Enquanto aguardamos o lançamento do novo Bach de Anne Sofie von Otter (com cantatas e árias), sugerimos uma breve deambulação pela sua dis-cografia, celebrando a delicada sofisticação e os espantosos contrastes da mezzo-soprano sueca.
[1]
Como muitos artistas alemães que abandonaram o seu país para escapar às perseguições nazis, Kurt Weill (1900-1950) acabou por ser autor de um corpo de música que, por assim dizer, foi integrando os sentimentos dos lugares por onde passou (Paris, Londres, Nova Iorque), sem alienar as componentes primordiais das suas raízes. A selecção proposta por Anne Sofie data de 1995 e começa pelos obrigatórios Sete Pecados Mortais, o "ballet cantado" com libretto de Bertolt Brecht, passando por preciosidades como Nanna's Lied, desembocando em três temas do musical One Touch of Venus (estreado na Broadway, em 1943), com letras de Ogden Nash — são eles: Foolish Heart, Speak Low e, por fim, o sublime I'm a Stranger Here Myself. O resultado conserva, como uma espécie de subtexto vocal, uma permanente tentação pelo ambiente tradicional de cabaret, sublinhando, afinal, o carácter paradoxal da escrita de Weill: o sentido da parábola política ou o gosto da metáfora existencial coexistem sempre com os sobressaltos de uma calculada ironia, tanto mais aguda nos seus efeitos quanto mais delicada nas suas formas. Se, na discografia da cantora, há um primeiro disco que prenuncia todas as formas de contaminação entre "alta" e "baixa" cultura, é este, sem dúvida.
>>> KURT WEILL, Speak Low.
[1]
Como muitos artistas alemães que abandonaram o seu país para escapar às perseguições nazis, Kurt Weill (1900-1950) acabou por ser autor de um corpo de música que, por assim dizer, foi integrando os sentimentos dos lugares por onde passou (Paris, Londres, Nova Iorque), sem alienar as componentes primordiais das suas raízes. A selecção proposta por Anne Sofie data de 1995 e começa pelos obrigatórios Sete Pecados Mortais, o "ballet cantado" com libretto de Bertolt Brecht, passando por preciosidades como Nanna's Lied, desembocando em três temas do musical One Touch of Venus (estreado na Broadway, em 1943), com letras de Ogden Nash — são eles: Foolish Heart, Speak Low e, por fim, o sublime I'm a Stranger Here Myself. O resultado conserva, como uma espécie de subtexto vocal, uma permanente tentação pelo ambiente tradicional de cabaret, sublinhando, afinal, o carácter paradoxal da escrita de Weill: o sentido da parábola política ou o gosto da metáfora existencial coexistem sempre com os sobressaltos de uma calculada ironia, tanto mais aguda nos seus efeitos quanto mais delicada nas suas formas. Se, na discografia da cantora, há um primeiro disco que prenuncia todas as formas de contaminação entre "alta" e "baixa" cultura, é este, sem dúvida.
>>> KURT WEILL, Speak Low.