Michelangelo Frammartino
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Neste tempo de artifícios desregrados, ignorantes da ligação do prazer do simulacro à pulsação do real, que bom que é reencontrar a vontade primitiva dos Lumière. A saber: redescobrir e, num certo sentido, reinventar o cinema como instrumento prático para dar a ver o que não conhecemos. Michelangelo Frammartino, autor desse filme misterioso e envolvente que é As Quatro Voltas (2010), revisita a Itália da década de 1960, marcada por uma "revolução" económica de obscena ostentação — construía-se o mais alto edifício do mundo como símbolo da prosperidade do Norte do país —, encenando a odisseia de um grupo de espeleólogos que, mais ao Sul, na região da Calábria, exploram pela primeira vez aquela que é tida como a gruta mais funda (700 metros) do continente europeu. A pulsação documental tem tanto de intenso como de detalhado, mas está longe de esgotar o verdadeiro milagre de imagens e sons que Frammartino nos oferece: esta é uma aventura, rara e concisa, do espírito de descoberta do ser humano que, por assim dizer, se duplica no próprio exercício cinematográfico que nos é dado partilhar — se os balanços de fim de ano exigem que definamos uma hierarquia de valor (mesmo sabendo da sua imprecisão e futilidade), então digamos que, no mercado português, Das Profundezas pode exibir o rótulo de melhor filme de 2022.
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