Com o filme Inception, Christopher Nolan reeencontra as raízes do seu cinema e, mais concretamente, as memórias de Following e Memento — este texto foi publicado no Diário de Notícias (21 de Julho), com o título 'Um filme dentro dos nossos sonhos'.
O novo filme de Christopher Nolan, Inception/A Origem, propõe uma aventura surreal em que uma equipa de especialistas consegue viajar “dentro” de um ser humano. Vem a propósito recordar que a possibilidade de entrar num corpo é uma ideia forte de vários ramos da ficção científica, tanto literária como cinematográfica.
No cinema, podemos evocar a referência tutelar de Viagem Fantástica, produção de 1966 em que Richard Fleischer filmava um grupo de cientistas que tratavam um coágulo cerebral deslocando-se num submarino que era reduzido a proporções microscópicas e, depois, injectado na corrente sanguínea do paciente... Dois anos mais tarde, Stanley Kubrick mostrava que as máquinas também têm vísceras, encenando, no clássico 2001: Odisseia no Espaço, o célebre e dramático ritual em que eram desligadas as peças da memória do computador Hal 9000.
A Origem filia-se nessa tradição, mas com uma diferença bem sugestiva. Assim, o argumento do filme (escrito pelo próprio Nolan) segue as actividades de um grupo de “técnicos”, ao mesmo tempo cientistas e agentes secretos, que possuem máquinas que lhes permitem “entrar” nos sonhos de outras pessoas. Dir-se-ia uma variação futurista sobre o modelo policial de Missão Impossível: enquanto personagens dos sonhos, eles podem “depositar” ou “implantar”, não objectos, mas... ideias!
Não se trata, portanto, de alterar as componentes orgânicas do corpo ou deixar um qualquer objecto (um chip) que desencadeie alterações fisiológicas e comportamentais. Agora, tudo se passa em paisagens oníricas, verdadeiras heranças fílmicas de Sigmund Freud: as coisas enredam-se ainda mais quando alguém sonha que está a sonhar... ou ainda quando o líder do grupo (Leonardo DiCaprio) reencontra, sonhando, a sua mulher (Marion Cotillard).
Na história das grandes aventuras espirituais dos tempos modernos, A Origem vem ocupar um lugar que o coloca em ligação directa com a trilogia Matrix (1999-2003), assinada pelos irmãos Wachowski. São, todos eles, filmes que trabalham a partir de um desencantado pressuposto: o de que, com as novas tecnologias ligadas à chamada realidade virtual, o ser humano perdeu as certezas ancestrais sobre as fronteiras que separam o “real” e o “imaginário”, o “carnal” e o “virtual”.
Ao mesmo tempo, Nolan reencontra, aqui, as raízes do seu próprio cinema, nomeadamente de Memento (2000), thriller centrado num homem que lutava contra o facto de perder a memória dos eventos que tinham acontecido poucos momentos antes... Vale a pena lembrar que, antes de Memento, Nolan filmara Following (1998), história de um escritor que se torna cúmplice de um homem misterioso que segue longamente as pessoas cujas casas quer assaltar: esse homem chamava-se Cobb; em A Origem, a personagem de Leonardo DiCaprio chama-se... Cobb.
O novo filme de Christopher Nolan, Inception/A Origem, propõe uma aventura surreal em que uma equipa de especialistas consegue viajar “dentro” de um ser humano. Vem a propósito recordar que a possibilidade de entrar num corpo é uma ideia forte de vários ramos da ficção científica, tanto literária como cinematográfica.
No cinema, podemos evocar a referência tutelar de Viagem Fantástica, produção de 1966 em que Richard Fleischer filmava um grupo de cientistas que tratavam um coágulo cerebral deslocando-se num submarino que era reduzido a proporções microscópicas e, depois, injectado na corrente sanguínea do paciente... Dois anos mais tarde, Stanley Kubrick mostrava que as máquinas também têm vísceras, encenando, no clássico 2001: Odisseia no Espaço, o célebre e dramático ritual em que eram desligadas as peças da memória do computador Hal 9000.
A Origem filia-se nessa tradição, mas com uma diferença bem sugestiva. Assim, o argumento do filme (escrito pelo próprio Nolan) segue as actividades de um grupo de “técnicos”, ao mesmo tempo cientistas e agentes secretos, que possuem máquinas que lhes permitem “entrar” nos sonhos de outras pessoas. Dir-se-ia uma variação futurista sobre o modelo policial de Missão Impossível: enquanto personagens dos sonhos, eles podem “depositar” ou “implantar”, não objectos, mas... ideias!
Não se trata, portanto, de alterar as componentes orgânicas do corpo ou deixar um qualquer objecto (um chip) que desencadeie alterações fisiológicas e comportamentais. Agora, tudo se passa em paisagens oníricas, verdadeiras heranças fílmicas de Sigmund Freud: as coisas enredam-se ainda mais quando alguém sonha que está a sonhar... ou ainda quando o líder do grupo (Leonardo DiCaprio) reencontra, sonhando, a sua mulher (Marion Cotillard).
Na história das grandes aventuras espirituais dos tempos modernos, A Origem vem ocupar um lugar que o coloca em ligação directa com a trilogia Matrix (1999-2003), assinada pelos irmãos Wachowski. São, todos eles, filmes que trabalham a partir de um desencantado pressuposto: o de que, com as novas tecnologias ligadas à chamada realidade virtual, o ser humano perdeu as certezas ancestrais sobre as fronteiras que separam o “real” e o “imaginário”, o “carnal” e o “virtual”.
Ao mesmo tempo, Nolan reencontra, aqui, as raízes do seu próprio cinema, nomeadamente de Memento (2000), thriller centrado num homem que lutava contra o facto de perder a memória dos eventos que tinham acontecido poucos momentos antes... Vale a pena lembrar que, antes de Memento, Nolan filmara Following (1998), história de um escritor que se torna cúmplice de um homem misterioso que segue longamente as pessoas cujas casas quer assaltar: esse homem chamava-se Cobb; em A Origem, a personagem de Leonardo DiCaprio chama-se... Cobb.