terça-feira, março 18, 2008

Paisagens americanas (7)

Como filmar os jovens? A pergunta não é meramente estética. É mesmo visceralmente política. Afinal de contas, de algumas publicidades de cerveja às telenovelas "adolescentes", todos os dias assistimos a essa pornografia televisiva que reduz os jovens a três componentes fundamentais: são intelectualmente inactivos, sexual-mente histéricos e afectivamente... não existem. Compreende-se, por isso, o incómodo quase físico de um filme como Paranoid Park: Gus Van Sant filma os jovens numa encruzilhada em que o espaço, sempre claustrofóbico, já não define nenhuma paisagem acolhedora — "como se sai daqui?", é a pergunta que o horizonte desfocado devolve.
Na evolução mais recente do cinema americano, este é um filme que, sintomaticamente, se cola a componentes correntes do universo da juventude (a começar pelo consumo). Dito de outro modo: Paranoid Park possui a agilidade libertadora de um teledisco, sem que isso não exclua, bem pelo contrário, a afirmação de uma dimensão eminentemente trágica. No limite, Gus Van Sant já não explora a mais clássica oposição "velhos/novos". Ou seja: este não é um filme sobre o tradicional "conflito de gerações". O que aqui está em jogo é um universo em que todos parecem infantilizados por uma lógica social e familiar irremediavelmente ferida pelas ilusões de um hedonismo pueril. Até a mesma a admirável banda sonora — combinando canções de Elliott Smith e temas compostos originalmente por Nino Rota para filmes de Federico Fellini — espelha uma angústia cruel, de uma quietude perturbante.
O tempo apresenta-se suspenso numa indecisão sem futuro. Quanto ao espaço, impossível defini-lo a partir de criérios de estabilidade ou coerência — afinal de contas, o skate é, aqui, o próprio símbolo do movimento.

> Outras paisagens: Nome de Código: Cloverfield / Eu Sou a Lenda / O Lado Selvagem / Haverá Sangue / Apocalypse Now / Danças com Lobos.