segunda-feira, janeiro 31, 2011

Novas edições:
Hercules & Love Affair, Blue Songs


Hercules & Love Affair
“Blue Songs”

Moshi Moshi

4 / 5


Em 2008 chegou com o sabor da surpresa. Falamos de Blind, o single que serviu de cartão de visita ao colectivo Hercules & Love Affair, uma aventura de alma disco, mas talhada a uma modernidade urbana e animada com as electrónicas do momento, definindo assim o mais inesperado (e eficaz) palco para a voz de Antony Hegarty. O seu era um estatuto de convidado e, sabíamos, a vida do projecto desenhado por Andy Butler (a alma de Hercules & Love Affair) teria de passar por outros caminhos... Assim aconteceu. E chegamos a 2011 com aquele que se apresenta como o sucessor de uma das mais aclamadas estreias da década dos zeros. Não como uma ideia no comprimento de onda “and now something completly diferente”. Mas Blue Songs é um disco diferente do seu antecessor. Podemos sentir a falta de Antony e da sensação de estar a viver uma ponte entre heranças do disco e o gume da invenção do som da Nova Iorque do nosso tempo (cortesia DFA, de resto, a editora que colocara em cena esse primeiro disco). Mas encontramos em seu lugar um álbum novamente capaz de encontrar no disco a raiz primordial da sua genética, apontando contudo a expressões house de finais de 80 e inícios de 90 parte importante da essência das heranças sua identidade. Se Painted Eyes, que abre o alinhamento, é festim luminoso, evocativo da festa hi-nrg em diálogo com as suas raízes disco, já My House transporta ecos deep house e abre portas aos novos destinos que o álbum revela. Boy Blue é surpreendente paisagem tranquila que até convoca uma guitarra acústica. Blue Song sugere nova tranquilidade, desta vez em regime mid tempo e com mais elaborda cenografia electrónica. I Can’t Wait vinca marcas mais claras de contemporaneidade na mais angulosa das composições electrónicas do disco. O convidado Kele Okereke visita a house dos noventas no irresistível Step Up. E, a fechar, o “clássico” da house dos oitentas, It’s Alright, de Sterling Void (que os Pet Shop Boys revisitaram em 1989), surge numa leitura que vinca as suas qualidades melodistas, dispensando aqui a força maior da arquitectura rítmica. É um disco menos imediato talvez que o álbum de 2008. Mas representa uma interessante janela de diálogos entre ecos e várias genéticas e etapas da club culture. E não lhe faltam belas canções.