
terça-feira, maio 30, 2006
Final Fantasy no Sudoeste

Gnarls Barkley "apagam" single
A dupla Gnarls Barkley vai voltar a fazer história. Depois de terem assegurado, com Crazy, a primeira inscrição de uma single no primeiro lugar da tabela de singles britânica apenas com downloads, e de terem permanecido naquele lugar por nove semanas (a mais longa presença no número um desde 1994, então com os inenarráveis Wet Wet Wet), acabaram de “apagar” o single Crazy (que se pode continuar a comprar, apenas, como parte do seu álbum de estreia). A ideia, que acaba imediatamente com a carreira no top do seu single, tem como justificação a vontade dos Gnarls Barkley concentrarem as atenções no seu segundo single, Smiley Fever, a editar no próximo dia 17 de Julho. A idade do "delete" chegou à música!
MAIL
Singles: Archies, 1969

Esta canção traz-me uma história pessoal de bastidores. Em Alvalade, 1997, numa sala do backstage do concerto dos U2, estava em conversa com The Edge (juntamente com o meu tio LPA e a Teresa Lage), quando sugeri ao guitarrista dos U2 que, entre a selecção de temas que podia tocar no seu número de karaoke, a meio do concerto, Sugar Sugar talvez fosse o mais familiar da plateia lisboeta. Assim foi.
THE ARCHIES “Sugar Sugar” (RCA, 1969)
Lado A: Sugar Sugar (Barry/Kim)
Lado B: Melody Hill (Barkon/Adams)
Produção: Don Kirshner
Posição mais alta na tabela inglesa: 1
segunda-feira, maio 29, 2006
Discos da Semana, 29 de Maio

14 anos depois de The Wonder (e 12 volvidos sobre o mais recente Warm And Cool, registo de instrumentais), Tom Verlaine regressa com um dos seus melhores álbuns de sempre. O seu estilo vocal mantém intactas as idiossincrasias dos dias de 70, mas ganhou características nasaladas, e seu tom desceu, uma tranquilidade narrativa acompanhando hoje as suas palavras (sempre crípticas, não menos difíceis de descodificar que outrora). O jazz atravessa por vezes, sempre discreto, um terreno essencialmente feito de canções pop mid-tempo onde as guitarras e a voz de Verlaine partilham protagonismo com uma ambição que faltara ao belo, mas pouco marcante The Wonder. As canções são perfeitos exemplos de uma composição de autor onde a personalidade é claramente demarcada, a interpretação, sobretudo a guitarra, sublinhando mais ainda as marcas de identidade de um grande autor. Os dois discos que agora edita não representam necessariamente um desejo de regresso às origens, nem mesmo traduzem uma via para reclamar para si as atenções justificadas perante um pedestal do legado punk nova-iorquino, em tempo de muitos novos ouvidos ali apontados. Mas ninguém o impediu de recuperar alguns parceiros desses tempos, nomeadamente o baterista de Patti Smith, Jay Dee Daugherty, e o baixista dos Television, Fred Smith, em Songs And Other Things e o baterista dos Television, Bill Ficca, em Around.
Tom Verlaine “Around”
Around, o álbum de instrumentais, é algo completamente diferente. Não se trata exactamente de um sucessor de Warm And Cool, parecendo antes mais próximo de ideias de paisagismo áudio próximas do que algumas imagens de cinema possam solicitar a um compositor. Acontece que, em disco, a imagem não mora, acabando a música por soar sempre a uma peça incompleta. Sugerem-se quadros impressionistas que nos projectam para uma mítica América industrial feita de máquinas e corpos gastos pelo tempo. Mas a maior parte dos temas não passam de ideias soltas, vinhetas alongadas, que raramente acabam por definir um chão coeso. Agradável, sem dúvida, mas longe de arrepiante, mais pano de fundo que corpo que se sente.
Stuart Staples “Leaving Songs”
Depois de um disco de estreia a solo que mais não era que uma colecção de sessões avulsas transformado num alinhamento sob um mesmo título, este disco corresponde agora, de facto, a um disco em nome próprio, com principio, meio e fim. Começa bem, com um flirt curioso com a herança de Leonard Cohen. Acaba bem com uma balada sussurrada com travo a maresia (que a capa do disco logo sugere). Mas o “meio” é comprido, monótono, em novas doses de mais do mesmo, Tindersticks ainda bem evidentes em tudo o que é escrita, arranjo e interpretação. Há duetos interessantes com Lhasa de Sela e Maria McKee, mas fora dessas excepções, o disco é morno, dormente, lusco-fusco de acontecimentos onde a luz ameaça mas nunca entra. O que não será necessariamente mau agoiro para os admiradores de Stuart Staples, que aqui o reencontrarão, como sempre, igual a si mesmo. Por mim, contudo, passo…
You Should Go Ahead “You Should Go Ahead”
Houve duas grandes revelações no primeiro TMN Garage Sessions em 2005. Os Woman In Panic (decididamente os musicalmente mais visionários e promissores dos projectos a concurso) e os You Should Go Ahead, bandas que partilhavam, curiosamente, um mesmo vocalista e timoneiro. Um ano depois da promessa, os You Should Go Ahead editam um álbum no qual projectam um rock animado a heranças captadas na escola pós-punk de finais de 70, referências dos Gang Of Four a Wire (de primeira etapa) evidentes num conjunto de canções que se enquadram perfeitamente num quadro “novo rock” que nos chega de cada vez mais origens. Estão no tempo certo, com o tempo certo, um conjunto interessante de canções (Like When I Was Seventeen a mais conhecida, outras a merecer sê-lo também), e a melhor capa que a pop portuguesa viu nos últimos anos.
Señor Coconut “Yellow Fever!”
Atom Heart continua a saga “salsera” em redor de ícones da música electrónica. Desta vez esteve na sua mira o legado fundamental da Yellow Magic Orchestra, num trabalho que aceitou parcerias, dos Mouse On Mars a Towa Tei, de Burnt Fridman a Schneider TM e, surpresa das surpresas, os próprios Yellow Magic Orchestra (Sakamoto, Takahashi e Osono), cada qual em sua peça distinta. Apesar de uma mais evidente condimentação lounge, a lógica transformista mantém-se igual, por vezes repetitiva. Mas não falta a boa sobremesa, como se escuta em Mambo Numerique, raro travo de novidade numa receita de sabor já gasto
Também esta semana: Expensive Soul, Clear Static, Radio 4, Frank Black, Spiritualized, Death From Above 1979, Can (reedições), Paul Simon, Neil Young
Brevemente:
5 Junho: Sonic Youth, Primal Scream, Scritti Politti, Feist (remisturas), Troy Von Balthasar, Dominique A, The Wrens, Velvet Underground (antologia), Kudu, Ed Harcourt
10 Junho: Daniel Johnston, Infadels, The Upper Room, Catpeople, Whitest Boy Alive
Discos novos ainda este ano: Woman In Panic, U-Clic, GNR (best of com inéditos, em Junho) Muse, Lisa Germano (Julho), Protocol (Verão), Thom Yorke (Julho), B-52’s, Beyoncé, Blur, Bryan Ferry, Cornershop (Junho), Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Duran Duran (Verão), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Junho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Junho), Michael Nyman (Junho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Paul Simon, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Outono), Sisters Of Mercy, Madonna (Lisboa ao vivo DVD), New York Dolls (DVD)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral)
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
domingo, maio 28, 2006
Postal de Cannes, 28 de Maio de 2006 (2)

Nada contra Loach, entenda-se, que é uma referência incontornável do cinema britânico, nomeadamente nos anos 60/70 com o relançamento da sua nobilíssima tradição realista. Nada também contra o valor didáctico deste filme que, à boa maneira de um telefilme politicamente correcto, nos fornece informações úteis sobre a evolução da luta dos católicos contra o exército inglês, na Irlanda de 1920. O problema é outro: que foi feito, por exemplo, de Il Caimano, de Nanni Moretti, ou Juventude em Marcha, de Pedro Costa (na foto), sem dúvida dois trabalhos que não dão o cinema como adquirido, antes o forçam a interrogar e discutir as nossas formas de percepção e leitura do mundo? Resposta: pura e simplesmente, ficaram fora dos prémios.
E que dizer da opção por prémios colectivos (?) nas categorias de interpretação? Muito provavelmente, a organização do festival ver-se-á compelida a alterar os seus regulamentos, de modo a evitar estas "abrangências" tão gratuitas quanto, inclusivamente, inadequadas à imagem pública dos filmes.
Para a história, como se costuma dizer, ficam os prémios. Mas podemos apostar que algo da história futura do cinema se vai fazer com nomes e referências que passaram por Cannes mas não estão neste palmares.
* PALMA DE OURO — The Wind that Shakes the Barley, de Ken Loach (Gra-Bretanha)
* GRANDE PRÉMIO — Flandres, de Bruno Dumont (Franca)
* INTERPRETAÇÃO FEMININA — Elenco: Penelope Cruz, Carmen Maura, Lola Duenas, Blanca Portillo, Yohana Cobo e Chus Lampreave de Volver, de Pedro Almodovar (Espanha)
* INTERPRETAÇÃO MASCULINA — Elenco: Jamel Debbouze, Samy Naceri, Roschdy Zem, Sami Bouajila e Bernard Blancan de Indigenes, de Rachid Bouchareb (Franca)
* REALIZAÇÃO — Alejandro Gonzalez Inarritu (Mexico), por Babel
* ARGUMENTO — Pedro Almodovar, por Volver
* PRÉMIO DO JÚRI — Red Road, de Andrea Arnold (Espanha)
Postal de Cannes, 28 de Maio de 2006 (1)

A cópia foi restaura pelo Museo Nazional del Cinema (Turim) e surge com o patrocínio de Martin Scorsese. Embora ainda sem data anunciada, deverá ser objecto de uma edição especial em DVD, com a chancela da Criterion Collection.
Retrovisor Tour 06: Matosinhos
O lançamento do livro Retrovisor, biografia musical de Sérgio Godinho, tem hoje lugar em sessão na Biblioteca Florbela Espanca, em Matosinhos, pelas 18.00. Estaremos presentes, eu e o Sérgio, para falar do livro... Os primeiros exemplares do Retrovisor estarão ali disponíveis. E, ainda hoje, deverão, também, começar hoje a chegar às bancas das feiras do livro de Lisboa e Porto.
Lisboa: A apresentação do livro, originalmente marcada para terça-feira, foi entretanto adiada para domingo, dia 4 de Junho, pelas 21.00. O lançamento do livro em Lisboa decorrerá no Auditório da Feira do Livro.
MAIL
Lisboa: A apresentação do livro, originalmente marcada para terça-feira, foi entretanto adiada para domingo, dia 4 de Junho, pelas 21.00. O lançamento do livro em Lisboa decorrerá no Auditório da Feira do Livro.
sábado, maio 27, 2006
Postal de Cannes, 27 de Maio de 2006

Amanhã, domingo, pelas 18h30 (hora portuguesa), saberemos qual as escolhas do júri presidido por Wang Kar-Wai. Para além das inevitáveis, e salutares, subjectividades que um palmarés sempre implica, esperemos, sobretudo, que o leque de premiados possa reflectir a pluralidade criativa que, à margem do imediatismo mediático e do marketing, acabou por prevalecer em Cannes. Nesta perspectiva, permito-me ceder a um exercício benigno que, esclareça-se, não tem nem pretende ter nada de "previsão". Ou seja: apenas aqueles que seriam os prémios principais do "meu" palmarés, tentando combinar o gosto pessoal com uma visão abrangente da própria diversidade do certame:
* Palma de Ouro: Babel, de Alejandro Ganzalez Inarritu
* Grande Prémio: Juventude em Marcha, de Pedro Costa
* Actor: Gérard Depardieu, em Quand J'étais Chanteur
* Actriz: Hao Lei, em Summer Palace
Discos Voadores, 27 de Maio

Elephant “Sirens”
The Idle Hands “Loaded”
The CatPeople “Everyone Can Tell You”
Forward Russia! “Nine”
Spartak “Spartak!One”
The Raconteurs “Broken Boy Soldier”
Tom Verlaine “Documentary”
Wordsong “Opiário”
Feist “Mushaboom (Postal Service Remix)”
Fiery Furnaces “I’m Waiting To Know You”
Kelley Polar “The Rooms In My House Have Many Parties”
The Knife “Marble House”
Jona Lewie “You’ll Always Find Me In The Kitchen At Parties”
Mates Of State “Fraud In The 80’s”
Final Fantasy “Arctic Circle”
Sufjan Stevens “Variations On Comemorative Transfiguration & Communion At Magruder Park”
Dead Combo “Ai Que Vida!”
Tom Verlaine “A Stroll”
Tom Verlaine “Pillow”
Tom Verlaine “Heavenly Charm”
Television “See No Evil”
Richard Hell & The Voidoids “Love Comes In Spurs”
Jonathan Richman & The Modern Lovers “Roadrunner”
Tom Verlaine “The Earth Is In The Sky”
Patti Smith “Mother Rose”
David Byrne “Glass, Concrete And Stone”
Television “Beauty Trip”
Daniel Johnston “Lonely Song”
Houdini Blues “Bailare”
Discos Voadores – Sábado 18.00 - 20.00 / Domingo 22.00 - 24.00
Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm
O adeus ao 'rei do ska'

Desmond Adolphus Dacres nasceu num arredor de Kingston, na Jamaica, a 16 de Julho de 1942. Órfão muito cedo, trabalhou como soldador, cantando para os colegas nas horas de pausa, o que os levou a encorajá-lo a fazer audições junto de editores locais. Assim foi, cantando em 1961 perante Coxsone Dodd (Studio One) e Duke Reid (Treasure Isle), nenhum deles particularmente impressionado com a sua performance. Melhor sorte teve nos estúdios da Beverly, quando cantou para Leslie Young, a grande estrela da editora Derrick Morgan presente na sala nesse instante decisivo. Foi a insistência de Morgan que lhe garantiu o arranque de carreira que, mesmo assim, esperou dois anos, Leslie Young em busca da canção certa para o lançar. A canção, Honour Your Father and Mother, chegou em 1963. Êxito imediato, somando dois outros logo a seguir. Dacres muda de nome para Dekker e, em 1964, grava o decisivo single King Of Ska, com os Maytals, canção que anos depois lhe assentou que nem luva ao receber, de mérito próprio, a designação de rei do ska na imprensa britânica. Pouco depois formaria os Aces, com quem gravaria discos inesquecíveis.

A década de 70 viu-o essencialmente sediado em Inglaterra, editando alguns discos interessantes pela Trojan, mas sem a mesma visibilidade, a nova geração reggae (Bob Marley, Peter Tosh, Horace Andy) somando agora o grosso das atenções. Todavia, na recta final da década, um surto de interesse pela redescoberta do ska, que surgiu associado às muitas manifestações de descendência da revolução punk, devolveu-o às luzes. Em pleno movimento Two Tone, patrono evidente de nomes como os Specials, The Beat, Madness ou The Selecter, Desmond Dekker assinou pela Stiff Records, Desmond Dekker voltou a ganhar notoriedade, os seus discos todavia não reflectindo a mesma luz e génio de outrora.
A década de 80 voltou a silenciá-lo, os anos 90 devolvendo-o ao circuito mais vivo dos discos e concertos, sobretudo depois da curiosa experiência de colaboração com os Specials no álbum de 1995 The King Of Kings.
Nos últimos anos tinha mantido regular actividade editorial, e a sua agenda de espectáculos apontava, para o mês de Junho, uma série de concertos na Suiça, Irlanda e Polónia, aos quais se seguiriam actuações na Bélgica, Reino Unido e Alemanha, datas marcadas até meados de Novembro. Desmond Dekker morreu ontem, em sua casa, no Surerey (Reino Undio). Tinha 64 anos.
sexta-feira, maio 26, 2006
Postal de Cannes, 26 de Maio de 2006

Etiquetas:
Cannes,
Martin Scorsese,
Peter Bogdanovich
Radar com blogue

A radar já tem frequência aberta na blogosfera. O blogue Radar vai apresentar, regularmente, toda a informação sobre os programas da estação, destaques sobre as rubricas diárias e o que mais acontecer em 97.8 FM.
Ali podemos saber com quem “ela” fala, que família passa pelo “álbum”, que discos “voam”… Claro, ao fim de semana revela-se o OK Computador da semana. E por ali passarão, também, os Lado(s) A (e às vezes lado B)…
Postal de Cannes, 25 de Maio de 2006

quinta-feira, maio 25, 2006
O trailer de 'World Trade Center'

Retrovisor Tour 06: Porto
Hoje à noite tem lugar a primeira apresentação pública do livro Retrovisor, biografia de Sérgio Godinho que a Assírio & Alvim lança na próxima semana. A sessão tem lugar no Café Literário da Feira do Livro do Porto, pelas 21.30, sob o mote “Escritores de Canções”. Trata-se de um debate, moderado por Álvaro Costa, no qual estarei presente, juntamente com Sérgio Godinho e Jorge Palma.
MAIL
Primeira audição do álbum de Thom Yorke

Os interessados podem ler a descrição dos temas, faixa a faixa, aqui. E, eventualmente, espreitar o site oficial do álbum, no qual se escutam alguns fundos digitais, acompanhados com imagens do design do álbum (e pouco mais...).
quarta-feira, maio 24, 2006
Postal de Cannes, 24 de Maio de 2006

Dir-se-ia que estamos perante um sofisticado portfolio da Vogue: trata-se de criar uma espécie de imenso palco de aparências em que, para além das memórias da história, tudo se torna possível (incluindo a integração de canções dos Phoenix, New Order, The Cure, Aphex Twin, The Strokes, Kevin Shields, etc.). A liberdade de mobilizaçao das referências é interessante, mas instala um sentimento de arbitrariedade que contamina todo o filme. Incapaz de pensar/mostrar o exterior de Versalhes, o filme faz da história um compêndio mecânico para "justificar" uma deambulação pela superfície dos factos e das memórias. Não é um filme que nos revolte (antes fosse...). Apenas um objecto com dificuldade em convencer-nos de que foi gerado por alguma visão estruturada. Acontece aos melhores.
MAIL
Gary Numan com os Depeche Mode

Acontece que ontem, ao dar a notícia a uma amiga, ela muito simplesmente me respondia: “E quem é Gary Numan”? Acreditando que, dada a inexistência de real consequência na sua música desde 1982, e reconhecendo que nunca teve uma carreira de visibilidade entre nós, a saudável dúvida pode morar também em outras almas. Aqui vão algumas ideias para ajudar:

Em 1982 a sua música começou a perder rumo, e as más opções suplantaram as boas canções, eventualmente conduzindo-o a uma rota de esquecimento. O tom sombrio da sua pop electrónica conquistou, contudo, uma nova geração de admiradores na fornalha industrial de 90, com figuras como Trent Reznor e Marilyn Manson a reconhecer a sua influência. Numan, que nunca deixara de editar e tocar ao vivo, rejuvenesceu o seu som, ensopando-o em marcas do som industrial que o aclamava… E é neste registo que nos visita, pelo que vamos passar o concerto à espera de uma ou outra cedência à memória, pedindo pelos santinhos que toque menos das novas canções e mais clássicos como Cars, We Are Glass, Down In The Park, This Wreckage ou, claro, Are Friends Electric?
Para mais informações, aconselha-se uma visita ao seu site oficial. Mas cuidado com o excesso de loas pelo presente, que de Gary Numan o que vale a pena recordar é mesmo a música que gravou até 1982!
A ouvir:
1979. Tubeway Army “Replicas”
1979. Gary Numan “The Pleasure Principle”
1980. Gary Numan “Telekon”
Os 78 rotações de John Peel

Este fim de semana na Radar
Fala com Ela. Esta semana a conversa está por conta de José Peixoto, guitarrista dos Madredeus que recentemente gravou mais um álbum a solo, desta vez em colaboração com Maria João.
Sábado 12.00 / Domingo 19.00
Álbum de Família. O histórico 16 Lovers Lane, dos Go Betweens (1988), em jeito de homenagem ao recentemente desaparecido Grant McLennan.
Domingo 12.00
Discos Voadores. No momento da edição de dois álbuns de Tom Verlaine, o reencontro com uma das figuras centrais da Nova Iorque de meados de 70, espreitando também por onde andam os seus velhos parceiros.
Sábado 18.00 / Domingo 22.00
Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm
MAIL
Sábado 12.00 / Domingo 19.00
Álbum de Família. O histórico 16 Lovers Lane, dos Go Betweens (1988), em jeito de homenagem ao recentemente desaparecido Grant McLennan.
Domingo 12.00
Discos Voadores. No momento da edição de dois álbuns de Tom Verlaine, o reencontro com uma das figuras centrais da Nova Iorque de meados de 70, espreitando também por onde andam os seus velhos parceiros.
Sábado 18.00 / Domingo 22.00
Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm
Postal de Cannes, 23 de Maio de 2006

* Ana Moreira - a actriz de Os Mutantes (1998), de Teresa Villaverde, volta a ser o núcleo forte do novo e magnífico filme da realizadora portuguesa: Transe (Quinzena dos Realizadores). Uma história de tráfico de mulheres que não pode ser lida como mero exercício sociológico: Villaverde consegue filmar uma tenacidade de viver que emerge como o desesperado resto de pequenas e grandes tragédias que assombram a nossa Europa — e, nesse sentido, um filme que inventa uma nova geografia afectiva para os nossos medos e culpas.
* Lucas Belvaux - actor e cineasta belga (autor de uma trilogia ja estreada em Portugal: Um Casal Encantador, Em Fuga, Depois da Vida) que volta a surpreender (competição) com La Raison du Plus Faible, um policial que combina uma aguda visão social com a recuperação de códigos que vêm tanto da tradição francesa como das memórias de Hollywood. Um belo filme a provar que algum cinema europeu continua a saber reescrever, sem modernismos postiços, as suas referências mais populares.
terça-feira, maio 23, 2006
Confissões numa cruz

Future Lovers
I Feel Love
Get Together
Like A Virgin
Jump
Live To Tell
Forbidden Love
Isaac
Sorry
Like It Or Not
I Love New York
Ray Of Light
Let It Will Be
Drowned World
Paradise (Not For Me)
Music Inferno
Erotica
La Isla Bonita
Lucky Star
Hung Up
'Retrovisor' em lançamento
Estão já marcadas as três primeiras sessões públicas de apresentação do Retrovisor, biografia musical de Sérgio Godinho a lançar pela Assírio & Alvim no próximo dia 28.
Dia 25. Café Literário da Feira do Livro do Porto, 21.30
Entrevista conduzida por Álvaro Costa. Com Nuno Galopim, Sérgio Godinho e Jorge Palma.
Dia 28. Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos, 18.00
Lançamento do livro com NG e SG
Dia 30. Auditório da Feira do Livro de Lisboa, 21.00
Apresentação do livro com NG e SG
MAIL
Dia 25. Café Literário da Feira do Livro do Porto, 21.30
Entrevista conduzida por Álvaro Costa. Com Nuno Galopim, Sérgio Godinho e Jorge Palma.
Dia 28. Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos, 18.00
Lançamento do livro com NG e SG
Dia 30. Auditório da Feira do Livro de Lisboa, 21.00
Apresentação do livro com NG e SG
Singles: Sigue Sigue Sputnik, 1986

SIGUE SIGUE SPUTNIK “Love Missile F1-11” (Parlophone, 1986)
Lado A: Love Missile F1-11 (Degville/James/Withmore)
Lado B: Hack Attack (Degville/James/Withmore)
Produção: Giorgio Moroder
Posição mais alta na tabela inglesa: 2
Postal de Cannes, 22 de Maio de 2006

segunda-feira, maio 22, 2006
Discos da semana, 22 de Maio

Apesar de estarm tranquilamente habituados a ver o soberbo best of de 2003 Pop Art ser habitualmente apontado como o seu disco de referência (o que não mais traduz que uma sólida herança de uma identidade pop nascida e criada em singles), os Pet Shop Boys também contam na sua já longa discografia de mais de 20 anos com uma pequena mão-cheia de álbuns absolutamente clássicos. São eles Behaviour (1990), Very (1993) e Nightlife (1999). Um trio ao qual se junta onovo e magnífico Fundamental, o seu melhor disco em mais de dez anos.
Gravado em parceria com Trevor Horn, repleto de exemplos de uma escrita clássica, inteligente e segura, capaz de suportar uma agenda de ideias onde a crítica se desenha essencialmente pela ironia, o álbum é monumento coeso dividido entre épicos de grandiosidade sinfonista (na melhor tradição com raiz num It’s A Sin ou Left To My Own Devices), ora procura a placidez de ambientes capazes de suportar histórias para ler (ou, antes, cantar) devagar.
Apesar deste sólido sentido de unidade que o todo sugere este é o álbum no qual o duo apresenta a sua maior e melhor colecção de singles potenciais desde o vitaminado Very. Se I’m With Stupid (evidente caricatura da relação entre Blair e Bush, projectada na pele aparente de um qualquer casal) a eficácia do refrão se escuta como o grupo não nos dava há muito, em Sodom And Gomorrah Show, Minimal ou Integral revelam-se canções na melhor tradição “simplesmente pop”, às quais Trevor Horn concedeu moldura imponente, quase a lembrar a grandiosidade garrida que há 22 anos concedeu à histórica estreia dos Frankie Goes To Hollywood. Depois há uma outra face, tranquila, mas plena de sentidos e humor, que fazem deste disco uma peça pop irresistible.
Hot Chip “The Warning”
The Warning é um depoimento seguro das suas estruturas electrónicas, mas igualmente firme na vontade de captar traços de fragilidade humana, aí sendo protagonistas as vozes de Alexis Taylor e Joe Goddard, que já lhes mereceram comparações (em jeito de carteira de afinidades) a nomes como os de Jeff Buckley, Beth Orton e… Nick Drake. Este último parece, de resto, correr nas entrelinhas de alguns temas onde aflora uma certa ingenuidade melodista pastoral, criando possíveis proximidades com o que recentemente escutámos no belíssimo Love Songs Of The Hanging Gardens, de Kelley Polar. As premissas estruturais antes encontradas preferencialmente na “bíblia” electro de Prince, Dirty Mind, dão lugar a diálogos com versáteis heranças que não escondem passagens por discos dos Devo, Beach Boys, Giorgio Moroder, Portsihead, Neil Young ou Madlib.O álbum reforça um sentido estético que opta pelo deleite perante o detalhe, mesmo que imperfeito e não virtuoso, heranças lo-fi que aqui são já princípio assente. O som, apesar de dominado pelas electrónicas, traduz uma vivência “caseira” em regime “faça você mesmo”, que permite às composições um processo de criação e evolução quase carnal, humana. Ou seja, apesar da evidente presença de computadores, uma pulsão humana nada “kraftwerkiana” acaba por dominar a arte final. Assim, sobre a solidez estrutural do geometrismo digital que coordena a construção das canções, há por aqui mais proximidade para com um apelo de vida não maquinal apendido a ouvir pop e folk, assim como uma subtil delicadeza para zeros e uns como a que recordamos no magnífico, mas ignorado, Folly do projecto Fort Dax.
Houdini Blues “F de Falso”
Ao terceiro álbum os Houdini Blues começam a deixar claro um caminho na primeira pessoa. Versátil na escrita, inteligente na interpretação, ousado nos arranjos, certeiro nas colaborações (sobretudo na oportuna presença de Adolfo Luxúria Canibal em Bailare), o disco é tudo menos falso. É um herdeiro de um sentido de demanda de personalidade e voz própria dentro do contexto da canção que convoca saudáveis memórias dos dias dos Rock Rendez Vouz, Mão Morta e Pop Dell’Arte como exemplos, nunca enquanto caminhos definidos e únicos a tomar. Pelo contrário, sentem-se já as marcas de autor e encenador neste disco, prova de que uma ideia por vezes exige tempo, e ensaios anteriores, para se começar a materializar. Sem dúvida, uma das poucas boas notícias da música portuguesa neste semestre de magra colheita.
Hugo Largo “Drum”
Editado em 1987, Drum revelou um grupo de personalidade única e uma música suave, elegante, austera na instrumentação e capaz de contemplar o sublime. Dissipada a euforia no wave que se seguira às influentes marés punk e new wave que haviam dominado as atenções da produção musical da cidade entre finais de 70 e inícios de 80, a baixa de Nova Iorque de meados de 90 era sobretudo um terreno de ensaio de uma nova música na qual o volume sonoro suplantava outras intensidades possíveis. É em nítida oposição a esta tendência que surgem os Hugo Largo. O grupo optou por uma formação que, desde logo, lhe permitiria afirmar uma identidade diferente, nomeadamente ao abdicar da tradicional presença de uma guitarra em favor de dois baixos, um violino e uma voz. A música dos Hugo Largo depressa atraiu atenções e gerou culto assim que foi editado o seu EP de estreia, produzido em 1987 por Michael Stipe, quatro temas sob o título Drum que, pouco depois, acabariam todas elas integradas no alinhamento de um curto álbum, com o mesmo título. A sensibilidade art rock que brotava das canções, a sua elegante instrumentação austera mas nem por isso despida de espiritualidade, pontuais laivos de minimalismo, texturas sugerindo espaço e, sobretudo, a voz teatral, cativante, de grande personalidade e sentido de liberdade de Mimi Goese, traduziam todavia um sentido de irreverência muito característico do meio em que esta música nascia, uma vivência entre espaços de afinidade com a cultura rock e as galerias de arte onde se revelavam visões de vanguarda. Uma obra-prima indie de finais de 80!
Também esta semana: Boy Kill Boy, Futureheads, Sex Pistols (reedição), William Orbit
Brevemente:
29 Maio: You Should Go Ahead, Expensive Soul, Clear Static, Radio 4, Frank Black, Spiritualized, Death From Above 1979, Velvet Underground (antologia), Matthew Herbert, Can (reedições), Stuart Staples
5 Junho: Sonic Youth, Primal Scream, Scritti Politti, Feist (remisturas), Troy Von Balthasar, Dominique A, The Wrens
Discos novos ainda este ano: Woman In Panic, U-Clic, Muse, Lisa Germano (Julho), Whitest Boy Alive (Junho), Protocol (Verão), Thom Yorke (Julho), B-52’s, Beyoncé, Blur, Bryan Ferry, Cornershop (Junho), Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Duran Duran (Verão), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Junho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Junho), Michael Nyman (Junho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Paul Simon, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Outono), Sisters Of Mercy, Madonna (Lisboa ao vivo DVD), New York Dolls (DVD)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral)
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
domingo, maio 21, 2006
Postal de Cannes, 21 de Maio de 2006

O que não deixará muitas marcas é o filme Daft Punk's Electroma, visto na Quinzena dos Realizadores. O duo das electrónicas mais dancantes — Guy Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter — vem contar-nos a história de dois robots que querem adquirir aparência humana num tom mais ou menos futurista que, eventualmente, nos pode remeter para algumas referências fortes (George Lucas e THX 1138, Gus Van Sant e Gerry). O certo é que as ideias são escassas para sustentar uma longa-metragem (ainda que de apenas 75 minutos) e fica-se com a sensação de que os Daft Punk nem sequer encontraram uma relação estimulante entre música e imagens.
Maior desilusão do festival: Southland Tales, o novo de Richard Kelly (Donnie Darko), penosa e pomposa fábula futurista que confunde "agitação" de teledisco com construção de emoção e suspense.
Melhor filme visto até agora (apresentado na secção "Un Certain Regard"): Il Regista di Matrimonio, de Marco Bellocchio, um conto moral, rigoroso e implacável, sobre o cinema italiano e a Itália contemporânea.
Monstros e companhia

O pobre Eládio Clímaco, que não deve ter achado grande piada à canção, começou a comentar a votação a dar valente pancada no mau gosto dos votantes, que era coisa da juventude e mais não sei quê. Mas lá se rendeu à maioria mostrenga, sem nunca deixar de demonstrar a sua profunda desilusão… Coitado… Só se esqueceu do seu típico momento poético de descrição da letra, com dois ou três versos depois traduzidos para português… Mas, vá lá, não se enganou nunca, não confundindo a coisa com os Jogos Sem Fronteiras, não anunciando nunca que nenhum país jogava o Joker…
Com a vitória dos monstrinhos, alguma coisa vai mudar neste concurso em vias de extinção? Não creio. O festival hoje é longínquo pasto de entusiasmo (e troca de votos) apenas a Leste. Ex-repúblicas soviéticas trocam mimos (leia-se pontos) entre si. O mesmo acontecendo entre estados escandinavos. E ex-membros da Jugoslávia… Para este lado, a velha Europa não leva nada. Nem mesmo o Reino Unido, com uma pop actual, de tempero hip hop, decentezita (mesmo que fraquinha), chama já o televoto eurovisivo.
Hard RockVision 2007? Seria engraçado. Mas qualquer comparação entre o que os monstrinhos caseiros finlandeses tocaram e o hard rock que por aí se faz e vende discos, é pura coincidência. Podem usar umas máscaras de Slipknot mansinhos, com tempero Jeepers Creepers, uma pitada de He-Man, com teclista orc, mas assustam tanto como os Bros… Ou até menos… Sempre podemos enviar em 2007 uma das nossas muitas bandas de metal do subúrbio... Ou desistir de vez, se a RTP não decidir encarar a sério, e com vontade estratégica, um concurso que entre nós não motiva músicos e letristas profissionais de primeira linha há já muitos, muitos, muitos anos…
Mas na verdade, nem com um triunfo thrash metal a Eurovisão se safa… Ou mudam critérios de votação (os países com voto tradicional, de júri de sala, não deram um único ponto à Finlândia nem trocaram pontos com os vizinhos), ou acabam com a formatação que obrigou a uma normalização tipo MTV dos pobrezinhos com (quase) tudo a cantar em inglês, ou a coisa afunda de vez.
PS. A canção portuguesa somou magrinhos 26 pontinhos e um 19º lugar na semi-final… 7 pontos da Suíça, 7 de França e 12 de Andorra. Não fossem os emigrantes e os amigos vizinhos, quem votaria naquilo?
sábado, maio 20, 2006
Postal de Cannes, 20 de Maio de 2006

Em todo o caso, não se pense que Shortbus funciona com uma mera comédia de costumes. Nada disso. Sob uma capa aparentemente ligeira e festiva, Cameron Mitchell vai construindo uma teia de muitas e dilaceradas solidões, tendo mesmo uma espantosa personagem, James (Paul Dawson), cujas componentes suicidas inscrevem no filme uma dor e uma transparência que, em última instância, nos esclarecem sobre o seu tema nuclear: a demanda do amor.
Com banda sonora dominada pelos Yo la Tengo, Shortbus é um caso exemplar de um cinema das margens que, em boa verdade, tem a capacidade para tocar algumas das questões mais delicadas do presente. A saber: a definição da identidade muito para além das ilusões de uma sexualidade "transparente". E ainda a actual conjuntura made in USA, devorada pelo desencanto gerado pelos seus próprios fantasmas colectivos.
Discos Voadores, 20 de Maio

Wordsong “Opiário”
Fiery Furnaces “I’m Waiting To Know You”
Ladytron “Nothing To Hide”
The Sounds “Painted By Numbers”
Yeah Yeah Yeahs “Dudley”
World Leader Pretend “Lovey Dovey”
Hugo Largo “Second Skin”
Secret Machines “Lightning Blue Eyes”
Elephant “Uh Oh Hello”
You Should Go Ahead “Like When I was Seventeen (remix)”
White Rose Movement “Test Card Girl”
U-Clic “Like”
Sigue Sigue Sputnik “Love Missile F1-11”
Forward Russia! “Nine”
Infadels “Reality TV”
Houdini Blues “Bailare”
BC Camplight “Suffer For Two”
Final Fantasy “Arctic Circle”
Hugo Largo “Fancy”
Hugo Largo “Turtle Song”
Sonic Youth “Little Trouble Girl”
Galaxie 500 “Blue Thunder”
Bel Canto “White Out Conditions”
Dead Can Dance “The Host Of Seraphim”
Hugo Largo “Scream Tall”
Mimi “Fire And Roses”
Moby + Mimi “When It’s Cold I’d Like To Die”
Hugo Largo “Grow Wild”
Dead Combo “After Peace, Swim Twice”
Discos Voadores – Sábado 18.00 - 20.00 / Domingo 22.00 - 24.00
Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm
sexta-feira, maio 19, 2006
Postal de Cannes, 19 Maio de 2006

Em termos simples (?), digamos que o filme conta a história do comunismo na Hungria, visto e revisto através de três gerações. Mas não é uma crónica histórica, muito menos uma evocação factual. É antes a memória dantesca de um país a viver sob uma miragem colectiva de progresso e crescimento — em sentido literal: o atletismo prepara enormes atletas para terríveis concursos de... comida (o vencedor é aquele que comer mais quilos de sopas e outros pratos de aspecto não muito recomendável).
Imaginem, por isso, o que seria um filme-ópera de Marilyn Manson com a crueza carnal de Cronenberg e o sentido festivo de Fellini. Esperemos, no minimo, que o mercado português nao deixe este filme entregue à imaginação dos seus espectadores.
O 'punk' também sabe nadar

A ideia para o filme partiu da simples observação de uma realidade, tendo a sua construção procurado como meta a apresentação de um conjunto de miúdos que o realizador descreve e nos mostra, quase carinhosamente, como “simplesmente normais”. Porquê normais? Porque, como deixa claro na entrevista usada para efeitos de notas de produção que podemos ler no site oficial, não fumam, não tomam drogas, não bebem álcool, não ouvem hip hop como os que os rodeiam. E residem em South Central, bairro onde se desencadearam os tumultos que fizeram história em 1992 e a comunidade latina vive sucessivas situações de confronto com a comunidade negra, por espaços, por empregos...
A sequência que abre o filme, uma entrevista do líder do grupo Jonathan a Larry Clark, coloca-nos nessa fronteira entre o documentário e a ficção na qual caminha todo o filme. Segue-se uma apresentação do seu espaço, das suas roupas justas, das suas relações com as raparigas do bairro, a música punk que ouvem (derivados latinos dos Suicidal Tendencies) e os ensaios anárquicos com a banda em casa… Só na segunda parte do filme se sugere uma história, numa longa jornada que começa num carro no qual partem rumo aos “nove degraus” da Beverly Hills High, onde querem praticar saltos com os seus skates.

Este post é uma versão editada de textos publicados no DN.
O merecido chumbo eurovisivo
A 10 de Março deste ano, antes mesmo de ver a (horrenda) edição 2006 do Festival RTP da Canção, escrevi este curto texto de opinião no DN, com o título O que Foi Não Volta a Ser:
“Falar, hoje, do Festival da Canção ou é coisa de nostalgia, com um bom lote de memórias para evocar, ou serve para encolher os ombros e seguir em frente, que não é assunto do presente. De facto, e apesar das tentativas de socorrismo da RTP, tentando reanimar uma ideia que deslassou há muito tempo, o Festival da Canção saiu da carteira das preocupações dos músicos, dos editores... e dos espectadores.
Começou, em 1964, por manifestar vontade de integração numa realidade europeia. O Festival da Eurovisão, de resto, nasceu em 1956 como a primeira manifestação cultural "ligeira" de uma identidade europeia moderna em construção. Depois de um arranque modesto, Portugal ali conheceu importante rampa de lançamento de êxitos, e até mesmo plataforma de revelação de novas vozes e autores. Assim foi, representando o maior acontecimento anual da música ligeira entre meados de 60 e inícios de 80. E com algumas canções inesquecíveis.
Mas a explosão rock, a revolução pop e o amadurecimento da cultura musical do país seguiu outros destinos. E o festival, ao contrário do que se viu noutros países, teimou em manter-se fiel a regras clássicas, antigas, desbotadas, progressivamente inconsequente musical e editorialmente.
Hoje, os músicos com carreiras seguras fogem dele. Os que se querem revelar temem ser ali estigmatizados. Para quê, então, fingir que ainda é um acontecimento?”
À noite, em directo, o João Gobern, que se sentou num júri (no qual eu declinei estar presente), falou em registo paternalista e moralista. E, depois de dizer que havia alguns equívocos nas canções apresentadas (alguns é favor, e equívoco não é bem a palavra), deu-me um puxãozinho de orelhas, referindo que o DN tinha publicado o texto onde se dizia que o festival estava morto e o que mais ali se lia… Dando então a gala (gala?) que tínhamos acabado de ver como exemplo do contrário. Faltou sonotone? Óculos? Ou estará o João com síndroma O Sexto Sentido (“I see dead people”, lembram-se?).
Agora, 70 dias depois, aqui está a definitiva prova de falta de vida das potencialidades eurovisivas do Festival da RTP. Um chumbo merecido às inqualificáveis Non Stop (na imagem) e à sua canção que faz dos D’Zrt verdadeira música de elite, na pior selecção de canções eurovisivas alguma vez vista… Não havia uma única que se aproveitasse, mas a nossa ainda assim conseguia ser das piores… Reze-se missa de 70º dia. Ou então celebre-se a coisa ao jeito zombie, que aquilo está mesmo morto.
MAIL
“Falar, hoje, do Festival da Canção ou é coisa de nostalgia, com um bom lote de memórias para evocar, ou serve para encolher os ombros e seguir em frente, que não é assunto do presente. De facto, e apesar das tentativas de socorrismo da RTP, tentando reanimar uma ideia que deslassou há muito tempo, o Festival da Canção saiu da carteira das preocupações dos músicos, dos editores... e dos espectadores.
Começou, em 1964, por manifestar vontade de integração numa realidade europeia. O Festival da Eurovisão, de resto, nasceu em 1956 como a primeira manifestação cultural "ligeira" de uma identidade europeia moderna em construção. Depois de um arranque modesto, Portugal ali conheceu importante rampa de lançamento de êxitos, e até mesmo plataforma de revelação de novas vozes e autores. Assim foi, representando o maior acontecimento anual da música ligeira entre meados de 60 e inícios de 80. E com algumas canções inesquecíveis.
Mas a explosão rock, a revolução pop e o amadurecimento da cultura musical do país seguiu outros destinos. E o festival, ao contrário do que se viu noutros países, teimou em manter-se fiel a regras clássicas, antigas, desbotadas, progressivamente inconsequente musical e editorialmente.
Hoje, os músicos com carreiras seguras fogem dele. Os que se querem revelar temem ser ali estigmatizados. Para quê, então, fingir que ainda é um acontecimento?”

Agora, 70 dias depois, aqui está a definitiva prova de falta de vida das potencialidades eurovisivas do Festival da RTP. Um chumbo merecido às inqualificáveis Non Stop (na imagem) e à sua canção que faz dos D’Zrt verdadeira música de elite, na pior selecção de canções eurovisivas alguma vez vista… Não havia uma única que se aproveitasse, mas a nossa ainda assim conseguia ser das piores… Reze-se missa de 70º dia. Ou então celebre-se a coisa ao jeito zombie, que aquilo está mesmo morto.
Maria Antonieta com travo 'punk'?

Beastie Boys em filme

Este fim de semana na Radar
Fala Com Ela. À conversa com Serge Trefaut, o realizador que recentemente estreou nos cinemas o documentário Lisboetas, sobre a nova imigração na capital portuguesa.
Sábado 12.00 / Domingo 19.00
Álbum de Família. À escuta o clássico Catch A Fire, álbum de 1973 de Bob Marley
Domingo 12.00
Discos Voadores. Aproveitando a reedição do histórico Drum dos Hugo Largo, um olhar sobre a carreira do grupo, da sua vocalista e de alguns contemporâneos seus.
Sábado 18.00 / Domingo 22.00
Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm
MAIL
Sábado 12.00 / Domingo 19.00
Álbum de Família. À escuta o clássico Catch A Fire, álbum de 1973 de Bob Marley
Domingo 12.00
Discos Voadores. Aproveitando a reedição do histórico Drum dos Hugo Largo, um olhar sobre a carreira do grupo, da sua vocalista e de alguns contemporâneos seus.
Sábado 18.00 / Domingo 22.00
Radar 97.8 FM e radarlisboa.fm
quinta-feira, maio 18, 2006
Postal de Cannes, 18 Maio de 2006

Moral da história: a série B, outrora um espaço de invenção e risco, transformou-se numa imitação acomodada das proezas das grandes produções. À sua maneira, é também um sinal das muitas crises que rasgam o espaço tradicional do cinema. Dir-se-ia que muitos filmes contemporâneos, apesar da pompa que os envolve, têm dificuldade em relançar um dos valores mais primitivos do cinema: o de ser uma ponte instável entre a realidade e a sua representação, entre as ilusões da evidência e a verdade inusitada da ficção.
Daí que valha a pena sublinhar a súbita actualidade das fotografias de Cindy Sherman, uma verdadeira autobiografia construida dentro do cinema, com a autora a assumir-se como personagem imaginária da própria imaginação cinematográfica. Tais fotografias são matéria de destaque nos principais jornais e revistas de França, uma vez que a galeria Jeu de Paume, em Paris, inaugurou uma enorme exposição dedicada à sua obra. Reveja-se, por exemplo, esta admirável imagem (Untitled Film Still #48, 1979) — o cinema é, aqui, memória e delírio, certeza e sonho.
Daí que valha a pena sublinhar a súbita actualidade das fotografias de Cindy Sherman, uma verdadeira autobiografia construida dentro do cinema, com a autora a assumir-se como personagem imaginária da própria imaginação cinematográfica. Tais fotografias são matéria de destaque nos principais jornais e revistas de França, uma vez que a galeria Jeu de Paume, em Paris, inaugurou uma enorme exposição dedicada à sua obra. Reveja-se, por exemplo, esta admirável imagem (Untitled Film Still #48, 1979) — o cinema é, aqui, memória e delírio, certeza e sonho.
Tais palavras convinham bem ao primeiro titulo realmente forte da competiçao: Fast Food Nation, ou Richard Linklater (Antes do Anoitecer) a construir uma visão ao mesmo tempo didáctica e vertiginosa de um país em que a máquina de produção de fast food reproduz toda uma lógica social de massificação e consequente perda de identidade(s). Adaptado do livro homónimo de Eric Schlosser (vale a pena ler um extracto), trata-se de um caso exemplar de um cinema genuinamente politico, muito para além de qualquer facilidade panfletária.
MAIL
O código da banalidade

Agora há um mar de ideias e génio a separar Scorsese do “certinho” e flácido Ron Howard. E convenhamos que há mais matéria para reflexão e debate sobre a figura de Cristo e as fundações da fé cristã nesse filme de Scorsese que no livro de Dan Brown e sua (dizem-me) literal adaptação ao cimema. É claro que vai haver instituições incomodadas, almas incomodadas… Mas enquanto a proposta de Dan Brown/Ron Howard é mero exercício de ficção usando como matéria prima alguns pedaços de referências na história da Igreja, A Última Tentação de Cristo, que não deixa de ter o seu cunho ficcional, é antes uma visão pessoal sobre um homem, as suas dúvidas, as suas tentações, sem psicologia barata de self help, antes colocando perante nós a humanidade que certamente houve em Cristo e uma natural atitude de demanda interior, sem respostas fáceis.
E o novo filme? É apenas banal. Uma história com todos os ingredientes para garantir coices de atenção de cinco em cinco minutos, uma trama com o seu interesse, um elenco notável, imagens captadas em lugares que garantem pompa e circunstância (nunca contestando a identidade europeia da acção), todas as maravilhas de uma produção ensopada em muitos dólares… Mas uma realização ensopada em lugares comuns, frouxa e despida de personalidade. E uma banda sonora insuportavelmente fácil. Banal… Mas já vi bem pior este ano. Bem pior…
Novo disco dos Loto promete...
Escutei ontem três temas do novo álbum dos Loto. Referências mais alargadas. Som mais encorpado (o baixo mais carnal). E boa composição pop… Promete… lá para o fim do Verão…
MAIL
quarta-feira, maio 17, 2006
Postal de Cannes, 17 Maio de 2006

Daí que vos peça para olhar para a pose angustiada de Hao Lei — ela é a primeira genuína surpresa deste festival, protagonizando (juntamente com o também excelente Guo Xiaodong) Summer Palace, do chinês Ye Lou, uma convulsiva história de amor que revê de forma subtil, e carregada de emoções, as memórias de Tianamen. Na inevitável bolsa das apostas, Hao Lei fica, desde já, como a primeira séria candidata ao prémio de melhor interpretação feminina.
Entretanto, se me permitem a sugestão de uma bela frase para resumir os poderes específicos do cinema, vale a pena ir buscá-la à entrevista de Nanni Moretti ao suplemento especial do "Le Monde" sobre o festival. Falando do seu filme Il Caimano (selecçã oficial/competição), Moretti confirma que quis elaborar um discurso eminentemente crítico sobre Silvio Berlusconi, mas recusa qualquer relação de causa a efeito entre o filme e as escolhas de voto dos respectivos espectadores. E lembra: "A força do cinema consiste antes em sugerir, através das personagens e de uma história, que a ordem do mundo não é imutável."
... capicce?
Filme dos Daft Punk em Cannes

Entretanto, os Daft Punk estão na estrada, com três concertos relativamente perto de nós:
30 de Junho: BelFest, em França
14 de Julho: Barcelona
15 de Julho: Madrid
Creative em guerra contra a Apple

Nick Rhodes e John Taylor em podcast

The Human League “Being Boiled”
Yellow Magic Orchestra “Computer Game”
David Bowie “Always Crashing In The Same Car”
Psychedelic Furs “Sister Europe”
Simple Minds “Changeling”
Mick Ronson “Only After Dark”
John Foxx “Underpass”
The Normal “Warm Leatherette”
Bryan Ferry “In Crowd”
Brian Eno “The Tree Wheel”
Tubeway Army “Are Friends Electric?”
Kraftwerk “The Robots”
Donna Summer “I Feel Love”
Wire “I Am The Fly”
Magazine “Shot By Both Sides”
Grace Jones “Private Life”
Iggy Pop “The Passenger”
Ultravox “Slow Motion”
Para acompanhar a promoção do álbum, Nick Rhodes e John Taylor aproveitaram as folgas do trabalho em estúdio na gravação de um novo álbum dos Duran Duran (previsto para o Verão) e deram algumas entrevistas, uma delas para o The Guardian, que a colocou disponível em Podcast no seu site. De resto, este Podcast de Nick Rhodes e John Taylor (que cruza as memórias das canções do disco com factos do início da vida dos Duran Duran) foi o primeiro a ter conteúdos musicais oficialmente aprovados. Mais uma “primeira vez” para a banda que, entre outras estreias foi a primeira a:
1. Fazer um teledisco para uma versão máxi de um tema seu, com Girls On Film em 1981
2. Filmar telediscos em exteriores, nos locais onde a acção decorre, o que aconteceu em 1982 com Hungry Like The Wolf, Save a Prayer e Lonely In Your Nightmare no Sri Lanka e com Rio e Nightboat, em Antígua.
3. Usar ecrãs com projecções vídeo captadas em directo do palco durante uma digressão, nos EUA em 1984
4. Vender uma canção por download antes da sua disponibilização em disco “convencional”, com Electric Barbarella em 1997
5. Fazer um teledisco com tecnologia flash, em Someone Else Not Me, em 2000.
Quem quiser escutar estes podcasts pode descarregar aqui a parte 1 e a parte 2.
Patrick Wolf com Marianne Faithfull
Patrick Wolf está a terminar os trabalhos de gravação do seu terceiro álbum, que tem data de edição prevista para o mês de Julho. O disco terá por título The Magic Position, e promete ser o mais ambicioso desafio do músico até à data. Em Novembro do ano passado, Patrick Wolf esteve em Viena, onde gravou com um quarteto de cordas, um vibrafone e mais uma parafernália de instrumentos, com uma série de músicos convidados. Esteve depois em Manhattan onde captou sons ambiente para a cenografia de algumas canções. E regressou a Londres, onde gravou já com Marianne Faithfull o seu primeiro dueto. O álbum será o primeiro disco de Patrick Wolf para uma multinacional.
MAIL
terça-feira, maio 16, 2006
Terrível solidão

Para completar o quadro pessimista, a demarcação simbólica veio de onde, talvez, menos fosse esperada. George Lucas — que não poderá ser acusado de ser um homem indiferente às convulsões técnicas e financeiras da indústria — veio lançar achas para a fogueira, declarando à MTV: "Penso que Tom Cruise provou que as pessoas estão a ficar cansadas deste tipo de produto. Querem ver algo diferente e, convenhamos, Indiana Jones é sempre diferente." Lucas estava, como é óbvio, a defender o Indiana Jones 4 (previsto para 2007) que ele próprio irá escrever e produzir, de novo ao serviço de Harrison Ford e Steven Spielberg. Em todo o caso, convém não reduzir estas trocas de galhardetes a meros conflitos de egos: Lucas sabe que Hollywood vive um processo de reconversão de todo o seu aparato tecnológico & narrativo, sabendo também, por isso mesmo, que a nobre arte de contar histórias não se pode perder nas mãos dos burocratas de efeitos especiais que conseguiram reduzir Tom Cruise a um triste boneco animado de duas dimensões.
Daí que importe recordar o que não está na moda e que toda uma imprensa de "sensações" gratuitas se empenha em esquecer. A saber: que Cruise pode ser um notável actor, capaz dos confrontos mais difíceis (com Paul Newman, em A Cor do Dinheiro; com Dustin Hoffman, em Rain Man) e também de experiências limite que definem toda uma carreira e, no limite, toda uma existência (De Olhos Bem Fechados, feito com Kidman e Kubrick). No fundo, Cruise está a protagonizar um dos mais difíceis papéis da sua vida: o de uma star que parece estar a perder o cinema capaz de o valorizar. Por vezes, a solidão é boa conselheira.
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