domingo, dezembro 31, 2006

Feliz Ano Novo

Discos Voadores, 30 de Dezembro

Em fim de ano, e em jeito de top, as 20 melhores canções, naturalmente segundo o gosto do ovni... Ao mesmo tempo, alguns aperitivos para 2007 e ainda um fiozinho de azeite para a festa de ano novo...

The Good The Bad And The Queen “Kingdom Of Doom”
The Partisan Seed “The Old Garden”
Maps “Don’t Fear”
The Shins “Phantom Limb” (20)
Regina Spektor “Fidelity” (19)
The Pipettes “We Are The Pipettes” (18)
The Dandy Warhols “Have A Kick Ass Summer” (17)
The Sounds “Painted By Numbers” (16)
Junior Boys “In The Morning” (15)
The Knife “Marble House” (14)
Balla “O Fim da Luta” (13)
Yeah Yeah Yeahs “Cheated Hearts” (12)
To My Boy “The Grid” (11)
Lindstrom “I Feel Space”

U-Clic “Like”
JP Simões “Inquietação”
Carla Bruni “Those Dancing Days Are Gone”
Lisa Germano “After Monday” (10)
I’m From Barcelona “Collection Of Stamps” (9)
Sérgio Godinho “Às Vezes o Amor” (8)
Sonic Youth “Incinerate” (7)
Tom Verlaine “A Stroll” (6)
Beirut “Scenic World” (5)
TV On The Radio “Wolf Like Me” (4)
Cansei de Ser Sexy “Superafim” (3)
The Good The Bad And The Queen (2)
The Strokes “Ask Me Anything” (1)
1990’s “Arcade Precinct”
Sean Lennon “Wait For Me”
Amália Rodrigues “O Senhor Extraterrestre”


Discos VoadoresSábado 18.00 – 20.00 / Domingo 22.00 – 24.00
Radar 97.8 FM ou www.radarlisboa.fm

MAIL

2006: Os Livros

Terminamos hoje a publicação de listas dos melhores de 2006. E acabamos a ler, juntando edições nacionais e internacionais, autores portugueses e estrangeiros numa lista comum.

JL:

Em Portugal, o mercado livreiro vive cada vez mais assombrado por um paradoxo de crescimento: o número cada vez maior de edições faz com que haja também cada vez mais títulos que, independentemente das suas qualidades, não chegam a ter qualquer exposição nos escaparates das livrarias — isto para já não falar do seu desconhecimento no plano informativo e mediático. Neste aspecto, aliás, a cultura televisiva dominante promove um ódio crescente à escrita e aos escritores, até porque quase só os comemora de forma paternalista e provinciana, optando por doar o poder quotidiano da comunicação a treinadores e jogadores de futebol. Fica uma referência, por isso, para o programa A Câmara Clara, de Paula Moura Pinheiro, na 2: — mesmo que possamos discordar dos protocolos de abordagem dos chamados "produtos culturais", ao menos aí prevalece a ideia muito simples, mas essencial, de que é possível falar sobre livros (e pensar com eles) sem nos submetermos às pompas gratuitas de muitos telejornais.

Fiama Hasse Pais Brandão 'Obra Breve'
Vasco Graça Moura 'Poesia 2001/2005'
Franz Wright 'God's Silence'
Philippe Sollers 'Une Vie Divine'
Bernard-Henri Lévy 'American Vertigo'
John Updike 'Terrorist'
Michel Schneider 'Marilyn Dernières Séances'
Elmore Leonard 'The Hot Kid'
Patti Smith 'Complete 1975-2006'
10º Jean-Luc Godard 'Documents'

NG:

Oferta vasta em muitos destinos, todos os minutos livres ocupados de livro na mão... E uma pilha ainda por ler... O habitual. Na ficção, o deslumbramento com travo a fantástico de Haruki Murakami, a excelência da escrita de John Banville, a incrível capacidade de sobrevivência do texto de Edwin A Abbott e, finalmente, a tradução regular da obra de Reinaldo Arenas (Âmbar e Antígona a fazer um cuidado trabalho, com magníficas traduções). Houellebecq vezes dois (A Possibilidade de Uma Ilha e Extensão do Domínio da Luta), sempre arrebatador, mesmo que incomode muitos. Sebald com um retrato cortante da Alemanha do pós-guerra. Na música, destaca-se o magnífico livro de memórias de Joe Boyd (o homem que gravou os primeiros discos dos Pink Floyd ou Nick Drake), o de entrevistas a Tom Waits e o catálogo visual dos Pet Shop Boys (Catalogue).

Haruki Murakami, ‘Kafka à Beira Mar’
John Banville ‘O Mar’
Edwin A. Abbott ‘Flatland’
Reinaldo Arenas ‘O Assalto’
W.G. Sebald ‘Uma História Natural da Destruição’
Michel Houellebecq ‘A Possibilidade de Uma Ilha’
Joe Boyd ‘White Bicycles: Making Music In The 60’s’
Neil Ferguson ‘História Virtual’
Philip K. Dick ‘O Andróide e o Humano’
10º Tom Waits ‘Innocent When You Dream’

MAIL

Crianças do Curdistão

Crianças e armas — e um campo de minas à volta. Todo o impacto emocional do filme As Tartarugas também Voam começa pelo poder do seu realismo e, mais do que isso, pelo efeito de verdade que dele emana. Cineasta de origem curda, nascido no Irão, em 1969, Bahman Ghobadi continua, assim, a filmar as convulsões de um mundo em que as mais básicas certezas de sobrevivência quotidiana não estão garantidas. Dele conhecíamos Um Tempo para Cavalos Bêbedos (2000), também uma odisseia de fronteira, entre Irão e Iraque. Agora, num campo de refugiados do Curdistão, algures na passagem do Iraque para a Turquia, Ghobadi filma personagens que fazem da sua condição trágica o motor da sua própria resistência. É um belo filme político, desses que nos dizem que ser político não é escolher a "tendência", o "partido" ou a "cor" certa, mas manter os olhos disponíveis para ver e compreender o mundo à nossa volta.

MAIL

O bigode... suspeito

O ponto de partida é simples, mas a história evolui progressivamente mais bizarra e complexa. Um homem resolve cortar um dia o seu bigode, que usa desde há muitos anos. Mas estranha que a mulher não comente o novo visual. Nem a mulher, nem os amigos ou colegas de trabalho, que lhe juram todos eles a pés juntos que nunca usou bigode na vida, encarando-o como se algo errado estivesse a acontecer. Marc (Vincent Lindon) sente-se terrivelmente só, perdido, e suspeita até da mulher (Emmanuelle Devos)… Estará a ficar louco, ou a cair numa eventual teia conspirativa montada, pelos que o rodeiam, contra si? Estará são, entre quem o quer afastar de algo (casamento, trabalho…)? Paranóico, temendo tudo e todos, sentindo-se permanentemente sob ameaça de que não conhece a real expressão? Ou simplesmente demente, delirante, somando verdade e ficção numa mesma linha de tempo, ambas as realidades diluindo-se e confundindo-se numa mesma vida? Baseado no romance La Moustache de Emmanuel Carrère (que entre nós aprenas tem traduzidos os belíssimos Pesadelo Na Neve e O Adversário), e realizado pelo próprio romancista (naquela que é a sua segunda experiência no cinema depois da estreia em 2003 com Retour À Kotelnitch), Amor Suspeito demorou a chegar, mas finalmente está nas salas. Uma realização competente, que serve sobretudo o contar da história e o nosso progressivo mergulho na espiral de dúvidas que nos sugere. Personagens, escassos, mas bem definidos e, afinal, pilares de toda a acção. E o sublime Concerto Para Violino e Orquestra de Philip Glass a sublinhar a loucura e obsessões, ou simplesmente, a dúvida, de Marc a alastrar.

Equívoco 1: o título. Amor suspeito?... O filme tem por título original La Moustache. Que tal, O Bigode? Era difícil?...

Equívoco 2: Como foi possível ver o filme estrear sem que nenhum editor livreiro se tenha lembrado de traduzir e lançar entre nós o romance no qual se baseia? E, já agora, traduzir o magnífico livro sobre Philip K. Dick que Emmamnuel Carrère editou há poucos anos?

A cinefilia depois de "Borat" (3/3)

Anna Karina em "Viver a Sua Vida" (1962), de Jean-Luc Godard
Na cinefilia há uma pulsão de repetição que tanto nos remete para a utopia infantil do desejo (onde nada morre) como para uma noção redentora do cinema como permanente renascimento (mesmo através da própria morte). Daí a paradoxal relação com a morte que o cinéfilo sempre protagoniza — por um lado, sabemos que nada se refaz com a pureza do original; por outro lado, fazer cinema é também viver através dessa miragem feliz de uma pureza de que procuramos ser dignos.
Assim, por exemplo, Anna Karina filmada por Jean-Luc Godard, em Viver a Sua Vida (1962). A harmonia do seu rosto — ou, para utilizarmos a terminologia do filme: da sua alma — é algo que basta para a fazer existir como personagem; em todo o caso, a proximidade da fotografia de Elizabeth Taylor parece definir uma genealogia de cumplicidades que, pelo menos dentro do cinema, não tem origem nem procura um fim. Uma poética da identidade.
Daí que o cinéfilo tenha um fascínio inalienável pela linguagem. Em sentido o mais amplo possível: não apenas a linguagem como "veículo" de expressão, mas sobretudo como arte de viver entre as imagens e as palavras, as palavras e a escrita, a escrita e o pensamento. É disso mesmo que Karina fala com o filósofo Brice Parain, justamente em Viver a Sua Vida — podemos revê-los, aqui, em ponto pequeno.



MAIL

sábado, dezembro 30, 2006

As palavras dos Oscars

Eis a lista das palavras do cartaz dos Oscars 2007, agora com a identificação dos filmes de onde foram extraídas as citações:

1. No prisoners! No prisoners! Lawrence of Arabia (1962)
2. I wish I knew how to quit you.
Brokeback Mountain (2005)
3.
All right, Mr. Demille, I’m ready for my close-up. Sunset Blvd. (1950)
4. I’m mad as hell and I’m not going to take this anymore! Network (1976)
5. My Momma always said, "Life is like a box of chocolates. You never know what you’re gonna get." Forrest Gump (1994)
6. I’ll get you my pretty, and your little dog, too!
The Wizard of Oz (1939)
7.
Good evening, Clarice.
The Silence of the Lambs (1991)
8.
Open the pod bay doors, HAL.
2001: A Space Odyssey (1968)
9.
Here’s looking at you, kid. Casablanca (1943)
10. Shut up! Shut up and take the pain! Take the pain!
Platoon (1986)
11.
Hit me chief! I got the moves! One Flew Over the Cuckoo’s Nest (1975)
12. I’m the king of the world! Titanic (1997)
13. No, if anyone orders Merlot, I’m leaving.
Sideways (2004)
14.
You can break a man’s skull. You can arrest him. You can throw him into a dungeon. But how do you control what’s up here? But how do you fight an idea? Ben Hur (1959)
15. Give ‘em the old razzle dazzle.
Chicago (2002)
16.
You can’t handle the truth.
A Few Good Men (1992)
17.
They call me MISTER Tibbs! In The Heat of the Night (1967)
18. I’m gonna make him an offer he can’t refuse.
The Godfather (1972)
19.
In case I forget to tell you later, I had a really good time tonight.
Pretty Woman (1990)
20.
Remember those posters that said, "Today is the first day of the rest of your life?" Well, that's true of every day except one - the day you die. American Beauty (1999)
21. Sometimes you’re so beautiful it just gags me. You Can’t Take It With You
(1938)
22.
I’ve seen nothing. I should have stayed at home and found out what’s really going on. The Best Years of Our Lives (1946)
23. Come in, come in. We won’t bite you- till we know you better. West Side Story (1961)
24. I’m asking you to marry me, you little fool. Rebecca (1940)
25. We’re going to kick the hell out of him all the time and we’re going to go through him like crap through a goose.
Patton (1970)
26.
Can't you see I have you, Chump? Get me some viskey!
The Great Zigfield (1936)
27.
It is widely held that too much wine will dull a man’s desire. Indeed it will – in a dull man. Tom Jones (1963)
28. The truth Helen, is always the right answer.
Schindler’s List (1993)
29.
You throw money around like it was money. All the King’s Men (1949)
30. I love it when guys peel out. American Graffiti (1973)
31. Rosebud.
Citizen Kane (1941)
32.
The horror. The horror.
Apocalypse Now (1979)
33.
What we’ve got here is a failure to communicate.
Cool Hand Luke (1967)
34.
Frankly my dear, I don’t give a damn.
Gone With the Wind (1939)
35.
Off the record, on the QT, and very hush-hush. L.A. Confidential (1997)
36. Snap out of it!
Moonstruck (1987)
37.
You make me want to be a better man.
As Good As It Gets (1997)
38.
Stella! A Streetcar Named Desire (1951)
39. Do I ice ‘er? Do I marry ‘er?
Prizzi’s Honor (1985)
40.
Don’t jive me man. Ray (2004)
41. Ten minutes to Wapner.
Rain Man (1988)
42.
Think you used enough dynamite there, Butch? Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969)
43. An Englishman never jokes about a wager, sir. Around the World in 80 Days (1956)
44. Who was the best pilot I ever saw? Well, uh, you’re lookin’ at ‘im.
The Right Stuff (1983)
45.
Well, to tell ya the truth, I lied a little.
Chinatown (1974)
46.
This is Doyle. I’m sittin’ on Frog One. The French Connection (1971)
47. You don’t throw a whole life away just ‘cause it’s banged up a little.
Seabiscuit (2003)
48.
Gentlemen, you can’t fight in here. This is the war room! Dr. Strangelove (1964)
49. Wanna dance or would you rather just suck face? On Golden Pond (1981)
50. Such stupidity is without equal in the entire history of human relations. Gigi (1958)
51. Frailty, thy name is woman!
Hamlet (1948)
52.
I am not an animal. I am a human being. I am a man.
The Elephant Man (1980)
53.
Stanley, ya see this? This is this. This ain’t something else. The Deer Hunter (1978)
54. I coulda been a contender. I coulda been somebody.
On The Waterfront (1954)
55.
Frodo! Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring (2001)
56. When you’re in love with a married man, you shouldn’t wear mascara. The Apartment (1960)
57. If you build it, he will come. Field of Dreams (1989)
58. Attica! Attica! Dog Day Afternoon (1975)
59. Wind in the hair! Lead in the pencil!
Terms of Endearment (1983)
60.
The Force is strong with this one. Star Wars (1977)
61. My name is Gladiator. Gladiator (2000)
62. Greed is good. Wall Street (1987)
63. You had me at hello.
Jerry Maguire (1996)
64.
You don’t want much. You just want the moon...with parsley.
Gentleman’s Agreement (1947)
65.
One’s too many an’ a hundred’s not enough.
The Lost Weekend (1945)
66.
E.T., phone home.
E.T., The Extra Terrestrial (1982)
67.
Von Trapp children don’t play. They march.
The Sound of Music (1965)
68.
Show me the money!
Jerry Maguire (1996)
69.
A golf course is nothing but a pool room moved outdoors. Going My Way (1944)
70. All work and no play make Jack a dull boy.
The Bridge on the River Kwai (1957)
71.
Hope that was an empty bottle, George. You can’t afford to waste good liquor. Not on your salary! Wh
o’s Afraid of Virginia Woolf? (1966)
72.
Well, what am I? I’m a private no-class dogface. The way most civilians look at that, that’s two steps up from nothin’.
From Here to Eternity (1953)
73.
I'm walking here! I'm walking here!
Midnight Cowboy (1969)
74.
Follow the money. All the President’s Men (1976)
75. I'm a dead man and buggered to boot.
Shakespeare in Love (1998)

MAIL

Arte "versus" justiça: um dossier

Pierre Pinoncelli foi condenado, em Janeiro de 2006, a pagar uma indemnização de 200 mil euros ao Museu de Arte Moderna de Paris / Centro Pompidou. Razão: a des-truição, com um martelo, de uma cópia de Fonte (1917), um dos mais célebres readymade de Marcel Du-champ (1887-1968) que transfigura um vulgar urinol numa peça de arte, desse modo abrindo um debate — longe de estar encerrado — sobre as relações entre o gesto criativo, a instauração do valor artístico e o mercado da arte. O processo legal continua por concluir, tendo Pinnoncelli interposto recurso. Numa sessão recente, o advogado de defesa lembrou que objectos semelhantes se encontram em catálogos de fabricantes de louças sanitárias pelo preço de 83 euros; segundo o Centro Pompidou, a Fonte de Duchamp vale 2,8 milhões de euros.
Este é um dos casos recordados na edição de hoje do jornal Libération, para discutir o tema "Os juízes redefinem os con-tornos da arte", ou seja, as relações instáveis entre a criação artística e o enquadramento legal da sua prática e dos respectivos efeitos sociais. O dossier é tanto mais estimulante quanto surge em paralelo com um balanço de "Os objectos que marcaram 2006" — entre os escolhidos figuram o polónio que matou o espião russo Alexandre Litvinenko, o casaco branco de Ségolène Royal (candidata do PS francês nas presidenciais de 2007) e as novas máquinas digitais nos campos da fotografia, video, música, etc.

MAIL

sexta-feira, dezembro 29, 2006

2006: Os Filmes

Segundo balanço detalhado, hoje a destacar as grandes estreias do ano nas salas de cinema e as melhores edições em DVD.

JL:

Cinema
Cada vez se vai menos ao cinema pelo... cinema. Há todo um público novo que se relaciona de forma acidental com os filmes (respondendo sobretudo às especificidades de determinadas campanhas) e que, no limite, perdeu toda a crença cinéfila. Os filmes maioritariamente consumidos poderão ser "bons" ou "maus" (não é isso que está em causa), mas é um facto — simultaneamente cultural e económico — que vivemos a desagregação da base tradicional de consumo e fruição do cinema. Dito isto, saúde-se o melhor, isto é: a capacidade do mercado, apesar de tudo, continuar a manter uma oferta relativamente diversificada, com um peso crescente de produtos não especificamente americanos. Seja como for, a colheita made in USA (incluindo o sempre inclassificável Ferrara) foi muito boa.

'Juventude em Marcha', de Pedro Costa
'Gabrielle', de Patrice Chéreau
'Entre Inimigos', de Martins Scorsese
'A Senhora da Água', de M. Night Shyamalan
'Uma História de Violência', de David Cronenberg
'A Criança', de Luc e Jean-Pierre Dardenne
'Maria Madalena', de Abel Ferrara
'Nada a Esconder', de Michael Haneke
'Infiltrado', de Spike Lee
10º 'Boa Noite, e Boa Sorte.', de George Clooney

DVD
Talvez a marca mais importante do ano seja também a mais preocupante: o número crescente de títulos lançados directamente em DVD (sem terem passado pelas salas) significa uma boa abertura do mercado, mas pode também querer dizer que alguns distribuidores/exibidores tendem a apostar cada vez menos na tão importante diversificação da oferta nas salas. Além do mais, embora haja casas editoras com estratégias precisas (a Costa do Castelo foi a que deu o maior salto qualitativo e quantitativo do ano), outras existem que não têm nenhum programa coerente de marketing e, mais do que isso, olham com olímpica indiferença o trabalho jornalístico de informação e opinião. Entre os grandes filmes "esquecidos", recuperados pelo DVD, incluem-se F de Fraude (Welles, 1974) e Noite e Nevoeiro (Resnais, 1955), este incluído na edição de Hiroshima Meu Amor.

'Sympathy for the Devil', de Jean-Luc Godard
'Bubble', de Steven Soderbergh
'F de Fraude', de Orson Welles
'L'Atalante', de Jean Vigo
'Hiroshima Meu Amor', de Alain Resnais
'Aurora', de F. W. Murnau
'O Sacrifício', de Andrei Tarkovski
'A Quadrilha Selvagem', de Sam Peckinpah
'Um Eléctrico Chamado Desejo', de Elia Kazan
10º 'O Rio Sagrado', de Jean Renoir

NG:

Cinema
Houve filmes que nem sequer passaram pelas nossas salas (Bubble, de Steven Soderbergh; Glastonbury, de Julien Temple ou Segredos Urbanos de Chris Terrio). E outros pelos quais esperámos mais de um ano (Uma História de Violência, de David Cronenberg; Amor Suspeito de Emmanuel Carrère ou Eu, Tu e Todos os Que Conhecemos, de Miranda July). Mesmo assim somaram-se alguns feitos. Arrepiante, Ninguém Sabe mergulha numa espiral de caos em microcosmos familiar de pais ausentes. Deslumbrante, Marie Antoinette é retrato impressionista do vazio das vidas na Versailles no ocaso do antigo regime. Prémio para pior filme do ano (onde havia muitos candidatos) para Modigliani.

'Ninguém Sabe', de Hirokazu Kore-eda
‘Marie Antoinette’, de Sofia Coppola
‘Amor Suspeito’, de Emmanuel Carrère
‘O Segredo de Brokeback Mountain’, de Ang Lee
‘A Lula e a Baleia’, de Noel Baumbach
‘Match Point’, de Woody Allen
‘Nada a Esconder’, de Michel Haneke
‘Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos’, de Jonathan Dayton e Sylvia Faris
‘Uma História de Violência’, de David Cronenberg
10º 'Sonhar Com Xangai’, de Xiaoshuai Wang

DVD
As edições directas para o DVD (ou seja, as que não passaram por sala), fazem parte da ementa dos melhores títulos do ano (o que dá que pensar sobre as políticas de exibição em sala). Mas houve outros episódios notáveis. Em primeiro as séries de televisão, cada vez mais um espaço de destaque no panorama editorial do DVD. Destaque inevitável para a pouco mediatizada, mas sublime, A Feira da Magia (Carnivale no original), verdadeiro monumento de cinema para ver no pequeno ecrã. Igualmente em alta, excelente Roma e a primeira época de Lost (que parece estar a perder-se na terceira). E não nos esqueçamos dos clássicos, que este ano chegaram em farta e boa oferta, sobretudo via Costa do Castelo, assinalando-se ainda a boa série de títulos (sem extras, contudo) da Fox, que entretanto começaram a ser regularmente editados entre nós. Nesta lista optei por apontar apenas edições no mercado português.

‘A Feira da Magia’, criada por Daniel Knauf
‘Roma’, criada por J. Millus e B. Heller
‘Bubble’, de Steven Soderbergh
‘Tarnation’, de Jonathan Caoette
‘L’Atalante’, de Jean Vigo
‘Segredos Urbanos’, de Chris Terrio
‘Glastonbury’, de Julien Temple
‘Zombie’, de Jacques Tourneur
‘Loud Quiet Loud’, de Stevemn Cantor
10º ‘Metropolis’, de Fritz Lang

MAIL

Os Simpsons em longa-metragem


É mesmo verdade: a produção de uma longa-metragem de animação com os Simpsons está em marcha, sob a a direcção de David Silverman (co-realizador de Monstros e Companhia). Nas vozes estão os nomes habituais: Dan Castellaneta (para Homer Simpson), Julie Kavner (Marge) e Nancy Cartwright (Bart). Entre os convidados incluem-se Albert Brooks, Minnie Driver e Joe Mantegna. Já disponível, o site oficial fornece o trailer e também as datas de lançamento em muitos países — Portugal será a 27 de Julho de 2007.

MAIL

quinta-feira, dezembro 28, 2006

2006: Os Discos

Começamos hoje a revisitar as escolhas dos ano, em listas. Primeiro a música, em tabelas separadas para música portuguesa e a que veio de fora de portas:

NG:

Nacional
Naqueles que foram os piores 12 meses de oferta em música portuguesa nos últimos 25 anos, o destaque, como em 2005, para as propostas do jazz de produção nacional. A Sassetti, Bica e Laginha podemos ainda juntar bons discos de Carlos Martins e Laurent Filipe. Sérgio Godinho lançou um dos seus melhores discos dos últimos 15 anos. Balla foi o melhor que se ouviu na pop. Os Dead Combo deram-nos o mais exportável dos discos do ano. Buraka Som Sistema foram o fenómeno, contudo ainda por provar está se saberão ser mais que o que já nos mostraram.

Bernardo Sassetti "Unreal - Sidewalk Cartoon"
Sérgio Godinho "Ligação Directa"
Sam The Kid "Pratic(mente)"
Dead Combo "Vol 2. Quando A Alma Não É Pequena"
Balla "A Grande Mentira"
Carlos Bica "Believer"
Double D Force "Enforce The Funk"
Mário Laginha "Canções e Fugas"
Buraka Som Sistema "From Buraka To The World"
10º Spartak "SpartakOne!"

Internacional
Foi o ano dos TV On The Radio, da sua visão híbrida de rock feito da assimilação de ideias colhidas noutras pistas, muitas delas escutadas na área da chamada "música de dança", com colaborações de Bowie e Massive Attack. Foi também o ano da edição local em jeito mais-vale-tarde-que-nunca dos Clap Your Hands Say Yeah, Faris Nourallah e Richard Swift. Da revelação das Cansei de Ser Sexy, Beirut e The Good The Bad and The Queen. De regressos em grande forma de Tom Verlaine, Lisa Germano, Bob Dylan, Sonic Youth, Marisa Monte e Little Annie. De suecos em alta (I'm From Barcelona, The Knife, Envelopes, The Sounds, para citar apenas alguns). E de electrónica de primeira (além dos The Knife, excelentes discis de Lindstrom, Kelley Polar, Juniore Boys, Hot Chip e Post Industrial Boys). Farta e boa oferta. O contrário do que aconteceu por estes lados, portanto...

TV On The Radio "Return To Cookie Mountain"
Clap Your Hands Say Yeah "Clap Your Hands Say Yeah"
Sonic Youth "Rather Ripped"
Final Fantasy "He Poos Clouds"
Lisa Germano "In The Maybe World"
Tom Verlaine "Songs And Other Things"
The Knife "Silent Shout"
Richard Swift "The Richard Swift Collection - Vol 1"
Lindstrom "It's A Feedelity Affair"
10º Kelley Polar "Love Songs Of The Hanging Garden"

JL:

Nacional
A avalancha de novos fadistas dos últimos anos está a entrar na fase esclarecedora em que, depois da "moda", prevalece o carácter genuíno das melhores inovações — sobretudo parece que já se criou um espaço seguro para além das "modernizações" para turista ver... No fado, o mais futurista está sempre no passado. Entretanto, o fenómeno Humanos marcou, em segundo ano consecutivo, a actualidade da música portuguesa — ainda bem: é sinal de que pode haver projectos em que a dimensão criativa e a estratégia de mercado não se excluem nem se limitam uma à outra. Para não variar, importa lembrar (e lamentar) o óbvio e obsceno alheamento que, com pouquíssimas excepções, as televisões generalistas mostram pela produção portuguesa. E aí, mais do que nunca, importa dizê-lo com todas as letras: a transmissão de concertos (portugueses ou não) à uma ou duas horas da manhã é um reflexo inequívoco desse mesmo alheamento.

Aldina Duarte "Crua"
Sam the Kid "Pratica(mente)"
Gaiteiros de Lisboa "Sátiro"
Cindy Kat "Cindy Kat"
Bernardo Sassetti "Unreal: Sidewalk Cartoon"
António Variações "Entre Braga e Nova Iorque"
Humanos "Humanos ao Vivo"
The Gift "Fácil de Entender"
Pedro Moutinho "Encontro"
10º Buraka Som Sistema "From Buraka to the World"

Internacional
Impulso conservador, sem dúvida: releio os títulos desta selecção pessoal — pensando também noutros magníficos trabalhos que ficaram de fora: Wise in Time, Richard Swift, Lisa Germano, Tom Waits, Marisa Monte, etc. — e não posso deixar de sublinhar que, para além das muitas diferenças que os distinguem, todos eles se mantêm fiéis a um conceito "antigo" de álbum, em contraste com a histeria consumista dos downloads de alguns temas isolados (o que não exclui o reconhecimento de que, nesse campo, o negócio da música na Net nos trouxe, em 2006, novidades muito positivas). Entre as muitas ausências, não queria omitir o fabuloso álbum duplo It Ain't Necessary So, que recolhe as gravações do violinista Jascha Heifetz (1901-1987) feitas no período 1944-46, para a etiqueta Decca: com uma mão nos clássicos e outra no jazz, é um belo exemplo de uma genuína transversalidade, infinitamente superior a algumas "modernices" dos nossos belos tempos musicais.

Fiona Apple "Extraordinary Machine"
Bob Dylan "Modern Times"
PJ Harvey "The Peel Sessions"
Anne Sofie von Otter "I Let the Music Speak"
Pet Shop Boys "Concrete"
Beck "The Information"
The Strokes "First Impressions of Earth"
The Raconteurs "Broken Boy Soldiers"
Sonic Youth "Rather Ripped"
10º Scott Walker "The Drift"

MAIL

Pixies para ou(ver)

A primeira vida dos Pixies, apesar de arrebatadora, intensa e visionária, foi mimo para relativamente poucos ouvintes, o tempo acabando por neles reconhecer uma das mais influentes forças nascidas na segunda metade de 80, desenhando-se, ano a ano, um culto que sistematicamente chamava a atenção de novos admiradores. A reunião, em 2004, foi fulminante manifestação desta “fome” pela descoberta em jeito de mais vale tarde que nunca. Os concertos esgotavam em poucos minutos. Daí o nome da digressão: a “Sellout Tour” (com segunda leitura, auto-irónica, “a digressão dos vendidos”).
Este é o documentário desse ano de reencontro. Um espantoso olhar próximo, a câmara “intrusa” mal parecendo existir na sucessão de momentos de bastidores, carrinha, passeio, ensaio, por vezes o palco. Fugindo à lógica televisiva que domina muito do cinema documental musical actual (leia-se entremeadas de música e entrevistas), Loud Quiet Loud é, antes, um retrato vivencial de invulgar intimidade que revela (ou encena) o ambiente natural de pouca comunicação entre os membros da banda, mas também a informalidade com que encararam este reencontro e a dúvida com que encaram um futuro de eventual novo disco (que agora sabemos, existirá). São particularmente curiosas as cenas “caseiras”, Kim Deal a tricotar, Joey Santiago a mudar as fraldas do filho mais novo, David Lovering e a sua colecção de achados metálicos (com moedas do século XVIII) ou Frank Black a levar o filho ao ocenário. Ocasionalmente, excelentes pedaços de filmagens ao vivo em salas de Londres, Nova Iorque, Reykjavik ou pela América profunda...Extras com bons comentários e, sobretudo, interessantes cenas cortadas, entre as quais uma bizarra visita ao estúdio dos Sigur Rós, na Islândia. Sem dúvida, um dos melhores DVDs musicais do ano!
PS. Texto originalmente publicado na revista '6ª', do Diário de Notícias


MAIL

2006: Top 5

1 disco IN THE MAYBE WORLD
>Lisa Germano<
NG: Há poucos anos, Lisa retirara-se. Encontrou trabalho numa magnífica livraria de Los Angeles (a Book Soup) e chegou a dizer que... "música, nunca mais"... Enganou-se. Em 2003 despiu a música à essência das suas linhas fundamentais em Lullaby For Liquid Pig. E em 2006 apurou esta nova linguagem mais austera na forma, mas plena na emoção, num álbum que fala de morte, não como o fim de tudo, mas um momento que nos obriga a recordar a vida quem partiu. Arrebatador!
JL: Em tempos de excessos perpretados em nome do "espectáculo" e da "tecnologia", este é um exercício que se vira para o interior, percorrendo o mapa da solidão, não temendo aproximar-se das fronteiras do país da morte. Afinal de contas, a música popular não teme as vertigens de todos os intimismos.

1 filme
BUBBLE
JL: Expandir as potencialidades das novas câmaras digitais, não para ostentar qualquer "modernismo", antes para regressar aos domínios remotos do melodrama (em formato scope) — um filme que, com a serenidade dos clássicos, nos mostra que o gesto mais vanguardista é também aquele que nos aproxima da verdade dos clássicos.
NG: Os melhores filmes do ano não têm necessariamente de ser os que os distribuidores locais levaram a sala. E muitos foram os títulos de primeira água (alguns com potencial comercial) que tiveram ordem de passagem directa ao DVD. Um deles é este espantoso exercício de cinema que, com orçamento mínimo nos dá mais que muitos dos blockbusters do ano. A descobrir, em DVD.

1 livro
PARAÍSO PERDIDO
NG: Houve magníficos novos livros este ano. De Murakami a Houellebecq, de Banville a Sebald, muitos foram os livros obrigatórios. Mas 2006 foi também um ano de redescobertas. Da obra quase inédita (entre nós) de Reinaldo Arenas. Do soberbo exercício de "literatura geométrica" de Flatland de Ewin A. Abott... E, mais atrás ainda, um ano pleno de importantes traduções de clássicos remotos, de textos gregos ao incontornável épico de John Milton.
JL: Projecto: traduzir os clássicos. Efeito desejado: retirar esses mesmos clássicos da prisão das coisas adquiridas, relançando-os na vertigem do mundo e das palavras de hoje (sim, porque nem só de imagens vivemos). Ou como — através da tradução de Daniel Jonas — pode ser possível regressar ao século XVII par redescobrirmos as certezas e enigmas do nosso presente.

1 revista
JL: Das utopias dos novos suportes digitais (através de uma entrevista histórica com Beck) até aos novos movimentos religiosos (ou à emergência de um novo conceito de sagrado), falaram um pouco de tudo, mostrando e demonstrando que os gadgets que vamos inventando são inseparáveis das relações humanas que, mal ou bem, com eles construímos.
NG: Cada vez mais uma leitura fundamental. Não apenas porque a cibercultura faz já parte dos nossos hábitos, mas porque é cada vez mais uma fonte ou veículo de ideias fundamentais para as mais diversas formas de expressão cultural. Um ano onde não só lemos sobre novos gadgets e espaços online mas, também, e antes de outros o descobrirem, o potencial do MySpace e YouTube, as novas economias de especialidade nas indústrias culturais ou o encarar da Internet como uma nova fé em tempo de outros ateísmos.

1 site
NG: Descobri Miranda July há mais de um ano quando vi Eu, Tu e Todos os que Conhecemos, um ano antes de por cá estrear. Um cinema do nosso tempo, figuras e histórias dos nossos dias, mas cruzadas com um olhar "artístico" claramente formado por horas de observação e reflexão. Video artist antes de realizadora de cinema, Miranda July revela-se a si, a nós e a todos os que conhecemos num site que vale a pena descobrir.
JL: Revelação no mercado português dos filmes (com Eu, Tu e Todos os que Conhecemos), Miranda July é um magnífico exemplo da démarche polimorfa de muitos artistas contemporâneos. O seu site é, de uma só vez, uma exposição transversal da sua obra (cinematográfica e plástica) e uma via plural de entrada em alguns universos paralelos.
P.S. A partir de manhã apresentaremos aqui as nossas listas individuais Top 10.

MAIL

Clássicos 00: Rufus Wainwright

Rufus Wainwright, numa versão de um clássico dos Beatles, gravada para a banda sonora do filme I Am Sam, de Jessie Nelson (2001). Para recordar, aqui fica Across the Universe, um espantoso exemplo de relacionamento da iconografia do filme com o teledisco que lhe está associado.

terça-feira, dezembro 26, 2006

Oscars por palavras

Estamos em plena temporada de Oscars. Os prémios mais conhecidos do mundo do cinema, referentes à produção de 2006, serão atribuídos a 25 de Fevereiro de 2007 (sendo as nomeações anunciadas cerca de um mês antes, a 23 de Janeiro). Hoje, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood divulgou o seu cartaz oficial, uma magnífica proeza visual que revaloriza o peso das palavras na memória e mitologia dos filmes: o fundo do poster é feito com algumas dezenas de célebres de linhas de diálogo — de "Good evening Clarice" até "Stella!" —, definindo uma espécie de painel falado do imenso património cinematográfico.

São estas as 75 citações (*) do cartaz dos Oscars 2007:

1. No prisoners! No prisoners!
2. I wish I knew how to quit you.
3. All right, Mr. Demille, I’m ready for my close-up.
4. I’m mad as hell and I’m not going to take this anymore!
5. My Momma always said, "Life is like a box of chocolates. You never know what you’re gonna get."
6. I’ll get you my pretty, and your little dog, too!
7. Good evening, Clarice.
8. Open the pod bay doors, HAL.
9. Here’s looking at you, kid.
10. Shut up! Shut up and take the pain! Take the pain!
11. Hit me chief! I got the moves!
12. I’m the king of the world!
13. No, if anyone orders Merlot, I’m leaving.
14. You can break a man’s skull. You can arrest him. You can throw him into a dungeon. But how do you control what’s up here? But how do you fight an idea?
15. Give ‘em the old razzle dazzle.
16. You can’t handle the truth.
17. They call me MISTER Tibbs!
18. I’m gonna make him an offer he can’t refuse.
19. In case I forget to tell you later, I had a really good time tonight.
20. Remember those posters that said, "Today is the first day of the rest of your life?" Well, that's true of every day except one - the day you die.
21. Sometimes you’re so beautiful it just gags me.
22. I’ve seen nothing. I should have stayed at home and found out what’s really going on.
23. Come in, come in. We won’t bite you- till we know you better.
24. I’m asking you to marry me, you little fool.
25. We’re going to kick the hell out of him all the time and we’re going to go through him like crap through a goose.
26. Can't you see I have you, Chump? Get me some viskey!
27. It is widely held that too much wine will dull a man’s desire. Indeed it will – in a dull man.
28. The truth Helen, is always the right answer.
29. You throw money around like it was money.
30. I love it when guys peel out.
31. Rosebud.
32. The horror. The horror.
33. What we’ve got here is a failure to communicate.
34. Frankly my dear, I don’t give a damn.
35. Off the record, on the QT, and very hush-hush.
36. Snap out of it!
37. You make me want to be a better man.
38. Stella!
39. Do I ice ‘er? Do I marry ‘er?
40. Don’t jive me man.
41. Ten minutes to Wapner.
42. Think you used enough dynamite there, Butch?
43. An Englishman never jokes about a wager, sir.
44. Who was the best pilot I ever saw? Well, uh, you’re lookin’ at ‘im.
45. Well, to tell ya the truth, I lied a little.
46. This is Doyle. I’m sittin’ on Frog One.
47. You don’t throw a whole life away just ‘cause it’s banged up a little.
48. Gentlemen, you can’t fight in here. This is the war room!
49. Wanna dance or would you rather just suck face?
50. Such stupidity is without equal in the entire history of human relations.
51. Frailty, thy name is woman!
52. I am not an animal. I am a human being. I am a man.
53. Stanley, ya see this? This is this. This ain’t something else.
54. I coulda been a contender. I coulda been somebody.
55. Frodo!
56. When you’re in love with a married man, you shouldn’t wear mascara.
57. If you build it, he will come.
58. Attica! Attica!
59. Wind in the hair! Lead in the pencil!
60. The Force is strong with this one.
61. My name is Gladiator.
62. Greed is good.
63. You had me at hello.
64. You don’t want much. You just want the moon...with parsley.
65. One’s too many an’ a hundred’s not enough.
66. E.T., phone home.
67. Von Trapp children don’t play. They march.
68. Show me the money!
69. A golf course is nothing but a pool room moved outdoors.
70. All work and no play make Jack a dull boy.
71. Hope that was an empty bottle, George. You can’t afford to waste good liquor. Not on your salary!
72. Well, what am I? I’m a private no-class dogface. The way most civilians look at that, that’s two steps up from nothin’.
73. I'm walking here! I'm walking here!
74. Follow the money.
75. I'm a dead man and buggered to boot.

(*) No próximo sábado, publicaremos a lista de filmes a que pertencem estas citações.

MAIL

segunda-feira, dezembro 25, 2006

James Brown (1933-2006)

O "Padrinho da Soul" morreu às primeiras horas do dia de Natal — James Brown, uma das personalidades mais influentes em toda a história do pop/rock do século XX, faleceu, em Atlanta, contava 73 anos de idade. Brown tinha sido hospitalizado no fim de semana, afectado por uma pneumonia; segundo o seu agente, Frank Copsidas, acabou vitimado por complicações cardíacas. Consultando o seu site oficial, podemos verificar que Brown mantinha um vasto calendário de concertos, com actuações marcadas até Agosto de 2007 (na noite de fim de ano, tinha dois concertos agendados para o B.B. King Blues Club, em Nova Iorque).
Na genealogia do R&B, Brown emerge na década de 50 com uma energia criativa que o transforma numa figura de referência cujas influências o irão colocar a par de personalidades como Elvis Presley ou, um pouco mais tarde, Bob Dylan. Na emergência da soul, aquilo que o distingue de outras figuras emblemáticas (como Ray Charles ou Sam Cooke) são as peculiaridades das suas experiências rítimicas, a ponto de não ser possível fazer a história do funk, disco ou rap sem passar por Brown.
Além do mais, através de sucessos como Please, Please, Please (a sua primeira gravação, em 1956), Out of Sight, (Get Up I Feel Like Being a) Sex Machine, I Got You (I Feel Good) ou Say It Loud - I'm Black and I'm Proud, entrou definitivamente no espaço lendário da música popular. De Mick Jagger a Michael Jackson, são muitos os que colheram inspiração nas suas canções e também na exuberante teatralidade das suas performances de palco.
Nascido a 3 de Maio de 1933, em Barnwell (Carolina do Sul), durante a Grande Depressão, Brown viveu as carências de uma infância dramática que o marcaria para sempre. Com uma história atravessada por diversos problemas com a justiça, casado quatro vezes, em 2005 dera a conhecer ao mundo a sua visão autobiográfica através do livro I Feel Good (NAL, Penguin) — nessa altura, concedeu a Terry Gross uma longa entrevista, transmitida pela rádio pública americana NPR.
No cinema, Brown assumiu por duas vezes uma personagem emblemática: a do reverendo Cleophus James, um evidente alter ego da sua própria personalidade artística — aconteceu em The Blues Brothers (1980) e Blues Brothers 2000 (1998), ambos de John Landis. Com lançamento previsto para 2007, encontra-se em fase de pós-produção o documentário Life on the Road with Mr. and Mrs. Brown, uma realização de Sheila Lussier e Camille Solari, tendo por objecto o casamento e as carreiras conjuntas de James e Tomi Rae Brown.
Na sua evocação de Brown, a CNN recorda algumas célebres palavras com que ele próprio se resumiu, em 2003, em declarações à agência AP: "O Disco é James Brown, o hip-hop é James Brown, o rap é James Brown. Percebem o que estou a dizer? Ouçam todos os rappers, 90 por cento da sua música sou eu."

MAIL

domingo, dezembro 24, 2006

Discos Voadores, 23 de Dezembro

Em semana de Natal, outros olhares sobre a quadra, em forma de canção. Em destaque, as novas edições “natalícias” de Sufjan Stevens, The Knife, Aimee Mann e a compilação It’s Not Like Christmas.

Orso “X’mas Tomorrow”
The Knife “Christmas Raindeer”
St Etienne “My Christmas Prayer”
Erlend Oye “Last Christmas”
Rufus Wainwright “Spotlight On Christmas”
Sufjan Stevens “Hey Guys, It’s Christmas Time”
They Might Be Giants “Santa’s Beard”
Flaming Lips “Christmas At The Zoo”
Patti Smith “Wee Three Kings”
Xana “Fim de Ano”
Kirsteen Hersh “Can The Circle Be Unbroken?”
Lou Reed “Christmas In February”
Low “Long Way Around The Sea”
Tom Waits “Christmas Card From A Hooker In Minneapolis”

Badly Drawn Boy “Donna And Blitzen”
Pop Dell’Arte “Little Drama Boy”
David Bowie + Bing Crosby “Little Drummer Boy / Peace On Earth”
Sufjan Stevens “Jupiter Winter”
Sufjan Stevens “It’s Christmas! Let’s Be Glad!”
Sufjan Stevens “Put The Lights On The Christmas Tree”
Sufjan Stevens “Away In a Manger”
Field Music (& Friends) “The Twelve Days Of Christmas”
Duels “Do You Know What I Hear?”
Ingo Star Cruiser “Just Like Christmas”
David Ford “Have Yourself A Bitter Little Christmas”
Envelopes “Pink Christmas”
Aimee Mann “Calling On Mary”
Sufjan Stevens “All The King’s Horns”
Danny Elfman “What’s This?”


Discos VoadoresSábado 18.00 – 20.00 / Domingo 22.00 – 24.00
Radar 97.8 FM ou www.radarlisboa.fm


MAIL

Feliz Natal

Merry Christmas... Mr David

O mais "natalício" dos grandes crooners, Bing Crosby, e o mais inesperado dos cantores de Natal... David Bowie. O encontro deu-se em 1977. Juntos, num estúdio de televisão cantaram Little Drummer Boy e Peace On Earth, dois standards de Natal reunidos num só. Aqui fica o registo de som e imagem. A história conta-se logo a seguir:



David Bowie viveu dois grandes encontros televisivos em Setembro de 1977. Um deles com Marc Bolan, num reencontro de velhos rivais, poucos dias antes do antigo vocalista dos T-Rex encontrar a morte num acidente de automóvel. O outro colocou-o frente a Bing Crosby, num programa especial de Natal, no qual o mais improvável par cantou os clássicos Little Drummer Boy e Peace On Earth. O dueto foi gravado nos Elstree Studios (Londres) a 11 de Setembro de 1977, dois dias depois da colaboração com Bolan na Granada TV. O dueto fez parte do programa Bing Crosby’s Merry Ole Christmas, no qual Bing Crosby recebia convidados num estúdio decorado como se de sua casa se tratasse. Bing abre a porta, cumprimenta Bowie, que depois o convida para cantarem as duas canções de Natal juntas numa só, descrevendo-as como as favoritas do seu filho, Zowie. Durante o programa Bowie interpretou ainda uma versão, orquestrada, de Heroes. Foi um dos momentos mais bizarros da vida televisiva de Bowie nos anos 70, mas que o músico enfrentou com um sentido de charme que anunciava uma imagem que adoptaria no futuro. Bing Crosby morreu um mês depois em Madrid, o que levou Bowie a sofrer uma crise de ansiedade, pensando que todos os seus parceiros em televisão morriam depois de gravarem programas… A RCA editou o dueto cinco anos mais tarde num single, lançamento descrito como oportunista e que deteriorou as relações do músico com a editora, com divórcio logo depois. Uma reedição recente, em CD, inclui uma faixa vídeo com um excerto do programa de televisão.

MAIL

sábado, dezembro 23, 2006

Ecumenismo pop

Mick Jagger, David Bowie, Ella Fizgerald, Jimi Hendrix, Frank Sinatra, Beck, Morrissey, Elton John, Elvis Costello, Marvin Gaye, Johnny Cash, Thom Yorke, Iggy Pop, White Stripes... E mais, muitos mais... Todos juntos no teledisco de Window In The Skies, dos U2. Juntos em montagem espantosa de imagens de arquivo, criando a ilusão de que todos cantam a canção dos U2... Melhor o vídeo que a canção, todavia...

Filmar a guerra e quem a faz

Quase sete anos depois de Inferno, Joaquim Leitão regressa à Guerra Colonial, desta vez enfrentando directamente a memória dos actos (ficcionais, entenda-se) e não as suas consequências. 20.13 acontece num só dia, acção fechada num pequeno quartel no Norte de Moçambique. É véspera de Natal, em 1969. Uma patrulha regressa com um prisioneiro. Um helicóptero traz, para a consoada, um jovem capelão e Leonor, a mulher do Capitão da unidade. Um presente indesejado, rapidamente se conclui, em pouco tempo sendo sugerida uma ligação “proibida”, naturalmente secreta, do oficial com um jovem enfermeiro... Os silêncios do Capitão (Adriano Carvalho), na verdade, escondem ainda mais segredos, deles nascendo o vórtice de acontecimentos que farão desta uma noite agitada, acidentada, fatal, contrariando em tudo a tradicional trégua que, a 24 de Dezembro, faz esquecer muitas guerras por algumas horas. Central à acção é, todavia, o moderado alferes Gaio (Marco d’Almeida) que, apesar de sabida a sua posição contrária ao conflito em que se vê mergulhado, cumpre com brio e honra a sua missão.
Na consoada um soldado canta a (oportuna) Menina dos Olhos Tristes de José Afonso - editada em 1969, canção que relata a saudade de um “soldadinho que não volta / Do outro lado do mar”. Logo depois, a mulher do médico (Carla Chambel), provocadora, recria Ele e Ela de Madalena Iglésias, abrindo primeiras feridas numa noite que será cortada por um violento ataque inimigo, assassinatos acompanhados por obscuras frases tiradas da Bíblia (sem quaisquer relações aos “códigos” e “mistérios” que hoje inundam as livrarias, sublinhe-se), medos e outras revelações. Em poucos minutos a linha dos acontecimentos surge recheada de nós que, com algum engenho narrativo, Joaquim Leitão transforma numa sequência de acontecimentos que o realizador mostra saber transformar em espiral empolgante, realista, desenleando-os, cautelosamente, num desfecho que consegue surpreender.
Naquele que é o melhor filme de Joaquim Leitão desde Duma Vez Por Todas (de 1986), encontramos um cinema que mostra como é possível conciliar uma boa história com o lançar de debates e reflexões, como se alia um sentido de verosimilhança na reconstituição histórica (factual, física e sociológica) a uma ideia de cinema de acção com marcas de realismo relativamente invulgares. Exagerada parece, apenas, a colecção de sotaques entre soldados e oficiais, como que a sugerir um “grande” Portugal concentrado num pequeno quartel no meio do nada. Destaque-se, sobretudo, uma soberba direcção de actores, frequentes sendo os exemplos de trabalho de composição de personagens acima do que nos habituaram em outros momentos. Direcção artística igualmente sóbria, peça fundamental no jogo de verosimilhanças que se pretende. E aplauso absoluto para uma soberba banda sonora de António Emiliano (um dos melhores dos mais “esquecidos” músicos portugueses) e um exemplar trabalho de mistura de som por Branko Neskov.
Texto publicado na revista '6ª' do Diário de Notícias

MAIL

David Fincher para 2007

"Zodiac" (2007), de David Fincher
A boa notícia é que, em 2007, cinco anos passados sobre Panic Room/Sala de Pânico, vamos voltar a ter um filme de David Fincher. Chama-se Zodiac e baseia-se na história verídica da investigação dos crimes de um serial killer ("The Zodiac"), activo no norte da Califórnia, em finais dos anos 60, princípios dos anos 70. Fincher e o seu argumentista James Vanderbilt basearam-se nas investigações de Robert Graysmith e, mais especificamente, no seu livro Zodiac (1987), relançado como Zodiac Unmasked: The Identity of America's Most Elusive Serial Killers Revealed (2002) e com versão paperback, incluindo materiais sobre o making of do filme, prevista para o começo de 2007.
O caso Zodiac tem sido objecto de muitas teorias e especulações, algumas delas disponíveis na Internet: a Wikipedia dedica-lhe uma página muito detalhada — com a memória dos vários crimes cometidos, a lista de suspeitos e algumas tentativas de decifrar o mistério —, remetendo para outros sites que abordam, de diferentes maneiras, os factos conhecidos e as perguntas por responder. Também recentemente, o caso deu origem a um filme de produção independente, The Zodiac (2005), de Alexander Bulkley, entre nós lançado directamente em DVD, com o título Crimes sem Rosto.
Resultante de uma coprodução Warner/Paramount, Zodiac centra-se, em particular, na vida dos polícias que conduzem a investigação e possui um cast imenso onde se incluem, entre outros, Jake Gyllenhaal, Robert Downey Jr., Mark Ruffalo, Anthony Edwards, Brian Cox e Chloë Sevigny. Trata-se do primeiro filme integralmente rodado com a câmara digital Thomson Viper, a mesma que Michael Mann já utilizou em partes de Colateral (2004) e Miami Vice (2006).
O novo trabalho de Fincher tem estreia americana marcada para 2 de Março; em Portugal, consta do catálogo da Columbia/TriStar/Warner e está agendado para 19 de Abril. O trailer, disponível no site oficial, pode ser visto em HD no site da Apple.

MAIL

sexta-feira, dezembro 22, 2006

O melhor de... 2007

É verdade que ainda é cedo para fazer os balanços de 2007... Mas há uma canção que não faltará aos balanços que fizermos daqui a um ano. E se o álbum é deste calibre, então temos já um candidato ao título... O álbum chama-se Neon Bible e será o segundo dos Arcade Fire. A BBC já estreou um tema, Intervention, e é melhor que quaisquer dos que escutámos no excelente Funeral, do ano passado. Épico, grandiosidade consequente suportada pela sólida construção da canção e pela presença protagonista de um órgão. Simplesmente viciante.
Escutem-na aqui.

A cinefilia depois de "Borat" (2/3)

Nicholas Ray em "Lightning Over Water" (1980), de Wim Wenders
O cinema, por definição, divide as pessoas — não apenas os espectadores (participantes de um determinado ritual social), mas as pessoas (seres feitos de infinitas e inconciliáveis irredutibilidades). Daí que a cinefilia seja, desde sempre, uma prática que conduz à definição de fronteiras, de linhas de demarcação que nos permitem compreender que não somos iguais. Mais do que isso: que as nossas diferenças encerram uma verdade radical, porventura indizível, de que nunca abdicaremos. Por vezes, um filme separa-nos mesmo de quem amamos... Mas é preciso continuar a viver.
O cinéfilo é aquele que continua a viver, não contra o outro (também cinéfilo, mas violentamente diferente), mas a favor da sua própria diferença. O cinéfilo não procura medidas de exclusão tribal, antes acredita na sua diferença como única tábua de salvação da especificidade do seu olhar. Nesse sentido, não se é cinéfilo para "convencer" os outros (pobre projecto). De alguma maneira, o cinéfilo é aquele que trabalha incessamente no seu próprio "convencimento" — ou melhor, na sua convicção. Ser convicto não é esperar que o mundo se submeta à nossa razão — é saber que só se tem razão para si próprio, se for caso disso até à perdição última desse jogo de espelhos.
Por isso, no limite, o cinéfilo sabe que o cinema tende para a morte. Não para a morte do próprio cinema, tema fascinante mas escasso para dar conta desta vertigem; antes para a morte, tout court, com o seu imenso silêncio. Daí que a história do cinema vá sendo pontuada por filmes que aceitam lidar com essa nitidez da morte, necessariamente dividindo os espectadores, as pessoas e os cinéfilos.
Um desses filmes, a meu ver dos mais cristalinos e perturbantes que alguma vez se fizeram sobre a proximidade da morte, é Lightning Over Water (1980), onde o alemão Wim Wenders filma o seu mestre americano, Nicholas Ray (1911-1979), dilacerado por um cancro, nas semanas finais da sua vida. É um filme que nasce de um contrato terrível, mas também de uma luminosa transparência: o contrato estabelece-se entre aquele que filma e aquele que, ao ser filmado, se expõe numa agonia sem retorno. No fundo, estamos perante um modelo de toda e qualquer relação cinéfila: a do contrato entre um olhar e um filme — um olhar que sabe que o filme aprisionou (e, num certo sentido, matou) algo daquilo que foi filmado; um filme que se reafirma como vida, apesar (e, afinal, através) da morte que transporta.
O cinéfilo morre um pouco em cada filme.

MAIL

quinta-feira, dezembro 21, 2006

A surpresa de 2006

O álbum de estreia do "projecto" Beirut, ou seja, Zach Condon e amigos, ainda não corresponde à expressão plena das potencialidades que revela (mesmo assim é um dos melhores discos da temporada)... Mas a Gulag Orkester cabe o papel de assinalar Beirut como a mais das promissoras estreias do ano. Que venha a palcos por estas bandas. Que faça um segundo disco ainda melhor. A 4AD já o "topou" e chamou ao seu catálogo que, com Gulag Orkester e o disco dos TV On The Radio, mostra capacidade em estar na linha da frente dos acontecimentos como não sucedia desde os tempos em que revelava ao mundo Pixies e Throwing Muses, já lá vão 20 anos! Fiquemos, hoje, com Beirut ao vivo. Aqui está Scenic World:

Dose familiar

Os Depeche Mode lançam esta semana, via iTunes, a integral do seu catálogo (gravações ao vivo e remisturas inclusive). São ao todo 640 temas, entre os quais 59 raridades (algumas inéditas em disco, como takes alternativos, ensaios, gravações de palco e mais remisturas). Grande dose! Bela dose!

MAIL

O Natal de Sufjan

Sufjan Stevens acaba de editar uma caixinha de cinco EPs de Natal. Cinco discos, um poster, autocolantes, e uma BD, com as mesmas figuras que agora vemos neste teledisco. Aqui está Put the Lights on the Tree, natal à moda de Sufjan Stevens.

Lou Reed em DVD

Foto de Timothy-Greenfiel Sanders (site oficial de Lou Reed)
Premiado com um Grammy para melhor longa-metragem sobre música (Best long form music video), Lou Reed: Rock and Roll Heart (1998) é um exercício documental em que a excelência da música se confunde com a abordagem quase intimista da sua criação. Isto porque este é um documentário que, através e a propósito da música de Lou Reed, reúne David Bowie, David Byrne, John Cale, Patti Smith ou Suzanne Vega, além dos revisitados (em imagens de arquivo) Nico e Andy Warhol.
Dirigido por Timothy-Greenfield Sanders, notável fotógrafo de personalidades do mundo do entertainment, este é um dos primeiros nove títulos lançados no mercado por uma nova editora de DVD, a Midas — o catálogo da Midas inclui, desde já, obras de Martin Scorsese (as suas duas viagens pelo cinema americano e italiano), Derek Jarman (Caravaggio e Wittgenstein), Serguei Paradjanov (Ashik Kerib e A Lenda Fortaleza de Surami), Fernando Lopes (dois documentários sobre Pina Bausch e Alexandre O'Neill) e John Cassavetes (Tempo de Amar). Entre os cineastas previstos na agenda da nova editora incluem-se John Ford, Robert Bresson, Nanni Moretti, Aleksandr Sokurov e Jean-Luc Godard.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Paz na Terra

Dia 20, 12h48. Mensagem no meu telemóvel:
"Quando se deseja e a sério, sem meias medidas ou meias palavras. Este natal viva tudo por inteiro, viva a magia de cada momento. Um desejo Vodafone."
Tenho algumas questões que me embaraçam:
1. Tal como Vodafone, Natal escreve-se com maiúscula.
2. Não se deseja "a brincar". Qualquer desejo é sempre tragicamente sério. Sem medidas e, por vezes, sem palavras. Gosto das palavras, mas também gosto do silêncio — de muitos silêncios, sem mensagens nem telemóveis.
3. Não quero viver tudo por inteiro, porque não quero ser Deus (Deus, por definição, não sente a ânsia dos desejos).
4. Há momentos sem qualquer magia. C'est la vie.
5. Compreendo, agora, que as redes de telemóveis também desejam.
Para além da qualidade dos serviços prestados, só posso, por isso, agradecer a simpatia com que me tratam — a mim e aos milhares de assinantes que receberam a mesma calorosa mensagem. Paz.

MAIL

terça-feira, dezembro 19, 2006

Discos da semana, 18 de Dezembro

Post Industrial Boys “Trauma”
Dois anos depois de um soberbo álbum de estreia, o colectivo Post Industrial Boys apresenta um segundo disco. Trauma, mais negro que o primeiro, todavia esteticamente mais apurado e liricamente mais coerente (a opção dominante pelo inglês como língua protagonista a reforçar esta unidade), é um interessante retrato de um lugar (a Geórgia, ex-república soviétiva) e um tempo (o hoje, a vida real no pós-comunismo). Mais, portanto, que apenas um apelativo conjunto de canções feitas com electrónicas. Trauma. Assim se chama o segundo disco de canções que Gogi recrutou em dois anos de trabalho, a maior parte das quais com palavras pedidas a letristas vários, entre os quais Thomas Brinkman (o mentor da editora Max Ernst) e o escritor norte-americano Kurt Vonnegut. Canções feitas de austera pop electrónica, sem a diversidade de rumos que se escutara no álbum de estreia. A vida depois da queda do comunismo é tutano nas histórias, personagens e observações, palavras cantadas com uma eloquência quase aristocrática que contrasta com a desolação retratada. Entre os originais, uma versão, ao jeito Post Industrial Boys, desbotada, despojada, metronómica, de Walk On The Wild Side, de Lou Reed. Apesar das possíveis afinidades entre as pistas de solidão e decadência do lado errado de Nova Iorque aqui relatadas e os traumas pós-comunismo da Geórgia que o projecto ilustra, este revela-se o momento dramaticamente mais inconsequente de um disco que consegue, sob política digital, ter o fôlego melancólico de grandes cantautores. Pop noir, à caucasiana.

Sufjan Stevens “Songs For Christmas”
O mais apetitoso dos discos editados este Natal é, sem dúvida, a caixa Songs For Christmas que Sufjan Stevens lança em ano e pousio entre o megalómano projecto de retrato dos estados dos EUA (dos quais já visitou o Michigan e Illinois). Aqui reúne cinco EPs, gravados, um por ano, desde 2000 (salvo em 2004), destinados a ser prendas para os seus amigos, nos quais partilha, agora, connosco, versões de cânticos tradicionais e composições suas, estas últimas claramente as mais interessantes das peças deste lote de mais de 40 canções. A sonoridade de genética folk, mas de alma versátil (a que escutámos em Illinois), domina esta colecção onde o espírito de Natal mais clássico não perde ao ser confrontado com outras visões e tempos. Atenção, sobretudo, aos originais de Sufjan, que sublinham outras formas de olhar, reflectir e retratar o Natal. Engenho e boas ideias ao serviço de uma das mais antigas tradições da indústria discográfica.

Weekend “La Varieté”
Como quem foi do 8 ao 80, Alison Statton arrumou na memória a essência radical, asceta e austera dos Young Marble Giants e apresentou em 1982, nos Weekend, uma ideia nos antípodas das que, dois anos antes, haviam feito história no fundamental Colossal Youth. Acompanhada por Simon Booth e Spike, revelou nova visão pop quente, garrida, luminosa, temperada a estímulos inesperados, do jazz à bossa nova, pitada de high life e chanson a completar um bouquet vivo e cativante de belíssimas canções. La Varieté é, como o título o indicia, um espectáculo de variedades, palco para a voz de Alison Statton se aventurar por pequenos monumentos de prazeres novos para a ordem instituída, desenhando em canções como Drum Beat For Baby ou Summerdays as fundações de uma nova genealogia pop que nos revelaria, depois, nomes como os Everything But The Girl, Style Council, St Etienne ou Working Week (este último o destino de Simon Booth depois de dissolvido o trio, em 1984). Esta magnífica reedição junta ao álbum de 1982 demos e dois máxis, ficando de fora (pelo que ainda se espera a integral definitiva) o EP gravado ao vivo no Ronnie Scott’s, em 1983.

Antenna “Camino del Sol”
Contemporânea dos Weekend, e de espantosas afinidades, a música dos franceses Antena (a banda que revelou a voz de Isabelle Antena) mostrava caminhos igualmente diferentes e ousados no álbum de estreia Camino del Sol, em 1982. A austeridade dos Young Marble Giants sente-se na raiz desta música que, contudo, aceita o prazer carnal de flirts com Tom Jobim (de quem adaptam Garota de Ipanema, a quem mudam o sexo). A voz sussurrante e as electrónicas discretas de Isabelle, as percussões de Jair Moreira e a presença de dois Tuxedomoon (Steven Brown e Blaine Raininger) constroem um coeso mundo de contagiantes sonhos pop de luz e sedução que, nesta reedição, acolhem, como extras, dois temas inéditos.

Dado não haver edições nos próximos dias, os ‘Discos da Semana’ regressam em Janeiro

Brevemente:
15 de Janeiro: Carla Bruni, JP Simões, Talking Heads (best of), Sonic Youth (lados B), John Cale (live)
22 de Janeiro: The Good The Bad and The Queen, Supremes (best of), The Shins, John Cooper Clarke (reedição), Nine Horses (EP), Architecture In Helsinki (remisturas), Residents, Alasdair Roberts, Field Music, Iggy Pop (live)
29 de Janeiro: Klaxons, Wendy Carlos

Fevereiro: Triffids (reedição), Clap Your Hands Say Yeah, Kasabian (edição nacional), Bloc Party, Patrick Wolf

Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento

MAIL

domingo, dezembro 17, 2006

Eu, tu, ele

Reflectir sobre o colectivo e propor uma reavaliação das próprias histórias individuais — ou um momento jornalístico de puro génio: a Personalidade do Ano para a revista Time és "tu", sou "eu", é "ele". Ou como garante o subtítulo da capa: "Sim, você. Você controla a Idade da Informação. Bem-vindo ao seu mundo." (Recorde-se que, no final de 1982, a Time elegeu o computador como Máquina do Ano.)

MAIL

Discos Voadores, 16 de Dezembro

Na semana em que pela primeira vez Lou Reed levou a um palco o seu histórico álbum Berlin (de 1973), por muitos conhecido como o disco mais deprimente de sempre, o destaque inevitável por estes lados, com visita ainda a mais alguns casos de música... com prozac.

Patrick Wolf “Accident And Emergency”
The Legends “Heart”
Small Sins “Threw Them All Away”
Beirut “Scenic World”
Albert Hammond Jr “Cartoon Music For Superheroes”
Sérgio Godinho “O Velho Samurai”
Lou Reed “Caroline Says I”
Clinic “Harvest”
The Shins “Phantom Limb”
2008 “Caratequide”
TV On The Radio “Hours”
Noblesse Oblige “Bitch”
Love Is All “Make Out Fall Out Make Up”
Yeah Yeah Yeahs “Way Out”
Metric “Handshakes”
Pop Dell’Arte “Little Drama Boy”

Nuno Prata “Não, Eu Não Sou Um Fantasma”
M Ward “To Go Home”
Raconteurs “Intimate Secretary”
Lou Reed “Man Of Good Fortune”
Lou Reed “Caroline Says II”
Lou Reed “The Bed”
Velvet Underground “Candy Says”
Lou Reed + John Cale “Hello It’s Me”
Antony & The Johnsons + Lou Reed “Fistfull Of Love”
Joy Division “Atmosphere”
Felt “Primitive Painters”
David Fonseca “Adeus, Não Afastes Os teus Olhos dos Meus”
Lou Reed “The Kids”

Discos VoadoresSábado 18.00 – 20.00 / Domingo 22.00 – 24.00
Radar 97.8 FM ou www.radarlisboa.fm

MAIL

sábado, dezembro 16, 2006

A cinefilia depois de "Borat" (1/3)

Jean-Pierre Léaud em "Os 400 Golpes" (1959), de François Truffaut
Face aos conteúdos de algumas zonas da Internet sobre filmes e cinema, podemos verificar que muitas intervenções do "público" se esgotam na procura de uma divisão bélica. E num sentido que dispensa qualquer agilidade de pensamento: deixou de ser importante afirmar uma diferença — através de ideias, argumentos, certezas e dúvidas, sentimentos e emoções —, para passar a valorizar-se a "destruição" de quem, eventualmente, possui outra diferença para afirmar. Na prática, gera-se o mais primitivo dos efeitos tribais: quem não está na tribo (dos que admiram um determinado filme) só pode ser insultado e ridicularizado ou, na melhor das hipóteses, tratado como um pobre ignorante. E só por distracção se poderá julgar que esta descrição de alguns dos costumes dos nossos tempos é excessiva — bem pelo contrário, se tal descrição peca por alguma coisa, é por defeito.
Parece haver mesmo filmes que favorecem esse efeito tribal. Vimos o caso recente de Borat. Mas há outros exemplos, também recentes, como V de Vingança (2006) ou, um pouco mais recuados, como Matrix (1999). Ora, não pretendo sugerir que tal efeito tem a ver com filmes que pouco me interessam — é verdade que não me sinto nada tocado por V de Vingança, mas considero Matrix uma das obras-primas a encerrar simbolicamente o final do século XX. Acontece que nunca me passaria pela cabeça tentar reduzir seja quem for a "preconceituoso", "estúpido" ou "atrasado mental" apenas porque se mostra distante de algo que admiro (por exemplo, considero Gabrielle, de Patrice Chéreau, uma das maiores proezas do ano cinematográfico e nada me move contra quem — e são muitos — se mostra indiferente ou mesmo agastado pela pesquisa formal de Chéreau).
O que se passa é que essa pueril guerra de "exclusões" é o passatempo banal de muitos espectadores que se exprimem na Net, a maior parte das vezes visando uma entidade monstruosa a que, por desconhecimento ou desprezo, decidiram dar o nome de "crítica". No fundo, não conseguem compreender que a crítica (melhor ou pior) é feita de textos, ideias, pensamentos e perplexidades — e não dessa coisa divertida, mas superficial e arbitrária, que são as estrelinhas que se atribuem aos filmes. Mais do que isso: essa lógica tribal pode definir tudo o que se quiser (inclusivé uma sensibilidade geracional que importa conhecer), mas nada tem a ver com cinefilia e nobreza cinéfila.
A cinefilia não nasce da vontade de excluir os outros espectadores. Aliás, não começa em nenhuma dinâmica de grupo, mas num gosto obsessivo pela vida das formas e pela sua constante interacção. Aliás, se recuarmos aos patronos da cinefilia moderna — os autores da Nova Vaga francesa (Godard, Truffaut, Rohmer, Rivette, Chabrol, etc.), mas também o seu mentor teórico e moral, André Bazin —, podemos observar que a sua paixão pelo cinema define fronteiras, por vezes radicais, mas não funciona a partir de qualquer bloqueamento tendencioso. Trata-se mesmo de uma postura em constante e ansiosa abertura para muitos outros domínios da cultura — entendendo-se, aqui, cultura não como mera acumulação enciclopédica de saberes, mas sim como vontade de relação com todas as formas de todas as áreas, a começar pela literatura. É verdade: o cinéfilo não é apenas aquele que "gosta" de filmes. Num certo sentido, a sua relação com os filmes existe gerada pelo gosto dos livros e da literatura. Ou ainda: pela escrita como paixão fundadora de todas as formas de apreensão/reconversão/imaginação do mundo.
Antoine Doinel, o alter ego cinematográfico de François Truffaut, interpretado por Jean-Pierre Léaud, é aquele que, na entrada de uma sala de cinema, rouba uma fotografia de um filme de Ingmar Bergman que o fascinou (Mónica e o Desejo), mas também um leitor encantado de Balzac — está tudo em Os 400 Golpes (1959), um bom filme para começarmos a ser cinéfilos em vez de gastarmos tempo precioso a insultar o parceiro do lado.