Confesso que me sinto cada vez mais distante das análises do desporto que as televisões propõem. No caso concreto do futebol, é uma tristeza verificar que dois em cada três comentários se fixam no “policiamento” das decisões dos árbitros, alheando-se do jogo jogado e transformando cada erro de arbitragem num rol de insinuações e suspeições... Quanto mais não seja como forma de contraponto emocional (o espectador também tem direito aos seus estados de alma), direi que foi através da televisão que aprendi a conhecer e admirar um desporto tão diferente como é o ténis. Acima de tudo, a televisão deu-me a possibilidade de sentir que o ténis se joga numa paisagem de delicada e muito sofisticada geometria, seja por causa da austeridade do seu rectângulo, seja pela precisão milimétrica que se exige aos seus praticantes. Daí que gostasse de partilhar com o leitor a beleza austera desta imagem do Open de Ténis da Austrália. Desde logo porque contraria a convenção dos clássicos courts verdes; depois porque faz coincidir um gesto de vitória com aquilo que será o seu complemento mais paradoxal: uma solidão imensa, desenhada em tons de azul.
sábado, janeiro 31, 2009
Ténis, versão azul
Confesso que me sinto cada vez mais distante das análises do desporto que as televisões propõem. No caso concreto do futebol, é uma tristeza verificar que dois em cada três comentários se fixam no “policiamento” das decisões dos árbitros, alheando-se do jogo jogado e transformando cada erro de arbitragem num rol de insinuações e suspeições... Quanto mais não seja como forma de contraponto emocional (o espectador também tem direito aos seus estados de alma), direi que foi através da televisão que aprendi a conhecer e admirar um desporto tão diferente como é o ténis. Acima de tudo, a televisão deu-me a possibilidade de sentir que o ténis se joga numa paisagem de delicada e muito sofisticada geometria, seja por causa da austeridade do seu rectângulo, seja pela precisão milimétrica que se exige aos seus praticantes. Daí que gostasse de partilhar com o leitor a beleza austera desta imagem do Open de Ténis da Austrália. Desde logo porque contraria a convenção dos clássicos courts verdes; depois porque faz coincidir um gesto de vitória com aquilo que será o seu complemento mais paradoxal: uma solidão imensa, desenhada em tons de azul.
Sobre memórias da TV dos anos 50
Em conversa: Zé Pedro (3)
Como é que os futuros elementos dos Xutos & Pontapés se conhecem?
O Kalú vem de um anuncio de jornal... Eu entretanto tinha ficado muito amigo do Pedro [Ayres Magalhães] e dos Faíscas... Zangaram-se com o Ramalho, e ficaram sem baterista. O que se faz? Mete-se um anuncio no Música & Som, que saía sabe-se lá quando... Metemos o anuncio com o número de telefone da casa dos meus pais. Fizeram entretanto as pazes, o Ramalho voltou. E começaram a chover telefonemas lá para casa. E o Pedro diz-me para ir guardando os telefonemas, que ainda acabava a ter uma banda e podia precisar de um baterista... Chegaram nove ou dez telefonemas com bateristas para a banda punk, que em principio seriam os Faíscas. O Kalú telefonou duas vezes... E refilou. E quando fui escolher o baterista ficou aquele. Tinha ligado duas vezes, devia estar interessado...
Ias então formar uma banda...
Íamos formar uma banda. Isto na altura em que havia o Zodíaco, na Infante Santo. Era um bar underground e aberto à malta toda. Chegámos a ter data agendada. O baixista seria o Zé Leonel. Eu estava a dar uns primeiros passos na guitarra. O Kalu supostamente seria o que teria mais experiência, que vinha de uma banda de baile. E o cantor era o Paulo Borges, que depois vai formar os Minas e Armadilhas. Nessa altura começaram a aparecer os primeiros fanzines. E também a cena do Brown’s. Começam a abrir coisas no Bairo Alto. Há ali um circuito das tascas... Isto já em 80/81...
E voltando ao que acabariam por ser os Xutos...
O Tim vem de Almada. Havia a ligação porque os UHF tinham começado lá. O Zé Leonel, tinha passado para vocalista e faltava-nos um baixista. Eu ia fazendo as músicas. Já havia umas letras... A Morte Lenta é dessa altura. O Dados Viciados também... Eu gostava de quebrar as regras do quatro por quatro, às vezes só para ser diferente. O Zé Leonel tinha visto o Tim a tocar guitarra de caixa. E foi-lhe perguntar se ele gostava de tocar baixo. Foi tudo muito rápido. Marcamos o ensaio... O enctontro com o Kalú foi na Trindade. Para o reconhecer ele disse que levava uma T-shirt do Lou Reed. O Tim conheço-o, estava sentado na Senófila.
E chega a noite da estreia... A 13 de Janeiro de 1979...
O Pedro Ayres decide acabar com os Faíscas, Tem uma conversa comigo. Diz-me que vai acabar com o grupo, e que aproveitávamos a festa, que ele já tinha outros projectos. Era o Corpo Diplomático... Diz-me que tinhamos de ir lá tocar e aproveitar a oportunidade... Que era eu que tinha de ficar a tomar conta do punk. Coisas de guerrilheiros... Eram as coisas que planeávamos, à volta de muito abssinto, misturado com cerveja. Tivemos até um contrato assinado pelos dois, em mortalhas, e com sangue! Conseguimos falar com o Tim. Marcámos um ensaio na Senófila. O Kalú estava na primeira semana na tropa. E como não havia telemóvel, fui para a porta do Ralis, para ver se o apanhava a sair... Tinhamos de ir ensaiar, que havia concerto à noite... Tinha passado o Natal e há já um tempo que não falávamos. Fazemos o ensaio, a correr, antes de jantar. Tinhamos a reserva na Senófila. Colamos ali umas quatro músicas... Fomos jantar. E só tocámos [já nos Alunos de Apolo] às duas da manhã... Foram para aí quatro músicas em seis minutos... Era eu que dava as saídas. Já chega... vai outra. Tocámos os Dados Viciados, outra que nunca chegámos a gravar. E acho que tocámos uma homenagem ao Bo Didley, que era o Bo Tás À Rasca, que também nunca gravámos... E mais uma que está esquecida... Devemos ter tocado aí um bocadinho de cada uma. Não tocamos nem metade das músicas! Ninguém assobiou nem ninguém bateu palmas... A festa estava animada. Os Faíscas tocaram o reportório deles. Nós tocámos tão rápido! Mas fomos festejar como sendo uma grande banda...
Já tinham o nome encontrado nessa noite. Como surgiu?
O Gimba também fazia parte desta trupe. À partida ele também teria uma hipotética banda comigo. Mas eram aquelas bandas de café, que nunca chegámos a tocar juntos... Há uma série de nomes em cima da mesa. E aparece um que é Beijinhos e Parabéns. E trocou-se logo para Xutos & Pontapés.
E a banda vai iniciando a sua história...
Entretanto o Zé Leonel sai. O Kalú tocava numa banda de baile onde tocava também o Francis, que acaba a entrar na banda. Depois vamos buscar outra vez o Zé Leonel e estamos os cinco a funcionar uns meses. Depois acabou mesmo por sair. Estávamos em sintonias diferentes... O Francis habituou-nos a, musicalmente, tornarmo-nos mais sólidos. Mas a certa altura já não tinha nada a ver comigo e entrámos num conflito grande. Mas enquanto ele lá esteve, foi extraordinário na maneira como elevou a fasquia musical dos Xutos. E eu tive de me esforçar...
O escritório (6)
Ao longo da história, esta sala mudou várias vezes de função. Nos anos 70 começou por ser a sala da secretária pessoal do presidente Nixon. Durante a administração Carter (na imagem), foi o seu escritório pessoal.
Em tempos era aqui que se instalava o Secretário do Presidente, cargo semelhante ao do actual Chief of Staff. Este era o aspecto do seu gabinete de trabalho, em 1946.
Son Lux: um prodígio de Nova Iorque
Para a NPR, o Top 10 dos grandes artistas desconhecidos de 2008 é liderado por Son Lux — nome de banda mas, no fundo, mais um caso prodigioso de um one-man-show: Ryan Lott. Com 29 anos de idade, Lott trabalha numa produtora publicitária de Nova Iorque, compondo pequenas bandas sonoras para anúncios de televisão e rádio, mas define-se como "produtor de hip hop". A sua música, simples e intrigante, feita de intimismo romântico e linhas agrestes de trip hop, tocada por uma fúria experimental que integra uma espantosa solidez de estruturas, é um continente que se desbrava num misto de euforia e contemplação. O seu álbum de estreia chama-se At War with Walls & Mazes. Este é o teledisco de Break, dirigido por Finbar Mallon.
>>> Top 10 de "desconhecidos" na NPR.
>>> Blog de Son Lux.
>>> Son Lux no MySpace.
5º canal — Mais televisão? Que televisão?
A abertura do concurso para um quinto canal de sinal aberto coloca algumas questões que vale a pena tentar equacionar. Em boa verdade, são questões pelo menos tão antigas quanto o aparecimento da televisão privada em Portugal. Podem resumir-se em dois vectores principais. Primeiro: qual o futuro do conceito (dominante) de televisão generalista? Segundo: qual a viabilidade económica, não apenas desse quinto canal (seja ele qual for), mas da conjuntura, “quatro + um”, que for criada?
A primeira interrogação remete-nos para uma certeza: o desenvolvimento da televisão privada (e com isto quero dizer: desenvolvimento com lucros) não tinha que ser feito através da degradação galopante dos nossos modelos de ficção (o império das telenovelas) nem com a imposição de matrizes de “espectáculo” enraizadas na obscena exploração da dignidade humana (Big Brother e seus derivados). Mais ainda: tal desenvolvimento também não precisava de ser “sancionado” por todas as formas de mimetismo, dos concursos ao futebol, que a televisão pública tem assumido em relação aos operadores privados.
Sobre a segunda dúvida, não creio que alguém possa apresentar previsões seguras sobre as relações (absolutamente vitais) entre cinco canais e um bolo publicitário que não cresce por meras boas vontades. E ainda menos num cenário de crise internacional como é aquele que se vive em todas as áreas de produção e consumo.
Significa isto que a simples ideia de um quinto canal é, em si mesma, nefasta? Não é esse o meu ponto de vista. Em todo o caso, o mais básico pragmatismo manda que se diga que vivemos num contexto em que esse “salto para a frente” pode transformar-se num gesto de absoluto irrealismo criativo e financeiro.
Vale a pena relembrar uma ideia simples, mas que poucos efeitos tem tido nas opções globais dos canais existentes: o aumento da oferta — através das dezenas, porventura centenas, de escolhas que o cabo proporciona — tem mostrado que há também uma importante diversificação da procura. Dito de outro modo: julgar que o público se reduz a uma massa amorfa à espera da próxima “cena de nu” em telenovela ou do novo concurso de “cultura geral” é não querer lidar com a pluralidade e a fragmentação desse mesmo público.
sexta-feira, janeiro 30, 2009
"Slumdog Millionaire": ele e ela (cont.)
A nomeação de Danny Boyle para os Oscars, como realizador do filme Slumdog Millionaire, tem suscitado algum debate de ideias. Como referi em post anterior, há quem considere que a não-nomeação da co-realizadora Loveleen Tandan representa uma forma de discriminação: a crítica Jan Lisa Huttner defende mesmo que é importante fazer pressão sobre a Academia de Hollywood no sentido de alterar a regra (só pode haver um nome nomeado na categoria de melhor realização) que "justifica" tal omissão. Nesse post escrevi:
>>> Tentando contrariar esta lógica, a crítica Jan Lisa Huttner tem chamado a atenção no seu blog The Hot Pink Pen — empenhado na defesa dos direitos de mulheres realizadoras e argumentistas — para o anacronismo da regra, considerando mesmo que se está a perder a oportunidade histórica de nomear a primeira mulher de cor para melhor realização (...) <<<
Estas palavras levaram um dos nossos visitantes, Wellington Almeida, a dirigir-me um mail. Eis a sua argumentação:
>>> Não tenho aqui muito a dizer e nem vou entrar em dissertações sociológicas a respeito das disparidades semânticas que uma palavra possa vir ter e vou directo ao assunto: como grande apreciador dos seus textos — sejam eles peças jornalísticas ou mesmo as "informais" aqui no blogue — acho extremamente perigoso que o senhor use este eufemismo "de cor" para designar a raça "negra". Já há muito tempo muita tinta é gasta sobre este tema (negro? preto?) e nem estou a fazer suposições sobre suas políticas pessoais, mas esta quase que "suavização" da palavra NEGRO torna-se inequivocadamente ofensiva para mim. Quero dizer, estão a perder a oportunidade histórica de nomear a primeira mulher de cor para melhor realização mas...de que cor? <<<
1. Começo por esclarecer que o eufemismo “de cor” não designa a raça “negra”: Loveleen Tandan é indiana e tem a pele castanha. Aliás, num artigo da Newsweek em que é referida a não-nomeação de Tandan como co-realizadora, Ramin Setoodeh escreve uma frase de certeira ironia: “[O filme] Slumdog está cheio de rostos castanhos (brown faces) mas, no palco dos Oscars, praticamente todas as pessoas que forem receber prémios por ele têm rostos brancos.”
2. O “anacronismo da regra” a que me refiro — e que Jan Lisa Huttner aponta — decorre, não da cor da pele seja de quem for, mas apenas do facto de não ser possível nomear mais do que uma pessoa na categoria de melhor realização (mesmo quando, como é o caso de Loveleen Tandan, alguém aparece citado no filme como “co-realizador”).
3. Foi a própria Jan Lisa Huttner a referir-se à situação utilizando a expressão “of colour” (“de cor”). A citação está disponível no IMDb: “Ao longo de 80 anos, apenas três mulheres foram nomeadas para o Oscar de melhor realização — Lina Wertmuller, Jane Campion e Sofia Coppola — e apenas dois homens de cor: John Singleton e Ang Lee, que ganhou por Brokeback Moutain. Se Loveleen Tandan for co-nomeada pelo seu trabalho em Slumdog Millionaire, então será a primeira mulher de cor a ser nomeada para o Oscar de melhor realização e, se ganhar, será a primeira mulher a receber tão grande honra.”
4. O meu texto contém um erro de citação: a expressão “primeira mulher de cor” deveria surgir entre aspas, desse modo remetendo para o discurso de Jan Lisa Huttner.
5. A questão de fundo que se coloca está exemplarmente resumida por Wellington Almeida quando pergunta: “(...) estão a perder a oportunidade histórica de nomear a primeira mulher de cor para melhor realização mas...de que cor?” A resposta directa à sua pergunta é: de cor castanha. Mas, de facto, cada palavra e cada expressão está muito longe de se esgotar no discurso de um indivíduo, seja ele quem for, ou nas suas intenções. Podemos reavaliar a complexidade semântica, simbólica, política e afectiva de tais questões através de um didáctico artigo de William Safire (‘On language; people of color’), publicado em 1988 em The New York Times — depois de comentar as muitas convulsões históricas das expressões que se referem à cor da pele, o autor conclui assim: “Quando usada por brancos, people of color [pessoas de cor] transporta normalmente uma conotação amigável e respeitosa, mas não deverá ser usada como sinónimo de negro [black]; refere-se a todos os grupos raciais que não são brancos.”
6. O meu texto contém um segundo erro, este de avaliação de linguagem. De facto, ao traduzir a expressão em causa (de cor), embora a tenha assumido no sentido que decorre do seu contexto de enunciação (americano), não tive em consideração os inevitáveis efeitos — simbólicos e de leitura — que podem ser arrastados pela passagem de uma língua para outra.
7. Wellington Almeida escreve que não faz “suposições” sobre as minhas “políticas pessoais”. Pelo contrário, creio que o pode e deve fazer, sobretudo quando, como é o caso, tenta fazer algo a que atribuo a máxima importância: a interpretação dos subtextos simbólicos que um discurso — por vezes, uma simples palavra — pode arrastar. Repudio todas as formas de racismo, pelos actos e pela escrita. Mas as declarações de princípio não devem impedir o reconhecimento de erros como aqueles que cometi. Por eles me penalizo, apresentando as minhas desculpas.
Conto de Verão
Disco dos Sigur Rós no 'The Independent'
O escritório (parte 5)
Bill Clinton, e alguns dos funcionários da Mess Hall, na pequena cozinha que serve a “cantina” da Casa Branca. A cozinha é uma divisão pequena, rectangular e estreita, com comunicação com a sala de jantar feita através de uma janela e um balcão de serviço.
Houve ocasiões em que a Mess Hall seriu para pequenas festas ou cerimónias, certamente de cariz mais privado, entre o presidente e os funcionários da West Wing. Nesta imagem, de 1963, vemos John e Jackie Kenndy numa ocasião festiva.
Memórias remisturadas
'Strange Behaviour', 1999 (compilação)
Em 1998 os Duran Duran estavam já fora do catálogo da EMI, com liberdade para pensar o seu futuro. Entretanto, a editora encetara uma série de operações centradas na obra que o grupo para si regstara desde 1981. O primeiro sinal dessa nova era chegou, em finais do ano, com Greatest. O episódio seguinte, já em Março de 1999, surgiu na forma de nova antologia, desta vez um CD duplo. Com o título Strange Behaviour (uma expressão retirada da letra de Skin Trade), a compilação recolhe uma série de remisturas. Na sua maioria são as versões dos máxi-singles editados desde 1981. Mas a eles o alinhamento juntou outras remisturas, algumas até então apenas usadas em discos promocionais. O CD 1 inclui os temas que correspondem à formação original, documentando o período 1981-84. O CD 2 apresenta remisturas realizadas entre 1986 e 1993. Entre o alinhamento surgem duas absolutas novidades: a Night Mix de Planet Earth e uma outra remistura inédita de Hold Back The Rain. O booklet, desdobrável, explora imagens de telediscos da banda.
2008: a fotografia em livro(s)
"Second Life": o filme
Infelizmente, repete-se com Second Life uma situação que, ao longo de décadas, tem marcado muitos filmes portugueses. O seu lançamento contribuiu para instalar um clima de conflito primário (em especial na Net) que nada tem a ver com o confronto de ideias. E quando o produtor Alexandre Valente fala em “revolucionar o panorama do cinema português” está, porventura com alguma ingenuidade, a criar problemas a si próprio.
De facto, quatro décadas passadas sobre a revolução sexual dos anos 60 (37 anos depois de O Último Tango em Paris), só por profundo logro simbólico se poderá pensar que há alguma “ousadia” em meia dúzia de planos anódinos de nus femininos. Qualquer melodrama (muito vestido) feito por Douglas Sirk na década de 50 envolve mais risco e perturbação.
Por perverso paradoxo, a história de Second Life — um homem que morre e “sobrevive” para a segunda vida a que se refere o título — está longe de aplicar um modelo simples. Na sua estrutura não linear, remete mesmo para as experiências mais ousadas (essas sim) do cinema dos anos 60, nomeadamente para clássicos de Alain Resnais como O Último Ano em Marienbad. Mas não são os modelos que fazem os filmes: Second Life é uma penosa colecção de cenas desgarradas, praticando todos os pecados (tempo dilatado, diálogos pesadamente “literários”, cenas sem motivação dramática) que o senso comum mais ignorante tende a atribuir ao cinema português “intelectual”.
Tudo isto é tanto mais triste quanto Second Life, desde a fotografia (Acácio de Almeida) à música (Bernardo Sassetti), revela um simples mérito de produtor: saber reunir profissionais com talento. Não basta, como é óbvio. Como não basta ir buscar nomes da televisão que, além de não serem capazes de inscrever no ecrã a mais discreta chispa de representação, nunca são objecto de qualquer verdadeiro trabalho de direcção. É a coisa mais penosa em qualquer filme: sentir que quem representa (vestido ou despido) está reduzido a uma função pobremente decorativa, sem dimensão humana.
quinta-feira, janeiro 29, 2009
Justin Vernon, aliás, Bon Iver
>>> Site oficial: Bon Iver.
>>> Bon Iver: MySpace.
>>> Página da editora americana: Jagjaguwar.
>>> Página da editora europeia: 4AD.
Música para Sam Mendes
Um pássaro, uma abelha e o futuro
Bowie em Berlim? Não...
Os tempos de Harvey Milk
Harvey Milk é uma figura com um certo peso na história da política americana. Em finais dos anos 70, depois de uma sucessão de derrotas eleitorais, foi eleito para um lugar na equipa de “supervisores”, cargo de relevância na estrutura autárquica de São Francisco. Longe de ser um ilustre desconhecido, Harvey Milk foi já biografado num livro de Randy Shilts (The Mayor Of Castro Street), assim como sobre ele Rob Epstein rodou, em 1984, o documentário The Times Of Harvey Milk (que este ano terá edição em DVD). Uma outra recente referência a Harvey Milk surgiu no documentário Follow My Voice: With The Music Of Hedwig, de Katherine Linton (2007), que acompanha o tributo que uma série de músicos (entre os quais as Breeders, Frank Black, os Yo la Tengo ou Rufus Wainwright) gravaram a partir canções da banda sonora de Hedwig & The Angry Inch, de John Cameron Mitchell, criando um disco que recolheu fundos para apoiar a Harvey Milk School, em Nova Iorque.
O escritório (parte 4)
A Situation Room foi criada por Kennedy, na sequência da crise cubana que então viveu. Para instalar a sala e funcionários adjacentes ao seu serviço decidiu retirar do piso inferior da West Wing uma sala de bowling que ali havia sido mandada construir por Harry Truman.
Harry Truman não era um jogador de bowling, mas deixou que entre os funcionários da Csaa Branca fosse criado um campeonto. Nos anos 70, Nixon construiu uma nova sala de bowling, na cave, exactamente sob a entrada principal na fachada Norte da Residência.
"Slumdog Millionaire": ele e ela
Acontece que a nomeação para Boyle é, no mínimo, incompleta, uma vez que Loveleen Tandan, directora de casting para as cenas na Índia, acabou por ser integrada na ficha do filme como co-realizadora — coisa que, em boa verdade, o próprio Boyle tem sido o primeiro a sublinhar publicamente (e que a publicidade nem sempre reflecte). Ora, em função de uma das regras da Academia de Hollywood, só uma pessoa pode ser nomeada na categoria de realização.
Tentando contrariar esta lógica, a crítica Jan Lisa Huttner tem chamado a atenção no seu blog The Hot Pink Pen — empenhado na defesa dos direitos de mulheres realizadoras e argumentistas — para o anacronismo da regra, considerando mesmo que se está a perder a oportunidade histórica de nomear a primeira mulher de cor para melhor realização (aliás, apenas três mulheres conseguiram essa honra: Lina Wertmuller, Jane Campion e Sofia Coppola, respectivamente em 1977, 1994 e 2004).
quarta-feira, janeiro 28, 2009
"A Duquesa": um trailer lamentável
Enfim, por aí não viria grande mal ao mundo. Acontece que a promoção do filme é um caso extremo de exploração de uma figura do imaginário britânico cujo poder simbólico será inútil sublinhar: a Princesa Diana (1961-1997). Assim, é certo que Diana pertence à vasta descendência de Georgiana, mas a sua integração na publicidade do filme tem qualquer coisa de obsceno: o trailer de A Duquesa não só utiliza imagens de Diana, como estabelece um paralelo grotesco, referindo-se a duas mulheres "unidas pelo destino" — vale a pena conhecer o trailer, quanto mais não seja para perceber como o marketing pode menosprezar todas as singularidades históricas, apenas para criar uma imagem "apelativa" dos produtos que trabalha.
"JL" x 1000
"Second Life": um filme de produtor
1. UM FILME DE PRODUTOR. Projectado ontem, dia 27, para a imprensa (estreia amanhã), Second Life é mesmo um filme de produtor — inevitável seria, não apenas porque o produtor Alexandre Valente co-assina a realização com Miguel Gaudêncio, mas também porque ele próprio se assumiu como principal protagonista de um debate que tem tido, pelo menos, o mérito de relançar algumas ideias, incluindo dos que se mantêm fiéis a uma visão maniqueísta, preferindo distribuir culpas pelo campo da crítica.
Bruce: "Reborn in the USA"
No dia 18 de Janeiro, no concerto “We Are One”, de celebração da tomada de posse de Barack Obama, Bruce Springsteen cantou This Land Is Our Land, com Pete Seeger. Foi um momento de luminosa confluência de símbolos: desde logo porque se tratava de uma canção lendária, escrita por Woody Guthrie, figura tutelar da folk americana; depois porque a companhia de Seeger, à beira de completar uns radiosos 90 anos (3 de Maio), sublinhava esse elo vital com a tradição da música popular; finalmente porque Springsteen ilustrava assim, não apenas o seu apoio a Obama, traduzido na participação em alguns concertos da respectiva campanha, mas também um continuado empenho na vida política dos EUA.
Nascido em 1949, Springsteen sempre foi uma personalidade eminentemente política, e com uma obra contaminada por muitas temáticas políticas, mesmo se isso não permite caracterizá-lo segundo os padrões do “militante” (sobretudo se tais padrões forem de raiz europeia). A sua dimensão política não nasce de formas oficiais de “filiação”, mas sim de um sentido crítico, e de um gosto de intervenção pública, que é inerente à própria tradição folk.
Nesta perspectiva, podemos defini-lo através de um estatuto comum a todos aqueles, de Woody Guthrie a Bob Dylan, cujas raízes estão no vasto mundo da folk: a de um exemplar contador de histórias. E bastará recordar os seus dois primeiros álbuns, ambos de 1973, na altura uma revelação explosiva na música americana: Greetings from Asbury Park, N.J. e The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle são, de uma só vez, evocações directas da juventude do seu criador, em New Jersey, e também pequenos contos ou fábulas sobre um tempo de muitas dúvidas e perplexidades (além do mais, com os traumas da guerra do Vietname bem sensíveis).
A partir daí, pode dizer-se que Springsteen não só tinha encontrado a sua identidade criativa, como encetava um processo de introspecção e pesquisa que viria a ter um momento exemplar em The River (1980), álbum que, nomeadamente na canção-título, canta o universo de uma classe operária que, afinal, pouco tem a ver com as cores e os temas do imaginário político europeu, antes surgindo ligada a um profundo romanesco que é indissociável do património literário e cinematográfico dos EUA.
É curioso referir que Nebraska (1982), o álbum que se sucedeu a The River, corresponde a um verdadeiro retorno às origens, com Springsteen a consumar uma extraordinário “one-man-show”: Nebraska foi gravado em casa do próprio Springsteen, com ele a assumir todos os papéis, incluindo a utilização da guitarra acústica e da harmónica (e, esporadicamente, alguns toques de guitarra eléctrica).
Logo a seguir a Nebraska, o álbum Born in the USA (1984) daria a Springsteen aquele que seria, talvez, o mais inesperado dos estatutos: o de estrela pop, em boa verdade uma das primeiras figuras emblemáticas da MTV (criada em 1981). Os telediscos de Born in the USA e, sobretudo, Dancing in the Dark foram peças decisivas para o impacto do álbum que continua a ser o maior sucesso de toda a sua carreira, com mais de 15 milhões de exemplares vendidos (apenas nos EUA).
Agora, com o álbum Working on a Dream, Springsteen reencontra um espírito de exaltação do imaginário popular americano que, como é óbvio, está desde logo presente na canção que lhe serve de título: a ideia de “trabalhar num sonho”, para além de remeter para todo um espírito colectivo de (re)construção, acaba por rimar com o voto de refazer (“remaking America”) expresso pelo próprio Obama.
Afinal de contas, em 2002, com The Rising, Springsteen tinha sido um dos primeiros a lidar com as feridas do 11 de Setembro, cantando a possibilidade de um renascimento que teria que passar sempre pela reavaliação da própria identidade colectiva. Aliás, o concerto para Obama foi, na verdade, um reencontro: em 2006, com o álbum We Shall Overcome: The Seeger Sessions, ele tinha já revisitado as canções de Pete Seeger, reabrindo as portas do sonho.
>>> Do novo álbum, este é o teledisco de My Lucky Day.
Baptista-Bastos: aqui e agora
Discos da semana, 26 de Janeiro
Murcof
“The Versailles Sessions”
Leaf / Flur
5 / 5
Para ouvir: MySpace
Depois da barrigada de boas ideias e belos discos que fizeram de 2008 um dos melhores anos de música portuguesa dos últimos tempos, 2009 entra em cena mantendo em “alta” este clima pop/rock oposto ao da “crise” de que se fala nos jornais e noticiários com a estreia em disco d’Os Quais. É “apenas” um Meio Disco. Um mini-LP, como se dizia em tempos, com um alinhamento de seis temas. Meio disco seja, mas já capaz de nos dar conta de uma ideia inteira. Uma ideia que parte da soma da escrita de Jacinto Lucas Pires (o escritor) à música de Tomás Cunha Ferreira (o pintor), juntando um mundo de canções escutadas que passam por nomes como os Beatles, António Variações, Prince ou Caetano Veloso. Este último, pelo tempero que domina algumas das canções no miolo do alinhamento, ganhará algum protagonismo na lista das citações de referências quando d’este disco d’Os Quais se falar. Mas Caetano é aqui tão assimilado como os demais “ícones” referidos, encarados através da vivencia dos dois músicos que fazem destas canções um local seu, matematicamente talvez algures entre os dois lados do Atlântico, mas com tempo e lugar assinalados claramente no nosso aqui e no nosso agora. As sugestões narrativas, assim como as molduras de som que as envolvem, colocam-nos no Portugal de hoje, pequenas citações servindo a caracterização dos cenários. Entre a linguagem rock’n’roll e a assimilação de modelos mais próximos da canção popular, o Meio Disco dá conta de uma ideia musical aberta ao desafio. De resto, as palavras de José Tolentino de Mendonça e o saxofone de Carlos Martins fazem já, de Caído no Ringue, uma das melhores canções que escutaremos este ano.
Os Quais
“Meio Disco”
Amor Fúria / Mbari
4 / 5
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Por muitas razões o regresso dos Franz Ferdinand aos discos era aguardado com expectativa. Era inevitável. A sua estreia, em 2004, revelou a mais entusiasmante colecção de canções que a pop britânica conhecia em vários anos, assinalando ainda aquela que se afirnaria como a obra central a uma nova geração de bandas que reencontrou como referência memórias (algo esquecidas) da new wave de finais de 70. Confirmaram o estatuto ao segundo álbum, numa altura em que alguns dos seus contemporâneos editavam segundos discos menores, alguns deixando o comboio logo nessa estação... E resolveram sair de cena. Alex Kapranos escreveu no Guardian uma coluna sobre restaurantes (que entretanto deu um livro). Tocaram com músicos africanos. Construiram o seu próprio estúdio. Testaram novas canções em concertos inesperados e nada mediatizados. E agora regressam... Tonight: Franz Ferdinand é contudo, e apesar de uma mão cheia de belíssimas canções (e de bons motivos para dançar), um relativo desapontamento. Não um tiro ao lado. Nem um desaire. Mas um retrato de uma aparente indecisão, parecendo o grupo querer estar em terreno seguro e, ao mesmo tempo, tactear ideias novas que, apesar de materializadas numa ou outra canção, não ganham nunca espaço para se afirmar em pleno. Live Alone pisca o olho à pop, com sabor electrónico. Send Him Away acolhe temperos afro. Bite Hard assimila heranças art rock de 70. E Lucid Dreams dá ideia de quão aliciante poderia ter sido o disco, caso este tivesse sido o caminho adoptado... Ao terceiro disco, os Franz Ferdinand mostram que souberam resistir à erosão que apagou do mapa ou magoou algumas outras carreiras nascidas na presente década. Mas ao jogar à defesa perdem a vantagem com que se apresentavam, como potenciais protagonistas, em 2009.
Franz Ferdinand
“Tonight: Franz Ferdinand”
Domino / Edel
3 / 5
Para ouvir: MySpace
Editado lá fora há já algum tempo, chega agora a estas paragens o álbum de estreia do colectivo Clare & The Reasons. A Clare do nome da banda é filha do guitarrista de blues Geoff Muldaur e reuniu à sua volta, pelo bairro de Brooklyn, em Nova Iorque, um “combo” que consigo partilha esta aventura pop com travo jazzy. Longe do apelo mais contemporâneo da dupla jazz pop The Bird & The Bee (que edita pela Blue Note), o álbum de estreia de Clare & The Reasons procura pistas em memórias da canção pré-rock’n’roll, não escondendo um gosto por referências retro que passam pela música do teatro musical e pelos domínios da pop orquestral. Não espanta a presença, entre a lista de colaboradores, de Van Dyke Parks, que assina arranjos. Mais inesperada é talvez a também mais discreta participação de Sufjan Stevens... O álbum apresenta uma colecção de canções delicadas, de formas polidas. Voz frágil, orquestrações luxuriantes, todavia cientes de que desenham um cenário. É um disco que pode cruzar gostos e públicos, firme numa linguagem popular, mas com algumas raízes firmes em terrenos menos “unânimes”. O alinhamento abre com Pluto, o momento maior do álbum, que regressa a fechar o disco, numa versão (com arranjo distinto) em francês. The Movie não é um álbum ousado ou aventureiro. É até uma experiência reveladora de um sentido de contenção. E talvez more nessa mesma contenção aquela dose adicional de entusiasmo que poderia ter transformado uma razoável de canções num momento surpreendente...
Clare & The Reasons
“The Movie”
Fargo Records
3 / 5
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Apesar das ocasionais excepções, o universo pop/rock britânico - facção alternativo, com guitarras, e claras ambições de querer ir mais longe - tem gerado poucas revelações decididamente marcantes nos últimos anos. E o álbum de estreia dos Glasvegas, apesar dos clamores que gerou “em casa”, está muito longe de ser o disco para fazer a diferença. Na base das ideias deste quarteto, nascido em Glasgow e com obra editada em singles desde 2004, está uma mão cheia de referências, as mais frequentemente citadas referindo as memórias de uns Jesus & Mary Chain ou o revisitar de modelos que colocaram na história o produtor Phil Spector... Mais uma pitada de Kasabian... E por perto também as presenças tutelares de uns Oasis... A música não esconde uma ambição épica de criar hinos. Hinos que sucedem, faixa a faixa, em doses de pompa oca que faz das canções pretensos monumentos pouco ou nada convincentes. O Beethoven emprestado a S.A.D. Light, convenhamos, não ajuda... No fim, o contraste entre a grandiosidade épica das formas e os retratos cantados, em aparente piscar de olho a supostos cenários de realismo social, sublinha o estranho sabor que nos deixa a audição do álbum. Um pouco como se o argumento para um filme de Mike Leigh acabasse nas mãos de um John Woo... É certo que evitam o baralha e volta a dar que nos últimos tempos fazia parecer que não havia saída para uma pop inglesa musculada (ler com guitarras) fora das esferas da reinvenção do legado new wave. Mas não deixam de transparecer uma vontade em seguir as piores opções das etapas menos estimulantes da obra de uns U2... E apesar da conta certa de dez temas, Glasvegas é daqueles discos que parece que nunca mais acaba...
Glasvegas
“Glasvegas”
Columbia / Sony
2 / 5
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Também esta semana:
Bruce Springsteen, Future of the Left, The Bird and The Bee, Johnny Cash (remixes), Of Montreal (EP), Six Organs of Admittance, Swing Out Sister, Titus Andronicus
Brevemente:
2 de Fevereiro: Doismileoito, Andrew Bird, Benjy Ferree, Jim White, Lloyd Cole, Dakota Suite, A Camp, Burt Bacharah (best of)
9 de Fevereiro: Lilly Allen, Van Morrission (live), Erasure (remixes), Frida Hyvonen, A.S. Mutter (Mendelssohn), Emmy The Great, Pet Shop Boys (reedições)
16 de Fevereiro: Beirut, Morrissey, M Ward, Empire Of The Sun, Dark Was The Night, Jah Wobble, Ultravox (reedições), Visage (reedição), REM (reedição), Graham Nash (reedição),
Fevereiro: Björk (DVD), Casiotone for the Painfully Alone, Kate Bush (DVD), Asobi Seksu, Dean & Britta (DVD), Vetiver, Grandmaster Flash, Pearl Jam (reedição), Robert Wyatt (caixa), John Hassel, J.E. Gardiner (Brahms), Sound of Arrows
Março: U2, Grizzly Bearl, Neko Case, White Lies (ed nacional), Xutos & Pontapés, The Prodigy, Mexican Institute of Sound, Mirah, Bonnie 'Prince' Billy, William Orbit, The Decemberists, PJ Harvey + John Parish, Arcade Fire (DVD), MSTRKRFT, Frank Black, VV Brown, Bell Orchestre, Fever Ray
Abril: Tortoise, Art Brut, Vitalic, Bill Callahan
O escritório (parte 3)
O ganinete de trabalho do vice presidente, como a maioria das salas da West Wing, ocupa uma divisão relativamente pequena. Sem o aparato (nem as tradições) da Sala Oval, inclui à mesma uma secretária e sofás para reuniões com o staff e visitantes. A grande diferença face à Sala Oval é a presença de um grande armário com livros, que Al Gore (na imagem) manteve por detrás da sua secretária.
Imagem de 1987, com o então (ainda) vice presidente George Bush no seu gabinete de trabalho. Tal como na Sala Oval, a decoração (sobretudo os estofos dos sofás) vai variando...
terça-feira, janeiro 27, 2009
John Updike (1932 - 2009)
in A Month of Sundays (1975)
Morreu John Updike, o autor dos livros do 'Coelho' (mais precisamente Harry 'Rabbit' Angstrom), dois deles distinguidos com o Prémio Pulitzer (Rabbit Is Rich e Rabbit at Rest, respectivamente em 1982 e 1993) — nascido no dia 18 de Março de 1982, em Shillington, Pensilvânia, Updike faleceu hoje, 27 de Janeiro, num hospital de Beverly Farms, Massachussetts, vitimado por cancro nos pulmões.
Os seus temas poderão resumir-se em dois vectores por ele próprio nomeados: as "pequenas cidades americanas" e a "classe média protestante". Romances como The Centaur (1963), Couples (1968) ou The Witches de Eastwick (1984) transformaram-no numa referência muito popular, em especial dos leitores norte-americanos — o último foi adaptado ao cinema, em 1987, numa realização de George Miller, As Bruxas de Eastwick, com Jack Nicholson, Cher, Susan Sarandon e Michelle Pfeiffer nos principais papéis.
Porventura um dos seus romances mais atípicos é o fascinante Seek My Face (2002), sobre o diálogo de uma pintora com uma jornalista que a "obriga" a rever a sua vida. Depois disso, Updike publicou ainda os romances Villages (2004) e Terrorist (2006), este um espantoso retrato do pensamento de um potencial terrorista, e duas colectâneas de ensaios, Still Looking: Essays on American Art (2005) e Due Considerations: Essays and Criticism (2007). Vários dos seus títulos existem em edição portuguesa com chancela da Civilização. O seu derradeiro romance, The Widows of Eastwick (sequela das Bruxas) foi lançado em Outubro de 2008 pela Knopf/Random House.
>>> Obituário em The New York Times.
>>> John Updike entrevistado por Dwight Garner (Salon).
>>> Colaborações de John Updike em The New York Review of Books.
À procura do tempo digital (4)
Taraji P. Henson (nomeada para o Oscar de melhor actriz secundária) segura Benjamin Button — "bebé-velho" ou "velho-bebé". Em qualquer caso, aquilo que ela segura é um ser cujo hibridismo tecnológico reflecte a própria ambivalência da actual idade do cinema: é ainda um corpo que, milagre da narrativa, ainda se adequa a outro.
Memória do Holocausto
"Cahiers": a acção cultural
1- Redacted, de Brian De Palma
2 - Juventude em Marcha, de Pedro Costa
3 - Cloverfield, de Matt Reeves
E para os leitores dos Cahiers:
1 - O Silêncio de Lorna, de Luc e Jean-Pierre Dardenne
2 - Este País Não É para Velhos, de Jole e Ethan Coen
3 - Valsa com Bachir, de Ari Folman
>>> Site oficial dos Cahiers du Cinéma.