Este texto é uma versão acrescentada de um outro originalmente publicado no DN com o título 'A nova vida dos Marretas na Disney'.
Se durante anos a fio o rato Mickey surgia como um dos mais evidentes ícones representativos do universo Disney, ao longo dos últimos tempos outras figuras entraram em cena, fruto de novas produções ou das sucessivas aquisições da companhia. Assim, ao lado de Mickey, do pequeno leão Simba ou do peixinho Nemo a Disney hoje tem entre a sua “galeria” figuras como Darth Vader (e está prevista para 2015 a estreia do Episódio VII d’A Guerra das Estrelas, o primeiro na companhia) assim como o Sapo Cocas, Miss Piggy o urso Fozi ou o cão Rowlf.
Foi longo o processo de aproximação e aquisição do universo d’Os Marretas pela Disney. Tudo começou ainda nos tempos de Jim Henson (o criador dos Marretas), mas depois da sua morte, em 1990, as negociações foram interrompidas. A Disney assinou contudo a co-produção de filmes como O Conto de Natal dos Marretas e Os Marretas na Ilha do Tesouro, respetivamente de 1992 e 96 (e ambos realizados por Brian Henson, filho de Jim), deixando depois os trabalhos em Os Marretas no Espaço, de 1999, por conta da Columbia Pictures. A Disney acabaria por adquirir definitivamente o universo d’Os Marretas em 2004, de fora do negócio ficando apenas personagens criadas expressamente para a Rua Sésamo e os que descobrimos nos Fraggles.
A vida das figuras criadas por Jim Henson na Disney começou por ganhar expressão em pequenos filmes para a Internet. Em 2008 surgiram notícias de um novo filme, que acabaria por chegar aos ecrãs em 2011. Revelando as presenças de Jason Segel, Amy Adams, Jack Black e Chris Cooper no elenco, cameos de Whoopi Goldberg, Dave Grohl ou Selena Gomez e, além do “estreante” Wade, juntando uma vasta multidão de personagens clássicas d’Os Marretas, o filme representou o maior êxito de bilheteira da história destes bonecos. Pela banda sonora escutava-se ora o clássico Cars de Gary Numan ora uma versão de Smells Like Teen Spirit dos Nirvana, com parte cantada em “mimimi” pelo incontornável Proveta, valendo o filme aos Marretas um Óscar pela melhor canção original com Man or A Muppet.
Três anos depois, Marretas Procuram-se assinala nova produção na “era” Disney. Novamente com realização de James Bobin (realizador britânico que em tempos trabalhou com a figura de Ali G), o filme volta a apostar num cruzamento das personagens criadas por Jim Henson com “estrelas” convidadas (afinal era essa a essência de cada um dos episódios da série “clássica” que esteve em produção entre 1976 e 1981). São desta vez protagonistas Tina Fey, Ricky Gervais e Ty Burell, pelo elenco surgindo ainda os nomes de Celine Dion, Lady Gaga, Sean Combs, Christoph Waltz, Miranda Richardson ou Frank Langella. A música volta a ser uma peça central do filme (ou não estivéssemos entre os Marretas), pela banda sonora surgindo temas originais, velhas canções de outras etapas na vida dos Marretas e versões como Working in the Coalmine (que fez história no filme Heavy Metal e que os Devo também gravaram) ou a Macarena dos Los Del Rio, mas desta vez na voz de Miss Piggy.
A construção de uma trama com tempero policial (Gervais é um “bad guy” que se alia a um sapo que foge de um Gulag e juntos planeiam usar os ingénuos Marretas para o golpe do século) dá a este segundo filme da era Disney um fôlego narrativo mais evidente, construindo assim uma trama que suporta melhor que nunca a passagem dos elementos clássicos dos pequenos episódios da velha série televisiva para a extensão de uma longa-metragem. Há paródias a Bergman ou aos filmes de Blake Edwards com Peter Sellers. E doseia comédia e música sem nunca perder o apuro dos temperos.