sexta-feira, novembro 23, 2007

Recordar Ian Curtis (7)

Com o divórcio entre as preocupações imediatas, Deborah vê a agenda de concertos da banda conhecer nova erupção entre Abril e Maio, mês no qual o grupo deveria partir em digressão para a América. Ian vive então na casa de Tony Wilson, depois está algum tempo com Bernard e mais tarde regressa a casa dos pais. A 2 de Maio, em Birmingham, a Joy Division dá o seu último concerto. O passo seguinte era americano, numa viagem preparada para assegurar conforto e cuidados ao vocalista. O velho amigo Terry Mason seria o responsável pelo seu bem-estar, pela medicação, pela tranquilidade. Loucuras e prazeres típicos de bandas em digressão estão vetados. Uma visita ao especialista de epilepsia coloca-o, a 6 de Maio, frente a um médico novo. Ian dá-lhe a ideia de um homem que quer recuperar e começar vida nova... Depois da consulta oferece a Terry alguns dos seus discos, entre os quais algumas raridades. Indícios para um fim em vista?

A 13 de Maio regressa a casa para ver mulher e filha. Tira uma fotografia com Natalie, a sua última fotografia. Nos dias seguintes está com amigos e colegas, discutindo com aparente entusiasmo a viagem à América. No dia 17 tem uma longa conversa com a mulher. Esta, no seu relato, recorda que nas primeiras horas da manhã ele tinha visto um filme de Herzog, bebido café e estava animado. Falaram da degradação da relação, de Annik, do seu receio em que ela conhecesse um homem enquanto ele estivesse fora. Deborah acaba por ir dormir a casa dos pais. Ian pedira-lhe para não regressar antes das dez da manhã, hora a que deveria apanhar um comboio para Manchester. Bebe mais café, acaba a garrafa de whisky que tinham na despensa. Tira a fotografia da filha da parede, ouve The Idiot de Iggy Pop e escreve uma longa carta à mulher. Pedia-lhe para não entrar em contacto com ele durante algum tempo porque lhe era difícil falar com ela, revelou Deborah mais tarde. Esta regressa de manhã a casa. Sente a falta do cheiro a tabaco na sala. Vê a carta sobre a lareira, e, olhando para o lado, constata que Ian ainda ali está, ajoelhado, na cozinha. Fala com ele. Só então repara na cabeça tombada, as mãos sobre a máquina de lavar, a corda em volta do pescoço.

O corpo de Ian é velado na Chapell of Rest, onde Tony agenda cautelosamente a visita de Annick, para evitar mais dramas. Tony Wilson também convida Paul Morley a comparacer, mas este fica à porta e recua. Wilson convidara-o para escrever "o" livro, mas Morley recusa. Ian Curtis é cremado a 23 de Maio de 1980. Na lápide Deborah inscreve: "Love Will Tear Us Apart". Love Will Tear Us Apart foi editado em Junho, e deu à Joy Divison a sua primeira entrada no Top 20. Closer, o álbum, também teve edição póstuma e subiu ao número seis da tabela de vendas, colhendo igualmente críticas de entusiasmo geral. Seis meses depois da morte de Ian, a banda reunia-se em estúdio para gravar um novo single. Bernard Sumner apresentava-se agora como vocalista. Gillian Gilbert, mulher de Stephen, entrava como teclista. Juntos gravaram Ceremony e o fúnebre (premonitório?) In A Lonely Place cujas maquetes haviam sido registadas com Ian Curtis, duas semanas antes do seu suicídio. As faixas eram parte de um novo single, apresentado como... New Order. É particularmente arrepiante a gravação de In A Lonely Place, canção na qual um morto, enforcado, é carpido por alguém que observa a sua lápide. Terá Ian Curtis escrito sobre a sua própria morte numa bizarra passagem de testemunho? Coincidência? Ou pura mitologia rock'n'roll?