quarta-feira, janeiro 22, 2020

Piano solo [10/10]


[ Victor Borge ] [ Daniel Barenboim ] [ Glenn Gould ]

A noção de que o jazz implica uma passagem para um domínio "especializado" de expressão e entendimento é tanto mais redutora quanto tende a fechar as respectivas fronteiras, encerrando também a sua escuta em rituais mais ou menos esotéricos. Mesmo nas suas manifestações mais simplistas, historicamente, a noção de fusão consegue contrariar tal fechamento. 
Escusado será sublinhar o papel fundamental de Chick Corea nas dinâmicas de contaminação do jazz, e através do jazz, ele que, além do mais, colaborou com Miles Davis, Stan Getz ou Herbie Hancock. O seu álbum de 1984, Children's Songs, pode servir de emblema: eis um conjunto de 20 canções infantis em que a linearidade (?) da proposta envolve complexas estruturas narrativas, apelando, sem esforço, com desarmante naturalidade, a memórias da chamada música clássica (a começar pelas influências muitas vezes citadas de Béla Bartók ou Steve Reich).
Ainda antes da edição desse álbum, em 1982, no Festival de Piano de Verão, em Munique, Corea interpretou um "resumo" das suas 'Canções para Crianças' — um misto de celebração e recolhimento.