Nos EUA, a actual greve dos argumentistas — cinema, televisão e rádio — está longe de poder ser reduzida a um mero processo de reivindicações salariais. Se analisarmos os factos com um mínimo de frieza e objectividade, podemos compreender que está em jogo, afinal, toda uma mudança de paradigmas: perdidos numa nova rede económica — que vai do TiVo dos lares americanos (dispositivo que permite gravar e arquivar programas, excluindo a publicidade) às muitas difusões de ficção directamente para os computadores individuais — os argumentistas querem saber, afinal, por que é que os estúdios continuam a acumular receitas provenientes desses novos canais de difusão, sem que o seu papel de autores seja minimamente tido em conta na distribuição dos rendimentos.
Na prática, estamos a atravessar o fim da televisão clássica e a consolidação de todas as vias digitais de consumo. Damon Lindelof, co-autor e argumentista da série Lost/Perdidos [foto], considera mesmo que entrámos na fase de luto pela televisão: já não é de televisão que falamos, mas de... Internet — vale a pena ler o seu testemunho publicado no New York Times.