Tubarão, de Steven Spielberg, o primeiro dos modernos blockbusters, completou 40 anos — este texto integrava um dossier sobre a efeméride, publicado no Diário de Notícias (21 Junho).
Hoje em dia, passou a ser normal que a saga de um super-herói seja lançada no mercado americano em 4 mil salas (ou numa centena, num pequeno país como Portugal). Em boa verdade, essa é uma história que começa com o filme Tubarão. No dia 20 de Junho de 1975, a sua colocação em 409 salas dos EUA ensaiava uma nova opção na dinâmica comercial de Hollywood (duas semanas mais tarde, o sucesso fez aumentar o número de ecrãs para 464; em finais de Julho, o filme estava em 675 cinemas).
Era o arranque da idade dos blockbusters, domínio impossível de definir a partir de um conceito temático, muito menos formal. Para o melhor ou para o pior, o blockbuster não é um sucedâneo da estrutura clássica de géneros (comédia, musical, western, etc.). A sua especificidade começa (e, de alguma maneira, acaba) na estratégia de difusão que o sustenta: promoção maciça, ocupação automática de uma grande fatia do mercado de exibição (a partir de certa altura, a nível global, com estreias simultâneas desde Nova Iorque até Pequim), enfim, aposta numa rentabilização em que as duas ou três primeiras semanas de exibição são decisivas.
Ironicamente, a par de George Lucas ou Steven Soderbergh, o próprio Steven Spielberg é uma da personalidades de Hollywood que, em tempos recentes, tem chamado a atenção para o desenvolvimento perverso da economia dos blockbusters. Segundo ele, existe a possibilidade muito real de esgotamento (“implosão”, foi a palavra que aplicou) de um modo de produção dependente de regras impostas por um marketing pouco ou nada sensível às particularidades conceptuais e artísticas de cada projecto. Exemplo esclarecedor: o seu Lincoln (2012) deparou com muitas dificuldades de financiamento, tendo passado por uma fase em que parecia “obrigado” a transformar-se em mini-série televisiva.
Vale a pena lembrar que Lincoln foi feito com 65 milhões de dólares, valor obviamente astronómico para a maior parte das cinematografias, mas pouco mais que mediano no contexto de Hollywood. Afinal, o recente Vingadores: a Era de Ultron custou 250 milhões... De acordo com as estatísticas industriais, isso significa que pelo menos metade desse valor (125 milhões) foi gasta em publicidade.