quarta-feira, dezembro 24, 2014

2014 segundo João Moço

Além das nossas continuamos a publicar também as listas de alguns amigos convidados. Hoje é vez do João Moço (DN e DIF) nos dar o seu retrato do ano em discos, concertos, canções e filmes. Um muito brigado ao João pela colaboração.

Fazer um balanço do ano tem de passar obrigatoriamente pelo dia 3 de setembro. Porque nessa noite vi Kate Bush no Hammersmith Apollo, em Londres, a apresentar o espectáculo Before the Dawn (sem sombra de dúvida o concerto mais inacreditável a que algum dia terei o privilégio de assistir) e nessa manhã ouvi parte daquele que, facilmente, se veio a tornar o meu álbum do ano, 1989, de Taylor Swift. Além de toda a conversa sobre o Spotify, o que verdadeiramente interessa são as canções e Taylor, mesmo cortando de vez com a raiz country, mostrou que até na pop é, sem rodeios, a melhor compositora de canções da última década. À vontade. Foi com muita facilidade que escolhi o 1989 para o topo da lista porque 2014 não foi propriamente um ano brilhante, no que diz respeito a álbuns.

Estando, intuitivamente, cada vez mais distante daquilo que vem sendo propagado em 90% da crítica musical, noto agora que este foi um ano em que me voltei a embrenhar ainda mais na música country. Foi um belo ano nesse sentido, de Platinum, de Miranda Lambert, passando pela sua colega nas Pistol Annies Angaleena Presley, com American Middle Class, a Blue Smoke, da diva Dolly Parton, a Band f Brothers, de Willie Nelson, ou o excelente regresso de Lee Ann Womack com The Way I’m Livin’.

O r&b vive tempos nebulosos, preso num fetichismo pós-Cassie, mas há quem fuja a essa norma que quer branquear tudo à sua volta: Toni Braxton com Babyface, Kehlani (a miúda mais promissora do momento), Mariah Carey, King (e o álbum teima em não aparecer) ou Trey Songz. Já D’Angelo deu numa de Beyoncé em 2014 e provou porque é que fazer listas do ano em novembro pode não ser uma boa ideia.

Muitos outros momentos ficam por mencionar, como o facto dos One Direction se terem apropriado dos Fleetwood Mac (e de Bruce Springsteen e dos Tears for Fears e dos The 1975) no Four, que prova que esta não é uma boy band como qualquer outra (o que não diminui, em nada, essa herança rica que os antecede), de Gerard Way ter feito melhor disco de glam rock desde a estreia dos Placebo, de Nick Jonas se ter revelado um excelente herdeiro da escola Justin Timberlake ou de Young Thug voltar a ser o melhor rapper (é ouvir a mixtape de Rich Gang, “O” disco de hip hop de 2014).

Por cá destaco três guitarristas que fizeram aqueles que são, para mim, os seus três melhores discos: Ricardo Rocha (com Resplandecente), Norberto Lobo (com Fornalha) e Filipe Felizardo (com Volume 2: Sede e Morte). Foram muitas as noites que passei embrenhado nas reflexões sobre paranóia (pelo menos é assim que sinto essa música) mas com algum balanço rítmico criadas por Ondness (projeto de Bruno Silva), que só este ano lançou Death Weekend/Rituals, Absolute Elsewhere, Surf e Performance e Filho do Dono. Rodrigo Amado foi outros dos mais activos, fosse com o melhor trio de jazz do momento, o Motion Trio (The Freedom Principle e Live in Lisbon, ambos gravados com Peter Evans), fosse com o Wire Quartet (que editaram o meu disco de jazz preferido do ano).

Mensalmente o MusicBox tem continuado a receber as tão importantes Noites Príncipe, onde gente como DJ Maboku, DJ Lilocox, Nigga Fox, Blacksea Não Maya, Puto Anderson ou DJ Firmeza fazem verdadeira magia. Não há nada assim noutro lugar e o disco Tá Tipo Já Não Vamos Morrer, do coletivo Tia Maria Produções, é a prova física disto mesmo.

Foi no MusicBox que vi há dias B Fachada (que voltou este ano da pausa sabática) a mostrar como, em matéria de canções pop, está a milhas de qualquer outro nome que tenha surgido neste país.


Dez discos:

1.º Taylor Swift – 1989
2.º Ricardo Rocha – Resplandecente
3.º Miranda Lambert – Platinum
4.º D’Angelo – Black Messiah
5.º Toni Braxton & Babyface – Love, Marriage & Divorce
6.º Excepter – Familiar
7.º DaVinChe/Katie Pearl – Make It Official
8.º Torn Hawk – Through the Force of Will
9.º One Direction – Four
10.º Kehlani – Cloud 19

Dez canções:

1.º One Direction – Fireproof
2.º Taylor Swift – Style
3.º King – Mister Chameleon
4.º Torn Hawk – Blindsided
5.º T.I. & Young Thug – About the Money
6.º Chase Smith – Vaporub
7.º Kira Isabella – The Quarterback
8.º Nicole Scherzinger – Your Love
9.º Tinashe – 2 On (feat. Schoolboy Q)
10.º Kridinhux – Pensar em Ti

Dez concertos:

1. Kate Bush no Hammersmith Apollo
2. Excepter na Galeria Zé dos Bois
3. África Negra no B.Leza
4. Peter Evans no Panteão Nacional
5. Bill Callahan no Cinema São Jorge
6. Beyoncé na Meo Arena
7. Miley Cyrus na Meo arena
8. One Direction no Estádio do Dragão
9. Justin Timberlake no Parque da Bela Vista
10. Rodrigo Amado Motion Trio com Hernâni Faustino na Galeria Zé dos Bois

Dez filmes:
1. Blue Ruin – Jeremy Saultier
2. The Act of Killing – Joshua Oppenheimer & Christine Cynn
3. Cavalo Dinheiro – Pedro Costa
4. Nebraska – Alexander Payne
5. Under the Skin – Jonathan Glazer
6. 12 Years A Slave – Steve McQueen
7. Nightcrawler – Dan Gilroy
8. 22 Jump Street – Phil Lord & Chris Miller
9. Stand Clear of the Closing Doors – Sam Fleischner
10. Gone Girl – David Fincher