sábado, janeiro 29, 2011

Karajan, em Viena


Gravações de inícios dos anos 60 com a Orquestra Filarmónica de Viena recordam, através de sinfonias de Dvorák e Brahms, as diferenças que Karajan sublinhava no seu trabalho em Viena, contrastando com o que então pedia à Filarmónica de Berlim, que o teve como director de 1955 a 1989.

Foi na segunda metade da década de 50 que Herbert von Karajan ganhou inquestionável projecção global. Em 1955 tinha assumido a direcção da Filarmónica de Berlim. Em menos de dois anos chamava ainda a si a direcção do Festival de Salzburgo e da Ópera de Viena, mantendo ainda as suas posições junto de orquestras em Milão e Londres. Desde cedo o maestro desenvolveu uma ligação atenta (nos campos musical e empresarial) com as editoras discográficas. E se por esta altura negociou a sua passagem (juntamente com a Filarmónica de Berlim) para a Deutsche Grammophon, ao mesmo tempo renegociou com a Decca um acordo (que já existia com a Filarmónica de Viena) que lhe garantiu sólida base de trabalho. E foi pela Decca que, em inícios da década de 60 gravou as sinfonias de Brahms (na foto) e Dvorák que (re)encontramos neste disco. Respectivamente gravadas em 1962 e 65, a Sinfonia Nº 3 de Brahms e a Sinfonia Nº 8 de Dvorák são, nestas gravações, interessante memória das diferenças no modo de dirigir a orquestra que Karajan definia entre Berlim e Viena. Se, com frisa Richard Osborne no booklet desta edição, em Berlim os músicos tocavam na “beira das cadeiras” (que é como quem diz, no limite), em Viena a direcção de Karajan era mais “calma” e “menos ostensiva”, traduzindo assim a alma da orquestra. Ouve-se assim um Brahms que ecoa as memórias directas da forma como Viena teria escutada a sinfonia quando ali ganhara vida em 1883. E um Dvorák que transporta memórias de uma identidade checa expressa na música, com a qual Karajan se relacionava através de uma admiração pelo maestro Václav Talich, uma das suas fontes de inspiração.