segunda-feira, agosto 11, 2008

Violência dos blogs (5)

GOTTFRIED HELNWEIN Proof of Evolution (1993)

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Lembro-me de ler um comentário de um visitante de um blog que se insurgia contra o ponto de vista do autor do próprio blog sobre um determinado livro. "Insurgia" é um delicado eufemismo... Na verdade, discordando desse ponto de vista, não só não desenvolvia o seu como se atrevia a insultar o autor do blog, sendo a acusação de "leviandade" a mais branda. Para que a violência fosse completa, terminava acusando ainda o mesmo autor de não saber jogar o jogo democrático das opiniões. E isto porquê? Porque aquele espaço era um espaço democraticamente aberto!
Seria uma caricatura divertida, se fosse uma excepção. Mas não: tende a ser a regra — há cada vez mais viajantes dos blogs que definem o espaço em que se exprimem como um cenário de guerra, uma guerra que eles próprios montaram e que, entre outras coisas, implica que os outros não possam usar armas... Tudo isso sancionado por uma "justiça" virtual em que eles, visitantes, por vezes também autores, acumulam as funções de legisladores, advogados e juízes.
Estamos perante uma verdadeira tragédia comunicacional: passou a existir um "colectivo" — sem rosto, disforme, mas coeso na sua agressividade — formado numa concepção selvagem do diálogo, confundindo o confronto democrático com a possibilidade de achincalhar o seu semelhante.
Dir-se-á que os internautas de bom senso sabem distinguir as coisas e, acima de tudo, não embarcar nesse tipo de práticas. Mas essa é uma visão piedosa. Pior do que isso: é uma visão que dispensa a intervenção — directa, constante, elaborada — dos que não querem que a esfera bloguista funcione como uma teia de emboscadas e golpes baixos.
Passa-se algo de semelhante com a chamada imprensa "cor de rosa". É verdade que a esmagadora maioria dos jornalistas não se reconhece nos seus valores, mas pergunta-se: por que é que esse não reconhecimento se ouve (e escreve) tão pouco? A noção segundo a qual os valores democráticos se "auto"-regulam é uma ingenuidade que, todos os dias, abre todos os caminhos à irresponsabilidade virtual.