segunda-feira, junho 29, 2015

Elvis, Nixon e a Amazon

Michael Shannon e Kevin Spacey
Para além da singularidade do seu tema, o filme Elvis & Nixon vai ser distribuído pela Amazon! — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 Junho), com o título 'Filme “Elvis & Nixon” será distribuído pela Amazon'.

Decididamente, no plano cinematográfico, as histórias estão mesmo a mudar. Ou melhor, a maneira de as contar. Ou ainda, os circuitos da sua difusão. O mais recente sintoma de tais convulsões tem a ver com a notícia (revelada em primeira mão pela revista Variety) da chegada ao mercado de um novo filme sobre um célebre encontro de Elvis Presley com o Presidente Richard Nixon, ocorrido a 21 de Dezembro de 1970 — chama-se Elvis & Nixon e será distribuído nas salas de cinema pela Amazon.
Antes mesmo de evocarmos o insólito fascínio do tema proposto, importa sublinhar esta novidade: com Elvis & Nixon, a Amazon, através da sua empresa Amazon Studios, vai estrear-se na distribuição de filmes em sala. Seria, talvez, um passo pouco verosímil quando, em 2010, começou a funcionar o chamado Amazon Instant Video. De facto, o projecto parecia ter como conceito fundamental a criação de conteúdos próprios que, combinados com produtos de outras origens, sustentariam um serviço de streaming apostado em concorrer com plataformas, também de origem americana, como a Netflix e a Hulu.
Na prática, as séries originais com chancela da Amazon (Bosch, Transparent, Mozart in the Jungle, etc.) foram coexistindo com outras séries e, por fim, com muitos filmes. Actualmente, por exemplo, na secção de títulos em promoção no Amazon Instant Video (abaixo de 5 dólares), encontramos coisas tão diversas como As Cinquenta Sombras de Grey, O Jogo da Imitação ou Sniper Americano.
Realizado por Liza Johnson, Elvis & Nixon despertou o interesse de muitos compradores no último Mercado do Filme de Cannes (realizado em paralelo com o festival que decorreu de 13 a 24 de Maio). Em primeiro lugar, pelo carácter lendário do encontro entre o Rei do Rock e o Presidente que viria a estar envolvido no escândalo Watergate: Elvis solicitou uma audiência a Nixon para lhe pedir que o integrasse, como um agente disfarçado, nas brigadas de combate ao narco-tráfico... Depois, porque o filme apresenta dois nomes muito fortes nos papéis centrais: Nixon é interpretado por Kevin Spacey (actualmente também um Presidente dos EUA, embora fictício, na série House of Cards), sendo Elvis assumido por Michael Shannon (nomeado para o Oscar de melhor actor secundário em 2009, pela sua composição em Revolutionary Road, de Sam Mendes).
A opção da Amazon, assumindo-se como entidade distribuidora “clássica”, é elucidativa de uma certa diluição de fronteiras que se pode observar em vários domínios da difusão do audiovisual (salas, televisões, ecrãs de computador...). Além do mais, a Amazon está também a alargar a sua produção, tendo já estabelecido acordos para os próximos filmes de Terry Gilliam e Jim Jarmusch. O caso de Gilliam é tanto mais significativo quanto lhe vai permitir concretizar o projecto de The Man Who Killed Dom Quixote que o acompanha há cerca de duas décadas.