Nuno Sousa (UCI Cinemas) |
11, 12 e 13 de Maio: a Festa do Cinema (com bilhetes a 2,5 €, em todas as salas do país) aposta num relançamento do gosto de ir às salas escuras — esta entrevista foi publicada no Diário de Notícias (10 Maio), com o título "Acreditamos que é possível triplicar a frequência habitual".
Nos bastidores das salas da UCI Cinemas (El Corte Ingles, Lisboa), Nuno Sousa, director de operações da empresa, aponta com ironia para algumas pontas de película de 35 mm — é, de facto, um material que se tornou raro, sendo a UCI um dos poucos casos de preservação de algumas máquinas tradicionais de projecção, hoje em dia substituídas pelos projectores digitais. Lembra mesmo que “a digitalização dos cinemas implicou níveis de investimento brutais, favorecendo uma notável qualidade de imagem e som, tendo sido o nosso mercado um dos primeiros a ser totalmente digitalizado”.
Na sua qualidade de representante dos exibidores na organização da Festa do Cinema, Nuno Sousa sublinha o pragmatismo do evento, em particular através da redução do preço dos bilhetes durante os seus três dias: “Num contexto social especialmente difícil e complexo, marcado pelas dificuldades financeiras e pela alteração de muitos hábitos de consumo, distribuidores e exibidores devem ir ao encontro do próprio espectador”. E a Festa é isso mesmo: “uma reacção de todos os agentes do mercado”.
É um facto que os anos recentes têm sido marcados por um decréscimo regular do número de bilhetes vendidos. A tradicional “ida ao cinema com toda a família” deixou mesmo de ser uma “prioridade”. Ainda assim, não deixa de referir que “estamos de novo num contexto de recuperação de espectadores”, facto a que, nos últimos meses, não será estranho o impacto de títulos como As Cinquenta Sombras de Grey e Velocidade Furiosa 7. Mais ainda: há sinais que permitem concluir que se assiste a um retorno mais sistemático de pessoas que têm pertencido ao “público não regular de cinema”.
A Festa do Cinema tem como inspiração os modelos de França e, sobretudo, de Espanha. Como recorda Nuno Sousa, “o modelo francês é mais antigo e tem a ver com um mercado que sempre soube proteger o produto nacional”. Com o passar dos anos, o caso espanhol (curiosamente, este ano, coincidindo com as datas de Portugal) tem conseguido multiplicar por cinco ou seis a frequência habitual: “Além do mais, fizeram perdurar por todo o ano os efeitos da Festa de Cinema, criando um dia de preços mais baratos, às quartas-feiras (“miercoles al cine”), comum a todos os exibidores”. Isto sem esquecer que, em Espanha, o evento acolhe um número cada vez maior de estreias de produto nacional.
Nesse aspecto, “para distribuidores e exibidores é muito claro que o mercado português, para recuperar níveis de outros anos, necessita de produto nacional — esta iniciativa é um momento para chamarmos a atenção para tal necessidade, também junto de produtores e da comunidade artística”.
Para já, sustentada por uma campanha que arrancou há cerca de um mês, “existe uma boa expectativa em torno da Festa e têm chegado muitos pedidos de reservas porque as pessoas acham que vai esgotar...” O que será, então, um bom resultado? “A previsão de números é difícil”, sublinha Nuno Sousa; seja como for, “três vezes mais do que a frequência habitual, acreditamos que é possível”, podendo chegar aos 200 mil espectadores.