Cate Blanchett em O Estranho Caso de Benjamin Button — uma fotografia a preto e branco que remete, irremediavelmente, para o passado; um olhar que procura esse passado ali mesmo ao lado mas que, de facto, o localiza algures num lugar apenas interior, in-substituível, porventura impossível de partilhar.
Assim é este filme prodigioso, lançando-nos na história de um homem — Benjamin Button (interpretado por Brad Pitt) — que nasce velho e envelhece... rejuvenescendo. Dito de outro modo: somos lançados na suprema ambivalência do tempo, agora dita/filmada através de um novo aparato tecnológico, isto é, digital — um aparato capaz de tratar o corpo do actor como uma paisagem sempre instável, algures entre a materialidade orgânica e a imaterialidade do pensamento como facto vivido. Sentimos que o próprio tempo (do cinema) chega, aqui, a uma charneira vital para a qual ainda não temos nome.
>>> Projecto Gutenberg: Tales of the Jazz Age, de F. Scott Fitzgerald (1896-1940), incluindo The Curious Case of Benjamin Button, o conto que serviu de ponto de partida ao argumento de Eric Roth para o filme de David Fincher.