É conhecido o cliché iconográfico e ideológico do western e dos tradicionais filmes de cavalaria: algures, lá ao longe, o exército surge como uma mancha enorme e coesa, eventualmente cenografado pelo som das trombetas — vai começar o ataque redentor das tropas, isto é, assistimos à história na sua (im)pura dimensão épica.
Ao dirigir, produzir e interpretar Danças com Lobos (1990), Kevin Costner como que "virou do avesso" essa lógica, aliás retomando a herança de vários westerns críticos dos anos 60/70 (Peckinpah, Polonsky, etc.). A ponto de, numa cena como esta, elaborar a própria crítica formal do dispositivo mais tradicional. Assim, o tenente Dunbar (Costner) penetra sozinho na paisagem, como uma personagem, não conquistadora, mas sobrevivente: embora do lado vencedor da União (veja-se a bandeira), passou a ser um indivíduo solitário, sem terra própria; além do mais, vêmo-lo como aquele que parte para a paisagem, de costas para a própria câmara, isto é, sem mais-valia mitológica automaticamente garantida.
A beleza desta nova disponibilidade para contemplar/filmar o horizonte é tanto mais forte quanto Danças com Lobos mantém uma relação criativa com o mais genuíno património espectacular de Hollywood — o uso do formato largo (scope) funciona também como o estabelecimento de uma relação directa com a crença nunca vencida na transcendência latente do espaço.
> Outras paisagens: Nome de Código: Cloverfield / Eu Sou a Lenda / O Lado Selvagem / Haverá Sangue / Apocalypse Now.
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