domingo, novembro 25, 2007

Diz-me que imagem roubas...

Um dos efeitos mais sistemáticos, e também mais insidiosos, da ideologia tablóide é a generalização "liberal" das mais diversas formas de voyeurismo. Ou seja: se a imprensa e, sobretudo, a televisão se imiscui "naturalmente" nas vidas privadas, isso significa que cada um de nós não passa de um espelho da própria informação — no limite, há um paparazzi que dorme em cada um de nós.
Na primeira página de The Sunday Telegraph (25 Nov.) está um esclarecedor exemplo do modus operandi dessa ideologia. Assim, a página surge dominada por um instantâneo do Príncipe Carlos e Camilla: visados pelos fotógrafos, a imagem duplica o próprio gesto a que são sujeitos, uma vez que Camilla fotografa... os fotógrafos. Perspicaz, o título tira partido da ambivalência do momento, sugerindo: "Sorria... está na câmara de Camilla." Dito de outro modo: a lógica global dos apanhados é apresentada como uma espécie de lei "natural" do universo das suas personagens eleitas — como se vivêssemos, já não de relações, mas de um mero jogo de mútua e anedótica exposição. Se eu te roubo a tua imagem, é porque tu podes roubar a minha... Vivemos esta chantagem afectiva e iconográfica como se a democracia começasse e acabasse aí.