sexta-feira, fevereiro 08, 2008

BOLA DE BERLIM - 1
Recheio de rock'n'roll

N.G.: Shine a Light, o filme de abertura da 58ª Berlinale, responde à questão mais vezes formulada da música popular: como explicar a longevidade dos Rolling Stones? Com 17 câmaras, olhando de bem perto o palco, o filme mostra o gozo, o prazer, a festa que mantém vivo a mais lendária das bandas de rock n’ roll. Rodado em 2006, em duas noites no Beacon Theatre, em Nova Iorque, Shine a Light é mais que o filme-concerto de que se fala. Efusivo, e por isso diferente dos ambientes do clássico The Last Waltz (1978), este é o filme do filme de um concerto. Os primeiros 15 minutos mostram o que quase parece um duelo entre o desejo de arrumação de ideias de Martin Scorsese e as incógnitas dos desejos de Mick Jagger e companhia. De resto, o set list só chega à régie a um minuto do concerto. A montagem (recorrendo Scorsese a David Tedeschi, o mesmo colaborador do filme sobre Bob Dylan) garante o ritmo, imparável como Mick Jagger. O realizador, contudo, não se limita ao palco. Mostra, discretamente, Bill Clinton e família como convidados de honra (uma das noites assinalava o sexagésimo aniversário do ex-presidente). Imagens de entrevistas televisivas de 60, 70 e 80 intercalam, de muito em muito, o concerto que domina a história deste filme cujo texto se explica quase todo no seu contexto. Marca do tempo: um telemóvel e uma câmara digital captam imagens que não escapam ao olho atento do realizador.
Scorsese está agora a trabalhar num documentário sobre a vida de George Harrison, para o qual já visionou imagens de arquivo e filmes de família do ex-Beatle. Para 2010, anunciou em Berlim, promete um outro documentário musical, este sobre Bob Marley (que, e é inédito, contará com a colaboração da família do músico). Está claramente a nascer aqui um dos grandes cineastas do actual documentarismo musical.