A notícia da morte de Maria Nobre Franco [DN] arrasta essa ilusão cruel com que observamos os que nos são queridos: ela era uma daquelas pessoas votadas à eternidade e, mesmo através de longas ausências, esperávamos sempre voltar a vê-la num encontro marcado ou apenas, algures, nos ziguezagues a que a agitação diária nos compele.
Não posso dizer que a conheci intimamente, nem tenho a pretensão de evocar aqui em pormenor a sua dedicação às artes, sua defesa e promoção, primeiro como fundadora e directora da Galeria Valentim de Carvalho, depois na direcção do Sintra Museu de Arte Moderna - Coleção Berardo. Conhecia-a através do Fernando Lopes que, com a objectividade que o distinguia, me explicava que a Maria pertencia, por direito próprio, à história do cinema português das décadas de 1960/70 e que, sem ela, nunca teria feito o seu filme Uma Abelha na Chuva (1972). E não esqueço que, amavelmente, acedeu a registar uma breve conversa comigo, no âmbito do trabalho para um filme sobre o Fernando.
Retenho, sobretudo, a sua alegria de ver e pensar. E o modo como daí emanava uma admirável capacidade de escuta, raridade sempre tocante e enriquecedora. Era uma daquelas pessoas que nos ajuda a olhar o mundo à nossa volta, ensinando-nos a não desesperarmos demasiado dos outros e também, talvez sobretudo, de nós próprios — sei que não a vou esquecer.