[1] [2] [3]
Gostaria de voltar à questão do anonimato nos blogs. Sobretudo porque a sua conceptualização foi insuficiente e, afinal de contas, incorrecta.
Tenho até dúvidas que a palavra “anonimato” seja uma boa palavra. De facto, um qualquer “Zacarias Lopes” (com o devido respeito pelos “Zacarias” e “Lopes” do ciberespaço) pode escrever no seu blog qualquer coisa como: “Fulano de tal é uma besta” (convenhamos que, face à degradação do espaço bloguista, o exemplo não tem nada de exagerado). O dito “Zacarias Lopes” assinará “Zacarias Lopes” — que, por feliz coincidência, é mesmo o seu nome — e é muito bem capaz de se pôr aos gritos para nos esclarecer que democracia é… assim: “Fulano de tal é uma besta” e… eu vou democraticamente dar uma volta.
Acontece que, de facto, a questão do “anonimato”, enquanto tal, não permite esgotar o problema que aqui se manifesta. E que problema é esse? Tem a ver com algo que o anonimato tende a favorecer, mas que, mesmo sem anonimato, se revela um cancro comunicacional ainda mais grave — é o da des-responsabilização automática dos emissores de mensagens.
Como contrariar semelhante arbitrariedade? Lembrando que o simples facto de utilizarmos um espaço que é sempre público nos obriga a satisfazer alguma ordem interna desse mesmo espaço. Dito de outro modo: é preciso manter uma identidade de inter-locução com os outros. Onde começa essa identidade? Na simples arte de argumentar, precisamente essa que, garantem-nos alguns milénios de história, distingue os seres humanos.
Claro que semelhante princípio atrai sempre a inanidade militante que levará à pergunta: “Então se for uma figura pública a escrever ‘fulano de tal é uma besta’, já é legítimo?” Não, não é legítimo. É até duplamente mais grave, quanto mais não seja porque retira legitimidade a alguém que, publicamente, a teria. Só que isso não é razão para defendermos a ideia de que qualquer cidadão mal disposto utilize impunemente o seu blog para sustentar “argumentos” que nem sequer teriam força numa banalíssima conversa de café — a legitimidade não é um estatuto intocável e abstracto, mas sim uma dimensão muito concreta que se constrói (ou destrói) palavra a palavra, texto a texto.
Se nos lembrarmos que este tipo de violência (“fulano de tal é uma besta”) se pode dispersar pelos blogs com a facilidade de um vírus, então podemos compreender aquilo que temos pela frente — com anonimato ou sem ele, esta é uma ditadura da irresponsabilidade virtual.
Gostaria de voltar à questão do anonimato nos blogs. Sobretudo porque a sua conceptualização foi insuficiente e, afinal de contas, incorrecta.
Tenho até dúvidas que a palavra “anonimato” seja uma boa palavra. De facto, um qualquer “Zacarias Lopes” (com o devido respeito pelos “Zacarias” e “Lopes” do ciberespaço) pode escrever no seu blog qualquer coisa como: “Fulano de tal é uma besta” (convenhamos que, face à degradação do espaço bloguista, o exemplo não tem nada de exagerado). O dito “Zacarias Lopes” assinará “Zacarias Lopes” — que, por feliz coincidência, é mesmo o seu nome — e é muito bem capaz de se pôr aos gritos para nos esclarecer que democracia é… assim: “Fulano de tal é uma besta” e… eu vou democraticamente dar uma volta.
Acontece que, de facto, a questão do “anonimato”, enquanto tal, não permite esgotar o problema que aqui se manifesta. E que problema é esse? Tem a ver com algo que o anonimato tende a favorecer, mas que, mesmo sem anonimato, se revela um cancro comunicacional ainda mais grave — é o da des-responsabilização automática dos emissores de mensagens.
Como contrariar semelhante arbitrariedade? Lembrando que o simples facto de utilizarmos um espaço que é sempre público nos obriga a satisfazer alguma ordem interna desse mesmo espaço. Dito de outro modo: é preciso manter uma identidade de inter-locução com os outros. Onde começa essa identidade? Na simples arte de argumentar, precisamente essa que, garantem-nos alguns milénios de história, distingue os seres humanos.
Claro que semelhante princípio atrai sempre a inanidade militante que levará à pergunta: “Então se for uma figura pública a escrever ‘fulano de tal é uma besta’, já é legítimo?” Não, não é legítimo. É até duplamente mais grave, quanto mais não seja porque retira legitimidade a alguém que, publicamente, a teria. Só que isso não é razão para defendermos a ideia de que qualquer cidadão mal disposto utilize impunemente o seu blog para sustentar “argumentos” que nem sequer teriam força numa banalíssima conversa de café — a legitimidade não é um estatuto intocável e abstracto, mas sim uma dimensão muito concreta que se constrói (ou destrói) palavra a palavra, texto a texto.
Se nos lembrarmos que este tipo de violência (“fulano de tal é uma besta”) se pode dispersar pelos blogs com a facilidade de um vírus, então podemos compreender aquilo que temos pela frente — com anonimato ou sem ele, esta é uma ditadura da irresponsabilidade virtual.