quarta-feira, janeiro 31, 2018

St. Vincent na NPR

Eis um pequeno grande privilégio que a NPR nos permite partilhar: Annie Clark, aliás, St. Vincent interpretando três temas — New York, Los Ageless e Slow Disco — do seu magnífico álbum Masseduction. É um evento da série Tiny Desk Concerts.

"The Post": jornalismo e verdade (3/3)

Rodagem de The Post
— Steven Spielberg e Tom Hanks (ao centro), Meryl Streep (à direita)
A publicação dos "Pentagon Papers", em 1971, é pretexto para um notável filme sobre o trabalho jornalístico, com assinatura de Steven Spielberg — este texto foi publicado no Diário de Notícias (20 Janeiro), com o título 'Spielberg celebra o jornalismo e a exigência da verdade'.

[ 1 ]  [ 2 ]

Para além da actualidade da reflexão sobre os modos de convivência, porventura de conflito, entre imprensa e poder político, The Post é mais um filme que desmente, ponto por ponto, a noção simplista (com grande cobertura mediática) segundo a qual a produção cinematográfica americana se esgota numa colecção de aventuras de super-heróis e efeitos especiais.
Aliás, The Post pertence a uma galeria de grandes filmes políticos que os EUA produziram nos últimos anos, incluindo A Ponte dos Espiões, também de Spielberg, sobre um episódio da Guerra Fria, Detroit, de Kathryn Bigelow, evocando os motins de 1967 naquela cidade, ou Derradeira Viagem, de Richard Linklater, centrado num veterano da guerra do Vietname cujo filho, cerca de quatro décadas mais tarde, morre em combate no Iraque.
Nada disso implica qualquer negação do “star system” de Hollywood. Bem pelo contrário: ao entregar os papéis de Bradlee e Graham a Tom Hanks e Meryl Streep, respectivamente, Spielberg joga com o seu prestígio popular para nos envolver na teia de ideias e afectos decorrentes da sua prática profissional. Em particular no caso de Streep, a sua admirável composição de uma mulher com importantes poderes num mundo dominado por valores masculinos faz mais pela exaltação do factor feminino do que a histeria de muitos discursos panfletários, indiferentes à multiplicidade de factores de cada conjuntura histórica.
Estamos perante um brilhante relançamento do mais genuíno cinema liberal de Hollywood. Entenda-se: liberal não envolve, neste contexto, qualquer sentido partidário, decorrendo do empenho em discutir o lugar da verdade no interior das dinâmicas, eventualmente das contradições, de uma sociedade democrática. The Post é mesmo um filme cujos valores narrativos nos remetem para momentos emblemáticos da produção dos anos 60/70 como Sete Dias em Maio (1964), de John Frankenheimer, Três Dias do Condor (1975), de Sydney Pollack, ou Os Homens do Presidente (1976), de Alan J. Pakula. Vale a pena recordar que este filme de Pakula narra o trabalho de Carl Bernstein e Bob Woodward, também jornalistas de The Washington Post, sobre o escândalo Watergate e a subsequente queda de Nixon, em 1974 — dir-se-ia que, com quatro décadas de antecipação, Pakula realizou a sequela do filme de Spielberg.

>>> Trailer de Os Homens do Presidente.

terça-feira, janeiro 30, 2018

Hollywood, anos 60/70

O mês de Fevereiro da Cinemateca é dominado por um magnífico ciclo dedicado a títulos emblemáticos do cinema americano das décadas de 1960/70 — este texto foi publicado no Diário de Notícias (28 Janeiro), com o título 'O “american way of life” revisto através de clássicos de Hollywood'.

E se o cinema americano dos anos 60/70 reflectisse os temas, ansiedades e medos do nosso presente? A pergunta está implícita no ciclo “American Way of Life: vidas em crise”, acontecimento central na programação do mês de Fevereiro na Cinemateca.
Repare-se no título de abertura, Iniciação Carnal (dia 1, 21h30). Realizado em 1971 por Mike Nichols, na altura já celebrizado com Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966) e A Primeira Noite (1967), nele encontramos uma teia de personagens e relações sexuais que, nos dias que correm, talvez corresse o risco de ser condenada pelos militantes de uma qualquer “pureza” ditatorial. Através de um magnífico elenco — Jack Nicholson, Art Garfunkel, Candice Bergen, Ann-Margret —, Nichols colocava em cena as utopias e frustrações de pessoas realmente vivas, imprevisíveis e contraditórias, enfrentando as ilusões libertárias herdadas da atribulada década de 60.
Como se refere no texto de apresentação do ciclo, são 22 filmes em que encontramos “reflexos de vidas adultas que, espelhadas no cinema, mexiam com aquilo que tomávamos por verdadeiro na vida que vivíamos fora das salas”. A par da crise de valores existenciais que o título do evento refere, com os traumas da guerra do Vietname a contaminarem todo o tecido social americano, era também um tempo de dramáticas transformações cinematográficas: a galeria de autores que tinha protagonizado a idade de ouro de Hollywood estava a dar lugar aos que com eles tinham aprendido, respondendo também às perplexidades da sua geração.
Encontramos, por isso, os suspeitos do costume. Assim, a primeira fase de autores como Francis Ford Coppola e Martin Scorsese pode ser revisitada através de O Vigilante (1974) e Alice Já Não Mora Aqui (1975), respectivamente — o primeiro contando uma história dantesca sobre um técnico de som especialista em escutas (Gene Hackman); o segundo virando do avesso as regras clássicas do melodrama, centrando-se na personagem de uma mulher que tenta organizar o labirinto da sua existência (Ellen Burstyn).
São referências emblemáticas que há muito adquiriram o estatuto de clássicos. Mas há filmes muito menos conhecidos, mesmo quando trazem a assinatura de nomes como os citados. Ainda de Coppola, veja-se, por exemplo, The Rain People (1969), amargo e comovente melodrama com Shirley Knight e James Caan (lançado em Portugal com um título desastrado: Chove no Meu Coração). Ou descubra-se Looking for Mr. Goodbar/À Procura de um Homem (1977), de Richard Brooks, saga violenta de uma mulher num universo de homens, com Diane Keaton num dos melhores papéis da sua carreira, nos antípodas de Annie Hall, de Woody Allen, produzido no mesmo ano (também incluído no ciclo).

Clássicos e modernos

Estabelecendo ligações directas com a América dos nossos dias (e não só...), dois outros filmes são exemplos modelares de um cinema que mantinha as virtudes dos argumentos clássicos, abrindo-se para temas quentes do contexto em que forma gerados. O mais célebre é, por certo, Os Homens do Presidente (1976), de Alan J. Pakula, seguindo o trabalho de investigação de Bob Woodward (Robert Redford) e Carl Bernstein (Dustin Hoffman) em torno do caso Watergate — uma história que começa no momento em que termina a narrativa de The Post, o filme de Steven Spielberg que está nesta altura na corrida dos Oscars. O outro é Network (1976), de Sidney Lumet, com Peter Finch no papel de uma assombrada vedeta do pequeno ecrã, objecto absolutamente pioneiro na denúncia de um populismo televisivo que, quatro décadas depois, não desapareceu das nossas sociedades.
O ciclo relembra-nos uma verdade, de uma só vez histórica e artística, tantas vezes recalcada: há na história de Hollywood um cinema genuinamente social, politicamente interventivo, que está longe de poder ser reduzido às “margens” da produção independente. Dessa área, aliás, surge o admirável Wanda (1970), odisseia de uma mulher solitária escrita, dirigida e protagonizada pela actriz Barbara Loden (foi a sua única longa-metragem como realizadora). É um filme que podemos contrapor a Klute (1971), este gerado no sistema de estúdios, com Jane Fonda no centro de uma teia de subtil inquietação moral, relançando as componentes do clássico género “noir” — é mais uma realização de Pakula.
Há raridades como Pânico em Needle Park (1971), de Jerry Schatzberg, sobre os circuitos urbanos da droga, primeiro título importante da filmografia de Al Pacino, Inserts (1975), de John Byrum, e Hardcore (1979), de Paul Schrader, ambos retratando com metódica crueza os bastidores do cinema pornográfico. E há ainda esse filme coral que é Nashville (1975), de Robert Altman, mergulhando no mundo da música country para elaborar uma fascinante parábola sobre uma América perdida, porventura reencontrada, no turbilhão das suas crises [trailer].

Faithfull por Bonnaire

* FAITHFULL, de Sandrine Bonnaire
[ DN, 25-01-2018 ]

Foi em 1964 que As Tears Go By, canção composta pela dupla Mick Jagger/Keith Richards, transformou Marianne Faithfull em estrela pop e, mais do que isso, símbolo juvenil. O documentário realizado pela actriz francesa Sandrine Bonnaire começa aí, mas está longe de se reduzir a uma evocação musical. Com um olhar frontal, por vezes à beira da agressividade emocional, Bonnaire tem a sorte de deparar com uma mulher que assume até às últimas consequências um contundente princípio existencial: da utopia ao desencanto, entre alegrias e dores, é a ele que pertence a tarefa e, num certo sentido, o dever de elaborar o discurso plural da sua própria vida.
O resultado é um retrato documental que se vai transformando em auto-retrato, provando também que o intimismo cinematográfico nada tem a ver com a obscenidade televisiva.

>>> Interpretando As Tears Go By: na televisão, em 1965, e no filme de Jean-Luc Godard, Made in USA (1966) + trailer do filme (Doclisboa).





segunda-feira, janeiro 29, 2018

Quartetos de cordas na Gulbenkian

DMITRI CHOSTAKOVITCH
[Wikipedia]
* David Oistrakh String Quartet
[Gulbenkian, 27 Jan., 15h00]

* JACK Quartet
[Gulbenkian, 27 Jan., 18h00]

Os dois primeiros concertos do Festival Quartetos de Cordas, na Fundação Gulbenkian, não poderiam ter sido mais contrastados — e também mais sugestivos. Observe-se o programa: no primeiro, com o David Oistrakh String Quartet, tratava-se de percorrer caminhos exemplares do século XIX, evocando Sergei Rachmaninov, Piotr Ilitch Tchaikovsky e Niccolò Paganini, embora integrando um radical "desvio" para o século XX, com o Quarteto para Cordas nº 3, em Fá maior, op. 73, composto em 1946 por Dmitri Chostakovitch; no concerto seguinte, a primeira parte envolveu duas encomendas da própria fundação: uma muito recente, Quarteto de Cordas nº 1, Unvanquished Space (Espaço por conquistar), de Andreia Pinto Correia (em estreia mundial), outra, Tetras, composta por Iannis Xenakis em 1983 — a segunda parte foi preenchida com o tour de force do Quarteto para Cordas nº 9, de Georg Friedrich Haas, obra interpretada na escuridão total.
Como é óbvio, a obra de Haas envolve uma espécie de superação da própria percepção das matérias musicais, prendendo-nos na escuridão e, por assim dizer, libertando-nos para um espaço/tempo em que já não há coordenadas a não ser as que são estabelecidas pelos sons que nos envolvem — o seu desejo experimental foi um belo complemento das obras de Pinto Correia e Xenakis, elas próprias unidas (à distância de mais de três décadas) pela vontade de desafiar códigos e estruturas, no limite, violentando a sonoridade corrente dos instrumentos.
Enfim, no primeiro evento, o sentimento "tradicional" de Rachmaninov, Tchaikovsky e Paganini (este representado pela alegria de dois temas dos Caprichos) confrontou-se com a tensão do quarteto de Chostakovitch, reflectindo as suas experiências da guerra — remetendo para um contexto tão específico, e também tão dramático, terá sido a obra mais universal, e também mais intemporal, que se escutou nessa tarde magnífica do Grande Auditório.

>>> Este é um registo do David Oistrakh String Quartet, precisamente da obra de Chostakovitch que interpretaram na Gulbenkian (terceiro andamento, Allegro non troppo).

A caminho dos OSCARS
— associação de cenógrafos
distingue "Blade Runner 2049"

[Governor Awards]  [Gotham Awards]  [críticos de Nova Iorque]  [críticos de Los Angeles]
[American Film Institute]  [National Society of Film Critics]  [Globos de Ouro]
[National Board of Film Review]  [Critics' Choice Awards]  [NAAPC]  [associação de produtores] [associação de actores]  [N O M E A Ç Õ E S]  [associação de montadores]


Porventura um dos títulos mais esquecidos na temporada de prémios, Blade Runner 2049 teve um prémio especialmente significativo da Art Directors Guild, a associação dos profissionais de cenografia, directores artísticos ou designers, responsáveis pelo visual de cada filme (ou produção televisiva). Estes são prémios dados em função do registo narrativo dos filmes, distinguindo, nomeadamente, os de "época" e os que apresentam acções situadas no mundo contemporâneo — a lista completa de prémios pode ser consultada no site da ADG.

* Filme de época — Paul Denham Austerberry, por A FORMA DA ÁGUA
* Filme de fantasia — Dennis Gassner, por BLADE RUNNER 2049
* Filme contemporâneo — François Audouy, por LOGAN [trailer]
* Filme de animação — Harley Jessup, por COCO

domingo, janeiro 28, 2018

A caminho dos OSCARS
— "Dunkirk" e "Eu, Tonya" premiados
pela associação de montadores

[Governor Awards]  [Gotham Awards]  [críticos de Nova Iorque]  [críticos de Los Angeles]
[American Film Institute]  [National Society of Film Critics]  [Globos de Ouro]
[National Board of Film Review]  [Critics' Choice Awards]  [NAAPC]  [associação de produtores] [associação de actores]  [N O M E A Ç Õ E S]


Na noite do dia 26, a American Cinema Editors, associação dos profissionais de montagem de cinema e televisão, atribuiu os seus prémios anuais, os Eddies. De acordo com as regras que têm funcionado nos últimos anos, as distinções para os melhores montadores na área do cinema são repartidas por quatro categorias — a lista completa dos premiados está disponível no site da ACE.

* Filme dramático — Lee Smith, por DUNKIRK [trailer]
* Comédia — Tatiana S. Riegel, por EU, TONYA
* Animação — Steve Bloom, por COCO
* Documentário — Joe Beshenkovsky, Will Znidaric e Brett Morgen, por JANE

100 DISCOS
que não aparecem nas listas (1)

Há listas e listas… E nas mais canónicas são muitos os álbuns que se repetem… E há razões para que assim seja, porque há discos que escreveram episódios maiores na história da música popular. Mas há outros que costumam ficar de fora. E que tiveram também o seu papel e relevância, nem que junto de nichos. Alguns deles serão episódios menos célebres de carreiras que fixaram outros títulos como as suas referências. Outros são peças mais esquecidas mas que vale a pena não deixar perdidas no silêncio… A lista envolve edições posteriores a 1948, o ano em que é apresentado o formato de LP… Tematicamente vai andar pelos universos da música popular, o que abarca de resto uma vasta frente de géneros. Aqui fica então o arranque de uma lista diferente.

Yma Sumac, “Voice of The Xtabay”
(1950)

Voice of the Xtabay assinalou a estreia discográfica de Yma Sumac em nome próprio sete anos antes do disco de Lex Baxter que tornaria oficial o espaço a que se convencionaria chamar “exotica” (mas que aqui tem já clara manifestação).

A construção da personagem que então se revelava com o nome de Yma Sumac juntava mitologias que ora contavam que era descendente do último grande imperador Inca ora diziam que era uma dona de casa nova-iorquina que resolvera, pela música, dar outro rumo à sua vida. Na verdade Zoila Augusta Emperatriz Chávarri del Castillo (1922-2008), o seu nome real, era uma cantora peruana que começara a cantar na rádio em 1942 e chegou a gravar uma série de canções folk de passagem pela Argentina por esses dias. Com a família mudara-se para nova-iorque em finais dos anos 40, começando ali a fazer carreira a bordo do Inka Taky Trio.

E foi então que, através da Capitol Records, recebeu um convite para gravar a solo. Feito de seis composições de Vivanco (com quem estava casada) e duas de Lex Baxter, Voice of the Xtabay é um festim de exotismo que concilia uma interpretação à la Hollywood de um sentido de herança pré-colombiana com a presença da música latina.

A invulgar extensão vocal de Yma Sumac (que ultrapassa as quatro oitavas), que lhe permitem não apenas o canto mas também um desenho de vocalizações que se tornariam assinatura sua, os arranjos luxuriantes para orquestra e uma presença variada de instrumentos de percussão, criava um alinhamento tão invulgar quanto sedutor. Diferente. Mas estranhamente intrigante.

Voice of The Xtabay, de Yma Sumac, teve a sua primeira edição em formatos de 45 e 78 rotações em 1950, juntando os temas em vários discos numa mesma caixa, com edição pela Capitol Records. Em 1952 os oito temas seriam reunidos num álbum de dez polegadas. Há diversas prensagens em vinil e edições em suporte digital, por vezes acrescentando temas de outros discos, nomeadamente de “Inca Taqui”, de 1953.

Da discografia de Yma Sumac vale a pena descobrir álbuns como: 
“Legend of The Sun Virgin” (1952)
“Mambo!” (1954)
“Legend of The Jivaro” (1957)

Se gostou, experimente ouvir: 
Lex Baxter
Martin Denny
Robert Dransin

Lisa + Till + Dieter = jazz alemão

Ela é Lisa Tomaschewsky, actriz e modelo alemã. Personagem romântica, pose indecifrável para lançar uma bela aventura musical: Tomaschewsky surge na capa do mais recente disco de Till Brönner e Dieter Ilg, dois músicos de jazz, também da Alemanha, associados numa ágil deambulação criativa, seduzida pelos mais variados universos. Em Nightfall, Brönner e Ilg, trompete e contrabaixo, respectivamente, além de interpretarem três temas de sua autoria, convocam compositores como Leonard Cohen, Johnny Green e Johann Sebastian Bach, a par das lendárias duplas Kern/Hammerstein e Lennon McCartney (neste caso, para a mais inusitada reinvenção de Eleanor Rigby). Isto sem esquecer Scream & Shout, original de will.i.am, com Britney Spears. Enfim, eis a prova muito real de que a tradição é apenas uma variação sobre as perplexidades do presente — germânico e universal.

>>> Ach bleib mit deiner Gnade, tema final do álbum, composto por Melchior Vulpius (c. 1570-1615), muitas vezes tocado no dia de Ano Novo em igrejas protestantes.

10 FILMES DE 2017 [10]
— Raoul Peck


[ Kathryn Bigelow ]  [ Martin Scorsese ]  [ Pablo Larraín ]  [ Andrei Konchalovsky ]  [ Stéphane Brizé ]
[ Terrence Malick ]  [ André Téchiné ]  [ Woody Allen ]  [ Richard Linklater ]

A presença regular de documentários no mercado de exibição é um factor cultural cuja importância nem sempre é devidamente sublinhada. Para além dos temas específicos de cada título, trata-se de manter em aberto a possibilidade cinematográfica de contrariar a aceleração televisiva, pensando para além da colagem mais ou menos mecânica de fragmentos & soundbytes. O exemplo de Eu Não Sou o Teu Negro, de Raoul Peck, é tanto mais extraordinário quanto a evocação do escritor James Baldwin (1924-1987) se faz, não apenas, nem sobretudo, das matérias visuais de arquivo (todas fascinantes, não é isso que está em causa), mas da intensidade irredutível das palavras. Mais concretamente, trata-se de evocar o modo como Baldwin abordou três líderes afro-americanos — Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr. —, todos assassinados na década de 60, no espaço de cinco anos. Lidas pelo actor Samuel L. Jackson, as palavras do escritor evocam um tempo de grandes convulsões, ao mesmo tempo que instalam uma aproximação dialéctica da América que tem um líder chamado Donald Trump — o cinema do passado é sempre uma narrativa do presente.

sábado, janeiro 27, 2018

O singelo regresso do erotismo

Timothée Chalamet e Armie Hammer
Chama-me pelo Teu Nome, o belíssimo filme de Luca Guadagnino, contraria as formatações morais e mediáticas da pulsão amorosa — este texto foi publicado no Diário de Notícias (21 Janeiro).

O novo filme do italiano Luca Guadagnino tem um título algo enigmático, Chama-me pelo Teu Nome, mas que durante a acção fica totalmente esclarecido. O amor de Elio (Timothée Chalamet) e Oliver (Armie Hammer) leva-os a expressar-se através de uma troca singela: Elio chama Elio a Oliver; Oliver chama Oliver a Elio.
Guadagnino não é um cineasta da moda. Que é como quem diz: recusa encenar a pulsão amorosa através de matrizes estritamente sexuais. Bem pelo contrário: encontramos em Chama-me pelo Teu Nome, não uma hiper-sexualização dos comportamentos humanos, antes uma metódica erotização de todos os gestos, olhares e silêncios.
E não deixa de ser significativo que o pensamento que trata a sexualidade humana a partir de padrões mais ou menos mensuráveis (“aceitáveis” ou “censuráveis”), tenha vindo a excluir do imaginário social a palavra erotismo. Porquê? Porque o erotismo é, justamente, aquilo que transcende qualquer medida do factor humano.
Georges Bataille (1897-1962) pode ajudar-nos a lidar com a perturbação de tudo isso, ele que escreveu o seu livro O Erotismo (1957) a partir de uma hipótese radical: a de o erotismo ser “uma afirmação da vida até na morte”. Não sabemos se Bataille se reconheceria num filme como Chama-me pelo Teu Nome, mas é um facto que o trabalho de Guadagnino envolve uma celebração da entrega amorosa em que a consciência da fragilidade da existência humana está sempre presente.
Daí que a aproximação dos dois homens que protagonizam o filme escape a qualquer padrão. E não apenas porque Elio e Oliver prescindem dos modelos correntes de comportamento. A sua singeleza faz também com que tudo à sua volta — da deslumbrante luz natural aos sons de Bach que Elio toca no seu piano [fragmento] — surja como elemento de desejo e deslumbramento, numa palavra, erotizado.


Se Elio e Oliver trocam de nome não é porque cada um deles passe a ver o mundo através dos olhos do outro. O que lhes acontece é menos esquemático e incomparavelmente mais perturbante: o amor do outro faz com que cada um deles já não saiba que sentido atribuir às coisas do mundo.
Por essa via, aliás, Chama-me pelo Teu Nome reafirma um romantismo inscrito na história do grande cinema italiano. Veja-se, por exemplo, o belíssimo Vaghe Stelle dell’Orsa (título internacional: Sandra) com que Luchino Visconti arrebatou o Leão de Ouro do Festival de Veneza de 1965 [trailer]. Guadagnino é um herdeiro, directo e legítimo, desse cinema em que a dimensão erótica não se dilui na pequenez do politicamente correcto.

"The Post": jornalismo e verdade (2/3)

A publicação dos "Pentagon Papers", em 1971, é pretexto para um notável filme sobre o trabalho jornalístico, com assinatura de Steven Spielberg — este texto foi publicado no Diário de Notícias (20 Janeiro), com o título 'Spielberg celebra o jornalismo e a exigência da verdade'.

[ 1 ]

A revelação dos “Pentagon Papers” abalou profundamente a vida americana, reforçando as argumentações políticas e as manifestações populares contra a continuação da guerra (que terminaria com a queda de Saigão, em Abril de 1975, e o triunfo do Vietname do Norte, anexando o Vietname do Sul).
Na origem do documento está a criação de uma equipa de investigadores da história do Vietname no século XX, analisando, em particular, a presença dos EUA naquela região asiática. Reunidos por Robert McNamara, secretário da Defesa dos presidentes John F. Kennedy e Lyndon B. Johnson (de 1961 a 1968), tais investigadores produziram um documento de sete mil páginas cujo impacto se pode condensar em dois vectores fundamentais: primeiro, a inventariação das muitas formas de envolvimento dos EUA na Indochina desde as décadas de 1940/50, no tempo do presidente Harry S. Truman; depois, o reconhecimento da impossibilidade de uma vitória militar no conflito em que os EUA se tinham empenhado de modo especialmente intenso desde o começo dos anos 60.
O filme de Spielberg aborda esse processo a partir de um momento de peculiar dramatismo, pouco depois de uma primeira divulgação de alguns elementos dos “Pentagon Papers” nas páginas de The New York Times, a 13 de Junho de 1971. E o mínimo que se pode dizer da sua invulgar energia emocional é que, apesar de sabermos ou podermos saber o que aconteceu, nada disso retira a The Post um “suspense” tão elaborado quanto contagiante.
Mais do que um confronto de discursos políticos, Spielberg narra uma saga de pessoas envolvidas num complexo labirinto profissional e moral. Quando The Washington Post tem acesso aos “Pentagon Papers”, surge também uma questão de concorrência jornalística: era a oportunidade de um jornal ainda de escassa projecção nacional desafiar o mítico The New York Times. Mas o problema de fundo afigurava-se bem diferente: tendo em conta que a administração Nixon accionara os mecanismos legais para impedir qualquer nova publicação de extractos do documento, The Washington Post estava forçado a ponderar a equação resultante das tensões entre segredos de Estado e interesse público. Como diz o editor Ben Bradlee a Katharine Graham, proprietária do jornal, podiam ser todos presos.

10 DISCOS DE 2017 [10]
— Radiohead

[ Arca ]  [ Tricky ]  [ Lorde ]  [ The Rolling Stones ]  [ Thelonious Monk ]  [ St. Vincent ]  [ Robert Plant ]
[ Ambrose Akinmusire ]  [ Sampha ]

Nova embalagem, retomando o essencial dos elementos gráficos do original; remasterização, singles, três canções inéditas; um toque de azul na edição em vinyl... A edição comemorativa dos 20 anos de OK Computer, dos Radiohead — título integral: OK Computer OKNOTOK 1997 2017 — impôs-se como objecto de incontornável valor histórico, tanto mais quanto parece ilustrar uma certa deslocação do próprio mercado das edições físicas (bizarra terminologia que o virtual nos impôs) no sentido de revalorizar tudo aquilo que, de uma maneira ou de outra, possa ser recoberto pelo adjectivo "clássico". Talvez haja uma outra maneira de dizer isto. A saber: apesar da aceleração em que esse mercado nos obriga a viver (e não só na música, como é óbvio), continua a ser possível manter uma relação aberta, criativa e inteligente com a memória. Que foi, que é, então, OK Computer? Um trabalho que condensa os caminhos criativos da música dos 20 anos anteriores? Ou uma experiência que antecipa os 20 anos seguintes? Em boa verdade, 2017 foi também o ano dessa maravilhosa ambivalência, porventura impossível de sintetizar. A propósito: por altura da edição original, os Radiohead cantavam assim No Surprises no programa Later with Jools Holland, da BBC — foi a 31 de Maio de 1997.

sexta-feira, janeiro 26, 2018

Gatos de Istambul

* GATOS, de Ceyda Torun
[ DN, 25-01-2018 ]

Bengu, Deniz, Duman... São nomes de gatos de Istambul. São também nomes de algumas das personagens principais do documentário da cineasta turca Ceyda Torun. Uma visão mais ou menos pitoresca e anedótica? Nada disso. O delicado humor que perpassa por muitas situações aqui descritas provém, afinal, de uma dinâmica existencial que cruza a errância dos animais com as formas de organização dos seres humanos. Dito de outro modo: este é o retrato de um sistema ancestral de convivência entre uns e outros que, curiosamente, preserva a independência dos gatos — pertencem à agitação das ruas, mas são reconhecidos (e alimentados) pelos cidadãos. A agilidade da câmara consegue efeitos desconcertantes, por vezes fascinantes, porventura levando-nos a sentir o que será contemplar o mundo com olhos... de gato.

Kyle Craft, opus 2

Lembram-se de Kyle Craft?
Breve exercício de memória:
— foi uma das grandes revelações de 2016, com o álbum Dolls of Highland.
— definiu-se, também em teledisco, como uma versão livremente romanesca das inspirações cruzadas de David Bowie e Bob Dylan, nunca abdicando de uma obstinada fidelidade ao apelo lúdico do rock mais primitivo.
— e também nos ofereceu uma canção contra Donald Trump.
Graças à gentileza da Bandcamp, podemos incluir aqui três canções do seu segundo álbum, Full Circle Nightmare, com lançamento agendado para 2 de Fevereiro. Até lá, está também em escuta (integral) na NPR. Primeiras impressões: mais espectáculo, a mesma metódica sofisticação — e se quiserem usar a palavra glam, não se acanhem.


>>> Kyle Craft no site da Sup Pop.

Mark E. Smith (1957 - 2018)

FOTO: NME
Fundador do grupo pós-punk The Fall, o inglês Mark E. Smith faleceu no dia 24 de Janeiro, em Londres, depois de doença prolongada — contava 60 anos.
Fortemente influenciado pelos Sex Pistols, Smith criou The Fall em 1976. Da composição à voz, tornar-se-ia o seu símbolo dominante: depois de mais de três dezenas de álbuns, era mesmo o único membro original a manter-se na banda. Através de um som agreste, poemas entre desencanto e sarcasmo, por vezes em tom de spoken word, The Fall foi definindo um universo alternativo atravessado por muitas referências críticas às convulsões sociais e políticas. Aquele que é agora o seu derradeiro álbum, New Facts Emerge, surgira no Verão de 2017, numa altura em que Smith já tinha a sua saúde muito comprometida, tendo mesmo participado em alguns concertos a cantar numa cadeira de rodas — o seu último aparecimento público ocorreu no palco do Queen Margaret Union, em Glasgow, a 4 de Novembro de 2017.

>>> Wings, canção de 1983, ano do álbum Perverted by Language, apenas incluída na respectiva reedição de 1998 + notícia da morte pela ITV.




>>> Obituário no jornal The Guardian.

quinta-feira, janeiro 25, 2018

Cannes vai celebrar os 50 anos de "2001"?

Foi hoje, 25 de Janeiro, que o Festival de Cannes enviou os seus votos de Bom Ano... Atraso? Não é grave — evitemos tais formalismos, obviamente agradecendo a simpatia.
O que é interessante referir é o facto de o clip associado à mensagem nos mostrar a Palma do certame a vogar no éter das imagens ao som do Danúbio Azul... Todos os cinéfilos terão identificado, de imediato, a citação do bailado das naves de 2001: Odisseia no Espaço (1968). Tendo em conta que o clássico de Stanley Kubrick celebra este ano os seus gloriosos 50 anos, será que vamos ter um festival marcado pela evocação simbólica do filme? Já agora: em cópia restaurada, de 4K, na sala grande do Palais? Em qualquer caso, aqui fica uma modesta sugestão para um cartaz associado à comemoração.

"The Post": jornalismo e verdade (1/3)

A publicação dos "Pentagon Papers", em 1971, é pretexto para um notável filme sobre o trabalho jornalístico, com assinatura de Steven Spielberg — este texto foi publicado no Diário de Notícias (20 Janeiro), com o título 'Spielberg celebra o jornalismo e a exigência da verdade'.

Um dos cartazes americanos do novo filme de Steven Spielberg, The Post, utiliza uma velha frase coloquial: “truth be told”. À letra: “verdade seja dita”. É uma expressão que, regra geral, serve para reforçar o carácter verdadeiro de algo que está mais ou menos implícito no que já foi afirmado. Por exemplo, se dizemos “hoje está muito frio”, podemos acrescentar “verdade seja dita, os dias têm estado muito frios”.
Trata-se, como é óbvio, de contar uma história que tem a ver com a vontade e, mais do que isso, o empenho em dizer a verdade sobre determinados factos. The Post narra a odisseia dos jornalistas de The Washington Post que, na sua edição de 18 de Junho de 1971, começaram a divulgar os chamados “Pentagon Papers”. Através das informações contidas nesse documento secreto, tornou-se claro para o público americano que a administração do presidente Richard Nixon tinha a clara noção de que, apesar do reforço do investimento militar no Vietname (com crescentes perdas de vidas humanas), não era possível ganhar a guerra.
Acontece que, no actual contexto cinematográfico e político, “truth be told” adquire outras ressonâncias, veementes e incontornáveis. Isto porque The Post surge numa América marcada pelo conflito de Donald Trump com muitos sectores da actividade jornalística. O presidente vai acusando os mais diversos órgãos de informação de produzirem notícias falsas (“fake news”) sobre a sua administração, ao mesmo tempo que diversos jornais e televisões, de The New York Times à CNN, passando por The Washington Post, vão desenvolvendo um trabalho pedagógico de desmontagem das mentiras e manipulações de factos por parte de Trump.
Não se trata, portanto, de aplicar o efeito mais ou menos retórico condensado na expressão “verdade seja dita”. O que está em jogo é a importância e, mais do que isso, a urgência de dizer a verdade. Nesta perspectiva, The Post é um filme que consegue a proeza de ser um esclarecedor fresco histórico sobre a sociedade americana de há quase meio século, ao mesmo tempo que possui o fulgor de um gesto simbólico capaz de ecoar no presente em que o descobrimos.

quarta-feira, janeiro 24, 2018

Os Oscars são apenas uma repetição
dos outros prémios?...

De vez em quando, tentando ver para além do barulho das luzes mediáticas, vale a pena perguntar o mais básico. Por exemplo: para que servem os Oscars? Não é, entenda-se, a pergunta do jornalista que se considera ofendido por não encontrar os "seus" filmes entre os nomeados... Nem se trata de pretender conhecer os labirínticos bastidores de Hollywood para "explicar" o que quer que seja. Acontece que os Oscars são, basicamente, um ritual cinéfilo, quer dizer, uma celebração do amor pelo cinema — e isso, com filmes melhores ou piores, continua a ser um factor de cumplicidade e união.
Mas importa questionar para que servem, ou podem servir, os Oscars num contexto em que a sua especificidade surge ameaçada por um perverso efeito de repetição. E a palavra repetição não tem nada de retórico. Não é verdade que, depois dos prémios já atribuídos pelas associações de críticos, dos Globos de Ouro e até das nomeações para os BAFTA (a entregar no dia 18 de Fevereiro), ficamos com a sensação que tudo se resume a um lote de uma quinzena de títulos que todos repetem e, de alguma maneira, consagram?
A Academia de Hollywood não pode ser unilateralmente responsabilizada por tal estado das coisas. As forças dominantes da grande indústria, privilegiando mecanismos impostos pela acelerada rentabilização dos "blockbusters”, formataram o mercado (americano e global) de modo a que esmagadora maioria dos candidatos aos Oscars saia apenas dos títulos estreados no derradeiro trimestre de cada ano, como se não valesse a pena atentar no cinema que se viu no resto do ano (este ano, Dunkirk surge como uma excepção que confirma a regra). Fica um exemplo sintomático: o admirável Detroit, filme marcante na abordagem de temas afro-americanos, desapareceu... Realizado por uma mulher, Kathryn Bigelow, também não consta na agenda de qualquer militância feminista. O que pode suscitar outro tipo de perguntas, neste caso sobre o entendimento político do mundo do cinema.

A IMAGEM: Cindy Sherman, 1979

CINDY SHERMAN
Untitled Film Still #48
1979

A caminho dos OSCARS
— "A Forma da Água" recebe 13 nomeações
da Academia de Hollywood

[Governor Awards]  [Gotham Awards]  [críticos de Nova Iorque]  [críticos de Los Angeles]
[American Film Institute]  [National Society of Film Critics]  [Globos de Ouro]
[National Board of Film Review]  [Critics' Choice Awards]  [NAAPC]  [associação de produtores] [associação de actores]


A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a instituição que atribui os Oscars, divulgou as suas nomeações referentes à produção de 2017. Alguns dados genéricos a reter:
A Forma de Água, de Guillermo del Toro, foi o título mais nomeado, surgindo em 13 categorias, incluindo melhor filme.
— num máximo de dez nomeações possíveis para o Oscar de melhor filme, este ano a Academia atribuiu nove.
— tendo em conta as nomeações, é já certo que nenhum filme conseguirá arrebatar o chamado "quinteto mágico" dos Oscars (filme, realizador, actor, actriz, argumento); tal proeza só foi conseguida três vezes, a última das quais em 1992, por O Silêncio dos Inocentes.
— Greta Gerwig (Lady Bird) é a quarta mulher nomeada na categoria de realização — a última vez acontecera em 2009, com Kathryn Bigelow (Estado de Guerra), que se tornou na primeira vencedora feminina nesta categoria (o seu filme foi também o primeiro realizado por uma mulher a obter o Oscar de melhor do ano).
The Post está nomeado para melhor filme, tendo apenas mais uma nomeação (Meryl Streep, melhor actriz); na história da Academia só há mais um filme com duas nomeações a ter sido eleito melhor do ano — foi Wings/Asas, de William A. Wellman, em 1929, na primeira cerimónia dos Oscars (tendo ganho também em efeitos especiais); há um único caso de um filme vencedor como melhor do ano que tinha sido nomeado apenas nessa categoria: Grand Hotel, de Edmund Goulding, premiado em 1933.
— nunca nenhum filme ganhou prémios nas quatro categorias de interpretação, havendo apenas dois — Um Eléctrico Chamado Desejo (1951), de Elia Kazan, e Network (1976), de Sidney Lumet a terem conseguido três desses prémios; este ano, só A Forma da Água pode repetir a proeza, através de Sally Hawkins (actriz), Richard Jenkins (actor secundário) e Octavia Spencer (actriz secundária).
_____

Eis os filmes com duas ou mais nomeações para aquela que será a 90ª edição dos Oscars (4 Março). A vermelho surgem os nove que estão nomeados para melhor filme do ano; com (*) identificam-se aqueles que obtiveram nomeação para melhor realizador.

13
A FORMA DA ÁGUA (*)

8
DUNKIRK (*)

7
TRÊS CARTAZES À BEIRA DA ESTRADA

6
A HORA MAIS NEGRA
LINHA FANTASMA (*)

5
BLADE RUNNER 2049
LADY BIRD (*)

4
CHAMA-ME PELO TEU NOME
FOGE (*)
AS LAMAS DO MISSISSIPI
STAR WARS: OS ÚLTIMOS JEDI

3
BABY DRIVER
EU, TONYA

2
A BELA E O MONSTRO
COCO
THE POST
VICTORIA E ABDUL

>>> A apresentação das nomeações por Tiffany Haddish e Andy Serkis.


>>> Lista integral de nomeações no site da Academia.

A caminho dos OSCARS
— prémios dos actores dominados por
"Três Cartazes à Beira da Estrada"

[Governor Awards]  [Gotham Awards]  [críticos de Nova Iorque]  [críticos de Los Angeles]
[American Film Institute]  [National Society of Film Critics]  [Globos de Ouro]
[National Board of Film Review]  [Critics' Choice Awards]  [NAAPC]  [associação de produtores]


Três Cartazes à Beira da Estrada foi o título mais ouvido na cerimónia dos prémios da Screen Actors Guild, a associação de actores americanos. Para além das distinções para Frances McDormand e Sam Rockwell, nas categorias de actriz e actor secundário, respectivamente, o filme de Martin McDonagh obteve também o de melhor elenco, tradicionalmente considerado como um sintoma positivo das suas potencialidades nos Oscars. A noite de domingo serviu também para premiar os melhores da televisão — lista completa no site da SAG.

* Elenco — TRÊS CARTAZES À BEIRA DA ESTRADA,
de Martin McDonagh [trailer]
* Actriz — Frances McDormand, TRÊS CARTAZES À BEIRA DA ESTRADA
* Actor — Gary Oldman, A HORA MAIS NEGRA

* Actriz secundária — Allison Janney, EU, TONYA
* Actor secundário — Sam Rockwell, TRÊS CARTAZES À BEIRA DA ESTRADA

segunda-feira, janeiro 22, 2018

10 FILMES DE 2017 [9]
— Richard Linklater


[ Kathryn Bigelow ]  [ Martin Scorsese ]  [ Pablo Larraín ]  [ Andrei Konchalovsky ]  [ Stéphane Brizé ]
[ Terrence Malick ]  [ André Téchiné ]  [ Woody Allen ]

A noção de tempo, mais do que isso, o gosto da duração são valores menosprezados por muito cinema contemporâneo, confundindo a fragmentação caótica das imagens com a produção de uma narrativa. Não admira, por isso, que Derradeira Viagem, de Richard Linklater, tenha sido um dos filmes menos vistos, realmente vistos, ao longo do ano. Acontece que a história do veterano do Vietname que convoca dois companheiros para cumprir os rituais fúnebres do filho, morto em combate no Iraque, é uma viagem empreendida em nome dessa ambivalência do tempo que nos faz, ou pode fazer, habitar presente e passado como duas variantes de um mesmo mistério — o de, apesar de tudo, sobrevivermos. Filme amargo, sem dúvida, estranho ao quotidiano "trágico" das televisões em que não é possível formular qualquer ideia sobre a crueza do tempo. Filme de esperança, também, sentimento selvagem no imaginário de Trump em que alguma América se asfixia. Com três actores em estado de graça: Steve Carrell, Bryan Cranston e Laurence Fishburne.

Diane Kruger + Fatih Akin

* UMA MULHER NÃO CHORA, de Fatih Akin
[ DN, 18-01-2018 ]

Este é o filme que valeu a Diane Kruger o prémio de interpretação feminina no último Festival de Cannes. Ela é, de facto, o elemento mais forte de uma história centrada no drama de uma mulher, habitante de Hamburgo, que perde o marido e o filho num ataque terrorista — marcada pela brutalidade da sua perda, avalia a hipótese de fazer justiça pelas suas mãos...
Fatih Akin, também responsável pelo argumento, parece querer fazer uma grande parábola política que, em todo o caso, vai cedendo às rotinas de um policial mais ou menos agitado regido por efeitos dramáticos algo simplistas. Seja como for, registe-se que as previsões americanas dizem que Uma Mulher Não Chora está muito bem posicionado para surgir nas nomeações para o Oscar de melhor filme estrangeiro, porventura conseguindo mesmo essa distinção.

10 DISCOS DE 2017 [9]
— Sampha

SBTRKT, Jessie Ware, Kanye West e Solange são alguns dos artistas que já beneficiaram da colaboração de Sampha (nome completo: Sampha Lahai Sisay, nascido em Londres em 1988). Dir-se-á que a sua estreia a solo, com o álbum Process, reflecte as suas qualidades de produtor, especialmente aplicado na construção de uma sonoridade cristalina, tecnicamente impecável. Assim é, sem dúvida, mas seria precipitado reduzir a performance de Sampha a uma exibição de competências. Na verdade, através de caminhos enraizados no património do R&B, com calculadas contaminações electrónicas, Process é produto de uma voz singular, não apenas no sentido vocal (passe a redundância), mas também enquanto sofisticado instrumento narrativo e dramático. (No One Knows Me) Like The Piano ficou como tema emblemático desses poderes, mas o álbum está longe de ser uma mera acumulação de canções em torno de um hit seguro — veja-se e escute-se esta interpretação de Timmy's Prayer, numa edição das Piano Sessions na BBC Radio 1.

domingo, janeiro 21, 2018

A caminho dos OSCARS
— associação de produtores
consagra "A Forma da Água"

[Governor Awards]  [Gotham Awards]  [críticos de Nova Iorque]  [críticos de Los Angeles]
[American Film Institute]  [National Society of Film Critics]  [Globos de Ouro]
[National Board of Film Review]  [Critics' Choice Awards]  [NAAPC]


A Producers Guild of America distinguiu A Forma da Água, de Guillermo del Toro, com o Prémio Darryl F. Zanuck, correspondente a melhor filme do ano. A tradição leva a considerar que as escolhas da associação de produtores americanos podem ser um significativo sintoma das linhas de força para os Oscars — em qualquer caso, no conjunto dos votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, os produtores representam apenas 7,2% do actual total de 7258 membros. A lista completa de premiados, cinema e televisão, está disponível no site da PGA.

* Filme — A FORMA DA ÁGUA, de Guillermo del Toro
* Filme de animação — COCO, de Lee Unkrich e Adrian Molina
* Documentário — JANE, de Brett Morgen [trailer]