quarta-feira, abril 30, 2008
Willie Nelson: 75 anos
Para ver a Angola que se ouve
Mais um duo ele e ela
Strokes só regressam em 2009
Postais de Turim (2)
terça-feira, abril 29, 2008
Happy birthday!
Para (re)descobrir Joe Strummer
Discos da semana, 28 de Abril
Portishead
“Third”
Go Discs! / Universal
5 / 5
Para ouvir: MySpace
Os dois álbuns já editados pelos Arctic Monkeys já tinham deixado claros sinais do talento pop de Alex Turner, a sua principal força criativa (e voz). Mas agora, ao primeiro disco do projecto pararelo que o junta a Miles Kane (dos The Rascals), o que era “apenas” um estreante bem sucedido, confirmado ao segundo disco, torna-se alvo da concentração das atenções dos cultores de uma pop que, sendo presente, não ignora a memória. The Age Of Understatement, álbum de estreia dos Last Shadow Puppets é uma das mais agradáveis surpresas que a pop inglesa nos deu desde o álbum de estreia dos Franz Ferdinand. Trata-se de um inesperado manifesto de fulgor clássico, aliando uma escrita ágil (e eficaz) a um jogo vocal interessante, colocando sempre a canção na meta de cada instante. Como se a cada tema a gravar fosse destinada segunda vida em single. Na base da surpresa que se revela nas 12 canções de um álbum com rara capacidade de entender o valor do tempo de atenção do ouvinte (não abusando, portanto, da sua disponibilidade) mora um conjunto de referências que frequentemente escapam a muitos militantes da mesma geração indie a que pertencem Alex Turner e Miles Kane. Scott Walker, Ennio Morricone, Andy Williams, David Bowie (em finais de 60 e inícios de 70) e o imaginário das canções de 60 e 70 dos filmes James Bond (ou seja, os dias melhores de John Barry) são ponto de partida para um projecto que, mesmo sendo na origem uma visão de Alex Turner, mostra inteligente política de abertura à presença de colaboradores, cada qual adubando à sua maneira o campo que acaba depois por florir belo e convidativo. Além de Miles Kane (que já havia colaborado como guitarrista no segundo álbum dos Arctic Monkeys), entram em cena o produtor James Ford (Simian Moblie Disco) e o violinista Owen Pallett (Final Fantasy), este último o responsável pelos arranjos épicos, sinfonistas (que chamaram a estúdio a London Metropolitan Orchestra), que são moldura fulcral para as canções deste disco. Em conjunto fazem de The Age Of Understatement um dos mais suculentos monumentos de revisitação da memória pop de 60 sem nunca convocar a nostalgia como caução. Nem podiam. Aos vinte poucos, quando muito, lembrar-se-iam de ouvir os Blur contra os Oasis nos dias de escola...
The Last Shadow Puppets
“The Age Of Understatement”
Domino / Edel
4 / 5
Para ouvir: MySpace
Chegam de Toronto e, apesar de um início de carreira (há perto de cinco anos) definido através das normas de funcionamento da geração Internet, optaram por dar vida a uma aventura em estilo “clássico”, ou seja, com contrato com uma editora, e com primeiro álbum editado em CD e vinil... Os Crystal Castles são um duo. Ele, Ethan Kath, tem assinado remisturas para bandas como os Klaxons, Bloc Party, The Whip ou Liars. Ela, Alice Glass, é uma vocalista com gosto pela criação de personagens, ora assumindo o papel da guerreira, ora o do anjo assombrado. Em conjunto, propõem no seu álbum de estreia um interessante manifesto pela redescoberta dos mais simples e directos modos de expressar ora a ansiedade, ora os prazeres, da juventude, através de máquinas que colocam ao serviço da canção. Os textos que têm (sistematicamente) elogiado a estreia em álbum dos Crystal Castles falam habitualmente do álbum usando termos e nomes como nu-rave, Soft Cell, Poly Styrene (a vocalista dos X-Ray Spex), jogos de computador, entre outros como termos de comparação. Há, contudo, um termo que escapa a muitas descrições mas que se revela, afinal, estrutural a todo o disco: electroclash. Sim, electroclash, despido à essência do convocar de modelos electro pop vintage para, sob matriz lo-fi, construir uma nova realidade com sabor a fim de noite. Sem o glitter dos Fischerpooner. Sem o ascetismo de uma Miss Kittin. Sem a festividade de um Tiga. Com menos maquilhagem, menos pose chique, mais sentido de urgência... Enfim, mais... punk. Entre furacões de intensidade que pontualmente convocam memórias dos DFA 1979 (samplados numa das faixas), instrumentais com sentido melodista de canção e ocasionais momentos pop (onde revelam incrível capacidade em construir refrões), Crystal Castles é curioso parceiro de uma identidade pop electrónica que aborda, sob os códigos habituais na música que faz a festa nocturna, um sentido de desencanto e solidão que, recentemente escutámos também nuns Chromatics. A descobrir!
Crystal Castles
“Crystal Castles”
Lies
4 / 5
Para ouvir: MySpace
Madonna devia ter aprendido a lição com Bedtime Stories, tropeção r'n'b de 1994 que lhe deu um dos piores álbuns de toda a sua obra, abrindo terreno para uma sucessão de tiros ao lado na forma de singles de inspiração menor. A pintura salvou-se com Ray Of Light, que, nos antípodas desse álbum de 1994 lhe deu, em 1998, aquele que ainda hoje é o seu melhor disco. Em 2005 novo pico de forma, com o magnífico Confessions On A Dance Floor, incrivelmente capaz de juntar a um momento presente a genética da música de dança que se escutava quando se revelara na Nova Iorque de inícios de 80. Seguiu-se nova e triunfal digressão, depois, as surpresas: o abandonar da Warner (junto da qual havia editado desde os primeiros dias) e o chamar de nova equipa de colaboradores para um novo álbum de originais. Justin Timberlake, Timbaland, Kanye West, Pharell Williams... Ou seja, os pesos pesados da pop da presente década, já com farta sementeira de colaborações e mais suculenta ainda colheita de trunfos. 4 Minutes, o soberbo single de avanço do álbum (com Timberlake e Timbaland), acalmou as suspeitas (do costume). Hard Candy, contudo, mostra que as suspeitas, desta vez, eram fundamentadas, reduzindo Madonna a uma protagonista num filme que, mesmo com argumento seu, tem a realização nas mãos de terceiros. Madonna sempre sobe jogar o jogo do vampiro. Sempre soube escolher os parceiros de trabalho, encontrando-os na linha da frente da invenção dos acontecimentos. Timbaland, Timberlake, Pharell Williams e Kanye West, contudo, têm algo que os separa de figuras como William Orbit, Mirwais, Jellybean Benitez ou Stuart Price, “parceiros” de tempos idos: são estrelas planetárias, com sucesso global já firmado e reconhecido antes do beijo de... Madonna. Ou intimidada (não é coisa habitual), ou apressada ou menos inspirada, Madonna pouco de realmente novo mostra de si nas novas canções (para lá de eventuais marcas vivenciais), repetindo frequentemente fórmulas já escutadas. O que há de realmente novo em Hard Candy são as marcas de (competente) produção da nova equipa, a sua forma de integrar r&b e hip hop numa matriz pop. Quando a alma pop de Madonna fala acima dos novos parceiros (como em Miles Away ou Voices) a “velha” estrela brilha. Mas há um nevoeiro, que não apaga uma ideia de espartilho voluntário, a toldar brilhos de outrora. Que Stuart Price ou William Orbit compreenderam, respeitaram, valorizaram, e transformaram em momentos de rara inspiração pop. Não é o caso, desta vez.
Madonna
“Hard Candy”
Warner Bros
3 / 5
Para ouvir: MySpace
Antes de mais, esclareça-se que estamos perante um “resumo” e não um “best of”. O discurso de marketing que tem acompanhado o lançamento desta antologia de oito anos da vida de Balla tem, como o sarcasmo da frase anterior sugere, perdido mais tempo a justificar o porquê da edição que, na verdade, a falar deste espaço que, entre as mil e uma experiências musicais de Armando Teixeira, parece ser aquele que corresponde à melhor resposta a um sonho antigo de concretização de uma ideia pop muito pessoal. É verdade que é ainda cedo para “resumir” uma obra num disco que seleccione os temas mais representativos. E se a ideia era a de dar a conhecer o que se havia passado antes do brilhante A Grande Mentira (2007), porque não uma reedição integral (até mesmo em CD dois em um)? É certo que Balla (2000) e Le Jeu (2003) saíram por etiquetas distintas, mas nada de impeditivo para um “retrato” mais esclarecedor (e não “resumido”) da obra a (re)descobrir. Adiante, então. Como acima se sugeria, em A Grande Mentira, Armando Teixeira atingiu a definição, antes sonhada em Boris Ex Machina e nas primeiras manifestações de Balla, de uma ideia pop elegante, capaz de citar a eloquência de tradições clássicas sem nunca esquecer, aliando-as a uma consciência do hoje em que tudo acontece. De Gainsbourg aos mais variados sabores dos prontuários lounge, sem esquecer travo brasileiro em tempos mais remotos, Balla evoluiu de uma espécie de olhar crítico (e interessado) pelo que nomes como Jay Jay Johansson ou De-Phazz nos revelavam em finais de 90, a personalidade (melómana) de Armando Teixeira acabando por emergir acima da trama das comparações para afirmar nesta música, em pleno, o seu sonho pop. Resumo (2000-2008), que inclui apenas um tema inédito (na melhor tradição pop electrónica), sugere etapas desse percurso e, na verdade, confirma a solidez da colheita 2007 perante os ensaios recordados em discos anteriores. Não é, de facto, um best of. Para o ser teria de conter no alinhamento temas como Ela ou Un Jeu Courtois. O alinhamento, aparentemente aleatório, não sabe contar uma história, limitando-se a juntar temas por critérios que parecem ir pouco além do “esta fica bem depois daquela”. Se a ideia do “resumo” era a de mostrar, a quem não conhecia Balla, o que foi a história até aqui, outro alinhamento (cronológico) seria mais esclarecedor. Assim como não teria sido mal pensado um texto capaz de suportar pelas palavras as histórias das canções que aqui se juntam e daquele que lhes deu vida. Em suma: belas canções desaproveitadas em antologia que deixa muito a desejar...
Balla
“Resumo (2000-2008)”
Chiado Records / SonyBMG
3 / 5
Para ouvir: MySpace
Também esta semana:
Robert Forster, Yundi Li/Ozawa (Prokofiev), Jonathan Richman, Alabama 3, Four Tet, Nils Petter Molvaer, ABC, Tindersticks, M83, Air (reedição), Jamie Lidell, Cajun Dance Party
Brevemente:
5 de Maio: Animal Collective (EP), The Hacker, Isobel Campbell / Mark Lanegan, Marc Almond (EP), Soft Cell (reedição), Tokio Police Club, Future Sound of London (EP collection), Elvis Costello, Daniel Lanois (DVD), Yazoo (reedições), OMD (live)
12 de Maio: Bomb The Bass, Martha Wainwright, Mesa, Martina Topley Bird, Death Cab For Cutie
19 de Maio: The Ting Tings, Paul Weller, Pogues, Scarlett Johansson
Maio: Spiritualized, (reedições), UHF (reedição), Petrus Castrus (reedição), Quinteto Académico + 2 (reedição), Telectu (reedição), Quarteto 1111 (reedição), Duran Duran (reedições – três primeiros álbuns numa caixa), OMD (live), NIN, Mountain Goats, Supremes (raridades), Otis Redding (reedições), Philip Glass (archives – vol 3), Wedding Present
Junho: Dead Can Dance (reedições), Ladytron, Radiohead (best of), Coldplay, Joan As Policewoman, Fratellis, Infadels
PS. A crítica aos Portishead é uma versão editada de um texto publicado no suplemento IN, da revista NS.
Postais de Turim (1)
Muito perto
segunda-feira, abril 28, 2008
Do hip hop para a pop
Madonna ao vivo e por... telemóvel
Assim, os assinantes da Vodafone vão poder assistir ao concerto nos ecrãs dos seus telemó-veis ou, então, através dos respectivos sites de 14 países. São eles: África do Sul, Alemanha, Chipre, Egipto, Espanha, França, Grécia, Holan-da, Hungria, Itália, Nova Zelândia, Portugal, Reino Unido e Roménia. Segundo palavras de Frank Rovekamp, director geral global de marketing do grupo Vodafone, esta é uma estratégia orientada para novas formas de consumo nos "PCs e telemóveis", com abertura a "formatos ino-vadores". O teste é tanto mais simbólico quanto as características dos novos ecrãs musicais — das pequenas dimensões à qualidade técnica de imagem/som — irão necessariamente condicionar, para o melhor ou para o pior, as evoluções neste campo.
1. Candy Shop
2. Miles Away (com Madonna na guitarra)
3. Music
4. Give It 2 Me
5. 4 Minutes (com Justin Timberlake nos ecrãs do palco)
6. Hung Up.
Nostalgia cinéfila
Não é preciso recuar muito no tempo para nos lembrarmos das fachadas dos cinemas com gigantescos cartazes e, em particular, das fotografias cartonadas que, nas vitrinas das salas ou junto às bilheteiras, serviam para apresentar os filmes. Hoje em dia, nos multiplexes, o essencial da informação sobre os filmes está num quadro luminoso: luzes a piscar anunciam o título, eventualmente a classificação etária e o horário das sessões. Nasceu mesmo uma franja de público que já não tem qualquer paixão ou expectativa cinéfila: é um público sem gosto específico que escolhe ir ver um filme pelo horário mais próximo ou mais vantajoso...
Dave Kehr, crítico de cinema de The New York Times, faz-nos saber que há todo um revivalismo em torno desses materiais antigos de promoção do cinema, em particular das fotografias cartonadas. Em artigo publicado na American Photo de Mar-ço/Abril, Kehr refere o impulso coleccionista que, nos EUA, conferiu novo valor aos materi-ais “primitivos” de promoção dos filmes. O género de terror, em particular os clássicos dos anos 30 dos estúdios Universal, tem a sua cotação em alta. Assim, por exemplo, em Novembro de 2007, uma fotografia cartonada de Drácula (1932), de Tod Browning, com Bela Lugosi, foi vendido pelas Heritage Auction Galleries por nada mais nada menos que 65.725 dólares (cerca de 42 mil euros).
Entre os materiais que passaram a ser reconhecidos pelo seu genuíno valor artístico estão sobretudo imagens de filmes dos anos 30/40, mas também do pós-guerra. As memórias iconográficas podem pertencer a raridades como Fazil (1928), um dos primeiros trabalhos de Howard Hawks, ou a obras consagradas como Fallen Angel (1945), de Otto Preminger, há muito reconhecido como uma pérola do filme negro (entre nós: Anjo ou Demónio). Na prática, as fotografias cartonadas continuaram a existir até à década de 80, sendo progressivamente abandonadas em favor da publicidade televisiva. Exemplos como o de Fallen Angel [foto] permitem perceber o sofisticado “artesanato” ligado a este tipo de imagens: o filme é a preto e branco, mas as fotografias promocionais apresentavam-se trabalhadas numa requintada paleta de cores, a meio caminho entre a sépia e a sugestão dos tons do technicolor da época.
Há em toda esta história um sintoma que vale a pena sublinhar. Poderemos chamar-lhe o progressivo afastamento entre cinema e... fotografia. Não que o imaginário cinematográfico se possa pensar fora da multiplicidade das técnicas fotográficas. Em todo o caso, com o triunfo das linguagens televisivas e, mais recentemente, através da generalização dos processos digitais, os materiais especificamente fotográficos perderam o seu valor (comercial) na apresentação e difusão dos filmes.
Fica, por isso, um sentimento de mágoa. Os espectadores que dependem apenas de um spot promocional (visto num ecrã de televisão ou, algures, no labirinto da Internet) vivem, de facto, num universo cinematográfico virtual, distante e imaterial. Descobrir os filmes através das respectivas fotografias expostas à entrada das salas de cinema é um hábito que se perdeu. Um hábito e, claro, também o prazer a ele associado.
Reinvenção hip hop
domingo, abril 27, 2008
Para redescobrir um certo cinema italiano
Revivalismo a preto e branco
Esta afirmação de tenacidade é acompanhada por um magnífico portfolio, com assinatura de Tom Munro. Certamente não por acaso, as fo-tografias, na sua maioria a preto e branco, re-metem para um imaginário de raiz cinemato-gráfica e, mais concretamente, ligado às me-mórias de Hollywood: por um lado, Madonna prossegue o seu labor de revisão/reinvenção da iconografia do cinema; por outro lado, en-contramos aqui o mesmo revivalismo perverso patente em muitos outros retratos de Munro (Jennifer Jason Leigh, Michelle Williams, Dustin Hoffman, etc., etc.). Além de cinco imagens a preto e branco, a entrevista inclui ainda um plano com duas fotos a cores. em cenário e pose que, curiosamente, fazem lembrar um pouco o ambiente do teledisco de Hung Up.
Os filmes que a imprensa (não) vê
O espectador comum não se aperceberá, mas o trabalho de divulgação e opinião sobre os filmes que vão estreando é cada vez mais difícil. Não se trata de discutir a competência ou a dedicação das pessoas que fazem o marketing da distribuição/exibição. Trata-se, isso sim, de questionar o facto de os filmes serem mostrados à imprensa cada vez com menos antecedência em relação às datas das respectivas estreias (isto para já não falarmos das frequentes alterações dessas datas).
Não estão em jogo estados de alma. Nem se discute a boa vontade seja de quem for. O que importa reconhecer é que a circulação de informação (e, em particular, o acesso aos filmes em tempo útil) é um valor básico de trabalho e, salvo melhor opinião, interessante para todas as partes envolvidas. Daí a pergunta: qual o conceito de trabalho que distribuidores e exibidores têm sobre as suas relações com a imprensa? Tendo em conta as muitas mudanças (internacionais) que o mercado está a sofrer, esta é uma pergunta ainda mais pertinente. Vale a pena repeti-la de forma serena e construtiva.
Vampire Weekend em concerto
sábado, abril 26, 2008
Mitsuko Uchida premiada pela "BBC Music"
A pianista japonesa Mitsuko Uchida é a vencedora dos prémios do BBC Music Magazine, atribuídos pelos leitores da revista — a sua gravação das sonatas nºs 28 e 29 de Beethoven foi distinguida como disco do ano de 2007.
A revista atribui cerca de uma dezena de prémios à produção anual na área da música clássica. Desta vez, entre os distinguidos incluem-se ainda a maestrina Emmanuelle Haïm e a soprano Natalie Dessay (na categoria de ópera), o Jersusalem Quartet (música de câmara) e o pianista David Fray (revelação do ano). Na edição em que divulga o seu palmarés, o BBC Music Magazine inclui uma entrevista com o escritor Ian McEwan e o compositor Michael Berkeley, a propósito da sua colaboração na ópera For You, e um trabalho sobre os 40 anos da fundação do sexteto coral King's Singers. É um número fascinante, complementado por um magnífico CD com música coral da Renascença, gravado no York Early Music Festival.
Tele-25 de Abril
Durante anos e anos, vimos o 25 de Abril televisivamente simbolizado pelo mesmo automático arranjo de imagens e sons: alguns planos a preto e branco da revolta no Largo do Carmo pontuados pelo Grândola, Vila Morena, de José Afonso (entretanto banalizado como “Zeca” Afonso, até mesmo por muitos dos que nasceram depois e o referem como se tivessem andado com ele na escola primária...). Provavelmente, hoje vai voltar a acontecer.
É óbvio que nem só disso se faz a memória colectiva do 25 de Abril. E a sociedade portuguesa continua a lutar, de modos variados, para ao menos ter direito à complexidade contraditória das suas memórias. Mas esse tipo de automatismo “informativo” foi desgastando essas mesmas memórias e as nossas mentes, com a mesma estúpida indiferença com que, a pretexto de tudo e de nada, se repetem imagens dos atentados do 11 de Setembro como se fossem spots publicitários intermutáveis.
Trinta e quatro anos depois, valerá a pena reparar que esta banalização televisiva se tem desenvolvido como um monstro de muitos tentáculos, o mais recente dos quais é a demonização automática de tudo o que aconteceu no tempo do Estado Novo. De facto, uma coisa é reconhecer que o país viveu uma ditadura de muitos silêncios e muitos sofrimentos. Outra, bem diferente, é esse desporto irresponsável que tende a favorecer a ideia de que vivíamos todos fechados em casa, à espera que não houvesse uma patrulha policial a passar na nossa rua...
Estou a caricaturar? Muito pouco, para dizer a verdade. Num país de concursos fúteis e telenovelas que se repetem umas às outras, a banalização do passado (e, em particular, do nosso passado salazarista) transformou-se num efeito ideológico de rotina. É mais fácil supor (ou fazer supor) que a realidade era a preto e branco. É sempre infinitamente mais difícil lidar com a pluralidade de qualquer momento histórico e com o seu perturbante tecido de alegrias e dores, criações e depressões. Passámos a ser regidos pelas leis do fácil e, de facto, não foi para isso que se fez o 25 de Abril.
sexta-feira, abril 25, 2008
A Nova Cultura Mediática
> Celebramos hoje, uma vez mais, o aniver-sário da revolução de 25 de Abril de 1974. Não vou repetir o que aqui afirmei o ano passado. Apenas direi que me impressiona que muitos jovens não saibam sequer o que foi o 25 de Abril, nem o que significou para Portugal. Os mais novos, sobretudo, quando interrogados sobre o que sucedeu em 25 de Abril de 1974 produzem afirmações que surpreendem pela ignorância de quem foram os principais protagonistas, pelo total alheamento relativamente ao que era viver num regime autoritário.
"Vanity Fair" sob o signo de Madonna
> 2008 (Maio): fotos de Steven Meisel
> 2007 (Março): fotos de Annie Leibovitz
> 2002 (Outubro): fotos de Craig McDean
> 2000 (Março): fotos de Mario Testino
> 1998 (Março): fotos de Mario Testino
> 1996 (Novembro): fotos de Mario Testino
> 1992 (Outubro): fotos de Steven Meisel
> 1991 (Abril): fotos de Steven Meisel
> 1990 (Abril): fotos de Helmut Newton
> 1986 (Dezembro): fotos de Herb Ritts
quinta-feira, abril 24, 2008
Yasujiro Ozu no trabalho
Para apresentar o livro, no seu site, Bordwell evoca uma visita a Tóquio, em 1995, com passagem pelos estúdios Shochiku. Aí deparou com uma reconstituição do espaço de trabalho de Ozu, incluindo o cineasta representado em... figura de cera [foto]. São memórias das singularidades do trabalho de investigação. Além do mais, convém referir que Ozu and the Poetics of Cinema pode ser lido, na íntegra, na própria Net — estão aqui as suas 416 páginas.
Bigger than life
quarta-feira, abril 23, 2008
A política segundo John Ford
Cannes: os filmes
***
Vai ser uma edição recheada de nomes consagrados, também nas fichas artísticas (o filme de Eastwood, por exemplo, é protagonizado por Angelina Jolie), a provar que Cannes se mantém a janela mais ampla para o essencial da produção cinematográfica internacional. Além disso, nos nomes comercialmente de "segunda" linha surge gente tão interessante como os franceses Arnaud Desplechin e Philippe Garrel, a argentina Lucrecia Martel e o argumentista americano Charlie Kaufman (que apresenta Sydenoche, New York, seu primeiro trabalho de realização). Está tudo no comunicado oficial do festival.
Sentados no "tatami"
É um facto indesmentível que o mercado do DVD já se libertou da lógica mercantilista, induzida por muitas formas preguiçosas de marketing, segundo a qual a sua principal “utilidade” seria a reposição dos títulos estreados seis meses antes. De facto, concebê-lo assim era, além do mais, uma visão simplista e preconceituosa que menosprezava o imenso leque de alternativas, em particular na recuperação dos filmes mais antigos, com ou sem estatuto de clássicos.
Dito isto, importa reconhecer também que, em termos globais, o mercado (incluindo os locais de venda) continua a ser eminen-temente conservador. Duas razões principais contribuem para isso: desde logo, as privilégios promocionais que são concedidos a filmes que ainda há pouco tempo estrearam nas salas; depois, o escasso trabalho (em particular dos locais de venda) para valorizar as muitas pérolas que vão sendo editadas. Um exemplo? O de Yasujiro Ozu (1903-1963), mestre lendário da produção japonesa e, em boa verdade, um dos autores maiores de toda a história do cinema. Vale a pena recordar que, no último inquérito à crítica internacional organizado pela revista britânica Sight & Sound para eleger os “melhores de sempre”, o nome de Ozu integra a lista dos dez melhores cineastas, em décimo lugar (ex-aequo com Francis Ford Coppola); no Top 10 dos filmes, liderado por O Mundo a Seus Pés (1941), de Orson Welles, Ozu está representado por Viagem a Tóquio (1953), em quinto lugar.
Pois bem, já há vários anos que Ozu não é um nome ausente do DVD em Portugal. Viagem a Tóquio, precisamente, foi editado há poucos meses. Entretanto, chegou ao mercado O Gosto do Saké (1962), derradeiro trabalho de uma filmografia de mais de três décadas (iniciada em 1927, ainda no período mudo) que possui um incontornável valor simbólico: nele se condensa o desencanto do cineasta face ao Japão do pós-guerra e, em particular, à metódica desagregação das tradicionais relações familiares e sociais.
Ozu foi o inventor genial de um universo comandado por uma obsessiva austeridade narrativa. Os seus modos de encenar têm tanto de rigor formal como de peculiar entendimento dos espaços do quotidiano (são célebres as suas imagens das personagens enquadradas a partir do olhar que assumem quando se instalam sobre os típicos tapetes, “tatamis”, das casas japonesas). Apesar disso, ou justamente por causa disso, importa acrescentar que ele nunca foi um “formalista”, já que, em última instância, é a pluralidade do factor humano que comanda o seu cinema.
O Gosto do Saké possui um valor exemplar, quanto mais não seja porque traduz a crescente depuração das linguagens de Ozu. A história que nele se conta, centrada num veterano da guerra que tenta garantir um bom casamento para a sua filha, acaba por ser um espelho delicado, não isento de crueldade, de um tempo de reconversão acelerada da sociedade nipónica. Por um lado, todas as personagens de Ozu transportam um pudor tecido de muitos segredos; por outro lado, o seu cinema tende a criar uma transparência rara onde, por assim dizer, podemos compreender esses segredos sem destruir o pudor. Ironicamente ou não, O Gosto do Saké é, neste momento, em Portugal, um dos grandes acontecimentos cinematográficos.