quinta-feira, maio 07, 2009

7 x Anne Sofie von Otter (5)

Enquanto aguardamos o lançamento do novo Bach de Anne Sofie von Otter (com cantatas e árias), sugerimos uma breve deambulação pela sua dis-cografia, celebrando a delicada sofisticação e os espantosos contrastes da mezzo-soprano sueca.

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Na trajectória artística de Anne Sofie, a pop, mais do que uma alternativa perfeitamente coerente, é uma tentação ambígua. Que é como quem diz: ela acede às suas componentes, não renegando as suas singularidades de cantora lírica mas, por assim dizer, exponenciando-as. A materialização mais desconcertante de tal atitude está em I Let the Music Speak (2006), com canções dos Abba. Em 2001, todavia, com For the Stars, ela já tinha tornado bem explícita a sua vontade de não se deixar encerrar num estatuto "clássico", alheio à mais simples e contagiante emoção das... canções. Neste caso, o cúmplice de tão sublime heterodoxia é Elvis Costello, também ele viajante de muitos estilos e experimentador de outras tantas máscaras. Apesar de conter algumas canções assinadas por Costello — incluindo o tema-título, um dos duetos do álbum —, não se pode dizer que este seja um mero encontro da cantora com a obra do compositor. Desde logo porque o alinhamento é deliciosamente variado, incluindo Go Leave, de Kate McGarrigle (exactamente: a mãe de Rufus Wainwright), For No One (uma pérola de Lennon/McCartney) e Take It With Me (de Tom Waits & Kathleen Brennan). Mas sobretudo porque o "Von Otter meets Costello" do título simboliza, de facto, uma aposta na celebração de um romanesco disperso por diversos estilos e autores. Como sinal premonitório de I Let the Music Speak, o álbum integra Like an Angel Passing Through My Room, tema dos Abba (do derradeiro álbum de estúdio, The Visitors, lançado em 1981), momento da mais depurada beleza.

>>> VON OTTER MEETS COSTELLO, For the Stars.