Douro, Faina Fluvial |
A estreia de O Velho do Restelo, de Manoel de Oliveira, surgiu acompanhada de três outras curtas-metragens emblemáticas da evolução do seu autor: um programa notável para redescobrir Oliveira comemorando os seus 106 anos — este texto integrava um dossier sobre os quatro filmes, publicado no Diário de Notícias (9 Dezembro).
* DOURO, FAINA FLUVIAL (1931) – Nascido em 1908, no Porto, Manoel de Oliveira chegou a ambicionar seguir uma carreira de actor. O certo é que, com este documentário sobre a vida ribeirinha do Douro, fortemente influenciado por Berlim – A Sinfonia de uma Capital (Walter Ruttman, 1927), afirmou-se como um realizador de espírito inovador e experimental, sensível às potencialidades da montagem cinematográfica. A cópia a exibir será a versão refeita por Oliveira em 1994, com música de Emmanuel Nunes.
* O PINTOR E A CIDADE (1956) – Sempre interessado nas técnicas do cinema e, em particular, na evolução das películas a cores, Oliveira foi à Alemanha, em 1955, para tirar um curso na Agfa. Com uma câmara própria, assumindo ele próprio as funções de director de fotografia, filmou e montou esta deambulação pelos cenários do Porto, tendo como ponto de partida o trabalho do aguarelista António Cruz (1907-1983). Foi o primeiro título do realizador presente num grande festival internacional (Veneza).
Painéis de São Vicente de Fora - Visão Poética |
* PAINÉIS DE SÃO VICENTE DE FORA – VISÃO POÉTICA (2010) – Obra-prima da pintura portuguesa do séc. XV, conservada no Museu Nacional de Arte Antiga, os painéis atribuídos a Nuno Gonçalves são filmados por Oliveira numa espécie de encarnação surreal, com Ricardo Trêpa e Diogo Dória a assumirem, respectivamente, as figuras de São Vicente e do Infante D. Henrique — tudo se passa como se o cinema fosse uma via de comunicação, não apenas com os factos históricos, mas também com os seus fantasmas.
* O VELHO DO RESTELO (2014) – Luís de Camões, Camilo Castelo Branco, Teixeira de Pascoaes e Dom Quixote dialogam no espaço acolhedor de um jardim dos nossos dias — ouvimos mesmo, à sua volta, os ruídos característicos da cidade, como se participássemos numa prodigiosa viagem no tempo de que o cinema é, de uma só vez, a causa e o efeito, a razão e o delírio. Oliveira relança, assim, o mais visceral drama português: somos senhores da nossa vontade ou peões de um destino que não controlamos?