1. Quem pensou no assunto, ensinou-nos que os limites da linguagem que usamos definem os limites do nosso mundo.
2. A palavra arte, por exemplo, reentrou de rompante no quotidiano português por causa das discussões em torno dos subsídios estatais a determinadas actividades artísticas, em especial o teatro.
3. Poucos dias depois, a mesma palavra arte está em tudo o que é jornal, televisão, site ou blog para definir um golo marcado por Cristiano Ronaldo — uma "obra de arte", escreve-se, diz-se.
4. No primeiro caso, a palavra arte surge como um contratempo que vem perturbar a pacatez do nosso quotidiano; no segundo, a mesma palavra projecta-nos num espaço eufórico e libertador que, escreve-se, diz-se, nos torna melhores como portugueses.
5. Não vejo os nossos políticos a questionar esta duplicidade da palavra arte — o que pode levar a supor que não querem pensar nisso ou, talvez, não sabem como pensá-lo. E que vivem bem com esses limites da sua própria linguagem.