Estreado em 1938, o oratório Jeanne d'Arc au Bûcher, de Arthur Honegger, é uma daquelas obras corais que há muito transcendeu qualquer contexto histórico ou registo "especializado": a sua encenação da tragédia de Joana d'Arc, a partir de libretto de Paul Claudel, possui uma energia enraizada em contrastes formais e ousadias estruturais que lhe conferem a dimensão paradoxal de um acontecimento em que o depurado classicismo se confunde com um sereno experimentalismo. E tanto mais quanto a música e o canto envolvem alguns papéis falados.
Em anos recentes, Marion Cotillard tem sido uma das mais prodigiosas intérpretes da Joana d'Arc de Honegger, expondo uma nudez emocional alicerçada num comovente pudor. Agora, num registo com a Orquestra Sinfónica Nacional de Barcelona & Catalunha, sob a direcção de Marc Soustrot, podemos descobrir uma interpretação fora de série em que Cotillard emerge numa composição absolutamente sublime — eis alguns breves extractos de tão rara performance, incluindo os impressionantes momentos finais.