segunda-feira, janeiro 31, 2011

O cinema ou a memórias dos rostos

LILLIAN GISH
O Lírio Quebrado, 1919
A cinefilia passa sempre pelos actores, isto é, confunde-se também como uma imensa genealogia de rostos — este texto foi publicado no Diário de Notícias (23 de Janeiro), com o título 'Já não há rostos no cinema?'.

O recente Tron: O Legado é um exemplo revelador dos desastres que podem envolver uma sequela cinematográfica, para mais de um filme tão estimulante no modo como colocava em cena as relações entre seres humanos e computadores (Tron, 1982). Encontramos mesmo um sintoma da mais corrente cegueira tecnológica na grosseira “recuperação” que é feita da figura original do actor Jeff Bridges, com a criação de uma personagem digital que tenta reproduzir o seu rosto de há quase trinta anos.
Não que a figura humana seja artisticamente tabu. Bem pelo contrário: cineastas como Robert Zemeckis (Beowulf, 2007) já demonstraram que, com os novos recursos digitais, se abriu um imenso e sedutor campo expressivo. A questão que aqui se levanta é de outra natureza, uma vez que envolve o fabuloso património de rostos que constitui um capítulo à parte no interior da própria história dos filmes, dos seus temas, estéticas e narrativas.
JESSE EISENBERG
A Rede Social, 2010
Pensemos, por exemplo, na candura dos olhos de Lillian Gish, filmada por David W. Griffith em O Lírio Quebrado (1919). Lembremos a geometria gélida de Greta Garbo em Mata Hari (1931), de George Fitzmaurice, ou a promessa épica que pressentimos em Peter O’Toole, contemplando o deserto em Lawrence da Arábia (1962), de David Lean. Enfim, citemos um momento mais próximo como a cruel transparência do olhar de Nicole Kidman sobre Tom Cruise, em De Olhos Bem Fechados (1999), de Stanley Kubrick. Ou ainda, no também muito recente A Rede Social, de David Fincher, admiremos o misto de frieza e utopia que banha o rosto juvenil de Jesse Eisenberg, numa genial reinvenção da personagem de Mark Zuckerberg, criador do Facebook.
O que sentimos em todas estas figuras (e, em particular, nos seus grandes planos) é que o cinema nos mantém em relação com uma interioridade que não se esgota em nenhuma psicologia, mesmo não sendo dissociável dos seus parâmetros. Em boa verdade, o cinema preserva uma intensidade humana que a linguagem corrente dos rostos (os “talking heads” da televisão) tende a ignorar.
Uma velha e respeitável crença garante-nos que o rosto é o espelho da alma. E a palavra “alma” ajuda-nos sempre a dar nome a tudo aquilo que pressentimos para além dos nomes. Mas talvez possamos acrescentar também que a árvore genealógica dos rostos cinematográficos preserva a verdade única e irredutível de actores e actrizes. Nessa perspectiva, representar frente a uma câmara pode ser mais do que um mero fingimento. Ou melhor: o actor ou a actriz é um ser que, fingindo, nos pode conduzir às imediações de uma verdade perante a qual as nossas palavras hesitam. É para isso, para essas sublimes hesitações, que foram inventadas as imagens.

GRETA GARBO
Mata Hari, 1931

Henry Cavill, o novo Superman


O tempo é cruel, mesmo para um super-herói. Foi há mais de trinta anos que o americano Christopher Reeve [foto à direita] surgiu como protagonista de Superman (1978), de Richard Donner, inaugurando, no cinema, a idade moderna da personagem criada pela dupla Jerry Siegel/Joe Shuster. Só alguns anos mais tarde, em 1983, nasceu o inglês Henry Cavill — é ele que, agora, vai assumir a herança de Reeve, em Superman: The Man of Steel, com realização de Zack Snyder.
Cavill tornou-se conhecido através da série televisiva Os Tudors [à esquerda]; Snyder estreou-se na realização com Dawn of the Dead (2004), tendo explorado depois as potencialidades dos cenários virtuais, nomeadamente em 300 (2007), segundo uma novela gráfica de Frank Miller — o novo filme tem lançamento previsto para Dezembro de 2012.

Cor, luz... acção!


Já são vários os telediscos disponíveis para o disco que os Go Team! acabam de editar. Este acompanha o tema Buy Nothing Day. A realização é assinada por James Slater.

'Kepler' vai ter edição em DVD

Depois da edição em disco, a ópera Kelper, de Philip Glass, vai ter lançamento em DVD. Chega em finais de Fevereiro, pela Orange Mountain Music, e apresenta a produção, com encenação de Peter Missotten, apresentada em Linz. Esta será a terceira ópera de Philip Glass a ser editada em DVD, depois de Satyagraha (disponível em edição pela Arthaus) e La Belle et La Bête (lançada pela Criterion, acompanhando o filme de Jean Cocteau que lhe serve de base).

Novas edições:
Hercules & Love Affair, Blue Songs


Hercules & Love Affair
“Blue Songs”

Moshi Moshi

4 / 5


Em 2008 chegou com o sabor da surpresa. Falamos de Blind, o single que serviu de cartão de visita ao colectivo Hercules & Love Affair, uma aventura de alma disco, mas talhada a uma modernidade urbana e animada com as electrónicas do momento, definindo assim o mais inesperado (e eficaz) palco para a voz de Antony Hegarty. O seu era um estatuto de convidado e, sabíamos, a vida do projecto desenhado por Andy Butler (a alma de Hercules & Love Affair) teria de passar por outros caminhos... Assim aconteceu. E chegamos a 2011 com aquele que se apresenta como o sucessor de uma das mais aclamadas estreias da década dos zeros. Não como uma ideia no comprimento de onda “and now something completly diferente”. Mas Blue Songs é um disco diferente do seu antecessor. Podemos sentir a falta de Antony e da sensação de estar a viver uma ponte entre heranças do disco e o gume da invenção do som da Nova Iorque do nosso tempo (cortesia DFA, de resto, a editora que colocara em cena esse primeiro disco). Mas encontramos em seu lugar um álbum novamente capaz de encontrar no disco a raiz primordial da sua genética, apontando contudo a expressões house de finais de 80 e inícios de 90 parte importante da essência das heranças sua identidade. Se Painted Eyes, que abre o alinhamento, é festim luminoso, evocativo da festa hi-nrg em diálogo com as suas raízes disco, já My House transporta ecos deep house e abre portas aos novos destinos que o álbum revela. Boy Blue é surpreendente paisagem tranquila que até convoca uma guitarra acústica. Blue Song sugere nova tranquilidade, desta vez em regime mid tempo e com mais elaborda cenografia electrónica. I Can’t Wait vinca marcas mais claras de contemporaneidade na mais angulosa das composições electrónicas do disco. O convidado Kele Okereke visita a house dos noventas no irresistível Step Up. E, a fechar, o “clássico” da house dos oitentas, It’s Alright, de Sterling Void (que os Pet Shop Boys revisitaram em 1989), surge numa leitura que vinca as suas qualidades melodistas, dispensando aqui a força maior da arquitectura rítmica. É um disco menos imediato talvez que o álbum de 2008. Mas representa uma interessante janela de diálogos entre ecos e várias genéticas e etapas da club culture. E não lhe faltam belas canções.

John Barry (1933-2011)


Venceu cinco Oscares, um Grammy e mais uma mão cheia de outros prémios, mas por mais distinções que John Barry possa ter somado ao longo da sua vida, será inevitavelmente sempre recordado pelo facto de ter sido o compositor que mais música deu aos filmes de James Bond. Tanto que, depois do nome dos actores que vestiram a pele do agente secreto 007, o nome mais conhecido do universo James Bond no cinema não é o de nenhum realizador em particular, mas sim o de John Barry, tantas foram as bandas sonoras e canções que compôs, entre as quais momentos icónicos como Goldfinger, From Russia With Love, You Only Live Twice ou Diamonds Are Forever, o maior êxito atingido em 1985 na colaboração com os Duran Duran em A View To A Kill.

Filho de uma família já com uma relação com o mundo do cinema, descobriu a música quando fez o serviço militar, apresentando-se pouco depois num pequeno combo. Em finais dos anos 50 trabalhava na EMI, para a editora assinando arranjos para canções de vários artias. E foi às suas mãos que foi parar a partitura que Monty Norman compusera para Dr. No, do seu arranjo nascendo o célebre James Bond Theme. A sua ligação ao universo James Bond foi extensa, prolongando-se até 1987, ano em que assinou a música de The Living Daylights.


Além do universo James Bond a história de John Barry passa por inúmeros outros trabalhos para o cinema, entre os quais a música para filmes como Born Free (1967), de James Hill (que lhe valeu dois Oscares, um pela canção outro pela banda sonora), O Cowboy da Meia Noite (1969), de John Schlesinger, África Minha (1985), de Sydney Pollack ou Danças com Lobos (1990), de Kevin Costner.



Imagens de uma actuação ao vivo em 2001, ao som do tema de Goldfinger e do tema central de James Bond. O maestro? Chama-se John Barry.

'Planet Earth': 30 anos depois... (1)


Esta semana o Sound + Vision assinala os 30 anos da edição de Planet Earth que, a 2 de Fevereiro de 1981, foi o primeiro disco editado pelos Duran Duran. Ao longo da semana vamos assim recordar algumas das capas de várias edições locais do single. Começamos por Espanha onde, na época, era frequente vermos os títulos das canções (e por vezes até os nomes das bandas) traduzidos. Este aqui é Planeta Tierra. E, no lado B, Late Bar dava origem a Bar Nocturno.

domingo, janeiro 30, 2011

À espera dos Oscars


Chama-se Hailee Steinfeld e é a grande revelação de True Grit, o notável western dos irmãos Coen, retomando um célebre título da filmografia de John Wayne (vai chamar-se entre nós Indomável e tem estreia marcada para 17 de Fevereiro). É com a sua fotografia, assinada por Sam Jones, que a Vanity Fair inicia um portfolio dedicado a uma série de nomeados para os Oscars (Steinfeld surge entre as candidatas a melhor actriz secundária) — está tudo no site da revista.

As obsessões de um físico


Encomendada pela cidade austríaca de Linz para assinalar o ano em que foi Capital Europeia da Cultura (em 2009), Kepler é uma ópera de Philip Glass que celebra uma figura histórica que naquela cidade trabalhou em inícios do século XVII. Uma gravação de uma das récitas apresentadas em 2009 no Landes Theatre, com a Bruckner Orchester Linz, dirigida por Dennis Russel Davies e com Martin Achrainer no papel de Kepler, surge agora num CD duplo editado pela Orange Mountain Music.

É a terceira vez que Philip Glass reflecte numa ópera um retrato de um físico. Fê-lo, nos anos 70, tomando Albert Einstein como protagonista no histórico Einstein On The Beach, a sua primeira ópera (e peça fulcral na redefinição de rumos para o teatro musical na segunda metade do século XX). Galileu Galilei deu título a uma maios recente ópera, estreada já no início da década dos zeros. Agora é Johannes Kepler (1571-1630), matemático e astrónomo, célebre pela enumeração de leis que regem os movimentos celestes, quem mora no centro de uma obra sua. Só não diremos centro “da acção” porque, conta quem viu Kepler em cena, “acção” não parece ser o ingrediente protagonista numa obra que vive mais das reflexões do cientista (usando mesmo fragmentos de escritos seus) que de episódios da sua vida. De resto, entre os textos publicados na sequência da estreia de Kepler e, agora, da sua edição em disco há mais que uma reflexão sobre se, em vez de uma ópera, não seria preferível chamar antes a Kepler um oratório... Como se um nome resolvesse tudo... Et voilà, o mundo afinal até é perfeito (como os movimentos que Kepler matematicamente descreveu)...

Com mais ou menos acção, Kelpler é na verdade mais um claro exemplo do domínio de uma escrita dramática por um compositor que soma aqui a sua vigésima terceira ópera... Como é característico na sua forma de abordar um tema, uma figura, um tempo, Philip Glass procura nele uma ideia. E aqui, com o auxílio de Martina Winkel (que assina o libreto), e na sua produção original, encenação de Peter Missotten, procura não só os pensamentos de um homem que procurava obter respostas às suas obsessões mas também se questionava a si mesmo, a expressão “Deus baseou tudo em números” tendo representado, como se explica no booklet, o ponto de partida que estimulou o compositor.

Sem evitar as suas marcas de identidade mais características (como referia um texto no New York Times, ninguém terá dúvidas sobre quem é o compositor), Kepler (cantado alemão e latim) tem apenas no protagonista uma personagem identificada, as restantes seis vozes não sendo usadas (e mesmo designadas) senão pelas suas características vocais, de duas sopranos a um baixo.

Podem ver imagens da produção original da ópera aqui.

Um regresso (remisturado)

Discografia Kraftwerk - 32
'The Mix' (álbum), 1991



Cinco anos depois de Electric Café, durante esse intervalo tendo sido mínimas as notícias sobre o quarteto alemão, os Kraftwerk regressaram aos discos. Não com música nova mas antes com uma série de remisturas, aplicando assim a uma música de que foram pioneiros uma série de ensinamentos entretanto revelados por seus discípulos. Alternativa a uma antologia de êxitos, marcando assim o presente com uma edição que revelava ao menos que o grupo ainda se mantinha activo, The Mix chama ao seu alinhamento uma série de composições originalmente editadas entre 1974 e 86, repensando-as não apenas na matriz rítmica mas também por vezes na sua própria estrutura. Por alturas da edição do disco, que dividiu opiniões, o grupo voltou aos palcos, apresentando versões próximas das que aqui registara.

Um olhar político


Foto: Arquivo da Filarmónica de Nova Iorque

Teve recentemente edição em Portugal, pela Bizâncio, um livro que percorre a vida de Leonard Bernstein observando sobretudo o seu papel político e cívico, naturalmente não afastando a música deste retrato. Este texto foi originalmente publicado na edição de 15 de Janeiro do DN Gente com o título ‘A Vida Política de um Músico Americano’.

Temeu ver o seu nome na "lista negra" dos apontados a dedo na América dos tempos de McCarthy. Antes, nos anos 40, integrou associações e grupos de esquerda. Lutou pela candidatura (derrotada) de Eugene McCarthy nas primárias do Partido Democrata em 1968 e chegou a assustar a administração Nixon quando correram rumores sobre o que poderia representar a Missa que estava a compor para a inauguração do Kennedy Center, em 1970. Um dos nomes maiores do século xx, maestro (e comunicador) de feitos reconhecidos e um dos mais importantes compositores americanos de sempre, Leonard Bernstein foi, também, e desde cedo na sua carreira, uma figura ciente de um papel político que fez questão de cumprir. Leonard Bernstein - A Intervenção Cívica de Um Músico Americano, de Barry Seldes (ed. Bizâncio) é um retrato biográfico atento a essa mesma história. Como se lê no livro, "Bernstein não fazia grande destrinça entre as esferas política e musical da sua vida". E se uma obra musical, ainda em tempo de afirmação, causava divisões de opiniões, já as suas primeiras manifestações de intervenção política geraram momentos mais crispados. "Havia gente a denunciar Bernstein pelas costas", recorda Barry Seldes. O livro menciona, de resto, diversas informações registadas em relatórios do FBI. "Manteve-se fiel à esquerda espanhola" e "estava empenhado na formação do novo Partido Progressista, que tinha por objectivo restaurar a aliança dos tempos da guerra entre os EUA e a URSS ou, pelo menos, travar o progresso da guerra fria", lemos no livro.

Nos anos 50, a visibilidade da sua música ganhou outro patamar, ao mesmo tempo que a sua vivência política lhe valeu momentos de ansiedade. "Tanto era O Miúdo Prodígio Irremediavelmente Destinado ao Sucesso", de acordo com o número da Look de Março de 1950, como um perigoso vermelho, segundo o Red Channels publicado em Junho" do mesmo ano. Em 1953, descreve Seldes, o "novo secretário de Estado John Dulles mandou retirar obras de comunistas ou simpatizantes do comunismo de bibliotecas de Informação Internacional e das emissões do Voice Of America". Entre as obras havia gravações de peças de Bernstein.

Receou, então, o pior. Não foi, contudo, chamado a depor perante as comissões da House UnAmerican Activities Committee ou do Senado. Prestou então um depoimento escrito, que "aparentemente serenou as autoridades". Esse depoimento "parece ter aberto a porta à sua remoção da lista negra", e em finais dos anos 50 assumia o controlo da Filarmónica de Nova Iorque, tinha novo contrato discográfico e obtinha novos sucessos.


Amigo pessoal dos Kennedy, a sua relação com o poder muda nos anos 60. E em 1963, Jackie pediu-lhe que actuasse nas cerimónias fúnebres do presidente assassinado, escolhendo a Sinfonia N.º 2 de Mahler e dedicando-lhe a sua própria sinfonia Kaddish. Não abandonou, contudo, ao longo da década, a intervenção cívica e política. Participou em marchas e apoiou a candidatura de Eugene McCarthy às presidenciais de 1968.

O seu nome voltaria a estar envolvido em casos nos media, o mais sonoro de todos em 1969, quando Felicia Bernstein, a mulher de Leonard, organizou no apartamento uma festa para angariação de fundos para o grupo radical Panteras Negras, descrita depois num artigo de Tom Wolfe que fez história. Não seria a última vez que o nome Bernstein estaria ligado a um "caso" político. Mas depois dos anos 70 outra moderação tomou conta de grande parte da sua agenda.

"Biutiful": contos da grande metrópole


Há palavras que transportam uma avalancha de sentidos. Biutiful, por exemplo, que serve de título ao mais recente filme do mexicano Alejandro González Iñárritu. Dela se desprende a ironia infantil (aliás, justificada por uma cena do filme) que, mais do que nos remeter para o inglês beautiful, nos instala numa espécie de linguagem universal que todos falamos e a ninguém pertence. Ora, justamente, Biutiful é um filme sobre a pertença: quem sou? Que lugar é este onde arrisco dizer eu?
A personagem interpretada por Javier Bardem surge, assim, como símbolo incauto da vida urbana, de uma só vez gerado e anulado pela imensa metrópole onde o encontramos à deriva. Podemos considerar que, noutros momentos (penso, por exemplo, em Babel, 2006), Iñárritu terá gerido melhor esse equilíbrio instável entre a crueza realista e o apelo simbólico. Em todo o caso, Biutiful é um filme sobre um drama muito contemporâneo: a dificuldade de traçarmos um mapa, geográfico e afectivo, da nossa própria identidade. Em boa verdade, a personagem de Bardem somos todos nós. Isto é, ninguém.

sábado, janeiro 29, 2011

Indochine, 1982


Um dos nomes maiores da aventura pop feita em francês nos oitentas, os Indochine são hoje um nome algo esquecido. Como outros seus contemporâneos reflectiam os ecos da modernidade que chegava de pólos não muito distantes (assimilando quer a new wave inventada entre Londres e Nova Iorque e as electrónicas com alma pop que entretanto haviam partido da Alemanha para o mundo). Mas juntavam não só uma relação com a língua e a identidade francesa. E, da relação com o seu próprio nome, um interesse pelas culturas do Oriente. Aqui fica L’Aventurier, o seu primeiro single, editado em 1981.



Indochine
'L'aventurier' (1982)

Karajan, em Viena


Gravações de inícios dos anos 60 com a Orquestra Filarmónica de Viena recordam, através de sinfonias de Dvorák e Brahms, as diferenças que Karajan sublinhava no seu trabalho em Viena, contrastando com o que então pedia à Filarmónica de Berlim, que o teve como director de 1955 a 1989.

Foi na segunda metade da década de 50 que Herbert von Karajan ganhou inquestionável projecção global. Em 1955 tinha assumido a direcção da Filarmónica de Berlim. Em menos de dois anos chamava ainda a si a direcção do Festival de Salzburgo e da Ópera de Viena, mantendo ainda as suas posições junto de orquestras em Milão e Londres. Desde cedo o maestro desenvolveu uma ligação atenta (nos campos musical e empresarial) com as editoras discográficas. E se por esta altura negociou a sua passagem (juntamente com a Filarmónica de Berlim) para a Deutsche Grammophon, ao mesmo tempo renegociou com a Decca um acordo (que já existia com a Filarmónica de Viena) que lhe garantiu sólida base de trabalho. E foi pela Decca que, em inícios da década de 60 gravou as sinfonias de Brahms (na foto) e Dvorák que (re)encontramos neste disco. Respectivamente gravadas em 1962 e 65, a Sinfonia Nº 3 de Brahms e a Sinfonia Nº 8 de Dvorák são, nestas gravações, interessante memória das diferenças no modo de dirigir a orquestra que Karajan definia entre Berlim e Viena. Se, com frisa Richard Osborne no booklet desta edição, em Berlim os músicos tocavam na “beira das cadeiras” (que é como quem diz, no limite), em Viena a direcção de Karajan era mais “calma” e “menos ostensiva”, traduzindo assim a alma da orquestra. Ouve-se assim um Brahms que ecoa as memórias directas da forma como Viena teria escutada a sinfonia quando ali ganhara vida em 1883. E um Dvorák que transporta memórias de uma identidade checa expressa na música, com a qual Karajan se relacionava através de uma admiração pelo maestro Václav Talich, uma das suas fontes de inspiração.

Uma canção sobre... telefones

Discografia Kraftwerk - 31
'The Telephone Call' (single), 1987



Segundo single extraído do alinhamento de Electric Cafe, The Telephone Call expolora, por um lado, e tal como acontecera em Pocket Calculator, uma lógica de relacionamento com sons ligados ao objecto no centro das atenções (o telefone). Por outro segue uma linha melodista mais evidente, contrastando aqui com o ascetismo de Musique Non Stop. Com uma versão alternativa do mesmo tema no lado B, The Telephone Call foi dos menos bem sucedidos entre os singles dos Kraftwerk na fase posterior a 1974.



Imagens do teledisco de The Telephone Call no qual os elementos do grupo voltam a surgir em cena, devidamente acompanhados por... telefones.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

"Life in a Day": o mundo visto do YouTube




Estas são imagens do filme Life in a Day, uma experiência que reflecte de forma muito directa e, apetece dizer, muito natural, os dias que vivemos. Vale a pena recordar:
- a 6 de Julho de 2010, os irmãos Ridley e Tony Scott, através da sua produtora Scott Free, anunciaram um projecto de documentário feito a partir de contribuições de cidadãos de todo o mundo;
- o projecto convidava os participantes a enviar videos que, de alguma maneira, reflectissem o seu quotidiano, condensando a "vida num dia" (26 de Julho de 2010);
- participaram mais de 80 mil pessoas, de 140 países, que enviaram cerca de 4.500 horas de video;
- os materiais foram montados por Joe Walker, sob a direcção do realizador Kevin MacDonald: o resultado, Life in a Day, dura 95 minutos e foi estreado no Festival de Sundance;
- o filme está disponível no YouTube.

* * * * *

Que acontece, aqui, então? Dir-se-ia uma exponenciação delirante do próprio conceito fundador do YouTube: broadcast yourself.
Que é como quem diz: a personalização dos materiais que se injectam na Net surge (re)montada como um retrato do próprio planeta: todos iguais, todos diferentes.
Por um lado, esta democracia virtual gera um ecumenismo apelativo, mas inevitavelmente simplificador; por outro lado, o gosto do cinema como transfiguração das experiências correntes é algo de totalmente ausente, uma vez que, agora, essas experiências, muitas vezes na sua condição de home movies, parecem "esgotar" o próprio desejo de cinema. Em qualquer caso, por ironia ou cansaço, algo do que somos passa por aqui. Algo, sobretudo, do modo como nos representamos através de imagens e sons.

Zon: informação não disponível...

Já sabemos que, no mercado da televisão por cabo, há uma concorrência muito aguerrida entre o Meo e a Zon. Tanto melhor — tal concorrência tem servido para melhorar e diversificar serviços, valorizando as empresas e beneficiando os consumidores. Resta saber se o quotidiano corresponde às expectativas, nomeadamente aquelas que são criadas pelo "massacre" de telefonemas promocionais a que o consumidor mais incauto tem vindo a ser sujeito (e que, em boa verdade, na maior parte dos casos, só geram resistência à marca, seja ela qual for).
O precalço que aqui se regista tem a ver com a Zon (e se isso tem alguma pertinência, devo dizer que sou um cliente satisfeito da Zon). Há pelo menos 48 horas, o guia dos canais não funciona, indicando em todos eles "informação não disponível". Na prática, para além do vazio informativo, isso significa que o consumidor está impossibilitado de usar a faculdade de programação de gravações.
Entretanto, liga-se para a assistência e entra-se num labirinto perfeitamente irracional, sintomático das mais infelizes formas de marketing: uma voz gravada fai fazendo a despistagem da situação (e a palavra "despistagem" define toda uma mentalidade meramente tecnocrática), de tal modo que será preciso imensa sorte — ou uma rapidez de computador da NASA — para conseguir chegar ao fim com outra informação que não seja: quando estiver ao pé do seu aparelho, volte a ligar-nos.... Obrigado.

Ao vivo, num estúdio...


É um dos nomes de quem justificadamente mais se tem falado neste início de ano. Falamos de Anna Calvi, cujo álbum de estreia representou a primeira grande estreia de 2011. Aqui fica hoje o tema No More Words, gravado numa sessão ao vivo.

E agora a digressão...

Depois do disco, a estrada. E hoje os Duran Duran colocam à venda os bilhetes para uma digressão por salas britânicas que decorrerá entre os dias 18 de Maio e 4 de Junho. Ao todo estão para já marcadas 11 datas, passando a digressão pela O2 Arena londrina a 28 de Maio.

Reedições
Stevie Wonder, For Once In My Life


Stevie Wonder
“For Once In My Life”

Motown / Universal

3 / 5


A recente agenda de reedições colocou em cena um paradigma que “exige” que o regresso aos escaparates de discos que escreveram a história (uns mais que outros, é verdade) se faça não apenas com o som remasterizado (actualizando assim as naturais exigências da tecnologia) mas também trazendo, como a lógica DVD manda, uma multidão de extras, que podem ir de simples complementos directos em áudio a imagens de concertos, entrevistas, por aí adiante... O paradigma não é contudo regra, havendo excepções que se limitam a devolver aos nossos dias sons que só as mais atentas memórias recordavam, o mero acto de as reavivar valendo por si um motivo suficiente para justificar a reedição. É o que está neste momento a acontecer com a discografia de Stevie Wonder. Nas últimas semanas regressaram aos escaparates nacionais dois títulos seus de finais dos sessentas, um deles este For Once In My Life, de 1968. Ainda longe da definição de plenitude de uma visão autoral que se manifestaria em quatro álbuns históricos lançados entre 1972 e 76 (entre os quais o mítico Innervisions, de 1973), Stevie Wonder era contudo, já me finais dos sessentas, uma figura com notoriedade e sucesso no panorama da música soul, somando de resto vários êxitos ao longo da década em si sendo já reconhecido um dos vultos maiores do catálogo da Motown. For Once In My Life é, ainda um LP pensado como muitos o eram no seu tempo: um conjunto de canções que juntavam novas gravações aos singles que, por esses dias, se escutavam na rádio e geravam êxitos. O alinhamento junta uma série de singles editados nesse ano – além do tema título conheceram vida a 45 rotações as canções Shoo-Be-Doo-Be-Doo-Da-Dey, You Met Your Match e o belíssimo I Don’t Know Why – a uma série de novas gravações, entre as quais uma versão de Sunny e, com assinatura do próprio Stevie Wonder, Do I Love Her. Editado no mesmo ano em que completava 18 anos, o disco reflecte a consolidação de uma voz, uma relação com as formas em busca de novas ideias da música soul do seu tempo e representa o primeiro contacto do músico com um teclado analógico Clavinet, que se tornaria presença regular nas suas gravações daí em diante.

Músicas diferentes
(com histórias semelhantes)


Não se trata de exemplos de reconhecimento tardio, mas sim de obras que em vida dos seus compositores não saíram nunca do seu espaço de trabalho, alheias ao público que há muito os aclamara como grandes figuras da música do seu tempo. Duas descobertas tardias, que correspondem a estreias póstumas, dominaram assim o concerto de ontem da Orquestra Gulbenkian, sob direcção da maestrina Simone Young (programa que repete hoje, pelas 19.00).

Com rascunho que remonta aos dias de escola, em inícios dos anos 30, o Duplo Concerto, para Violino, Viola corresponde a uma das primeiras composições de Benjamin Britten, trabalhada em conjunto com a Sinfonietta (que corresponde ao seu Op. 1 “oficial”), mas preterida em detrimento desta quando uma agenda lhe deu a possibilidade de estreia, em 1933. Já composto por essa altura, sofrendo apenas pequenas alterações, o concerto permaneceria na gaveta durante o resto da vida de Britten, a sua estreia tendo ocorrido apenas em 1997, mais de 20 anos depois da sua morte, numa edição Festival de Aldebrugh (que o compositor fundou na localidade onde viveu longos anos).

Destino semelhante, mas com história diferente viveu a Sinfonia Nº 9 de Schubert. Composta pouco mais de cem anos antes dos primeiros rascunhos do concerto de Britten, a obra, que assimila ecos do universo sinfónico Beethoveniano, destinava-se a ser estreada pela Gesellschaft der Musikfreunde, de Viena. Todavia, a complexidade e a considerável extensão da sinfonia revelaram ser uma fonte de problemas, a partitura acabando arrumada sem que as ideias nela escritas se transformassem em som... Até ao dia, anos depois da morte de Schubert, em que Robert Schumann descobre o manuscrito, a estreia fazendo-se finalmente em Março de 1839.

Com afinidades nas suas histórias, mas feitas de ideias musicais consideravelmente distintas, as duas obras (juntamente com a , Serenata para Tenor, Trompa e Cordas, op. 31, novamente de Britten, esta com data de 1943 e estreia logo no mesmo ano) preencheram o programa. Com uma expressividade física que lhe é característica, Simone Young sublinhou, com a Orquestra Gulbenkian, as diferenças e contrastes entre as obras que tinha pela frente (na serenata partilhando o palco com Christoph Prégardien, tenor e Jonathan Luxton, trompa e, no duplo concerto, com a violinista Ana Beatriz Manzanilla e o violetista Pedro Saglimbeni Muñoz). Pungente e luminosa no Schubert, atenta ao detalhe e às subtilezas dos pequenos acontecimentos no Britten (sobretudo na serenata), uma direcção competente juntou assim experiências distintas num palco comum.

Pelos filmes de Sundance 2011 (4)


Foi um dos projectos de cinema de que mais se falou em 2010, tomando o mundo como cenário, qualquer um como potencial colaborador do filme e o YouTube como ferramenta de trabalho para a construção de um retrato sobre um dia na vida do planeta. Realizado por Kevin McDonald, Life In A Day é o documentário que nasce de todas essas contribuições. E integra o programa de Sundance 2011.


O novo filme de Christopher Munch, Letters From The Big Man narra a história de uma investigadora que mergulha nas florestas do Oregon para estudar os seus recursos hídricos. Sente uma presença, acabando por reconhecer um Sasquatch (figura mítica algo semelhante ao “homem das neves” tibetano). Cria-se uma ligação entre ambos, mas Sarah sabe que tem de garantir a protecção da privacidade daquele grande ser (e também a sua).


Assinado por Mark Pellington, I Melt With You é uma história de reencontro de velhos amigos. Antigos colegas nos dias da universidade, juntam-se num fim de semana para celebrar amizade que os liga e pôr a escrita em dia... Têm agora carreiras, famílias, responsabilidades, mas a reunião vai levá-los onde não esperavam e a confrontar-se com as escolhas que entretanto tomaram.

quinta-feira, janeiro 27, 2011

"Um Ano Mais": um rosto, muitos rostos


Na comoção do rosto de Lesley Manville (espantosa actriz!), observamos a peculiar energia do cinema de Mike Leigh: carnal, obsessivamente atento às convulsões do quotidiano, expondo os seres humanos para além das tipologias sociais ou dramáticas. A par de outros profissionais brilhantes, como Jim Broadbent e Ruth Sheen, Manville é uma das presenças de Um Ano Mais/Another Year, nova crónica intimista de Leigh, centrada num casal (Broadbent/Sheen) que existe como uma espécie de reduto afectivo para as mais variadas personagens à deriva no interior da sua própria história. O realismo britânico é, afinal, este misto de observação humana e arte narrativa, próximo da vontade de objectividade da televisão, mas recusando sempre a sua demagogia de símbolos e estereotipos.
Sem grande presença nos Oscars — tem "apenas" uma nomeação para melhor argumento original (do próprio Leigh) — Um Ano Mais corre o risco de ser afogado pelo marketing da contabilidade de quem tem "muitas" ou "poucas" nomeações. Seria uma pena que, também neste caso, não olhássemos à nossa volta.

Galeria Luhring Augustine: concreto & abstracto

BERNARD FRIZE
Fabia, 2007

É uma proposta da Luhring Augustine, Nova Iorque, que podemos avaliar através de algumas imagens reproduzidas no site da galeria.
Antes do mais, trata-se de organizar uma antologia de experiências abstractas, assinadas por artistas americanos e europeus — Tauba Auerbach, Bernard Frize [em cima], Wade Guyton, Albert Oehlen, Josh Smith, Daan van Golden, Charline von Heyl, Christopher Wool e Heimo Zobernig.
Em paralelo, é dado a ver um filme de Larry Clark — Tulsa (1968), 64 minutos, mudo —, recentemente encontrado pelo artista, registando os tempos cujas experiências e imagens conduziriam ao livro Tulsa (1971), referência já clássica na história da fotografia americana do século XX [fotograma em baixo].
Dir-se-ia que pressentimos o enigma perene dos olhares, confrontados com a pergunta fundadora: o que é que vemos numa imagem? Ou ainda: como é que a abstracção se concretiza na nossa visão? Ou ainda de outro modo: como é que o efeito de real instala algum desejo de abstracção?

LARRY CLARK
Tulsa, 1968

Walter Murch: porque o 3D não funciona


Roger Ebert, veterano da crítica americana que escreve no Chicago Sun-Times, foi um dos primeiros a chamar a atenção para os problemas e equívocos da nova vaga de filmes a três dimensões. Agora, Ebert apresenta um testemunho laboriosamente fundamentado para sustentar a ideia de que "o 3D não funciona nem nunca funcionará". É um testemunho de peso, já que traz a assinatura de Walter Murch [foto], notável criador nas áreas de montagem e design de som, colaborador frequente de Francis Ford Coppola, vencedor de três Oscars — melhor som para Apocalypse Now (1979), melhor montagem e melhor som para O Paciente Inglês (1996), de Anthony Minghella.
Com grande concisão, e profundo cepticismo, Murch sublinha o facto de o 3D violentar o dispositivo de visão dos seres humanos, contrariando "600 milhões de anos de evolução", para além de simplificar as verdadeiras questões narrativas e dramáticas de "imersão" numa história; isto sem esquecer que se está a obrigar o espectador a pagar bilhetes mais caros para assitir a algo que "não funciona" — está tudo no blog do crítico, escrito em forma de carta de Murch para Ebert.

>>> Site oficial de Roger Ebert.

Na cidade


Patrick Wolf tem novo teledisco. Rodado em Santa Monica (Los Angeles), The City é um festim de luz e cor, tal e qual a canção que lhe dá banda sonora (que assinala um reencontro com as formas ensaiadas em The Magic Position). O single integra o alinhamento de Lupercalia, novo álbum que tem edição agendada para Maio. Até lá o músico tem datas marcadas para concertos, alguns deles em primeiras partes de Patti Smith.

E haverá mais trabalhos para o cinema...

Trent Reznor revelou, em palavras à Hollywood Reporter, estar interessado em continuar a compor para cinema. Em parceria com Atticus Ross a alma dos Nine Inch Nails assinou recentemente a banda sonora de A Rede Social, de David Fincher, que está nomeada para os Oscares. Neste momento Reznor trabalha na música para The Girl With The Dragon Tatoo, também de David Fincher.

Novas edições:
White Lies, Ritual


White Lies
“Ritual”

Fiction / Universal

1 / 5


Ao contrário de James Bond (a quem Nancy Sinatra cantou em tempos You Only Live Twice), os revivalismos na música pop só se deviam viver uma vez em intervalos de tempo devidamente afastados entre si. Pelo menos em ciclos de dez anos não faz sentido bater duas vezes à mesma porta, tantas que são as possibilidades há por aí, e tão esgotado que por vezes fica o filão de recuerdos revisitados até mais não... E foi o que aconteceu com o reencontro com ecos (bem estimulantes, é certo) da new wave de finais de 70 e suas imediatas descendências em inícios dos oitentas que, em meados da década dos zeros colocaram no mapa pop/rock nomes como os Franz Ferdinand, Every Move A Picture, White Rose Movement, Editors, She Wants Revenge, The Bravery... Por aí adiante, muitos deles tendo tropeçado valentemente ao segundo álbum, isto sem falar na multidão de mais do mesmo em discos menores que se seguiu... Foi bom por um momento, colocando em cena um rock animado de vitaminas dançáveis, recuperando igualmente memórias dos nomes na raiz da sua identidade, dos XTC aos Wire, dos New Order aos Ultravox, dos The Cure a todos os demais nomes de uma legião então assombrada por uma vida urbana sem muita cor. Mas já passou... Os que tinham pernas para andar foram descobrindo outros caminhos, a maioria acabando todavia num modo “em repeat” que, com o tempo, acabou absolutamente inconsequente. É não há melhor palavra para descrever o monumento (bem produzido, bem gravado, mas algo estéril em novas ideias) que se apresenta no segundo álbum dos britânicos White Lies. Ritual é um disco que parece não querer largar as mesmas referências que já deram momentos felizes a bandas cuja música hoje já não entusiasma. Num mesmo comprimento de onda de uns Editors ou She Wants Revenge, voltando a insistir numa mesma tecla que há uns cinco anos já ameaçava esgotamento de soluções, os White Lies propõem um disco que não gera senão um encolher de ombros. Será preciso inventar o "futuro" a cada novo disco? É claro que não... Mas ao ao menos haja canções que justifiquem que se lhe dê atenção... Is Love teria sido hino catalisador de entusiasmo em noites indie e palcos de festivais há uns cinco anos, mas hoje parece tão igual aos “clássicos” que nesses dias outras bandas já inscreveram na memória da década dos zeros. The Power and The Glory, por seu lado, revela qualidades cénicas (na linha épica de uns Ultravox), bem mais estimulantes mas é uma excepção, não a regra. Ou seja, nem só não há grandes canções como o som de agora não passa decididamente por estes lados...

'Drei' abre hoje o Kino 2011


A edição 2011 da mostra de cinema de expressão alemã começa hoje no Cinema São Jorge (Lisboa), o programa propondo uma mão cheia de filmes de ficção e documentários até dia 4. O filme de abertura do Kino 2011 é Drei, de Tom Tykwer. O título alude directamente a uma ideia a três. Um trio, que parte de Hanna e Simon, um casal com vida conjunta há longos anos, cujo dia a dia é alterado quando ela conhece e se apaixona por Adam com quem Simon acabará também por desenvolver uma relação. Drei passa hoje, pelas 21.00 no Cinema São Jorge.

Uma apresentação global do Kino 2011 no site do Goethe Institut
A programação completa no Facebook do Kino 2011.

Entre Britten e Schubert


O Grande Auditório da Fundação Gulbenkian recebe hoje e amanhã a presença da Orquestra Gulbenkian em concertos dirigidos pela maestrina Simone Young e nos quais se assinala ainda a presença de Christoph Prégardien (tenor, na imagem), Jonathan Luxton (trompa), Ana Beatriz Manzanilla (violino) e Pedro Saglimbeni Muñoz (viola). O programa inclui a Serenata para Tenor, Trompa e Cordas, op. 31 e o Duplo Concerto, para Violino, Viola e Orquestra de Benjamin Britten e a Sinfonia nº 9, D. 944, A Grande, de Franz Schubert. Concerto hoje pelas 21.00 e amanhã às 19.00.

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Bernd Eichinger (1949 - 2011)


Foi, nas últimas décadas, um dos produtores cinematográficos alemães de maior projecção internacional: Bernd Eichinger faleceu em Los Angeles, vítima de ataque cardíaco, contava 61 anos.
No início da década de 70, começou a sua afirmação como produtor de filmes de autores do "novo cinema" alemão, nomeadamente de Wim Wenders (por exemplo, Movimento em Falso, 1975). A partir de 1979, assumindo a direcção da Constantin Films, apostou em projectos de grande dimensão que lhe abriram as portas de Hollywood — entre os mais significativos, incluiram-se Christiane F. (1982), de Uli Edel, O Nome da Rosa (1986), de Jean-Jacques Annaud, A Casa dos Espíritos (1993), de Bille August (em grande parte rodado em Portugal), e Resident Evil (2002), de Paul Anderson. A Queda (2004), de Oliver Hirschbiegel, sobre os dias finais de Adolf Hitler, foi uma das suas produções de maior impacto, tendo obtido uma nomeação para o Oscar de melhor filme estrangeiro.

>>> Obituário no New York Times.

Da Suécia...


Chegam da suécia (em concreto vivem entre Estocolmo e Malmo) e chamam-se MF / MB. Este Seconds Away é o tema principal do mais recente EP editado pelo grupo. A realização é de Nisse Axman.

Suede reeditados

Em 2010 os Suede reuniram-se para tocar ao vivo, acabando o ano ao som de um ‘best of’. Agora anunciam para 2011 a reedição dos seus cinco álbuns de originais, em todos eles devendo surgir conteúdos adicionais, entre os quais imagens inéditas em DVD.

Novas edições:
Wanda Jackson, The Party Ain't Over


Wanda Jackson
“The Pary Ain’t Over”

Nonesuch / Warner

3 / 5


Nada como os grandes admiradores com visibilidade mediática para devolver merecidas atenções a quem a deixou de ter. E ao longo da história da música popular são já muitos os exemplos de vozes que, muitas vezes já diluídas entre ecos de memórias antigas, conheceram em figuras de gerações mais novas os veículos de entusiasmo (frequentemente materializados em colaborações) que lhes permitiram assinar regressos bem sucedidos (umas vezes em episódios únicos, noutras ocasiões retomando mesmo um ritmo de trabalho mais intenso). Foi assim que em finais dos oitentas os Pet Shop Boys devolveram atenções a Dusty Springfield, pouco depois, os KLF a Tammy Wynette e, em inícios dos noventas, Kurt Cobain com as Raincoats... Ou, mais recentemente, os Animal Collective com Vashti Bunyan ou Morrissey (e outros mais) com Nancy Sinatra... E agora eis que se assinala, sob a mão de Jack White (dos White Stripes), a reentrada em cena de Wanda Jackson, a “primeira dama” do rockabilly uma das mais bem sucedidas pioneiras do rock’n’roll, com importante obra registada nos anos 50 e 60. Apesar de não conhecer notoriedade maior desde finais dos setentas (mantendo-se activa sobretudo na estrada), Wanda Jackson há muito não era alvo de tantas atenções. Na companhia de Jack White (que além de produzir o disco colabora com a sua guitarra), Wanda Jacskon apresenta aos 73 anos, em The Party Ain’t Over, um manifesto de vitalidade com sabor a toda uma vida de experiências assimiladas. Pelo disco correm canções que vão do clássico calypso Rum and Coca Cola (que as Andrews Sisters já cantavam nos anos 40) a recentes canções de Bob Dylan e Amy Winehouse, com cereja sobre o bolo no minimalista Blue Yodel #6, no qual a voz da cantora não conta senão com a companhia da guitarra de White. Longe de ser um espaço de reinvenção para a cantora (como o foi o recente disco de Nancy Sintara com Morrissey, Jarvis Cocker ou Thurston Moore, entre outros), The Party Ain’t Over devolve antes a sua voz, sem recurso a cosméticos, a músicas que são ora herdeiras directas dos seus dias de glória ora espaços onde reencontra linhas que, afinal, ajudou a definir na história do rock’n’roll. Tudo isto perante a boa ajuda, em estúdio, de elementos dos Raconteurs, My Morning Jacket ou Karen Elson.

Lady Gaga, segundo Brett Domino


Brett Domino é uma estrela pop para a era dos gadgets e das pequenas grandes ideias. O músico é na verdade uma personagem criada por Rob J Mardin, com 27 anos e natural de Leeds (Escócia). A figura de Brett Domino tem ganho projecção na Internet em vídeos nos quais apresenta versões (bem imaginativas, e muito brit) de êxitos do momento, de apanhados das canções na tabela de vendas a leituras, de fio a pavio, de temas como Sexyback de Justin Timberlake ou este Bad Romance de Lady Gaga.



Imagens da versão de Bad Romance de Lady Gaga, criada com o auxílio de um Korg Monotron e um Korg Kaossilator.

Pelos filmes de Sundance 2011 (3)


O novo filme de Miranda July integra a programação da edição deste ano de Sundance. The Future é a história de um casal que, a um mês de saber que a sua vida vai mudar com a chegada do gato que ambos vão adoptar. Decidem então viver o mês segundo regras de liberdade, largando os empregos, desligando a Internet e procurando novos interesses, acabando assim por se testar a si mesmos.


Curta metragem de Ferdinando Cito Filomarino, Diarchia é a história de dois homens em viagem e que, quando apanhados por uma tempestade, procuram abrigo na vivenda de um deles, precipitando um clima de competição. O filme é protagonizado por Louis Garrel e Riccardo Scamarcio (que recentemente vimos em Mine Vaganti, de Ozpetek).


Assinado por Maryam Keshavarz, Circumstance propõe um olhar sobre o mundo dos mais jovens na Teerão dos nossos dias. Atafeh e Shireen são duas amigas que descobrem a sua sexualidade entre a subcultura artística da cidade. O irmão de uma delas, regressado de uma desintoxicação, afasta-se do rumo na música clássica, junta-se à polícia de costumes, desaprova a relação da irmã e parte decidido em afastá-la de Shireen. O filme é uma primeira obra.

terça-feira, janeiro 25, 2011

Zero nomeações para os Oscars


Entre os filmes que não chegaram às nomeações para os Oscars incluem-se Shutter Island, de Martin Scorsese, e The Next Three Days, magnífico thriller de Paul Haggis, com Russell Crowe e Elizabeth Banks, que irá estrear entre nós, a 27 de Janeiro, com o título (muito infeliz) de 72 Horas. Não há, evidentemente, nenhuma razão "científica" para que um filme esteja (ou não esteja) nas nomeações. Em todo o caso, uma coisa é certa: cada vez mais os prémios que antecipam os Oscars parecem funcionar como um oficiosa pré-selecção... A previsibilidade que assim se instala tende a banalizar os Oscars, questionando, em última instância, o seu apelo popular.
Por curiosidade, vale a pena espreitar a lista oficial dos nomeáveis e citar oito filmes que saíram a zero do processo das nomeações.

* O ESCRITOR FANTASMA, de Roman Polanski

* GREEN ZONE, de Paul Greengrass

* GREENBERG, de Noah Baumbach

* EU AMO-TE PHILLIP MORRIS, de Glenn Ficarra e John Requa

* THE NEXT THREE DAYS, de Paul Haggis

* NOWHERE BOY, de Sam Taylor-Wood

* SHUTTER ISLAND, de Martin Scorsese

* TAMARA DREWE, de Stephen Frears