do ambiente”. Acrescenta ainda que a produção de desperdícios baixou 40 por cento desde que cada habitação tem de pagar por cada saco de lixo que usa e que 51 por cento do que é deitado fora é hoje reciclado. A população da cidade é de 361129 habitantes (ascendendo o número a 1,66 milhões na área metropolitana da cidade).
Ao longo dos próximos dias vamos aqui apresentar as demais cidades deste top revelado pela Monocle… Podemos desde já acrescentar que a Península Ibérica é referida em três ocasiões nesta lista e que Lisboa figura no 25º lugar da tabela mundial (era 24º em 2004, descendo uma posição face à lista apresentada em 2008). E que, além da absoluta ausência da América do Sul, entre as 25 cidades da lista a única representante dos EUA é Honolulu (no Hawai).
Outras viagens à Lua (2)
H.G. Wells (1866-1946) foi um dos mais importantes autores pioneiros da ficção científica. E entre os seus “romances científicos” (como ficaram conhecidos) contou-se a história de uma primeira ida de seres humanos da Terra à Lua. Originalmente publicado em 1901, The First Men In The Moon. A aventura lunar é protagonizado por duas figuras, um deles um homem de negócios, o outro um cientista. É de uma descoberta deste último (a cavorite, mineral que contraria a força da gravidade e assim permite o levantar voo de um veículo rumo à Lua) que decorre a possibilidade de concretização da aventura. Chegados à superfície lunar aí descobrem uma civilização que descrevem como “selenita”. Como em vários escritos de Wells, por aqui surgem marcas de um observador do seu tempo, comentando essencialmente formas de regime e modelos económicos e civilizacionais vigentes no mundo real da passagem do século XIX para XX, reflectindo ainda sobre o comportamento dos seres humanos em sociedade.
O livro de H.G. Wells gerou três adaptações ao cinema. As duas primeiras datam dos dias do cinema mudo, a primeira juntando ao texto de Wells elementos de uma outra odisseia lunarm, escrita alguns anos antes por Júlio Verne. Em 1964 surge outra adaptação (cartaz a ilustrar o post), assinada por Nathan Juran, com efeitos especiais trabalhados por Ray Harryhausen.
segunda-feira, julho 27, 2009
Salazar e Marx: da vida dos fantasmas
>>> Simplex (PS)
>>> Jamais (PSD)
>>> Rua Direita (CDS)
Há de tudo um pouco: desde os discursos articulados que tentam pensar alguma coisa (aliás, a carência é tanta que importa ser mais conciso: que tentam pensar) até aos posts que se esgotam em diatribes mais ou menos fulanizadas, supostamente plenas de humor, prolongando a lógica da "cultura-twitter" em que a possível consistência das ideias é trocada pelo enunciado voluntariamente constrangindo à apoteose de um soundbyte televisivo.
É difícil alimentar muitas expectativas. Em boa verdade, esta agitação bloguista tem como meta próxima (porventura única) os próximos actos eleitorais e não surpreenderá que, pelo menos na maior parte dos casos, Simplex, Jamais e Rua Direita sirvam para prolongar os discursos (também eles twittados) com que os dirigentes partidários encaixam no espaço televisivo. Aliás, será curioso observar até que ponto se abrirão espaços/posts para pensar três questões de filosofia política que são sistematicamente recalcadas por todos os partidos, incluindo aqueles (PCP e Bloco de Esquerda) não representados nesta expansão da blogosfera. A saber:
1) - precisamente o papel do espaço televisivo na organização política da sociedade e, mais do que isso, na configuração do próprio espaço de intervenção política;
2) - o significado de uma abstenção que, na prática, se traduz no alheamento das urnas de mais de metade da população portuguesa com direito a voto;
3) - enfim, a possibilidade de, sem desvalorizar os fundamentos do sistema democrático (aliás, tentando reforçá-lo) pensar a dinâmica política para além da dicotomia tradicional "direita/esquerda" — tal possibilidade constitui uma das heranças utópicas do 25 de Abril que, genericamente, o espectro partidário prefere recalcar, insistindo em sustentar tal dicotomia em muitas áreas do pensamento e da acção onde o cidadão comum já não consegue reconhecer a sua pertinência.
De que falam, então, os bloguistas político-partidários quando falam de política?
A proliferação de posts evidencia uma vitalidade e uma disponibilidade para o debate de ideias que importa registar: mesmo que toda esta movimentação se venha a esgotar numa estratégia apenas eleitoralista, convenhamos que já há algum tempo não víamos (isto é, líamos) tanta gente — e tanta gente com ideias — a tentar contrariar a degradação da blogosfera.
Ao mesmo tempo, há sinais paradoxais que importa reter, sobretudo quando são sintomas de recalcamentos, não específicos destes blogs ou dos seus autores, mas do espaço do pensamento político.
Assim, por exemplo, no Simplex, João Galamba escreveu um post intitulado 'Ironias de um nome', visando precisamente uma intervenção num dos outros blogs: "Não acham irónico que o primeiro post de um blog chamado Jamais tenha sido escrito por alguém conhecido por elogiar Salazar" [através de um link, esse alguém era identificado como João Gonçalves, autor de O Portugal dos Pequeninos]. Era um banal sarcasmo que, ao evocar o fantasma de Salazar, atraía equívocos que o próprio João Galamba veio reconhecer, escrevendo um novo post de 'Esclarecimento', com desculpas dirigidas ao colectivo Jamais. Curiosamente, no blog Jamais, André Abrantes Amaral acrescentou um 'Ironias à parte' que, para além de não querer empolar a questão (o que, convenhamos, é raro neste tipo de peripécias na Net), incluía o detalhe de responder a um fantasma com outro: "Não te preocupes, João. Também há alguns admiradores de Marx no Simplex, o que não deixa de ser irónico, tantas misérias depois."
Que dizer deste confronto en passant? Como compreender — aliás, antes disso, como definir — esta perversa cumplicidade discursiva em que ambos os intervenientes tentam valorizar aquilo que, logo a seguir (por medo?), procuram ocultar? Aqui vai "o-meu-Salazar-contra-o-teu-Marx". Vê se se consegues "defender-o-meu-Marx-com-o-teu-Salazar".
De facto, estes nomes não são banais. Ou seja: estão no lugar de alguma coisa — estão sempre. No lugar de quê?
Se o país político não sabe responder a esta pergunta, não serei eu a julgar-me detentor de uma resposta segura ou apaziguadora, para mais num espaço sempre limitado como este. Em todo o caso, vale a pena deixar duas pistas curiosas e, quero crer, não lineares:
A) - A palavra "Salazar" permanece violentamente incrustada em todos os domínios do tecido social português — e, muito seguramente, no nosso imaginário nacional —, de tal modo que a sua simples aplicação tende a atrair uma dicotomia "pró-e-contra", cega e cegante, que se tornou linguagem dominante. Afinal de contas, a RTP promoveu um concurso (?) sustentado por tal dicotomia.
B) - O nome "Marx" persiste como uma presença de assombramento — espectral, hélas! — em toda a dinâmica política europeia. E de tal modo assim é que o seu pensamento — em grande parte, um pensamento das componentes espectrais das "coisas" e das "relações" — é sistematicamente reduzido aos crimes dos que colocaram a imagem de Marx (ainda um espectro) nas suas imagens.
Na pior das hipóteses — mas essa é sempre a via mais comum da blogosfera —, tudo isso redundaria num conflito pueril: "afinal, és salazarista ou és marxista?" Fica, de qualquer modo, em aberto a miragem de um espaço de reflexão e representação, isto é, um espaço estético — doloroso, sem dúvida — em que pudéssemos discutir o que significa: Salazar em nós, Marx em nós.
Nenhuma descoberta neste formulação, entenda-se. Em 1977, Hans-Jürgen Syberberg [foto] fez um filme chamado Hitler - Um Filme da Alemanha (não é uma redundância), ousando lidar, não apenas com os crimes nazis, mas também com as monstruosidades e os traumas da história alemã e europeia, a ponto de dizer que se tratava de um filme sobre "Hitler em nós". Por vezes, na sua versão inglesa, o filme é identificado como Our Hitler.
Agnès Varda na primeira pessoa (1/2)
Há diferenças muito significativas entre As Praias de Agnès e os seus filmes de ficção?
Desde muito cedo adquiri o hábito de passar da ficção ao documentário, integrando mesmo, por vezes, uma dimensão documental nas minhas ficções. Foi o que aconteceu, por exemplo, em Sei Eira, Nem Beira (1985). Agora, ao reconstruir o pátio da casa como nos anos 50, ao mandar construir o carro de cartão ou quando coloco um trapézio na praia, tudo isso são gestos que têm a ver com a ficção e não com uma atitude documental: são mecanismos de fantasia que vêm das minhas memórias. Pensei um pouco em Gertrud Stein e no seu livro Everybody’s Autobiography. É algo que tem a ver ao mesmo tempo comigo e com os outros. Daí o simbolismo da primeira cena: o auto-retrato começa no espelho, mas eu filmo o espelho do outro lado para mostrar também os outros.
Esse género de abordagem foi especialmente influenciado pela utilização das pequenas câmaras de video?
Sem dúvida. Comecei a utilizá-las em Os Respigadores e a Respigadora (2000), filme em que era especialmente importante a dimensão social e uma certa aproximação das pessoas. No caso de As Praias de Agnès, tivemos um operador com uma câmara maior, mais profissional, mas há coisas que eu filmei sozinha: por exemplo, o par do final, em Los Angeles.
Essa atitude ainda está enraizada nos tempos da Nova Vaga? Ou seja: filmar é sempre dizer qualquer coisa na primeira pessoa?
Talvez, nem sempre. Para mim, o essencial era que tudo aquilo, mesmo sendo pessoal, fosse compreensível. E sem receio de fazer sentir que a câmara existe.
Nesse sentido, parece-lhe que ainda hoje, no cinema francês, há uma herança da Nova Vaga?
Não sei o que seja a herança da Nova Vaga. No fundo, é apenas um nome que nos deram, a posteriori. Havia características comuns, claro, mas nunca definimos uma escola. Eu não sou a minha própria herança: trabalho há mais de 50 anos, é tudo.
Merce Cunningham (1919 - 2009)
O seu trabalho está no centro da história da dança no século XX (e XXI...): como bailarino e coreógrafo, Merce Cunningham foi não apenas um verdadeiro revolucionário, mas também um criador que, através da colaboração com outros artistas, de John Cage (1912-1992) a Robert Rauschenberg (1925-2008), influenciou diversos domínios da expressão humana — faleceu no dia 26 de Julho, em sua casa, em Nova Iorque, contava 90 anos.
Os primeiros anos da sua actividade são indissociáveis das colaborações com Martha Graham (1894-1991). Estreou-se a solo, em 1944, com uma peça musical de John Cage — a primeira de muitas colaborações. A Merce Cunningham Dance Company, fundada em 1953, seria não apenas uma entidade produtora de espectáculos marcantes na evolução da dança moderna, mas também um forum de pesquisa e discussão para as artes de palco (inclusivé na reconfiguração da noção de "palco") — Cage foi, até ao seu falecimento, o conselheiro musical da companhia. Além das centenas de coreografias ou "eventos" que dirigiu, Cunningham dançou regularmente até ao início da década de 90. A 16 de Abril deste ano, por ocasião do seu 90º aniversário, apresentou Nearly Ninety, na Brooklyn Academy of Music. No mês de Junho, foi lançado o "Legacy Plan", projecto em cuja definição Cunningham ainda colaborou, tendo como objectivo a consolidação e desenvolvimento do seu património artístico.
>>> Extracto de Mondays with Merce (2008), incluindo ensaios de Merce Cunningham, com breves explicações do próprio e a sua evocação de Helen Keller.
>>> Obituário em The New York Times.
>>> Site oficial da Merce Cunningham Dance Company.
>>> PBS: Merce Cunningham na série American Masters.
Contra Harry Potter
Subitamente, manchetes de todos os meios de informação (jornais, televisões, Internet) destacam os números de bilheteira de Harry Potter e o Príncipe Misterioso. A começar pela proeza de atingir, no primeiro dia de exibição em todo o mundo, a marca dos 100 milhões de dólares. O que se diz menos (em boa verdade, é assunto ignorado por quase todas as formas de jornalismo cinematográfico) é que estes números reflectem um enorme desequilíbrio estrutural dos mercados.
Nos EUA, por exemplo, a estreia do filme em 4275 ecrãs significa uma ocupação do mercado superior a 14 por cento; em Portugal, os seus 98 ecrãs fazem com que essa percentagem de ocupação seja ainda um pouco maior. Consequências? Uma menor diversificação da oferta e a condenação de filmes menos protegidos pelo marketing a ficarem “esquecidos” em pequenos nichos de exibição. Harry Potter e o Príncipe Misterioso é mau cinema. Mas, mesmo que fosse uma obra-prima, o drama seria o mesmo: um mercado dominado por conceitos deste género está, todos os dias, a minimizar muitos filmes e, por consequência, a perder público(s).
Uma nova etapa
Blur sem álbum novo pela frente
Os hobbits regressam a casa
Outras viagens à Lua (1)
Criados entre 1950 e 1954, os álbuns Rumo À Lua (1953) e Explorando a Lua (1954) levaram Tintim, Milou e alguns dos seus companheiros de aventuras ao solo lunar. Hergé procurou dar a ewsta aventura de Tintim um carácter cientificamente verosímil, pensado ao pormenor uma série de detalhes técnicos que pudessem justificar o feito que as páginas acompanham. O foguetão que serve a viagem assemelha-se à V2 alemã, na verdade desenvolvida pelo mesmo Von Braun que, anos depois, chefiaria a equipa que desenvolveu o foguetão Saturno V. A grande diferença com a realidade é o facto de, nesta aventura, o foguetão fazer toda a viagem de ida e volta sem largar parte da sua constituição no espaço. Tal como as últimas missões Apollo, também Tintin leva a bordo do foguetão um carro lunar. Os fatos espaciais são cor de laranja, mas aparentemente mais rígidos que os usados de facto pelos astronautas. A aventura coloca geograficamente a base de comando no Leste europeu, num país imaginário onde a descoberta de reservas de urânio possibilita o desafio lunar, que se concretiza com a construção de um foguetão e um sistema de propulsão nuclear, ambos criados pelo Prof Girassol. Não fatla, como sempre nas aventuras de Tintim, uma trams secundária que garante acção e surpresa a toda a narrativa.
domingo, julho 26, 2009
Material Girl, 2009
Angelina Jolie no Iraque
Pearl Jam: primeiro single do novo álbum
Alice: o trailer
Entre o elenco destacam-se as presenças de actores "frequentes" no cinema de Tim Burton (ou que, pelo menos, com ele já trabalharam) como Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Alan Rickman ou Christopher Lee e curiosas surpresas como Stephen Fry ou Matt Lucas (um dos elementos da dupla que assina 'Little Britain'. Como Alice encontraremos Mia Wasikowska. Como o trailer mostra, a música está novamente (bem) entregue a Danny Elfman.