terça-feira, janeiro 31, 2017

As elegias de Theo Bleckmann


Com uma já vasta obra em disco que recua ao início dos anos 90 Theo Bleckmann conquistou atenções maiores (chamando novos públicos para além dos mais atentos seguidores do jazz) através de uma série de edições que lançou através da Winter & Winter entre 2006 e 2012. Durante essa meia dúzia de anos tanto visitou o repertório de musicais como mergulhou entre as canções de Charles Ives ou fez de Hello Earth! - The Music of Kate Bush (2012) uma espantosa viagem através de canções de Kate Bush.

O caráter raro do timbre e das capacidades de desenho melódico do seu canto chamaram atenções, sobretudo junto de quem procura qualidades diferentes e desafiantes na voz. Meredith Monk chamou-o a dois discos seus: Mercy (2002) e Impermanence (2007). E mais recentemente a pianista Julia Hülsmann partilhou consigo o álbum A Clear Midnight (Kurt Weill And America) (2015). Destas três colaborações com o catálogo da ECM nasceu uma nova etapa de trabalho da qual este seu disco é um primeiro exemplo, representando assim este novo Elegy a estreia, em nome próprio, do cantor na etiqueta alemã.

Theo Bleckmann não está só em Elegy. Conta aqui com a colaboração de Shai Maestro (piano), Ben Monder (velho colaborador seu, na guitarra), Chris Tordini (contrabaixo) e John Hollenbeck (bateria), a "ambient band" como o cantor lhe chama. O álbum inclui sobretudo composições suas, mas junta uma espantosa abordagem a Comedy Tonight de Stephen Sondheim que nos recordam da excelência de incursões anteriores por territórios semelhantes. Elegy, por onde se cruzam canções e peças instrumentais que abordam os espaços da morte e da transcendência, é um disco que parte também para além das fronteiras do jazz, embora não lhe queira fugir. E basta escutar a belíssima canção "ambient" que se apresenta em To Be Shown to Monks at a Certain Temple para reconhecer como confluem aqui experiências, memórias, referências, que depois buscam o seu caminho segundo a liberdade que a voz concede à interpretação e o ensemble depois tão bem sabe seguir. Um contraste semelhante habita no confronto entre as qualidades fúnebres das temáticas e as tonalidades luminosas com que as composições depois tudo transformam. E, sim, a voz de Theo Blackman é aqui a razão que tudo une e faz corpo coerente.