quinta-feira, dezembro 28, 2006

2006: Top 5

1 disco IN THE MAYBE WORLD
>Lisa Germano<
NG: Há poucos anos, Lisa retirara-se. Encontrou trabalho numa magnífica livraria de Los Angeles (a Book Soup) e chegou a dizer que... "música, nunca mais"... Enganou-se. Em 2003 despiu a música à essência das suas linhas fundamentais em Lullaby For Liquid Pig. E em 2006 apurou esta nova linguagem mais austera na forma, mas plena na emoção, num álbum que fala de morte, não como o fim de tudo, mas um momento que nos obriga a recordar a vida quem partiu. Arrebatador!
JL: Em tempos de excessos perpretados em nome do "espectáculo" e da "tecnologia", este é um exercício que se vira para o interior, percorrendo o mapa da solidão, não temendo aproximar-se das fronteiras do país da morte. Afinal de contas, a música popular não teme as vertigens de todos os intimismos.

1 filme
BUBBLE
JL: Expandir as potencialidades das novas câmaras digitais, não para ostentar qualquer "modernismo", antes para regressar aos domínios remotos do melodrama (em formato scope) — um filme que, com a serenidade dos clássicos, nos mostra que o gesto mais vanguardista é também aquele que nos aproxima da verdade dos clássicos.
NG: Os melhores filmes do ano não têm necessariamente de ser os que os distribuidores locais levaram a sala. E muitos foram os títulos de primeira água (alguns com potencial comercial) que tiveram ordem de passagem directa ao DVD. Um deles é este espantoso exercício de cinema que, com orçamento mínimo nos dá mais que muitos dos blockbusters do ano. A descobrir, em DVD.

1 livro
PARAÍSO PERDIDO
NG: Houve magníficos novos livros este ano. De Murakami a Houellebecq, de Banville a Sebald, muitos foram os livros obrigatórios. Mas 2006 foi também um ano de redescobertas. Da obra quase inédita (entre nós) de Reinaldo Arenas. Do soberbo exercício de "literatura geométrica" de Flatland de Ewin A. Abott... E, mais atrás ainda, um ano pleno de importantes traduções de clássicos remotos, de textos gregos ao incontornável épico de John Milton.
JL: Projecto: traduzir os clássicos. Efeito desejado: retirar esses mesmos clássicos da prisão das coisas adquiridas, relançando-os na vertigem do mundo e das palavras de hoje (sim, porque nem só de imagens vivemos). Ou como — através da tradução de Daniel Jonas — pode ser possível regressar ao século XVII par redescobrirmos as certezas e enigmas do nosso presente.

1 revista
JL: Das utopias dos novos suportes digitais (através de uma entrevista histórica com Beck) até aos novos movimentos religiosos (ou à emergência de um novo conceito de sagrado), falaram um pouco de tudo, mostrando e demonstrando que os gadgets que vamos inventando são inseparáveis das relações humanas que, mal ou bem, com eles construímos.
NG: Cada vez mais uma leitura fundamental. Não apenas porque a cibercultura faz já parte dos nossos hábitos, mas porque é cada vez mais uma fonte ou veículo de ideias fundamentais para as mais diversas formas de expressão cultural. Um ano onde não só lemos sobre novos gadgets e espaços online mas, também, e antes de outros o descobrirem, o potencial do MySpace e YouTube, as novas economias de especialidade nas indústrias culturais ou o encarar da Internet como uma nova fé em tempo de outros ateísmos.

1 site
NG: Descobri Miranda July há mais de um ano quando vi Eu, Tu e Todos os que Conhecemos, um ano antes de por cá estrear. Um cinema do nosso tempo, figuras e histórias dos nossos dias, mas cruzadas com um olhar "artístico" claramente formado por horas de observação e reflexão. Video artist antes de realizadora de cinema, Miranda July revela-se a si, a nós e a todos os que conhecemos num site que vale a pena descobrir.
JL: Revelação no mercado português dos filmes (com Eu, Tu e Todos os que Conhecemos), Miranda July é um magnífico exemplo da démarche polimorfa de muitos artistas contemporâneos. O seu site é, de uma só vez, uma exposição transversal da sua obra (cinematográfica e plástica) e uma via plural de entrada em alguns universos paralelos.
P.S. A partir de manhã apresentaremos aqui as nossas listas individuais Top 10.

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