quarta-feira, maio 24, 2006

Gary Numan com os Depeche Mode

Já se sabia que as primeiras partes do concerto dos Depeche Mode a 28 de Julho em Alvalade seriam recomendáveis. Dos Raveonettes já se escutara a notícia há dias. Agora confirma-se também a presença de Gary Numan.
Acontece que ontem, ao dar a notícia a uma amiga, ela muito simplesmente me respondia: “E quem é Gary Numan”? Acreditando que, dada a inexistência de real consequência na sua música desde 1982, e reconhecendo que nunca teve uma carreira de visibilidade entre nós, a saudável dúvida pode morar também em outras almas. Aqui vão algumas ideias para ajudar:

Gary Numan foi um dos mais importantes nomes do pós-punk britânico, sobretudo em terreno de experimentação das emergentes electrónicas. Foi, de resto, o primeiro a chegar ao primeiro lugar em Inglaterra com uma canção dominada apenas por sintetizadores, o que aconteceu em 1979 com Are Friends Electric? Começou por se apresentar com os Tubeway Army (nova vida da sua velha banda punk, os The Lasers), editando um disco de estreia em regime new wave em 1978, descobrindo no ano seguinte uma identidade mais bem definida, criando em seu redor uma atmosfera herdeira dos Kraftwerk, David Bowie (berlinense) e Brian Eno no som (no qual se detecta ainda uma velha admiração pelo glam rock) e repleta de referências sci-fi (sobretudo com alusões a Philip K. Dick) nas letras. Entre 1979 e 1980 edita três álbuns fundamentais, experimentando a canção em laboratórios electrónicos, contemporâneo portanto dos Human League, OMD ou Yellow Magic Orchestra, mas decididamente mais sombrio e, dada a popularidade que então vive, ostensivamente mais espectacular em grandes produções ao vivo (recentemente a Popstock reeditou, entre nós, os álbuns ao vivo relativos às digressões de 1979, 1980 e 1981).
Em 1982 a sua música começou a perder rumo, e as más opções suplantaram as boas canções, eventualmente conduzindo-o a uma rota de esquecimento. O tom sombrio da sua pop electrónica conquistou, contudo, uma nova geração de admiradores na fornalha industrial de 90, com figuras como Trent Reznor e Marilyn Manson a reconhecer a sua influência. Numan, que nunca deixara de editar e tocar ao vivo, rejuvenesceu o seu som, ensopando-o em marcas do som industrial que o aclamava… E é neste registo que nos visita, pelo que vamos passar o concerto à espera de uma ou outra cedência à memória, pedindo pelos santinhos que toque menos das novas canções e mais clássicos como Cars, We Are Glass, Down In The Park, This Wreckage ou, claro, Are Friends Electric?
Para mais informações, aconselha-se uma visita ao seu site oficial. Mas cuidado com o excesso de loas pelo presente, que de Gary Numan o que vale a pena recordar é mesmo a música que gravou até 1982!

A ouvir:
1979. Tubeway Army “Replicas”
1979. Gary Numan “The Pleasure Principle”
1980. Gary Numan “Telekon”

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