O espaço do Oeste, ou melhor, do western americano é, por definição, uma paisagem de vocação redentora — o campo (no sentido paisagístico, mas também cinematográfico) abre-se à sua própria exploração (económica e simbólica) e o homem nele encontra a sua identidade, tendencialmente a identidade do seu colectivo. There Will Be Blood/Haverá Sangue é um herdeiro directo dessa mitologia. No sentido mais primitivo da mitologia entendida como ficção (cf. Roland Barthes: francês, inglês). Mais pre-cisamente: a ficção como matéria que supera o real e sobre ele se abate, reorganizando-o.
Paul Thomas Anderson filma a relação persona-gem/paisagem como algo que, por princípio, es-tá em crise. A história (no sentido narrativo, mas também no plano historiográfico) nasce da tensão nunca aquietada entre o indivíduo e o espaço. No seu limite mais trágico, a perso-nagem pode ter nas suas costas — digamos, no seu contracampo — a prova cruel das atribula-ções da sua própria ocupação da paisagem. Nesta perspectiva, na sua desencantada poética, Haverá Sangue pode ser considerado um herdeiro perverso dos mais notáveis westerns críticos dos anos 60/70, como por exemplo The Wild Bunch/A Quadrilha Selvagem (1969), de Sam Peckinpah, e Tell Them Willie Boy Is Here/O Vale do Fugitivo (1970), de Abraham Polonsky. Em todos eles perpassa a utopia de uma nação ferida na sua própria relação com a paisagem — todos os heróis são inapelavelmente solitários.
> Outras paisagens: Nome de Código: Cloverfield / Eu Sou a Lenda / O Lado Selvagem.
> Outras paisagens: Nome de Código: Cloverfield / Eu Sou a Lenda / O Lado Selvagem.