sábado, janeiro 31, 2009

Em conversa: Zé Pedro (3)

Publicamos hoje a terceira parte da publicação de uma entrevista com Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés que evoca os 30 anos da banda, celebrados este mês. A entrevista serviu de base a um artigo publicado no suplemento DN Gente, a 10 de Janeiro.

Como é que os futuros elementos dos Xutos & Pontapés se conhecem?
O Kalú vem de um anuncio de jornal... Eu entretanto tinha ficado muito amigo do Pedro [Ayres Magalhães] e dos Faíscas... Zangaram-se com o Ramalho, e ficaram sem baterista. O que se faz? Mete-se um anuncio no Música & Som, que saía sabe-se lá quando... Metemos o anuncio com o número de telefone da casa dos meus pais. Fizeram entretanto as pazes, o Ramalho voltou. E começaram a chover telefonemas lá para casa. E o Pedro diz-me para ir guardando os telefonemas, que ainda acabava a ter uma banda e podia precisar de um baterista... Chegaram nove ou dez telefonemas com bateristas para a banda punk, que em principio seriam os Faíscas. O Kalú telefonou duas vezes... E refilou. E quando fui escolher o baterista ficou aquele. Tinha ligado duas vezes, devia estar interessado...

Ias então formar uma banda...
Íamos formar uma banda. Isto na altura em que havia o Zodíaco, na Infante Santo. Era um bar underground e aberto à malta toda. Chegámos a ter data agendada. O baixista seria o Zé Leonel. Eu estava a dar uns primeiros passos na guitarra. O Kalu supostamente seria o que teria mais experiência, que vinha de uma banda de baile. E o cantor era o Paulo Borges, que depois vai formar os Minas e Armadilhas. Nessa altura começaram a aparecer os primeiros fanzines. E também a cena do Brown’s. Começam a abrir coisas no Bairo Alto. Há ali um circuito das tascas... Isto já em 80/81...

E voltando ao que acabariam por ser os Xutos...
O Tim vem de Almada. Havia a ligação porque os UHF tinham começado lá. O Zé Leonel, tinha passado para vocalista e faltava-nos um baixista. Eu ia fazendo as músicas. Já havia umas letras... A Morte Lenta é dessa altura. O Dados Viciados também... Eu gostava de quebrar as regras do quatro por quatro, às vezes só para ser diferente. O Zé Leonel tinha visto o Tim a tocar guitarra de caixa. E foi-lhe perguntar se ele gostava de tocar baixo. Foi tudo muito rápido. Marcamos o ensaio... O enctontro com o Kalú foi na Trindade. Para o reconhecer ele disse que levava uma T-shirt do Lou Reed. O Tim conheço-o, estava sentado na Senófila.

E chega a noite da estreia... A 13 de Janeiro de 1979...
O Pedro Ayres decide acabar com os Faíscas, Tem uma conversa comigo. Diz-me que vai acabar com o grupo, e que aproveitávamos a festa, que ele já tinha outros projectos. Era o Corpo Diplomático... Diz-me que tinhamos de ir lá tocar e aproveitar a oportunidade... Que era eu que tinha de ficar a tomar conta do punk. Coisas de guerrilheiros... Eram as coisas que planeávamos, à volta de muito abssinto, misturado com cerveja. Tivemos até um contrato assinado pelos dois, em mortalhas, e com sangue! Conseguimos falar com o Tim. Marcámos um ensaio na Senófila. O Kalú estava na primeira semana na tropa. E como não havia telemóvel, fui para a porta do Ralis, para ver se o apanhava a sair... Tinhamos de ir ensaiar, que havia concerto à noite... Tinha passado o Natal e há já um tempo que não falávamos. Fazemos o ensaio, a correr, antes de jantar. Tinhamos a reserva na Senófila. Colamos ali umas quatro músicas... Fomos jantar. E só tocámos [já nos Alunos de Apolo] às duas da manhã... Foram para aí quatro músicas em seis minutos... Era eu que dava as saídas. Já chega... vai outra. Tocámos os Dados Viciados, outra que nunca chegámos a gravar. E acho que tocámos uma homenagem ao Bo Didley, que era o Bo Tás À Rasca, que também nunca gravámos... E mais uma que está esquecida... Devemos ter tocado aí um bocadinho de cada uma. Não tocamos nem metade das músicas! Ninguém assobiou nem ninguém bateu palmas... A festa estava animada. Os Faíscas tocaram o reportório deles. Nós tocámos tão rápido! Mas fomos festejar como sendo uma grande banda...

Já tinham o nome encontrado nessa noite. Como surgiu?
O Gimba também fazia parte desta trupe. À partida ele também teria uma hipotética banda comigo. Mas eram aquelas bandas de café, que nunca chegámos a tocar juntos... Há uma série de nomes em cima da mesa. E aparece um que é Beijinhos e Parabéns. E trocou-se logo para Xutos & Pontapés.

E a banda vai iniciando a sua história...
Entretanto o Zé Leonel sai. O Kalú tocava numa banda de baile onde tocava também o Francis, que acaba a entrar na banda. Depois vamos buscar outra vez o Zé Leonel e estamos os cinco a funcionar uns meses. Depois acabou mesmo por sair. Estávamos em sintonias diferentes... O Francis habituou-nos a, musicalmente, tornarmo-nos mais sólidos. Mas a certa altura já não tinha nada a ver comigo e entrámos num conflito grande. Mas enquanto ele lá esteve, foi extraordinário na maneira como elevou a fasquia musical dos Xutos. E eu tive de me esforçar...

(continua)