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Memórias de Robert Redford em
Jeremiah Johnson (1972), um dos mais belos filmes de Sydney Pollack [foto em baixo] e também uma sábia reconversão das paisagens clássicas do
western — curiosamente, é um daqueles títulos portugueses que, na sua "infidelidade" ao original, acaba por sugerir a pulsação interior do filme:
As Brancas Montanhas da Morte. Agora, no filme de Sean Penn —
Into the Wild/O Lado Selvagem —, são também as montanhas e a neve que servem de enquadramento à deambulação da personagem interpretada por Emile Hirsch.
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O que se anuncia em Pollack está definitiva-mente inscrito em Penn. Ou seja: mesmo com as eventuais reminiscências da tradição do
western, já não há redenção automática na imensidão do espaço. Dir-se-ia que há mesmo uma tragédia sempre suspensa que, apesar da crença
naïf do protagonista, contamina todos os seus gestos. Penn filma, assim, uma América em que coexistem a nitidez das mitologias e do desencanto do presente.
E não será necessário evocar o activismo político do actor/realizador para compreendermos o
statement ideológico de
O Lado Selvagem: face ao delírio que o mapa do Iraque já instalou no imaginário americano (
que país é aquele, como decifrar o seu labirinto?), Penn filma uma nação ainda capaz de contemplar os seus sonhos de grandeza — mesmo que
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sonho e pesadelo coexistam num misto de exaltação e mágoa. Se fazer política é repensar o lugar em que vivemos, então não há filme mais visceralmente po-lítico.
> Outras paisagens: Nome de Código: Cloverfield / Eu Sou a Lenda.