1. Veja-se o panorama das revistas de televisão em Portugal. Uma regular observação dos seus conteúdos e, em particular, das suas capas, conduz-nos a uma grande questão política (que a cobardia intelectual da nossa classe política continua a evitar): porque é que a cultura televisiva portuguesa existe, há décadas, submetida à ditadura da telenovela e ao culto indigente dos "famosos"?
2. Tem de ser assim? Não, não tem — tudo resulta de escolhas. Eis um belíssimo contra-exemplo: esta semana, em França, a Télérama, uma genuína publicação popular sobre televisão, destaca nada mais nada menos que o génio e, mais especificamente, a "lenda" de Roland Barthes (1915-1980), autor de livros como Mitologias e O Prazer do Texto. O pretexto são as comemorações do centenário de Barthes, em particular uma exposição na Biblioteca Nacional e a edição de uma monumental biografia assinada por Tiphaine Samoyault.
3. Não é uma questão de quotas, entenda-se. Não se trata de dizer que deve haver um número x ou y de capas sobre estes ou aqueles "temas". É uma questão de opções, justamente — há formas de cultura popular, ou melhor, modelos populares de cultura que não desistiram da pluralidade do mundo e, sobretudo, prezam a inteligência dos leitores, espectadores & cidadãos.