A. O desporto é essencial na formação física, social e afectiva dos jovens? — claro que sim.
O futebol, desporto global por excelência, pode ser um terreno privilegiado dessa formação? — ninguém duvida de tal potencialidade.
O futebol, não anulando, antes reforçando, pode contribuir para um equilíbrio dinâmico entre uma educação capaz de cruzar todos os domínios de aprendizagem, desde o desporto até ao universo literário? — sem dúvida, e ainda bem que tal pode acontecer.
B. Nada disso impede, todavia, que se repare na continuada utilização do universo futebolístico como modelo dominante, tendencialmente único, de formação de crianças e adolescentes. No limite, o futebol surge mesmo — social & mediaticamente — como principal território de definição, conquista e afirmação da identidade nacional.
C. Observe-se o valor sintomático desta capa da revista da Federação Portuguesa de Futebol, celebrando a vitória da selecção portuguesa no Europeu de Futsal: a evocação das imagens dos protagonistas ("14 heróis", diz a legenda) enquanto cidadãos infantis instala um determinismo fechado — nasce-se para jogar futebol/futsal e, desse modo, conseguir o "sucesso que Portugal há tanto perseguia". É este o nosso sistema dominante de educação. E não se vislumbra nenhum partido político, entre direitas e esquerdas, disponível para reflectir sobre o assunto. Nem mesmo para tentar nomear a complexidade das suas componentes.