Ainda Nova Iorque, sempre Nova Iorque como centro das mitologias americanas... e da sua ressonância universal. Neste caso, trata-se de uma Nova Iorque pós-apocalíptica: em Eu Sou a Lenda, de Francis Lawrence (adaptado do clássico de Richard Matheson), Will Smith vive como o "único" sobrevivente de uma maldição nascida das manipulações científicas — já não é exactamente uma cidade, mas o mapa trágico de uma civilização perdida.
Curiosamente (mas sempre sintomaticamen-te...), o mesmo jornalismo que insiste em reduzir o cinema a uma fábrica de efeitos especiais, pouco ou nada tem para dizer sobre os espantosos efeitos visuais de Eu Sou a Lenda. Trata-se, não de criar um mundo "alternativo", antes de explorar ao máximo uma estranheza que nasce das maiores coincidências. As ruínas dos prédios, os carros em decomposição ou as ervas altas não apagam a sensação muito física de que nos movemos nos espaços lendários de Nova Iorque.
O cinema funciona, aqui, como máquina de uma visceral inquietação. Como se o apocalipse não fosse o outro lado da nossa existência, mas apenas uma ligeira diferença com que deparamos a partir do momento em que alteramos as superfícies do nosso mundo — poder simbólico, não de projectar o futuro, mas de reconfigurar o presente com a ambiguidade do nosso próprio medo.
> Outras paisagens: Nome de Código: Cloverfield.