O melhor filme que vi na edição deste ano do IndieLisboa nasceu de factos reais, mas mostra como o cinema pode mergulhar nas personagens e fazer do contar de uma história uma experiência profundamente pessoal e surpreendente.
Stand Clear of The Closing Doors, de Sam Fleischner, parte da história verídica de um rapaz autista que passou 11 dias escondido (ou perdido) no metro de Nova Iorque. Interpretado por um jovem asperger, o protagonista Ricky perde um dia o Norte quando a irmã não o vai buscar (como sempre) à escola. Ao reparar num transeunte com uns ténis roxos semelhantes aos que costuma contemplar numa sapataria e ao reconhecer figuras que também habitam os seus desenhos, acaba por seguir um caminho inesperado e dá por si a passar dias entre carruagens e estações de metro, só bebendo água depois de uma garrafa lhe passar junto aos pés e comendo quando um sem-abrigo lhe oferece algo... Ao mesmo tempo a mãe, uma emigrante mexicana, enceta um calvário de buscas infrutíferas, a cada dia voltando a casa sem respostas nem o filho.
Se a história é por si potencialmente arrebatadora desde o início e se as interpretações se revelam em tudo capazes de dar corpo verosímil às personagens, a força maior do filme está no modo como a realização procura, nas sequências vividas no metro, dar-nos uma ideia do ponto de vista de um Ricky perdido. O olhar sobre os túneis, as luzes, a escuridão e os anónimos (que acentuam a solidão que vive no seu interior) transformam o relato de um desaparecimento numa experiência que assim quase conseguimos partilhar.
Se a história é por si potencialmente arrebatadora desde o início e se as interpretações se revelam em tudo capazes de dar corpo verosímil às personagens, a força maior do filme está no modo como a realização procura, nas sequências vividas no metro, dar-nos uma ideia do ponto de vista de um Ricky perdido. O olhar sobre os túneis, as luzes, a escuridão e os anónimos (que acentuam a solidão que vive no seu interior) transformam o relato de um desaparecimento numa experiência que assim quase conseguimos partilhar.
Seria bom que a vida deste filme entre nós não se esgotasse nas passagens que fez pelo IndieLisboa. Porque será certamente um dos melhores filmes que veremos este ano.