Recuando no tempo podemos lembrar que David Bowie, um dos músicos que mais sabe conjugar o verbo desafiar, foi dos primeiros a apoiar publicamente os Arcade Fire...
E foi muito bom. Deu-nos um alcance a que antes não teríamos chegado. Ele está aqui há tantos anos e tem um trabalho incrível. Mas é impossível quantificar quanto é que uma presença dessas vale e o que abre caminho ao quê. Mas para nós foi sentir que alguém da velha guarda estava a apoiar o que estávamos a fazer. Foi encorajador,
Chegaram a partilhar o palco e a gravar um EP ao vivo...
Sim. Foi muito especial. É inspirador tocar ao lado de lado de alguém que vem das primeiras gerações do pop/rock e, sem dúvida, da primeira geração do art rock.
Têm tocado várias versões de temas de outros músicos em digressão. É um espaço de prazer do grupo? De diversão?
É super divertido. Gostamos de ligar os concertos que fazemos aos locais em que tocamos. E assim, em vez de dizer "olá Lisboa", olhando para um papel, dirigimos uma canção à cidade. Hello Detroit... Então tocamos uma canção de Detroit... Mas acho que não faremos nenhuma em Lisboa.
Editariam essas versões em disco?
Não creio. São versões de rock'n'roll... São divertidas de fazer.
E um disco ao vivo?
Ainda não o fizemos... Na verdade gravamos tudo quando tocamos...
E será esta a digressão para fazer um disco ao vivo?
Ainda é cedo para o dizer, por isso não sei. Mas seria cool.
Como decidiram que canções juntar às do novo álbum para os alinhamentos dos concertos desta digressão?
Pela primeira vez desde Funeral, nos primeiros concertos desta digressão só tocámos temas do Reflektor. Quando começamos depois a fazer alinhamentos mais extensos começamos a fazer uma ou outra canção antiga. E então passámos a incluir canções que, se fosse uma caixa de velocidade, estivessem na mesma mudança.
O novo álbum foi-nos inicialmente apresentado juntamente com o teledisco para o tema-título, com realização de Anton Corbijn. Até que ponto interferem no trabalho das imagens que acompanham a vossa música? É um trabalho importante?
Muito importante mesmo. Muitas vezes há quem queira realizar um teledisco para uma das nossas canções... É ver caso a caso. Se for interessante ou bom aceitamos fazer. Com o Anton fomos nós quem o procurou. Pensámos: "quem seria bom para fazer isto?" Decidimos que seria ele. Contactá-mo-lo demos algumas ideias e ele foi depois pensar. A realizadora que fez o Afterlife foi diferente. Ela apresentou as ideias e disse quanto ia custar e nós respondemos apenas OK, parece bom... Estava inspirada e nós aí não tivémos aí qualquer input... E ficou espantoso. Nesse caso era ela a fazer a sua peça de arte.. É belo quando assim acontece.
We Exist, o novo teledisco, como surgiu?
David Wilson queria fazê-lo. E uma vez mais foi a sua visão, ligada à nossa canção... A canção e o vídeo não tinham a ver, mas encontraram-se de forma complexa e poderosa. Era como a bela e o monstro e sabíamos que ia resultar..
O palco também envolve elementos visuais. A lógica de trabalho é semelhante à dos vídeos?
Há elementos nos quais pensamos nós mesmos... Temos uma grande equipa a trabalhar connosco. Há propostas, há muito diálogo. No fim é um esforço de equipa.
Como vivem hoje em dia a vossa relação com o público?
Não é fácil quando se atinge uma certa dimensão. Não se consegue ter uma relação com as pessoas. Consegue-se com uma ou algumas mais pessoas, mas quando são milhares as que vemos nos concertos é impossível . Conseguimos ter atenção pelos aspetos importantes do concerto, da arte e de como fazemos as coisas... Tentamos não tocar em sítios maus, manter os bilhetes a um preço acessível. O equipamento, a equipa... A coisa torna-se muito complexa. Mas tentamos não fazer mal. Não queremos vender porcaria vazia. Tentamos fazer o melhor. Por vezes há quem escreva e se chegue a nós ou alguém que nos conhece e fala... Mas estamos para lá do ponto de conseguir responder aos emails...
Pessoalmente como acompanha o que vai acontecendo no mundo da música?
Vou mas vezes atrás no tempo, escuto mais música do passado que do presente, descobrindo coisas que na altura falhara ou que aconteceram mesmo antes de eu ter nascido. Mas temos uma grande comunidade musical e saímos e ouvimos coisas. Depois a verdade é que os músicos estão sempre a trabalhar em música e os meus amigos músicos trabalham em coisas diferentes. Mas quando estou em digressão quase não escuto música porque se está à sua volta a todos os momentos. Não há fome aí...