Propaganda
“A Secret Wish – 25th anniversary deluxe edition”
Salvo
4 / 5
Nas últimas semanas temos assistido a uma sucessão de reedições de títulos que evocam etapas (umas mais bem sucedidas, outras algo esquecidas) da carreira de Trevor Horn, quer como músico quer no seu visionário papel como editor, nos dias em que fez da ZTT Records uma das mais inovadoras e cativantes entre as editoras que então construiam a banda sonora dos oitentas. Mais um título regressa aos escaparates, este recordando um dos álbuns centrais na definição do som que então caracterizava a atitude pop luxuriante que era imagem de marca da ZTT Records. Trata-se de
A Secret Wish, álbum que em finais de 1985 fazia dos Propaganda um nome essencial no mapa pop do momento. O quarteto alemão já tinha chamado atenções em 1984 com um épico de alma sinfonista em
Dr. Mabuse, single de estreia que recebia um dos primeiros telediscos assinados por Anton Corbijn. Nascidos em 1982 em Düsseldorf, juntando entre outros um elemento do colectivo industrial Die Krupps e um músico com formação clássica, os Propaganda chegaram à ZTT pelas mãos de Paul Morley, acabando o seu álbum por ser contudo produzido por Steve Lipson, um dos engenheiros de som da equipa de Trevor Horn que, então, tinha em mãos a gravação do álbum de estreua dos Frankie Goes To Hollywood, a banda de maior sucesso da editora. Lipson seguiu contudo as regras da casa e assegurou que, em
A Secret Wish, os Propaganda criassem um monumento pop feito de sintetizadores e elaborada visão sinfonista. Entre peças que desafiavam a forma da canção (como
Dr. Mabuse ou
Dream Within A Dream, este usando as palavras do poema homónimo de Edgar Allan Poe),
flirts mais evidentes com a pop (em
Duel ou
P-Machinery) e uma versão de
Sorry For Laughing, dos Jospeph K,
A Secret Wish revelava uma visão característica de um tempo em que as novas possibilidades do estúdio (daí o relativo protagonismo do produtor no todo) se materializavam numa ideia nova de sofisticação na pop. O álbum acabaria por representar um final de ciclo para a banda (com epílogo em
Wishful Thinking, disco de remisturas lançado pouco depios). A banda separou-se pouco depois. Caudia Brüken gravou primeiro um disco com Thomas Leer no duo Act, depois editou a solo. Com nova formação, os Propaganda lançaram um segundo (e inconsequente) álbum em 1990… 25 anos depois de
A Secret Wish (disco que já conheceu várias reedições), uma edição comemorativa do álbum junta, num CD duplo, os temas editados nos máxis da época, assim como remisturas e mesmo inéditos, entre os quais uma suite de 20 minutos nascida em volta de
Duel… Para coleccionadores, é certo. Mas também uma janela para (re)descobrir uma ideia pop que traduz (com bons resultados, o que nem sempre aconteceu naqueles dias) um tempo de procura de novas formas no sentido oposto ao do culto da simplicidade que, dez anos antes, havia feito a revolução
punk.