Na morte de Alain Resnais, as suas imagens contam-nos a história, necessariamente condensada, de uma visão cinematográfica que, embora ancorada no classicismo, abriu portas para a mais frondosa modernidade.
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* MURIEL OU O TEMPO DE UM REGRESSO (1963) — O espaço da memória não é linear, não se faz de um banal ziguezague entre o "presente" de onde se parte e o "flashback" através do qual se viaja. Neste caso, a partir de um argumento de Jean Cayrol, evocando as recordações muito próximas da guerra da Argélia — incluindo as cenas de tortura que também assombravam Le Petit Soldat (1960), de Jean-Luc Godard —, Resnais elabora uma teia de factos e fantasmas (afinal de contas, um fantasma também é um facto!) que se completam, tanto quanto se repelem, no limite discutindo as coordenados de todos os espaços, exteriores ou interiores. Sublime Delphine Seyrig (dois anos depois de O Último Ano em Marienbad): ela é a personagem que se recorta contra o peso simbólico do cenário, por assim dizer, resistindo-lhe. Todas as linhas são oblíquas — ou é o mundo que está em desequilíbrio?