
sexta-feira, novembro 30, 2007
Eles andam aí...

Grace Jones regressa em 2008
Cabelos e secadores... acção!
Canções de Fausto em colectânea

quinta-feira, novembro 29, 2007
E o melhor biopic rock'n'roll é...

1º Control (2007, Anton Corbijn) – Ian Curtis – 43%
4º La Bamba (1987, Luis Valdez) – Ritchie Valens – 4%
5º Sid & Nancy (1986, Alex Cox) – Sid Vicious – 2%
6º Beyond The Sea (2004, Kevin Spacey) – Bobby Darin – 1% (*)
7º Backbeat (1994, Ian Softley) – Stuart Sutcliffe e Ray (2004, Taylor Hackford) – Ray Charles – 1%
(*) Apesar da igualdade em percentagem no arredondamento à unidade, Beyond The Sea somou mais votos que Backbeat e Ray.
Dançar ao som de... Joy Division
A estreia em álbum de Mazgani

quarta-feira, novembro 28, 2007
'Independança' finalmente em CD

Independança é um dos discos mais importantes da primeira geração pop/rock portuguesa de 80 e, claramente, um dos mais interessantes momentos da obra dos GNR, podendo-se mesmo afirmar como o seu melhor disco (com concorrência próxima dos imediatamente sucessores Defeitos Especiais, de 1984 e Os Homens Não Se Querem Bonitos, de 1985). Trata-se de um espaço de invulgar liberdade e fulgor criativo, mostrando vários pólos de interesse, diversas rotas estéticas, múltiplas ideias e formas. O álbum permite a coexistência de uma identidade pop com uma pulsão experimentalista que então habitava entre a banda, “conflito” de valores que ditaria, pouco depois, o afastamento de Vítor Rua, que concentraria então as atenções nos Telectu. A face A é uma exposição de vitalidade pop, atenta às linguagens do seu tempo (o disco é um dos mais coesos reflexos em Portugal da cultura pós-punk), e na qual se guardam algumas das mais contagiantes canções dos GNR, de Hardcore (1º Escalão) a Dupond & Dupond, de O Slow Que Veio do Frio ao Agente Único. Nelas se reflecte um sentido plástico infinitamente mais rico que na esmagadora maioria das bandas portuguesas da época, assim como se revelava a poética de Rui Reininho, que no álbum assinalava ainda a sua estreia no grupo. A mitologia pop portuguesa (se é que tal coisa existe) tende contudo a evocar frequentemente Independança pelo bizarro Avarias, “épico” free-rock que ocupa a totalidade dos 27 minutos de som da face B. Trata-se de uma experiência mais curiosa que musicalmente marcante, assinalando sobretudo uma postura de desafio formal que Independança acolhe na perfeição.
Touros, rock'n'roll y... olé!
Um 'Abril' pouco entusiasmante

terça-feira, novembro 27, 2007
Discos da semana, 26 de Novembro

Burial
“Untrue”
Hyperdub Records / Flur
5/5
Para saber mais: Site da editora

The Bird and The Bee
“The Bird and The Bee”
3/5
Blue Note / EMI Music Porugal
Para ouvir: MySpace

Neil Young
“Chrome Dreams II”
Reprise / Warner
4/5
Para ouvir: MySpace

The Wombats
“A Guide To Love, Loss & Desperation”
14th Floor Records / Compact
3/5
Para ouvir: MySpace

Yeasayer
“All Hour Cymbals”
We Are Free / Sabotage
4/5
Para ouvir: MySpace
Também esta semana:
Scissor Sisters (DVD), GNR (reedição), Jorge Palma (reedição), Tantra (reedição), Manuela Moura Guedes (reedição), Sheiks (antologia), Gorillaz (compilação), Live Earth, Ryan Adams (EP), Damien Rice, Nine Inch Nails, Whitest Boy Alive, Mazgani
Brevemente:
3 de Dezembro: Rufus Wainwright (DVD – Judy Garland), U2 (reedição), Jean Michel Jarre (regravação de Oxygene), Gravenhurst, The Magnificents, Echo & The Bunnymen (best of), The Wedding Present (live), Siousxie & The Banshees (reedições), Monkees (best of), Tom Tom Club (reedição)
10 de Dezembro: Rufus Wainwright (CD – Judy Garland), Muse live), Pink Floyd (caixa), Happy Mondays (reedições), Sylvain Chauveau, John Lennon (reedição), Caetano Veloso (DVD)
Dezembro: Johnny Greenwood, Radiohead, Montag
Janeiro: Magnetic Fields, British Sea Power
segunda-feira, novembro 26, 2007
Os actores americanos face à greve

Os profissionais americanos encontram-se fortemente mobilizados para a situação, sendo o blog United Hollywood um local de eleição para acompanhar os acontecimentos e compreendermos o que está em jogo. Os actores, em particular, têm contribuído através da criação de uma série de videos que, de forma muito simples e contundente, mostram aquilo a que ficam reduzidos sem a escrita dos argumentistas. O movimento chama-se Speechless ("sem palavras") — Sean Penn, Susan Sarandon, Harvey Keitel, William H. Macy, Rosanna Arquette, Laura Linney, Matthew Modine e muitos, muitos outros, estão envolvidos no processo. Este é um dos seus videos.
Realização: George Hickenlooper, Alan Sereboff, Kamala Lopez, Jill Kushner e Michal Shemesh
Equipa técnica: Joel Marshall e Justin Shumaker
Música: Mother Tongue
Elenco: David Schwimmer, Kate Beckinsale, Chic Eglee, Susan Sarandon, Benito Martinez, Walton Goggins, Sean Penn, Richard Benjamin, Paula Prentiss, Paula Garces, Garry Marshall, Lizzy Caplan, Holly Hunter, John Amos, Gary Dourdan, Matthew Perry, Bill Hader, Robert Patrick, James Lemar, Joshua Jackson, Matthew Modine, Bill Macy, Andre Benjamin, Rosanna Arquette, Jill Kushner, Chazz Palminteri, Cch Pounder, Tim Robbins, Sean Penn, Christine Lahti, Eva Longoria, Patricia Clarkson, Amy Ryan, Frances Fisher, Justine Bateman, Jason Bateman, Ed Asner, Nicolette Sheridan, Felicity Huffman, America Ferrera, Judith Light, Rebecca Romijn, Ana Ortiz, Ashley Jensen, Mark Indelicato, Tony Plana, Freddy Rodriguez, Eric Mabius, Christopher Gorham, Michael Urie, Laura Linney, Alan Cumming e Michael Jace.
A IMAGEM: Richard Avedon, 1968
Duran Duran: pop + pop
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O teledisco propunha uma deliciosa paródia visual que colocava os Duran Duran num cenário onde se cruzavam lutadores do “sumo” japonês com uma galeria de modelos que, por assim dizer, desafiavam a força dos corpos masculinos com os argumentos próprios das suas poses. Com mais ou menos interdições, Girls on Film acabaria por conquistar um lugar emblemático na história dos clips musicais, vindo mesmo a arrebatar, em 1984, um Grammy para o melhor video/versão curta, atribuído à edição conjunta de Girls on Film e Hungry Like the Wolf (do álbum Rio, de 1982); foi, aliás, a primeira vez que tal categoria surgiu no gigantesco palmarés anual dos Grammy.
Passados 26 anos, os Duran Duran decidiram revisitar as suas próprias memórias com o teledisco de Falling Down (do novo álbum Red Carpet Massacre), magnífico exercício de uma pop cristalina que, como se prova, não menospreza as suas raízes figurativas. Dirigido por Anthony Mandler, Falling Down revisita o universo da moda, tendo como cenário uma clínica para super-modelos, com os Duran Duran a tocar numa das suas salas e o vocalista Simon Le Bon, em impecável fato branco, a assumir a personagem de director da clínica.
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A história iconográfica da pop faz-se destas interacções e, sobretudo, desta capacidade de expor a sedução e também as contradições das imagens do nosso próprio presente. Falling Down confronta-nos com a coexistência perversa das canções com o imaginário da moda, num jogo de atracção e repulsa que a música, de uma só vez, celebra e relativiza. Que seja uma banda veterana a relançar tal vocação, eis o que merece ser sublinhado, quanto mais não seja para resistirmos às muitas “revoluções” inócuas que todos os dias nos
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Oscars 2007: o calendário


* 3 de Dezembro: limite de recepção dos créditos oficiais dos filmes candidatos
* 26 de Dezembro: envio dos boletins para as nomeações
* 12 de Janeiro: encerramento da recepção dos votos para as nomeações
* 22 de Janeiro: anúncio das nomeações (Samuel Goldwyn Theater, Los Angeles, 05h30, hora local)
* 30 de Janeiro: envio dos boletins de voto
* 4 de Fevereiro: festa de apresentação dos nomeados
* 9 de Fevereiro: entrega dos prémios científicos e técnicos
* 19 de Fevereiro: encerramento da recepção dos votos (17h00, hora de Los Angeles)
* 24 de Fevereiro: OSCARS.
... E para além do futebol?

Futebol é cultura.
Toda a gente o sabe, mas poucos o reconhecem. Futebol cola-se a valores nacionais e patrióticos, e isso é cultura. Futebol promove actividades publicitárias que veiculam modelos de comportamento social, e isso é cultura. Futebol tem protagonistas que não param de dissertar sobre dignidade (“perdemos com dignidade”), trabalho (“precisamos de continuar a trabalhar”) e organização hierárquica (“o mister é que sabe”), e isso é cultura.
Toda a gente o sabe, mas não vejo responsáveis pelas programações televisivas a reconhecê-lo. Ficar-lhes-ia bem, quanto mais não seja porque evitaria esse cinismo agressivo que insiste em proclamar que “isso” de cultura é coisa de filmes, livros e peças de teatro, coisas com que intelectuais e artistas insistem em aborrecer-nos.
Que futebol é cultura demonstra-o, uma vez mais, a promoção maciça dos recentes jogos da selecção nacional. Por mim, confesso, pertenço àquele lote de treinadores de bancada que considera que a equipa está a jogar cada vez pior... Mas isso não passa de um pormenor irrelevante. O que importa sublinhar é que não há memória de haver um mísero livrinho, nem um qualquer Saramago que mereça tanto tempo de antena (a não ser o grosseiro marketing de Harry Potter). Seria um disparate, aliás, se tal acontecesse. O que só reforça a pertinência da pergunta: porque é que os destinos da nação quase só se medem em termos futebolísticos? Não há mais cultura? Cristiano Ronaldo é um talento e uma simpatia, mas não há outros modelos de comportamento que se possam oferecer aos nossos jovens?
Os Pontos Negros: neo-punk?

A questão é, também ela, muito simples: pel' Os Pontos Negros passa uma multiplicidade de referências (dos Strokes a António Variações?...) que definem uma atitude criativa que se faz de duas vias de eleição: a alegre reconversão de uma sensibilidade a que apetece chamar neo-punk e a fixação muito directa num quotidiano cru, ambíguo e sempre desconcertantemente poético. Em Numerologia, por exemplo, eles cantam assim:
Um dia acordei e tentei
Vestir-te de palavras mil
Para não ter de explicar de cor
A tua geografia
Para ouvir. Para ver (as imagens são deliciosas de ironia e poesia). E para dizer que, no espaço das formas audiovisuais, há mais mundos para além da mediocridade asfixiante da "juventude-morangos-com-açúcar".
Chegaram os Pontos Negros

O aparecimento, cada vez mais evidente, de uma nova geração de bandas a cantar em português devolve ao presente a pulsão que no passado fez a diferença dos yé yés nos dias do Quarteto 1111 e Filarmónica Fraude ou que deu real visibilidade ao fenómeno pop/rock na primeira metade de 80. O desafio de encontrar uma expressão, em português, para modelos musicais que nos chegam com bilhete de identidade já conhecido é, chave segura para ensaiar personalidade (sem garantias, naturalmente). Para que cada um, por aqui, nas palavras que conhece, em que fala, lê e sonha, se encontre na música onde se quer também descobrir.
Não é por passadismo ou nostalgia dos “booms” passados que aqui se sublinha a opção pelo português na hora de cantar. Uma compilação, recentemente editada pela Chiado Records, assim como o Acorda (de Henrique Amaro) dá conta da extrema vivacidade e liberdade que brotam do Portugal musical actual. Porém, poucos daqueles nomes sobreviverão ao “é giro”... Poucas demonstrarão capacidade para sustentar uma carreira e mostrar que são mais que a tal amálgama de referências... Depois dos 2008 (de quem se espera disco... em 2008), a mais estimulante revelação do rock made in Portugal chega de Queluz, e canta em português. Chamam-se Pontos Negros e apresentam um EP de estreia no qual, apesar das ainda evidentes manifestações de admiração pelas “suas” bandas (o gosto pelos Strokes mora por ali), já revela a vontade de marcar um espaço, comunicar, desafiar a comunhão. O seu nome é uma espécie de jogo de contrários com ponto de partida nos White Stripes. Mas em vez de procurarem a aplicação directa dos templates admirados, mostram vontade de contar as suas histórias, as verdadeiras e as de eventuais personagens de ficção. Para já soam a trabalho em curso... Têm uma etapa de maturação e conquistas pela frente, que determinará os “sims” e as sopas... Mas mostram já um bom ponto de partida. Estejamos atentos a estes Pontos Negros.
Link para o MySpace da banda, onde se pode fazer o download gratuito do EP.
Corpos e um piano
Sparks em reedição.
Os mundos de Steve McCurry

domingo, novembro 25, 2007
Discos Voadores, 24 de Novembro

Okkervil River “Unless It’s Kicks”
John Vanderslice “White Dove”
Final Fantasy “Hed Dad!”
Gorillaz “Stop The Dams”
Shady Bard “Torch Song”
Kevin Ayers “Friends and Strangers”
House Of Love “Road”
Sean Riley & The Slowriders “Moving On”
Deerhof “Matchbox Seeks Maniac”
No Kids “Another Song”
New Pornographers “Challengers”
The Raveonettes “One Day At A Time”
Blonde Redhead “Top Ranking”
Clã “Mandarim”
Brisa Roché “Breathe In Speak Out”
Au Revoir Simone “Stars”
Duran Duran “Skin Divers”
The Killers + Lou Reed “Tranquilize”
David Fonseca “Kiss Me, Oh Kiss Me”
House Of Love “Sulphur”
House Of Love “Hope”
House Of Love “Love In a Car”
House Of Love “Man To Child”
House Of Love “Fisherman’s Tale”
House Of Love “Touch Me”
House Of Love “Destroy The Heart”
The La’s “There She Goes”
The Lilac Time “Return To Yesterday”
Love & Rockets “No New Tale To Tell”
Morrissey “Everyday Is Like Sunday”
House Of Love “Crush Me”
House Of Love “Never”
The Weatherman “If You Only have One Wish”
Discos Voadores - Sábado 18.00 / Domingo 22.00
Radar 97.8 FM ou www.radarlisboa.fm
Discos Voadores 7.0: o set

Philip Glass + David Bowie “Heroes (Aphex Twin Remix)”
Murcof “Cometa”
Pantha du Prince “Saturn Strobe”
Lindstrom “Let’s Practice”
Future Sound Of London “Lifeforms”
Groove Armada “At The River”
Serge Gainsbourg + Howie B “La Ballade de Melody Nelson”
The Machines “Mon Coeur”
Darkel “Be My Friend”
Air “Surfin On A Rocket”
Fluke “Joni”
The Grid “Crystal Clear”
Midnight Juggernauts “Into The Galaxy”
Duran Duran “Skin Divers”
Trademark “Toe The Line”
DK7 “Where’s The Fun”
White Rose Movement “Girls In The Back”
Shout Out Louds “The Comeback”
The Teenagers “Startlett Johansson”
Protocol “Where’s The Pleasure”
Cat People “Everyone Can Tell You”
Editors “Smokers Outside The Hospital Doors”
Interpol “The Heirich Manouver”
The Cinematics “Break”
Air Traffic “Charlotte”
The Wombats “Kill The Director”
Radiohead “Just”
The Raconteurs “Steady As She Goes”
Frank Black “Threshold Aprehension”
Breeders “Cannonball”
The Royal We “I Hate Rock’N’Roll”
The Long Blondes “Giddy Stratospheres”
Yeah Yeah Yeahs “Kiss Me”
The Sounds “Painted By Numbers”
The Pipettes “We Are The Pipettes”
Kim Wilde “Camboja”
Blonde Redhead “Silently”
Lilly Allen “Alfie”
The B-52’s “Rock Lobster”
New Young Pony Club “Ice Cream”
Noblesse Oblige “Bitch”
The Kills “The Good Ones (Tiga remix)”
Klaxons “Gravity’s Rainbow (Soulwax remix)”
Chemical Brothers “Do It Again”
The Whip “Sister Siam”
Bloc Party “The Prayer”
Boys Noize “& Down”
Vitalic “My Friend Dario”
Arctic Monkeys “I Bet You Look Good On The Dance Floor”
Strokes “Juicebox”
The Hives “Return The favour”
The Jam “Going Underground”
Franz Ferdinand “Do You Wanna”
Bauhaus “Ziggy Sytardust”
David Bowie “Rebel Rebel”
Duran Duran “Girls On Film”
Fischerspooner “Emerge”
Frankie Goes To Hollywood “Relax (New York Mix)”
The Bravery “Na Honest Mistake”
Interpol “C’mere”
The Wombats “Let’s Dance To Joy Division”
Joy Division “Love Will Tear Us Apart”
She Wants Revenge “Never Tear Us Apart”
The National “Apartment Story”
TV On The Radio “Wolf Like Me”
White Stripes “Conquest”
Battles “Atlas”
Animal Collective “Peacebone”
Underworld “Born Slippy”
Propellerheads + Shirley Bassey “History Repeating”
Panda Bear “Comfy In Nautica”
Diz-me que imagem roubas...


A hora da memória

Teatro de vozes


sábado, novembro 24, 2007
Dylan + Haynes + Lachman

Veronika e Véronique

O reconhecimento da obra do cineasta polaco Krzystzof Kieslowski passa por dois momentos fundamentais: em 1989-90, na sua Polónia natal, dirigiu a série Decálogo, uma reflexão perturbante (inspirada no texto dos Dez Mandamentos) sobre as relações entre os seres humanos e o transcendente, e também um marco na história moderna da televisão; depois, em 1993-94, já com produção francesa, assinou a célebre trilogia das cores (Azul, Branco, Vermelho), reflexão multifacetada sobre os enigmáticos cruzamentos da vida material e do reino do espiritual (Kieslowski viria a falecer em 1996, com apenas 54 anos de idade).
Entre uma coisa e outra situa-se este filme, a todos os títulos admirável, que é A Dupla Vida de Véronique. Lançado em 1991, corresponde, aliás, a uma espécie de ritual de passagem entre a Polónia e a França, quanto mais não seja porque se trata de uma coprodução entre os dois países. Mais do que isso, esta é uma história literalmente dividida entre dois países, duas personagens e, por assim dizer, duas formas de assombramento.
Para a actriz francesa Irène Jacob, este foi um momento vital de afirmação do seu imenso talento (vimo-la recentemente em A Vida Interior de Martin Frost, de Paul Auster). Então com 25 anos, ela interpreta aqui duas personagens: a polaca Veronika, estudante de música, e a francesa Véronique, que ambiciona ser cantora. Por um lado, desconhecem-se em absoluto; por outro lado, as convulsões da vida de uma parecem ecoar na existência da outra, como se não fossem mais do que duas identidades ligadas por um segredo impossível de revelar... No fundo, Kieslowski filma esse sentimento, ao mesmo tempo sensual e inquietante, de não estarmos completamente no lugar em que estamos, de nos completarmos apenas noutra dimensão, através de algo ou alguém que desconhecemos.

sexta-feira, novembro 23, 2007
Spiritualized: álbum em 2008
Recordar Ian Curtis (7)

A 13 de Maio regressa a casa para ver mulher e filha. Tira uma fotografia com Natalie, a sua última fotografia. Nos dias seguintes está com amigos e colegas, discutindo com aparente entusiasmo a viagem à América. No dia 17 tem uma longa conversa com a mulher. Esta, no seu relato, recorda que nas primeiras horas da manhã ele tinha visto um filme de Herzog, bebido café e estava animado. Falaram da degradação da relação, de Annik, do seu receio em que ela conhecesse um homem enquanto ele estivesse fora. Deborah acaba por ir dormir a casa dos pais. Ian pedira-lhe para não regressar antes das dez da manhã, hora a que deveria apanhar um comboio para Manchester. Bebe mais café, acaba a garrafa de whisky que tinham na despensa. Tira a fotografia da filha da parede, ouve The Idiot de Iggy Pop e escreve uma longa carta à mulher. Pedia-lhe para não entrar em contacto com ele durante algum tempo porque lhe era difícil falar com ela, revelou Deborah mais tarde. Esta regressa de manhã a casa. Sente a falta do cheiro a tabaco na sala. Vê a carta sobre a lareira, e, olhando para o lado, constata que Ian ainda ali está, ajoelhado, na cozinha. Fala com ele. Só então repara na cabeça tombada, as mãos sobre a máquina de lavar, a corda em volta do pescoço.

quinta-feira, novembro 22, 2007
FOTOGRAMAS: O Homem Elefante, 1980

THE ELEPHANT MAN / O Homem Elefante
Reino Unido/EUA, 1980
Realização: David Lynch
Produção: Brooksfilms
Argumento: Christopher De Vore, Eric Bergren e David Lynch, a partir de livros de Sir Frederick Treves e Ashley Montagu
Interpretação: Anthony Hopkins, John Hurt, Ann Bancroft
No país de David Lynch

Estamos muito para além dos pressupostos correntes do género de terror (a bem dizer, de qualquer género...). A história do homem (interpretado pelo lendário John Nance, noutros títulos identificado como Jack Nance) que deve cuidador do seu bebé-monstro é uma daquelas fábulas capaz de relativizar todas as divisões tradicionais com que organizamos a nossa experiência existencial. Trata-se de uma história de um realismo cru e, ao mesmo tempo, de uma aventura interior transfigurada em cenários de fascinante imponderabilidade — penetrar em Eraserhead é, de facto, entrar num país novo cujo mapa foi desenhado pelo próprio Lynch.
Cores que escorrem
Led Zeppelin em digressão
Recordar Ian Curtis (6)


O que vem aí

O que vem aí, não tenhamos ilusões, será quase sempre estranho ao simples gosto pela energia própria do desporto, de qualquer desporto. O espaço dos sons e das imagens vai ser invadido (em boa verdade, já está...) pelos valores da histeria futebolístico-consumista — o ruído e o fogo de artifício ditarão as suas leis. E haverá sempre quem nos garanta que, com tudo isso e, sobretudo, por causa de tudo isso, seremos mais felizes.
Beatles for sale

quarta-feira, novembro 21, 2007
A day in the life
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Qual é o melhor biopic rock'n'roll?

Backbeat (1994, Ian Softley) – Stuart Stutcliffe
Beyond The Sea (2004, Kevin Spacey) – Bobby Darin
Control (2007, Anton Corbijn) – Ian Curtis
La Bamba (1987, Luis Valdez) – Ritchie Valens
Ray (2004, Taylor Hackford) – Ray Charles
Sid & Nancy (1986, Alex Cox) – Sid Vicious
Stoned (2005, Stephen Wooley – Brian Jones
The Doors (1991, Oliver Stone) – The Doors
Walk The Line (2005, James Mangold) – Johnny Cash
Plural majestático
Visage em segunda vida

Recordar Ian Curtis (5)


A 16 de Outubro de 1979, numa pausa na digressão dos Buzzcocks, a Joy Division toca em Bruxelas, no Plan K. É aí que se pensa que Ian terá conhecido a fã Annick Honoré que rapidamente se torna a sua amante e sombra omnipresente (para descontentamento dos restantes membros da banda). Quando de regresso a casa Ian está cada vez mais distante, ausente. Em Janeiro de 1980 o grupo parte para uma exigente digressão europeia. Apesar da política de Greton que pede o afastamento de mulheres e namoradas, Ian leva Annick consigo. Ataques ocasionais ensombram a digressão. Nesses momentos, Annick afasta-se. Ian sente a rejeição e experimenta o frio da solidão. Publicamente, contudo, a banda vive momentos de glória. As canções são cada vez melhores, a voz de Ian mais encorpada e expressiva. As letras mais intensas.
terça-feira, novembro 20, 2007
Marilyn Manson + Gottfried Helnwein
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Há quem diga que o nosso destino está escrito no nome que nos deram ou decidimos usar. No caso de Marilyn Manson (nome verdadeiro: Brian Hugh Warner), a identidade assumida decorre de um perverso, mas lúcido, exercício de simbologia made in USA: “Marilyn” vem da mais lendária musa do cinema americano; “Manson” é o apelido de uma figura inquietante da história do crime nos EUA (responsável pela morte de Sharon Tate, em 1969, então casada com o cineasta Roman Polanski).
É uma identificação crua e, à sua maneira, muito sincera. Marilyn Manson coloca a sua música num lugar onde se cruzam duas componentes básicas da cultura pop americana: de um lado, o sonho de um paraíso que se confunde com os artifícios do espectáculo e da frondosa tradição do entertainment; do outro, o pesadelo inquietante de um mundo rasgado pelas mais cruéis formas de violência e irracionalidade.
Terá sido em 2003, com o álbum The Golden Age of Grotesque, que Marilyn Manson gerou uma das suas mais sofisticadas alternativas visuais. Integrando referências da República de Weimar (antes da chegada dos nazis ao poder), as imagens do álbum, assinadas por esse extraordinário pintor/fotógrafo que é Gottfried Helnwein, combinavam os sinais de uma decadência amarga com o rato Mickey, símbolo universal da cultura pop americana. Em termos muito simples, Marilyn Manson é alguém que nos desafia constantemente a rejeitar as aparências do mundo e a banalidade das suas certezas.
'Mestre' reeditado em CD
