Se é verdade que há sempre algum título maldito na obra dos grandes cineastas, Beloved/Amada (1998) desempenha esse papel na filmografia de Jonathan Demme. Inspirado no romance de Toni Morrison, nele se encenam as tragédias da escravatura, através de uma arquitectura em que, tal como no livro, realismo e sonho se entrecruzam constantemente. Certamente não por acaso, o espaço, mesmo nos momentos de perturbante quietude, existe sempre ameaçado — como neste fotograma em que o desespero da personagem de Oprah Winfrey transcende os limites do enquadramento que a integra. Foi o maior falhanço comercial da carreira de Demme, talvez apenas porque os espectadores nem sempre sabem aceitar que alguém seja tão directo e depurado, ignorando as soluções narrativas de boa consciência.